A ciência é um mito
O que falo si percebe
Como um retrato esfumado
Pegamos com a mão a idéia
Sintagma, sema, signo
O meu é virgem.
Por que tenho que saber que não sei?
terça-feira, 31 de agosto de 2010
Peripécias Filosóficas
Certa vez lia uma entrevista do Leonardo Boff na revista de filosofia e ele disse algo assim: As crianças representam o que há de mais puro na filosofia. São elas as verdadeiras filosófas.
Bom, de fato confirmo sobre tais dizeres da forma mais contundente possível.
Ensinava ao meu sobrinho sobre o uso da camisinha, mostrando como colocar no pinto e na buça quando o mesmo perguntou: tem a do peito?
Após fazer um "hãmmm?", caí na gargalhada, e surpreso, fiquei a me sentir um boboca mesmo, um cara que vive escrevendo um monte de lorotas, quando na mais pura concepção do possível, uma criança de 10 anos faz-me tal pergunta.
Lembrei quando questionei porque "porta" chama-se "porta", porque "cocô" chama-se "cocô" e porque quando estou em casa não vejo o que as outras estão fazendo na rua. Nesta última lembro que minha irmã me chamou de "idiota!". Mas, eu só tinha 7 anos. Era um zé, um mané...
Fiquei tão frustrado e constrangido que passei tempos sem fazer tais perguntas absurdas.
Certo dia vejo uma velhinha passar e clamar para os céus porque Deus não a atendia. Resolvi deitar na rede e ficar olhando para o céu por horas, até que dormi no sereno e Deus realmente não apareceu.
Perguntei a minha mãe ao acordar (já na cama): Mãe porque Deus não atende quando falamos com ele?
Mas logo ela disse: Não meu filho, ele atende, basta que sejamos bons e um dia ele virá!
"Porra!" - Pensei, "já vi que ele não aparece pra mim tão cedo. Mas será que fui tão ruim assim com apenas 7 anos?"
Bom, se crianças são inocentes, não são ruins! Não fazem maldades. Correto?
Má repara senhor, você é exigente, hein?!
Bom, de fato confirmo sobre tais dizeres da forma mais contundente possível.
Ensinava ao meu sobrinho sobre o uso da camisinha, mostrando como colocar no pinto e na buça quando o mesmo perguntou: tem a do peito?
Após fazer um "hãmmm?", caí na gargalhada, e surpreso, fiquei a me sentir um boboca mesmo, um cara que vive escrevendo um monte de lorotas, quando na mais pura concepção do possível, uma criança de 10 anos faz-me tal pergunta.
Lembrei quando questionei porque "porta" chama-se "porta", porque "cocô" chama-se "cocô" e porque quando estou em casa não vejo o que as outras estão fazendo na rua. Nesta última lembro que minha irmã me chamou de "idiota!". Mas, eu só tinha 7 anos. Era um zé, um mané...
Fiquei tão frustrado e constrangido que passei tempos sem fazer tais perguntas absurdas.
Certo dia vejo uma velhinha passar e clamar para os céus porque Deus não a atendia. Resolvi deitar na rede e ficar olhando para o céu por horas, até que dormi no sereno e Deus realmente não apareceu.
Perguntei a minha mãe ao acordar (já na cama): Mãe porque Deus não atende quando falamos com ele?
Mas logo ela disse: Não meu filho, ele atende, basta que sejamos bons e um dia ele virá!
"Porra!" - Pensei, "já vi que ele não aparece pra mim tão cedo. Mas será que fui tão ruim assim com apenas 7 anos?"
Bom, se crianças são inocentes, não são ruins! Não fazem maldades. Correto?
Má repara senhor, você é exigente, hein?!
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
Um papo com João Paulo
Ontem, ao encontrar com João Paulo no bate-papo virtual, sem ao menos esperar, prolongamos um debate extremamente interessante sobre os usos das praças públicas. Neste texto eu gostaria de abordar sobre essa nossa conversa. João Paulo já foi um dos nossos autores no Movimento. Quem tiver interesse em conhecer suas produções, recomendo que as procure nos arquivos das participações.
