sexta-feira, 5 de agosto de 2011
Macaquismo
Obstaculizando a aplicação do conceito a violência dos dias faz-nos crer que a filosofia, engordurada pela densa massa de hipotéticas e seráficas sugestões, não faz sentido, a não ser para quem extrai dela o pecúlio que lhe quita os gastos mensais, fundamentais à manutenção do bom funcionamento do corpo e da elegante posição de doutor frente ao alunado. Sobre o muro que se impõe aos sentimentos despertados essencialmente pelas proficuidades do espírito pouco falam os sábios filósofos. A substância do amor, por exemplo, é absorvida da contemplação estética, em que os personagens analisados evidentemente não cagam e não são impelidos a agir absurdamente, direcionados por um impulso imediato de cólera. A vida, para eles, transcorre tal qual um drama de Shakespeare, desembrulhando-se em forma de querelas tratadas num vernáculo que obedece a uma ordem polida e racional, não havendo nas pinturas ocres inspiradas pelas carências de suas almas uma espessura ínfima de sujeira, uma reminiscência de verdade que seja dita da mesma maneira quando nos sentimos repletos após ejacularmos, senão os matizes mornos de um literário fim de tarde, no qual um jovem pálido mira para uma moça entornada em vestes brancas e logo então a beija, caindo depois o sol, frente a eles, nas profundezas do mar calmo. Nunca lemos em tratado espiritual que seja como a alma se sente feliz quando uma grossa correnteza de cerveja gelada penetra as entranhas do corpo, fulminando uma célula atrás da outra, fazendo declinar a sanidade dos sentidos. Subverter a razão não é desculpa plausível para demonizarmo-la – a cerveja, como a indiferença para os estóicos, faz desse extravagante erro a que chamamos vida algo mais aturável. Tanto pior os imperativos filosóficos que condenaram um número sem fim de seres à menoridade do ascetismo, subsidiando-lhes de motivos consideráveis para morrerem apartados da sublimação carnal, ignotos, masturbando o cérebro com tomos e mais tomos recheados de idéias dúbias e geralmente desumanas. Os filósofos têm de observar que, embora racionais, ainda somos irmãos próximos dos macacos, fazemos demasiada macaquice e recendemos fortemente o rabujo próprio do animal selvagem.
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João
ResponderExcluir"Os filósofos têm de observar que, embora racionais, ainda somos irmãos próximos dos macacos"
Perfeito! Eu estava a conversar com Roosevelt esses dias acerca dessa separação idiota que a razão ocidental tentou e ainda tenta fazer do humano em relação aos seus instintos.
Porra, eu acredito que a vida cheia de erros, as ações fora do controle da razão, das etiquetas comportamrntais impostas pela nossa linda civilização, devem ser reveladas também, afinal, não podemos nega que elas são importantes para nós. Aprendemos com nossos deslizes e com nossos acertos e por isso mesmo os dois devem ser admiados e exercitados.
Só pra concluir: o humano deveria entender que antes de ser cultura, ele ja tem uma looooonga história de diálogos com a natureza. Se a sua comunicação, seus códigos, seus valores possuem mil e tantos anos atrás, antes disso, ele ja era natureza e essa natureza de encontra revelada a todo instante me nossos atos pois pode por ai infinitos anos de experiência com o que a nossa grandiosa razão se mostra incapaz de desvendar!
Muito bom o texto
temos uma mania horrenda de envernizar a sujeira aparente. colocamos o nosso lodo pelas entranhas e nelas, tapamos qualquer porosidade. O brilho acetinado perde a cor facilmente, pois a violencia macacoide e mais intensa. o odor fedorento irradia por nossas narinas ... e assim respiramos toda a podridao humana. Ser humano e ser disciplinado pelas leis taxonomicas oriundas dos nossos ancestrais e levarmos em conta que ser humano e ser bipede, podemos levar em conta como um erro de um mutante.
ResponderExcluirbjos