segunda-feira, 30 de agosto de 2010

"Nã, nã, nã, nã...se eu for, quem é de quem...?"

Quando eu não sei onde vou parar, sempre escuto a MÃE SENHORA DO PSICODÉLICOS E PSICÓTICOS. Acho essa canção bastante sugestiva, primeiro eu escutava devido ao ritmo ligeiramente infantolóide. Mas é nessa batida de gravação de brinquedo de criança que estão os grandes problemas existenciais e terrenos. Isso já é demonstrado somente escutando a música, imagina só quando se vê o clipe da banda. Primeiro introduz com o letreiro do Mundo Olorido, que se diga de passagem, totalmente OLORIDO, não sabemos se colocamos o C ou o D. Para mim, os dois ficam muito bem servidos. Paralelamente ao trecho “ ... sinto a vida, espero a hora e agora vou embora, lá pra cima onde você mora...” a câmera foca um retrato desfigurado, só apenas legível a palavra Desaparecida, percebi que vamos morar, ao menos queremos estar aí onde você mora, ser um ser uno, personalizado na história cheia de pecados, mas sedento de alguma redenção e que no final das contas enquanto estivermos na terra, seremos anônimo nesse mosaico urbano que nós só somos lembrados quando a conta bate a nossa porta. Na verdade, todos estamos desaparecidos e eu sou mais uma.
“tou na mira da gangorra” ainda não sei para onde vou e literalmente me ausento para ter que decidir... sei que na trilha da mãe senhora eu tento seguir nem que seja ” a risca em baixo por fora”.
E nisso, no clipe, totalmente pertinente a letra, estão os efeitos experimentais que atravessam os mais diversos sentidos para o espectador. Primeiro, a iluminação estourada me pareceu um indicativo de que estamos no céu, pois lá a noite nunca chega, é sol o dia todo e de que também estamos no inferno, o calor arde, arde... e arde demais. Os travillings para potencializar os conflitos existenciais do personagem, que no caso é o vocal Vina Torto, quem ainda não sabe para onde vai e quem é de quem. O seu caminhar incisivo e desnorteado, indicado pelo plano sequência, nos reflete um sentimento muito familiar. Sentimos isso a todo instante, no caos urbano sob o efeito escaldante da luz solar. São vários olhares dissonantes que estão ali mas... não se sabe ao certo para onde vai, ao não ser que seja ir em busca da trilha da Mãe Senhora.
Ah! Não poderia deixar de citar “ na despedida nada sobra, se eu me prendo você me troca por qualquer outra equação, manipulando pobre coração” um trecho tão tipicamente representado pelo comportamento, como diria meu caro Vina, dos humanos. E que ele bem resolve esse dilema cantando, na sua adorada voz rasgada, “se eu for quem é de quem, se eu sou, não sou ninguém!”. Pois é nem eu e nem você, ninguém é e nem pode ser de ninguém...
No final, tudo acaba bem, o andar em consonância com o movimento da câmera, resgata vários ladrilhos de cor amarelo e azul, fazendo analogia ao avião no momento de decolagem, uma senhora vestida com uma camisa que dizia o seguinte “o bem sempre vence o mal” ,onde tudo acaba em nuvens , provavelmente em um dia ensolarado. Ah!, meu caro acredito que você não tenha se enganado , como todo sempre. E eu espero que não...!

3 comentários:

  1. Mai,

    Putz! Caralho, gostei muito de suas elucubrações. É isso mesmo. O meu sentido de arte, é aquela arte que proponha o ouvinte garimpar seus caquinhos de imaginários, combiná-los e colocá-los em uma tela para ser admirado. A forma como você trabalhou a trilha da mãe senhora foi muito esplêndida, uma vez que você insere o personagem diante de uma complexidade caótica e efemera dos cotidianos urbanos. Como você bem demonstrou, o andar desnorteado em meio a uma diversidade absurda de olhas transfocais. São imagens, sons, palavras, gestos, sonhos, frustrações. Para onde vamos? Onde queremos ir? Eu pertenço a quem?
    É muito gratificante para um artista como eu, ler essas belas palavras, perceber que meu ouvinte constrói seus próprios panoramas. Enfim, saber que os ouvintes da banda se emancipam por conta própria, buscam seus próprios olhares e sentidos. Muito linda mesmo a sua analise. Em meio a um bando de gente que sequer busca se adentrar nos conflitos que tento trazer em minha linguagem estética, sem contar os muitos alternativos da provincia que simplesmente empurram o trabalho para o lado por não ser cópia do the doors ou os hendrixs da vida, fico muito encantado por perceber a sua capacidade de destrinchar de forma rica e minuciosa parte por parte dos sentimentos aparentemente desconexos dos meus anseios e gritos retratados no projeto musical da Psicodélicos e Psicóticos.

    bjs

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  2. Ná dá para deixar de considerar aquilo que toma importância nas horas menos esperadas...
    é sinal que as palavras que vc propõe nas suas músicas, aparente gosto pelo no-sense, sem uma lógica delineada, se firma através de outros viés. Diria que ela vem de um "nada" , esse nada que nos faz pensar como seria a sua origem, é claro, a origem de lugar nenhum. Perguntas e mais perguntas sem nenhuma resposta.
    vc sabe q sou sua fã, hehehehehe
    bjão!

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