Para João Paulo, “as praças deixaram de ser bens que tem como fim o desfrute do povo e passaram a ser um local de passagem”. Ou seja, as praças não são mais espaços que servem para as pessoas se sociabilizarem. João Paulo fez uma observação de que as praças do Orlando Dantas durante a sua infância eram lugares nos quais a gurizada ia brincar e atualmente se tornaram lugares ermos.
A partir dessa observação, eu passei a pensar em quais seriam os fatores atualmente responsáveis pela falta de uso das praças públicas como meios de sociabilidade entre os individuos. O primeiro ponto que eu acreditei ser pertinente se referiu ao individualismo cultural marcante nas sociedades urbanas contemporâneas. Ou seja, no contexto atual, o cotidiano dos indivíduos se encontra marcado por formas privadas de lazer como a televisão, a Internet, etc.
Enfim, pensei que as praças públicas não seriam prioridades, visto que as pessoas com uma certa regularidade, preferiam se relacionar em ambientes mais privados, até mesmo por que a televisão, a Internet, enquanto programações diárias, tornaram-se um hábito cultural. João Paulo refutou em parte o meu argumento com a seguinte observação: “o problema é que sempre existiram novelas e viciados em novelas”.
Mesmo assim, continuei insistindo, e perguntei: “mas será que já não há um individualismo mais consolidado? Ou seja, apesar de saber que sempre houve novelas, o espaço micro nos últimos tempos não tem se tornado mais forte entre as pessoas?”. João Paulo me teceu mais uma observação: “não acho que o problema seja o individualismo, até porque uma praça é um bom lugar para exercitarmos uma de suas variáveis, que é poder sentar-se num banco sozinho ou caminhar solitariamente”.
O outro ponto que eu acreditei ser salutar para entender o despovoamento das praças foi a violência urbana. Em se tratando do Orlando Dantas, o que podemos notar é que ele é cercado por bairros periféricos, o que me fez acreditar que formas de violência poderiam ser geradas por lá e que essa violência seria refletida nas praças públicas.
Porém, esses pontos se tornaram fragilizados a partir do instante em que João Paulo me chamou atenção para o cotidiano do Orlando Dantas. Ele assim se posicionou: “como morador daqui do Orlando Dantas, penso que haja certa incoerência nisso, uma vez que aqui é de certa forma um bairro tranqüilo”. Obviamente que eu levei muito a sério esse argumento, visto que João Paulo é um personagem que vive empiricamente o cotidiano do Orlando Dantas.
No entanto, mesmo reconhecendo uma certa tranqüilidade no Orlando Dantas, João Paulo fez a seguinte observação sobre as praças: “hoje mesmo uns caras estavam se drogando e acenderam a porra de uma fogueira pra fumar crack (...) o consumo de drogas, a meu ver, é um fator relevante”. Partindo desse depoimento, percebi que apesar de tranquilo, as praças do Orlando Dantas poderiam não ser usadas como sociabilidade por causa do medo gerado pela violência, e uma das violências seria a do crack.
Porém, a partir desses dados trazidos por João Paulo, eu continuei a questionar alguns pontos referentes à relação da violência com o despovoamento das praças públicas. A primeira pergunta que fiz foi a seguinte: será que as praças em contextos anteriores eram de fato mais tranqüilas? Em outras palavras: será que não havia outras formas de instabilidade entre as pessoas nas praças em contextos anteriores?
Para esclarecer o que acabei de expor, vou trazer alguns exemplos: nas décadas de ditadura militar, será que aqueles canhões expostos em praça pública faziam os indivíduos utilizarem as praças como forma de sociabilidade de forma tranqüila entre eles? É bom lembrarmos que naquela época todos eram suspeitos. A violência atingia aos hippies, aos usuários de maconha, aos ditos comunistas, etc. É bom lembrar que nesse contexto histórico não havia ainda a hipocrisia do estado de direito. Por falar em falta de estado de direito, o que dizer da era dos coronéis que também mandavam matar indiscriminadamente qualquer pessoa em espaços públicos?
