segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Folclore, história e consumo

Do dia 18 até o dia 22 de agosto, ocorreu no município de Laranjeiras- Sergipe, a Semana do Folclore. No evento, fiquei refletindo acerca da condição das manifestações folclóricas em meio ao contexto atual. Posso estar enganado, mas para mim, existem dois tipos de visões acerca do folclore. Uma das visões pende para uma postura mais romantizada que entende o folclore de forma muitas vezes estática. A outra visão pende para uma postura menos romantizada na qual o folclore passa a ser visto como algo obsoleto.Essa visão encara a cultura enquanto mudança.

Com relação ao primeiro tipo de perspectiva, o que eu percebo é uma tentativa de imposição de condutas. Quem não consumir cotidianamente as ditas manifestações folclóricas, passa a ser condenado e taxado de alienado, defensor da lucratividade industrial e outras denominações a mais. O que muitas vezes eu percebo nesse tipo de visão, é que parece que o folclore é a única representação verdadeira que já se existiu. Para esse grupo, apenas o folclore representa a legitima cultura de um povo.

Em se tratando da segunda perspectiva, diferente dos discursos anteriores, as manifestações folclóricas muitas vezes são vistas como obsoletas e que já não se ajustam ao presente contexto. Portanto, o folclore passa a ser sinônimo de atraso, e quem o consome é tido como descontextualizado. Nessa perspectiva, o folclore não possui uma grande importância cultural e social. Para esse grupo, não há como dar prioridade ao folclore diante das chamadas eras das indústrias culturais.

Eu pergunto: quais das duas visões estão certas?

Bom, durante o evento, eu percebi o quanto a Semana do Folclore possibilitava com que os grupos transmitissem a nossa história para várias gerações que estavam ali assistindo as suas apresentações. Também notei a possibilidade que esses grupos estavam tendo em se enriquecer ao trocarem experiências e informações com os outros grupos vindos de outros municípios como Brejo Grande, Barra dos Coqueiros, Própria, Rosário do Catete, dentre outros.

Nesse sentido, os mais românicos têm razão em lutar pela preservação das práticas folclóricas, afinal, não podemos negar a parcela de importância delas para a nossa cultura. Em um contexto marcado pela imposição do consumo e pelo excesso de informações jorradas pelos meios midiáticos, é imprescindível buscarmos meios para não perdermos o foco da nossa história, e, portanto, do entendimento sobre nós mesmos. Porém, o que eu percebo é que infelizmente, mesmo quando dizemos valorizar o folclore, fazemos dele algo esteriotipado. Prestigiamos os grupos sem sequer ter o interesse em contextualizar o que os grupos têm a dizer.

Por outro lado, enquanto eu acompanhava pelas ruas de Laranjeiras, uma belíssima apresentação de Samba de Pareia, eu passei ao lado de algumas casas que agregavam um numero de pessoas ao som do arrocha e dos ditos forrós eletrônicos. Dando continuidade a minha caminhada, deparei-me com vários laranjeirenses que se amontoavam nos bares para acompanhar uma partida do campeonato brasileiro de futebol.

Para mim, os menos românticos também têm razão em não encarar o folclore como a única cultura verdadeira, afinal, temos que reconhecer que vivemos em uma cultura de massa, e que o brasileirão é uma grande expressão cultural, assim como a Calcinha Preta é a banda mais consumida no cotidiano de boa parte dos indivíduos. No entanto, não é por que eu admita que a cultura de massa é preponderante em nosso cotidiano, que eu vou negar a importância de termos um olhar sobre a nossa história representada no folclore. Como eu disse anteriormente, uma sociedade consciente de si, é uma sociedade que tem conhecimento de sua história.

