Usando seu binóculo, ele se sentia dotado de todos os poderes do universo, pois só daquele jeito ele se via capaz de encarar alguém. Sim, ele era um cara antenado com a esquisita intimidade do vasculante de seu prédio. Ele era o rei infiel de si mesmo que vivia preso em suas alegrias de levezas efêmeras.
Seu prédio se localizava em meio a uma floresta de carros e de gente que adorava cobrar e dar bom dia a todo mundo e também entre as espessuras indignas de qualquer sobrevivente no centro da cidade. Entretanto, ao trilhar seus pés cansados pelas ruas do centro, ele não se localizava em ambiente nenhum. As lojas, as placas, as propagandas, tudo aquilo o cercava por todos os lados, mas eram letras se diluindo no ar depois de serem lançadas por canhões cuspindo infinitos signos, gritos e emoções intraduzíveis.
Trabalhava e estudava muito. A noite ele gostava de dialogar com seu mundo. Ele se sentia só e ao mesmo tempo único. Diariamente ele sujava seu peito peludo todo de porra, mas tinha medo de amar e se sentia ineficaz em seu próprio prazer, mas sabia se relacionar com sua desgastante e infinita culpa.
Era por tudo isso que ele batia punheta e tinha medo dessa “porra-nenhuma” que ele sentia sempre ao tirar o binóculo dos olhos. Era desgastante a sensação de excessos por não sentir nada. O resultado era quase sempre assim: sentava-se no chão do banheiro, apoiava o braço na borda gelada do concreto da privada e chorava por se sentir incapaz de encarar a si mesmo.
concordo totalmente!
ResponderExcluir"A noite ele gostava de dialogar com seu mundo. Ele se sentia só e ao mesmo tempo único."
melhor frase!
Velho, muito bom!
ResponderExcluirA SOLIDÃO AS VEZES PODE TER UM LADO BOM. BELO TEXTO, PARABÉNS!
ResponderExcluirTEM POSTAGEM NOVA NO BLOG. PASSA LÁ, LEIA E COMENTE:
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