Diante de toda essa reflexão, fiz uma pergunta a João Paulo: “levando-se em conta que a individualidade da televisão já ocorria, e o medo da esfera publica também, o que levou a mudança de usos nas praças?” O argumento de João Paulo foi bastante salutar para essa problemática. Assim ele respondeu: “hoje, sem dúvida, por causa da violência evidenciada por meio do fluxo de informações. O fluxo antes talvez fosse menor. (...) hoje temos, além da tv e do rádio, o pc, nossos celulares com wi fi e os caralhos, um novo jornalismo feito através de blogs, mais pessoas formando opinião e, consequentemente, o alarde quanto a fatos às vezes bestas.
João Paulo e eu chegamos a uma conclusão: a violência e o individualismo alimentados por esses meios de informação justificam a evasão da comunidade nas praças públicas. Esses meios constroem novas formas de violência como forma de controle social, fazendo com que os indivíduos se sintam amedrontados em fazer usos dos espaços públicos. Já a individualização se reflete no acesso mais fácil (o que não quer dizer bem distribuido) em poder adquirir meios de informação, possibilitando um uso cada vez mais individualizado devido a facilidade de compra desses meios para cada pessoa, levando a uma prática cotidiana em priorizar menos as praças públicas.
Para João Paulo, “as praças deixaram de ser bens que tem como fim o desfrute do povo e passaram a ser um local de passagem”. Ou seja, as praças não são mais espaços que servem para as pessoas se sociabilizarem. João Paulo fez uma observação de que as praças do Orlando Dantas durante a sua infância eram lugares nos quais a gurizada ia brincar e atualmente se tornaram lugares ermos.
A partir dessa observação, eu passei a pensar em quais seriam os fatores atualmente responsáveis pela falta de uso das praças públicas como meios de sociabilidade entre os individuos. O primeiro ponto que eu acreditei ser pertinente se referiu ao individualismo cultural marcante nas sociedades urbanas contemporâneas. Ou seja, no contexto atual, o cotidiano dos indivíduos se encontra marcado por formas privadas de lazer como a televisão, a Internet, etc.
Enfim, pensei que as praças públicas não seriam prioridades, visto que as pessoas com uma certa regularidade, preferiam se relacionar em ambientes mais privados, até mesmo por que a televisão, a Internet, enquanto programações diárias, tornaram-se um hábito cultural. João Paulo refutou em parte o meu argumento com a seguinte observação: “o problema é que sempre existiram novelas e viciados em novelas”.
Mesmo assim, continuei insistindo, e perguntei: “mas será que já não há um individualismo mais consolidado? Ou seja, apesar de saber que sempre houve novelas, o espaço micro nos últimos tempos não tem se tornado mais forte entre as pessoas?”. João Paulo me teceu mais uma observação: “não acho que o problema seja o individualismo, até porque uma praça é um bom lugar para exercitarmos uma de suas variáveis, que é poder sentar-se num banco sozinho ou caminhar solitariamente”.
O outro ponto que eu acreditei ser salutar para entender o despovoamento das praças foi a violência urbana. Em se tratando do Orlando Dantas, o que podemos notar é que ele é cercado por bairros periféricos, o que me fez acreditar que formas de violência poderiam ser geradas por lá e que essa violência seria refletida nas praças públicas.
Porém, esses pontos se tornaram fragilizados a partir do instante em que João Paulo me chamou atenção para o cotidiano do Orlando Dantas. Ele assim se posicionou: “como morador daqui do Orlando Dantas, penso que haja certa incoerência nisso, uma vez que aqui é de certa forma um bairro tranqüilo”. Obviamente que eu levei muito a sério esse argumento, visto que João Paulo é um personagem que vive empiricamente o cotidiano do Orlando Dantas.