Precisamos de um olhar capaz de entortar, transitar e revisar as duas concepções acerca do folclore. Um olhar capaz de enxergar a importância dessas manifestações como forma de não perdermos de vista a nossa memória cultural, mas tendo o cuidado de não tornar o folclore algo estático, uma vez que o folclore é reflexo da cultura, e portanto, é dinâmico. Por outro lado, partirmos para um olhar que aceite a cultura de massa sem esquecer a nocividade também trazida por ela, isto é, como um tipo de cultura que pode acabar com o nosso entendimento sobre a nossa história em prol da efemeridade do consumo estimulado pelos meios massivos.

19 comentários:

  1. Ou seja, caro Vina, consuma tudo, mas com moderação.

    Uma das sacadas mais brilhantes do texto foi: "Porém, o que eu percebo é que infelizmente, mesmo quando dizemos valorizar o folclore, fazemos dele algo esteriotipado. Prestigiamos os grupos sem sequer ter o interesse em contextualizar o que os grupos têm a dizer."

    De fato, às vezes o mero fato de enfileirar no discurso os nomes de manifestações deste gênero já nos "isenta" da culpa da "ignorância cultural", quando muitas vezes o que estamos fazendo é uma lista de nomes cujos referentes não conhecemos de fato.

    Abraço!

    ResponderExcluir
  2. Talvez josué isso seja fruto da cultura metaleira que alguns alternativos provenha hahahaa Ironia a parte, encarando a coisa enquanto analogia, percebemos que esses grupos assim como o dos metaleiros, se auto afirmam no apenas saber o nome das bandas, sem refletir o que na verdade aquele tipo de sonoridade transmite e se contextualiza. Daí vão elencado seus vastos dicionários de bandas, discursos estanques enfim... O que percebo em laranjeiras é que o folclore sim, está incrustado na cultura da cidade e no seu imaginário, porém está muito mais ligado (bem como em outras localidades), a uma manifestação ritualística excepcional, ao contrario do forró eletrônico e etc. que compõem o lado cotidiano dessas localidades. Não tenho muito embasamento, mas se nós formos estudar um pouco da historia dessas manifestações, iremos ver que elas sempre estiveram ligadas a festas e datas especificas, ou seja, aos grandes rituais das localidades.

    ResponderExcluir
  3. Interessante Vina!

    Mas se a cultura de massa representa consumo, como podemos penetrar no folclore sem consumi-lo? O folclore é, por si só, algo vivenciado, na totalidade, apenas para a minoria que o produz. Quem valoriza, embora o faça, jamais irá compreender a sua totalidade, pois a essência da manifestação encontra-se embutida em seus integrantes. A meu ver, o folclore é uma manifestação fechada, na qual é necessário uma série de valores intrínsecos que o mantêm. Não basta a manifestação em si. Diferentemente da cultura de massa que é aberta e abraça.
    Acho que os mais esclarecidos olham para a cultura de massa e também a utilizam para estereotipar as pessoas. Creio que se os mais esclarecidos não se vangloriassem tanto por conhecer algo valioso da cultura, teriam o prazer de apresentar esse algo para qualquer pessoa em qualquer oportunidade. Se cada um conseguisse conquistar mais um, surgiria um movimento contra-cultura de massa. Minha irmã adora música sertaneja, mas ela também adora Pink Floyd... foi por mim que ela conheceu o rock... Para os demais eu sempre recito o mantra: “Senhor, perdoai-vos, eles não sabem o que fazem”.

    Forte abraço querido!
    Dani

    ResponderExcluir
  4. A linguagem inerente ao folclore desperta arquétipos palelógicos de uma dada culura. não podemos negar que o folclore vai muito além de uma relação mecãnica com o mei. Sua carga simbólica é muito forte e prende as pessoas a sua história, a construção de sua pessoal cultural.

    ResponderExcluir
  5. Reuel,

    " laranjeiras é que o folclore sim, está incrustado na cultura da cidade e no seu imaginário".

    Bem, pode até ser que devido as práticas antecedentes, o folclore esteja no imaginário da cidade, porém, infelizmente não é apenas de imaginário que sobrevive uma cultura, apesar de reconhecermos que ele faz parte dela. Imaginário por imaginário, gera espetacularização pela espetacularização e pronto.

