sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Lágrimas do exílio

Permitam-me os colegas publicar dois textos na semana. Gostaria de chorar o faleceminto de meu pai que se deu dia 19 de agosto. Dizer dele agora é sentir um entalo na garganta. É fazer falar a alma que pranteia. É esticar as palavras para ver se alguma delas consegue fugir das vias; Mas enganar esse nó, Ou essa laringe, Ou romper a traqueia ou faringe para, quem sabe, um som ser ouvido, parece uma tarefa impossível. Era tarde de sol calmo, de nuvens andarilhas no céu azul de minha terra. Era um dia qualquer da semana. Meu olhar se volta para o canto da parede onde em pé estava, com um ciscador nas mãos, a figura dele. Sem camisa e de bermuda estavam ali minhas entranhas. Uma voz ecoa pelo ar aquecido do calor da pedra surrada pelo sol da manhã. “Meu filho!” Como era suave e agradável ao peito saber que ele estava comigo! Como foram importantes aqueles momentos, uma verdadeira conspiração de amantes! As eternas criaturas que se amam eternamente não deviam se separar! Com ele caminhei em seus sonhos e ele nos meus. Os dele me viam um ser que partia para longe. E os meus sempre o levaram comigo. Ah! Meu ser se curva a tua força, oh, morte! Esse é o dogma irrefutável da fé! Ah! Como é dura a tua pancada! Como é afiada a tua espada! Como és cruel por roubar de mim a quimera minha de sempre vê-lo no mundo! Eu vi uma pomba branca que do telhado de uma casa alçou voo. Uma senhora idosa me perguntou se eu sabia de seu destino. Ah! Minha senhora eu não leio essa sorte! De tudo entendo um pouquinho, menos da morte. A mulher insistiu sem se importar com meu tormento: Para onde foi a pombinha? As lágrimas caíram de meus olhos; deles fizeram bolsas cheias de dor. Minha senhora, eu estudei muito; me chamam até de doutor. Isso é coisa que não sou; eu garanto. A pomba se foi deixando comigo uma peninha. Ela, é certo, eu guardarei até que um dia eu possa dizer o que havia na minha garganta. Tentei dizer, mas, a boca não falou. Calo-me, então me curvo ao Soberano Senhor! Há momentos que as palavras não consolam. Seus afagos não aquecem e do peito a saudade não afugenta. Saudades Pai! Talvez fosse isso...

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