No entanto, mesmo reconhecendo uma certa tranqüilidade no Orlando Dantas, João Paulo fez a seguinte observação sobre as praças: “hoje mesmo uns caras estavam se drogando e acenderam a porra de uma fogueira pra fumar crack (...) o consumo de drogas, a meu ver, é um fator relevante”. Partindo desse depoimento, percebi que apesar de tranquilo, as praças do Orlando Dantas poderiam não ser usadas como sociabilidade por causa do medo gerado pela violência, e uma das violências seria a do crack.
Porém, a partir desses dados trazidos por João Paulo, eu continuei a questionar alguns pontos referentes à relação da violência com o despovoamento das praças públicas. A primeira pergunta que fiz foi a seguinte: será que as praças em contextos anteriores eram de fato mais tranqüilas? Em outras palavras: será que não havia outras formas de instabilidade entre as pessoas nas praças em contextos anteriores?
Para esclarecer o que acabei de expor, vou trazer alguns exemplos: nas décadas de ditadura militar, será que aqueles canhões expostos em praça pública faziam os indivíduos utilizarem as praças como forma de sociabilidade de forma tranqüila entre eles? É bom lembrarmos que naquela época todos eram suspeitos. A violência atingia aos hippies, aos usuários de maconha, aos ditos comunistas, etc. É bom lembrar que nesse contexto histórico não havia ainda a hipocrisia do estado de direito. Por falar em falta de estado de direito, o que dizer da era dos coronéis que também mandavam matar indiscriminadamente qualquer pessoa em espaços públicos?
Diante de toda essa reflexão, fiz uma pergunta a João Paulo: “levando-se em conta que a individualidade da televisão já ocorria, e o medo da esfera publica também, o que levou a mudança de usos nas praças?” O argumento de João Paulo foi bastante salutar para essa problemática. Assim ele respondeu: “hoje, sem dúvida, por causa da violência evidenciada por meio do fluxo de informações. O fluxo antes talvez fosse menor. (...) hoje temos, além da tv e do rádio, o pc, nossos celulares com wi fi e os caralhos, um novo jornalismo feito através de blogs, mais pessoas formando opinião e, consequentemente, o alarde quanto a fatos às vezes bestas.
João Paulo e eu chegamos a uma conclusão: a violência e o individualismo alimentados por esses meios de informação justificam a evasão da comunidade nas praças públicas. Esses meios constroem novas formas de violência como forma de controle social, fazendo com que os indivíduos se sintam amedrontados em fazer usos dos espaços públicos. Já a individualização se reflete no acesso mais fácil (o que não quer dizer bem distribuido) em poder adquirir meios de informação, possibilitando um uso cada vez mais individualizado devido a facilidade de compra desses meios para cada pessoa, levando a uma prática cotidiana em priorizar menos as praças públicas.
"Nã, nã, nã, nã...se eu for, quem é de quem...?"
Quando eu não sei onde vou parar, sempre escuto a MÃE SENHORA DO PSICODÉLICOS E PSICÓTICOS. Acho essa canção bastante sugestiva, primeiro eu escutava devido ao ritmo ligeiramente infantolóide. Mas é nessa batida de gravação de brinquedo de criança que estão os grandes problemas existenciais e terrenos. Isso já é demonstrado somente escutando a música, imagina só quando se vê o clipe da banda. Primeiro introduz com o letreiro do Mundo Olorido, que se diga de passagem, totalmente OLORIDO, não sabemos se colocamos o C ou o D. Para mim, os dois ficam muito bem servidos. Paralelamente ao trecho “ ... sinto a vida, espero a hora e agora vou embora, lá pra cima onde você mora...” a câmera foca um retrato desfigurado, só apenas legível a palavra Desaparecida, percebi que vamos morar, ao menos queremos estar aí onde você mora, ser um ser uno, personalizado na história cheia de pecados, mas sedento de alguma redenção e que no final das contas enquanto estivermos na terra, seremos anônimo nesse mosaico urbano que nós só somos lembrados quando a conta bate a nossa porta. Na verdade, todos estamos desaparecidos e eu sou mais uma.