    Quantas pessoas estavam na Semana do Folclore? Olhe que fomos no domingo e já não tinha ninguém, imagine nos dias de trabalho da semana. Quando havia alguém, a não ser a mãe, a amiga, a irmãzinha que acompanhava a irmãzona nos folguedos comendo algodão doce, eram os fotografos e os responsáveis pela filmagem de emissoras de televisão que têm uma probabilidade de não querer saber de porra nenhuma sobre aquilo tudo. Agora veja se uma boa parcela laranjeirense não para nos dias de quarta-feira a noite pra ver um joguinho do brasileirão na globo.

    Outra coisa: mesmo eu sabendo que você não fez essa comparação, mas não podemos pensar o folclore como folguedo. O folclore pra mim retrata as crenças, as manifestações, as práticas de resistências que simbolizam eventos de um passado e que foi passado de geração a geração. Portanto, mesmo sabendo que a cultura hoje não mantém um vinculo tão concatenado de experiências passadas de pais para filhos, mas sabemos que muitos valores são incorporados em nosso convivio com nosso meio. Por isso que eu não entendo onde o folclore pode se encontrar encrostado. Teriam culturas especificas para que o folclore seja algo incorporado socialmente? As outras culturas não possuem passado também, e portanto, folclore?

    ResponderExcluir
  6. Vina primeiramente falo do folclore que eu conheço da cidade, se existem outros, eu humildemente desconheço, e ele está encrostado sim, afinal se não o fosse o lambe sujo não movimentaria a cidade toda, e eu não viria espontaneamente um ritual da Taiera de madrugada, sem menos esperar. Agora quando falei do imaginário, não falei de como esse tipo de manifestação se encontra neste imaginário, em momento algum retratei isso, afinal precisaria fazer um estudo aprofundado para falar disso.

    ResponderExcluir
  7. Dani,

    " Mas se a cultura de massa representa consumo, como podemos penetrar no folclore sem consumi-lo?"

    Eu não quis fazer uma separação entre folclore e cultura de massa, nem foi minha intenção em tentar manter o folclore em um formol. Ao contrário. Minha crítica foi justamente nessa direção. Não tem como querermos separar cultura de massa e folclore. Só chemei atenção para o cuidado que devemos tomar com o olhar estático sobre o folclore e com o compulsivo consumismo estimulado pela midia que tem conseguido romper com a consciência do indivíduo no que diz respeito a sua história para adaptá-lo a um mero anseio da publicidade.

    " A meu ver, o folclore é uma manifestação fechada, na qual é necessário uma série de valores intrínsecos que o mantêm. Não basta a manifestação em si. Diferentemente da cultura de massa que é aberta e abraça."

    Adorei essa sua análise!!! Eu acho que podemos nos referir o folclore a uma cultura, visto que para mim, cultura implica qualquer forma de valor instituido por inúmeros grupos, sejam esses grupos maiores ou menores. No entanto, a idéia do fechado decorre justamente porque em um sentido mais frequente, regular e mais generalizado, o folclore mesmos sendo cultura, é uma manifestação que já nao provoca grandes interesses aos novos anseios estéticos. Isso eu posso dizer inclusive em guetos intelectualizados que adoram dizer que veneram a pureza do passado do povo.

    Para mim, não existe a possibilidade de criarmos hierarquias entre superioridades ou inferioridades entre a música sertaneja e Pink Floyd, que por sinal, eu acho bastante insuportável hehehe

    Valeu Danoca, bjssssssssss

    ResponderExcluir
  8. Reuel,

    " se não o fosse o lambe sujo não movimentaria a cidade toda"

    Veja: quando existe já um fetiche criado sobre determinado evento, com certeza a cidade se movimenta. Os sabidos das cidades vão até os municipios, fotografam, institucionalizam como a verdadeira cultura e simplesmente escolhem qual evento pode ornamentar a cidade e retratá-la a base do esteriótipo do que preconceituosamente definem como A CULTURA. A partir disso, a cidade se movimento pois existe como complemento, a movimentação já de turistas para assistirem ao espetáculo.