“tou na mira da gangorra” ainda não sei para onde vou e literalmente me ausento para ter que decidir... sei que na trilha da mãe senhora eu tento seguir nem que seja ” a risca em baixo por fora”.
E nisso, no clipe, totalmente pertinente a letra, estão os efeitos experimentais que atravessam os mais diversos sentidos para o espectador. Primeiro, a iluminação estourada me pareceu um indicativo de que estamos no céu, pois lá a noite nunca chega, é sol o dia todo e de que também estamos no inferno, o calor arde, arde... e arde demais. Os travillings para potencializar os conflitos existenciais do personagem, que no caso é o vocal Vina Torto, quem ainda não sabe para onde vai e quem é de quem. O seu caminhar incisivo e desnorteado, indicado pelo plano sequência, nos reflete um sentimento muito familiar. Sentimos isso a todo instante, no caos urbano sob o efeito escaldante da luz solar. São vários olhares dissonantes que estão ali mas... não se sabe ao certo para onde vai, ao não ser que seja ir em busca da trilha da Mãe Senhora.
Ah! Não poderia deixar de citar “ na despedida nada sobra, se eu me prendo você me troca por qualquer outra equação, manipulando pobre coração” um trecho tão tipicamente representado pelo comportamento, como diria meu caro Vina, dos humanos. E que ele bem resolve esse dilema cantando, na sua adorada voz rasgada, “se eu for quem é de quem, se eu sou, não sou ninguém!”. Pois é nem eu e nem você, ninguém é e nem pode ser de ninguém...
No final, tudo acaba bem, o andar em consonância com o movimento da câmera, resgata vários ladrilhos de cor amarelo e azul, fazendo analogia ao avião no momento de decolagem, uma senhora vestida com uma camisa que dizia o seguinte “o bem sempre vence o mal” ,onde tudo acaba em nuvens , provavelmente em um dia ensolarado. Ah!, meu caro acredito que você não tenha se enganado , como todo sempre. E eu espero que não...!
“tou na mira da gangorra” ainda não sei para onde vou e literalmente me ausento para ter que decidir... sei que na trilha da mãe senhora eu tento seguir nem que seja ” a risca em baixo por fora”.
E nisso, no clipe, totalmente pertinente a letra, estão os efeitos experimentais que atravessam os mais diversos sentidos para o espectador. Primeiro, a iluminação estourada me pareceu um indicativo de que estamos no céu, pois lá a noite nunca chega, é sol o dia todo e de que também estamos no inferno, o calor arde, arde... e arde demais. Os travillings para potencializar os conflitos existenciais do personagem, que no caso é o vocal Vina Torto, quem ainda não sabe para onde vai e quem é de quem. O seu caminhar incisivo e desnorteado, indicado pelo plano sequência, nos reflete um sentimento muito familiar. Sentimos isso a todo instante, no caos urbano sob o efeito escaldante da luz solar. São vários olhares dissonantes que estão ali mas... não se sabe ao certo para onde vai, ao não ser que seja ir em busca da trilha da Mãe Senhora.
Ah! Não poderia deixar de citar “ na despedida nada sobra, se eu me prendo você me troca por qualquer outra equação, manipulando pobre coração” um trecho tão tipicamente representado pelo comportamento, como diria meu caro Vina, dos humanos. E que ele bem resolve esse dilema cantando, na sua adorada voz rasgada, “se eu for quem é de quem, se eu sou, não sou ninguém!”. Pois é nem eu e nem você, ninguém é e nem pode ser de ninguém...