    Você diz:" eu não viria espontaneamente um ritual da Taiera de madrugada, sem menos esperar." Não estava na hora para ver isso, mas acredito que enquanto espontaneamente acontece a Taiera, há um graaaande numero espontaneamente assistindo telecine em suas casas. Veja: não sou critico da cultura de massa e você sabe disso, porém, estou querendo trazer até em que limite esse dito folclore repercute de forma incrostada na cultura atual.

    ResponderExcluir
  9. Roosevelt,

    " Sua carga simbólica é muito forte e prende as pessoas a sua história, a construção de sua pessoal cultural."

    De fato, o folclore deveria prender as pessoas a sua história, mas quantitativamente, quantas pessoas ele prende? Olhe, eu não estou nem querendo pensar em quantas pessoas oriundas dos centros urbanos ele prende, eu fico a me perguntar quantas pessoas da comunidade da qual ele é oriundo ele consegue prender.

    Pode-se perguntar: o fato do folclore não pertencer de forma mais constante no cotidiano de muitos agentes da comunidade é algo ruim? O perigoso é a diluição do nosso entendimento sobre a nossa história, pois o folclore não é nada mais nada menos que o reflexo de resistências que refletem os problemas de um tempo. No entanto, será que mesmo os que praticam esse folclore estão cientes do que levou ao surgimento de um dado folguedo? Será que eles estão cientes de que muitos dos problemas metaforizados nesses folguedos ainda refletem seus cotidianos? Portanto, será que existe uma carga simbólica, ou seja, compreensão critica, significados demarcados, ou existe apenas o imaginário que implica retratos de uma manifestação externada apenas como forma de se reproduzir determinada dança?

    ResponderExcluir
  10. Bem, pelo que eu pudi vivenciar do lambe sujo, vi que não é uma coisa que dependa tanto da mídia e do fetiche sancionado pelos meios de comunicação. Afinal, houve uma grande diferença na espontaneidade do povo em participar da semana do folclore, por exemplo, quer coisa mais surrada pela mídia que o samba de pareia da dona nadi? Cara, pra vc ter noção, as pessoas em laranjeiras gostam tanto do lambi sujo, que no dia eles colocam as musicas do lambi sujo no som de casa na maior altura! Pra mim, não é algo tão alegórico assim, "espetaculizado", sem nem um tipo de conexão mais intrínseca com a vivencia deles. Apenas, o consumo dessa cultura ou a maneira de vivencia-la é diferente por exemplo, do CD do calipso que eles escutam, afinal o simbolismo do lambi sujo não existiria, se não tivesse todo um ritual, para encenar aquela luta lá, naquela data e daquela maneira.

    ResponderExcluir
  11. Reuel,

    O lambe-sujo, assim como o Festival de Artes de Laranjeiras, é divulgado de forma incessante na midia sim. A Semana do Folclore foi divulgada em midia também, mas os seres conscientizados, como muitos artistas que criticam minha banda por que não representa a cultura local por não tocar Taiera, por exemplo, só aparecem em eventos que eles já sabem que tem muvuca. Eles se preocupam com a tradição, mas preservam a tradição da cerveja, das bucetas, enfim, do oba oba. Como no caso do lambe-sujo, o gostoso é estar lá para se sujar e não sabem sequer dos conflitos politicos que retratam essas manifestações. Se eles estivessem interessados mesmo, eles iriam para a Semana do Folclore, visto que foi divulgado pelas midias. No entanto, eles resolveram fazer outras programações pois bem sabem que a Semana não diz respeito a uma tradição massiva.

    "espontaneidade do povo em participar da semana do folclore"

    Que povo? Do vendedor de acarajé, do algodão doce e das bolas coloridas que montaram suas barracas na praça da igreja matriz e tiveram um saldo absurdamente inferior em relação a qualquer dia de missa no domingo? kkkkkkkk
    Infelizmente eu, Rebeca, você,Lou e Ariane não davamos conta de tanta fartura pronta para recepcionar a multidão na Semana do Folclore.

    ResponderExcluir
  12. Tudo que posso dizer é que o acarajé era muito pequeno, o vatapá tinha um aspecto terrível, e, como um todo, um sabor pouco palatável. Haviam também umas adolescentes de 'babylook' e 'shortinho' (as if this were not already too short), que se mostravam bastante agradáveis aos olhos nos intervalos da manifestação. No mais, cresci vivenciando outra realidade, talvez alienada, tecnocrática e conformista. Há coisas parecidas no carnaval, mas andam paralelas e interconexas às atuais.

    Acho sensato que eles desejem resgatar, a todo custo, o que mais cedo ou mais tarde hão de perder.

    Aproveitando o ensejo, sugiro o incentivo das práticas folclóricas do neandertalês, como forma de um resgate ainda mais profundo e arcaico de nossa história. Grifes sofisticadas que trabalham com peles de animais poderiam demonstrar algum interesse e ajudar na produção e divulgação. As ferramentas de pedra lascada, claro, substituídas por plástico ou isopor, poderiam ficar por conta de alunos repetentes do ensino infantil, como forma de punição.

    Falando sério agora. Achei super divertido, e, concordando com o Vina, acho que esse diálogo é natural e não há porque negá-lo já que há espaço para todos. Quanto ao investimento baixo e a ausência de um público maior, penso que seja reflexo da escassez referencial incitante ao consumo desta forma de manifestação. Já foi dito que são muitas informações e que não é possível englobar a todas. Por outro lado, já que conjectura um resgate a uma arte ligada à cultura e crença de outros tempos, no que se constitui o termo Folclore, é natural que o número de espectadores seja menor, já que o mundo evolui e busca outras esferas de saber e agir, e, certamente, acabará por dar preferência às que pareçam mais práticas e convenientes. Pessoalmente, sou um tanto indiferente à causa, mas reconheço sua importância à memória e ao espírito, como bem lembrou Roosevelt.

    ResponderExcluir
  13. Vinicius,

    Como você disse: o que eu percebo é que infelizmente, mesmo quando dizemos valorizar o folclore, fazemos dele algo esteriotipado. Prestigiamos os grupos sem sequer ter o interesse em contextualizar o que os grupos têm a dizer.” As pessoas preferem ficar nos bares, em suas casas ouvindo outras coisas... Nós mesmos, no dia, chegamos a conclusão de que são poucas as pessoas que preferem ficar assistindo uma apresentação cultural. Isso é terrível,mas ]como você mesmo disse:” ... não é por que eu admita que a cultura de massa é preponderante em nosso cotidiano, que eu vou negar a importância de termos um olhar sobre a nossa história representada no folclore.” A idéia é justamente essa, não deixar de ver futebol, ouvir as suas outras músicas,mas acho de suma importância participar e gozar daquela manifestação realizada aqui, em Laranjeiras.

    ResponderExcluir
  14. Meu caro Vina,
    Graças ao estudo dos mitos, culturas, religiões, manifestações folcloricas, e ao esforço de muitos teóricos, incluindo, é claro, o grande Jung, nós aprendemos sobre os arquétipos e o inconsciente coletivo. Concordo plenamente com vc no que tange a uma ausência de crítica, e de consciência na manifestação. As pessoas, no meu olhar, não estão presas ao folclore de forma crítica e consciente. Quando digo que estamos presos estou me referindo a dados que não apercebidos e constituem até mesmo grande parte de nossa atividade onírica. Quantas vezes sonhamos com um montro como um lobsomem. Pois, bem, amarração cosnciente, de fato, não existe, mas toda esta carga nos é repassada pelo fluido socio-lingüístico e assume a nível de consciente/inconsciente outras representações simbólicas. É como se o psiquismo precisasse se atualizar com novos dados que reproduzem velhas formas mentais. Abraços.