No final, tudo acaba bem, o andar em consonância com o movimento da câmera, resgata vários ladrilhos de cor amarelo e azul, fazendo analogia ao avião no momento de decolagem, uma senhora vestida com uma camisa que dizia o seguinte “o bem sempre vence o mal” ,onde tudo acaba em nuvens , provavelmente em um dia ensolarado. Ah!, meu caro acredito que você não tenha se enganado , como todo sempre. E eu espero que não...!
sábado, 28 de agosto de 2010
PEDRINHAS NO AQUÁRIO
Menino, limpa essa boca de batom!
É apenas o fim do que nunca foi
Oh, menino!Enxugue essa lágrima,
Esquece essa marca,
Arruma outra face,
Anula esse céu.
O amor não existe! Ouviu! você é livre!
Desprenda-se desse medo.
É apenas o fim do que nunca foi
Oh, menino!Enxugue essa lágrima,
Esquece essa marca,
Arruma outra face,
Anula esse céu.
O amor não existe! Ouviu! você é livre!
Desprenda-se desse medo.
quinta-feira, 26 de agosto de 2010
Você viu Kathyllene
Fortaleza não foi sempre a mesma. Houve uma época que ela era uma princesinha no Nordeste. Era uma moça que estava crescendo os peitos. Por todo lugar, fosse piçarra ou areia do mar havia gente batendo o martelo. A cidade crescia e atrás dos canteiros de obras escondia fragmentos de seu passado, suas lendas, suas estórias, lembranças de seus antigos moradores. Dizem que os ratos são os maiores amigos dos homens, eles sabem de tudo, mas nunca revelam seus segredos. Onde hoje é um lugar de elite, de gente que fala inglês, há muito tempo atrás beirando o início do século vinte, havia um bairro que ninguém gostava de morar. O povo que se atrevia, tinha sempre uma estória triste para contar. Era o “Curral das Éguas”. Seus moradores eram constituídos de pessoas honestas, contudo, simples, sem estudo e boas maneiras, e de mulheres que vinham do interior fazer a vida na capital. O Curral das Éguas era um conjunto de becos e vielas, cheios de casas e de gente. Algumas casas eram de alvenaria e outras de todo tipo, madeira, barro, papelão, o que fosse possível improvisar. As ondas da antiga praia de Iracema quebravam no fundo das casas. Quando a maré enchia, o povo ficava com medo do castigo do mar. O Curral, forma carinhosa que as pessoas usavam ao se referirem ao seu bairro, tinha dois turnos. O dos que usavam o dia para viverem, e a noite quando prostitutas e cafetãos saíam de suas tocas em busca de suas presas. Kathyllene era uma delas. Uma moça nascida no Ipú. Menina direita, bem criada, filha de uma família muito católica e conservadora dos bons costumes. Kathy, como era chamada carinhosamente, se envolveu com um caixeiro viajante e fugiu com ele. O moço a deixou dormindo num quarto de hotel em Fortaleza e um bilhete sobre a cama: “A vida é doce”. A família não a quis mais de volta e ela foi morar no Curral das Éguas.
- Tu viu Kathylenne? Viu que hora ela voltou? Perguntou dona Maria da tapioca. Essa senhora se preocupava muito com as moças, era uma causa abraçada de coração.
- Não, não vi não. Mas, acho que deve estar dormindo, o coronel não veio ontem. Aquele safado!
- Veio, não, mulher, por quê? Perguntou de volta dona Maria.