    ResponderExcluir
  15. Roosevelt,

    Entendi o seu ponto de vista. O que eu acho é que o nosso conceito de simbólico se diferencia. Para mim, o simbólico diz respeito a uma representação consciente do sujeito, um olhar mais coerente da totalidade do que ele enxerga. Já o imaginário diz respeito a uma imagem que nós fazemos mas que não articulamos com essa imagem, um sentido para ela. Enfim, é como se fossem pedaços soltos sem qualquer tipo de conexão. Ai sim para mim entra o folclore. Apegamo-nos aos traços, os adornos, mas não apreendemos o folguedo a nivel de uma contextualização.

    abraços

    ResponderExcluir
  16. Lou,

    Mesmo admitindo a importância de resgatarmos a nossa história com o folclore, assim como você, sou indifente a causa. Sou um menininho que passou a vida toda sendo criado na classe média urbana, jogando Atari e tentando aprender os golpes do Jaspion. Folclore pra mim era quando as professoras mostravam imagens de gente com roupas coloridas e que para mim chegavam ser espalhafatosas. Quando não, elas me pintavam de indio e eu chegava em casa com um pedaço de pau na mão dizendo que era uma lança, mas que bastava eu tomar um banho pra tirar a tinta guache da cara e correr para assistir caverna do dragão para eu esquecer de indios, de folclore, etc.

    O que eu acho é que a gente deve balancear as coisas. Paulo Freire ja dizia que a melhor alfabetização é aquela que resgata a realidade sócio-cultural do aluno, e eu digo que o maior respeito aos folguedos é aquele que aprendemos o seu valor para a nossa história, mas nunca deixando de admitir a nossa realidade sócio-cultural. É muito dificil eu colocar Samba de Pareia no meu som se eu não vivi o samba de pareia. Minha cultura foi a de massa. Até hj em dia gosto de desenhos animados, spu extremamente curioso com a nossa infinita galáia e odeio ouvir batucada folclórica. É isso.

    ResponderExcluir
  17. O discurso sobre o folclore traz uma mistura discursiva o dominador e o dominado, o colonialismo e pós-colonialismo. Ademais, ela apoia o status quo enquanto produtor de sentidos alienantes. Como os dois estão juntos? fica implícita a posição de manutenção da tradição. o não questionamento é alienante. A nível de consciente é perceptível, mas no inconsciente coletivo, ela contamina nosso psiquismo.

    ResponderExcluir
  18. Isso é fato. Alguns batuques africanos me causam sensações inabituais estranhamente agradáveis. Como posso explicar? Não posso, já que isso contradiz o discurso que predominaria minhas excitações tão somente ao que fui exposto e induzido a tomar como verdadeiro, real, pertinente. Se sinto, é porque uma influência maior deve coagir-me o espírito.

    ResponderExcluir
  19. Lou,

    Pode até ser que a sua pessoa sinta vibrações estranhas ao ouvir os batuques, mas acho que não podemos conceber uma influência maior por isso não. Sim, claro que não podemos negar que a influência do folclore esteja encrostrada em nossos arquetipos culturais, no entanto, pelo menos em meu contexto de classe, eu posso dizer que a música "A de amor, B de baixinho" da Xuxa, esteja muito mais incorporada em mim do que em uma batucada, visto que ao longo de minha história, eu não tive corriqueiramente contatos com esse tipo de manifestação. Se você sente uma vibração gostosa pulsando em você talvez seja por que você, apesar de viver em uma classe social semelhante a minha, viveu em um lugar marcado por essas influências. No caso do Brasil, eu acho que a influência branca e dominante foi muito mais impositiva, portanto, mais forte, tanto é que é muito mais "aceitável" ser um cristão católico, a ser um praticante do candomblé, e por isso mesmo eu não acredito que haja essa força cultural tão forte nas pessoas sobreviventes do caos da ordem e do progresso chamado Brasil.

    ResponderExcluir