- Não sei, não quero saber e tenho raiva de quem sabe. Concluiu a conversa dona Joana crente. Joana era uma protestante que foi morar no Curral depois que seu marido faleceu. Naquela época as indústrias que processavam a cera de carnaúba estavam em declínio, por esta razão, demitiram muita gente; os americanos haviam inventado a cera sintética. Depois disso seu Gonçalo ficou vivendo das economias até o infarto ceifar sua vida para sempre. Dona Joana crente, também, foi morar no Curral das Éguas. Joana tinha um filho, moço velho, nunca namorou, nunca saiu de casa e nem trabalhou. O povo do curral comentava que o coitado tinha um encosto. Alexssandro Dumas Ferreira de Cavalcante, era seu nome. Um rapaz bonito, inteligente, mas de comportamento muito estranho. Quando era dia de culto, ele dava lugar aos seus segredos. O mais interessante era olhar Kathyllene pelo buraco do muro do quintal. O barraco da moça era uma só parede com o muro do quintal de Alex. Ele retirava um tampão feito por ele mesmo e se deleitava em tudo que via. Conhecia todos os fregueses da moça. Mas, o melhor momento era quando esta estava sozinha banhando-se. Não havia água encanada, as pessoas pegavam água no chafariz e a levavam para casa. Era o famoso banho de cuia. Kathyllene passava horas brincando com a água que escorria pelo seu corpo jovem e torneado como um violino encantado. Um dia a jovem recebeu um gringo que havia chegado da Europa. Ela passou duas horas com ele. Foi trabalho especial. Alex viu tudo e parou de olhá-la quando sua mãe chegou da igreja. Depois ele a aguardou deitar-se e retornou para o cantinho do muro. Muitas foram as noites em que o rapaz sentiu prazeres indizíveis vendo sua amada nos braços de homens de todos os tipos. Ela era sua deusa. Os becos do Curral são estreitos, cedo de manhã, as pessoas estão escovando os dentes, outros lavando roupas, e outros tantos despejando os pinicos no córrego. Toda a sujeira do Curral vai para o mar. Aquela noite Alexssandro não dormira. Kathyllene tomara banho, por sinal, daqueles bem caprichados. Arrumou-se toda, usou seu melhor vestido. Um vestido comprido, peça única, todo vermelho. Maquiou-se, e bateu a porta atrás de si. Antes comentara com Fátima, sua confidente que ia sair com alguém da sociedade, mas, não disse o nome. Kathyllene nunca soube do amor de Alex. Nem se quer o conhecera direito. Dona Joana não deixava os dois se verem. Alex passou toda a madrugada esperando o retorno da moça de Ipú. Aquela noite ela não voltara para casa. Alex não sabia o que fazer, pois sempre ela trouxe seus clientes para seu barraco. Após uma espera angustiante, segundo ele mesmo comentara com sua voz interior, resolveu sair em busca da moça. Ele percorreu todos os bares e botecos, até algumas casas granfinas e nada da moça. Quase o dia amanhecendo, o rapaz cansado de procurar Kathyllene sentou-se um pouco no paredão da ponte metálica e fez uma prece a Deus: “Onde está Kathyllene?” O barulho do mar chamou o rapaz para a extremidade máxima da estrutura metálica que se erguia orgulhosamente sobre o mar de Iracema. Poucas foram as vezes que ele estivera ali. O vento era muito forte e a brisa salgada batendo em sua face o fez pensar nos momentos a sós com a moça Kathyllene. Ele iniciou um diálogo com ela em seu íntimo e a proporção que a conversa ganhava forma ele se masturbava lembrando-se de sua fantasias. Tomado pelo momento não percebeu uma brasa de cigarro acessa próximo a ele perto das pedras onde as ondas arrebentam. Cedo de manhã, sem sua mãe saber do ocorrido, ele a pergunta:
- Tu viu Kathyllene?
- Não. Que pergunta foi essa? O que tu tem a ver com essa puta, Alex, me diga!
- Nada, eu só queria saber se tu viu Kathyllene, é só! Replicou o rapaz com timidez.
- Tu te afaste desse povo do demônio, Alex, você não sabe o que ela pode fazer com tu! Disse sua mãe com muita convicção.
Uma vez Alex testemunhara pelo sagrado buraquinho da parede, uma conversa entre a menina de Ipú e uma amiga sua de infância. Elas passaram o dia juntas e falaram de como tinha sido bom os tempos de meninice. Os banhos de açude, as festas de São João. As brincadeiras de cabra-cega, etc., e lógico, as primeiras paqueras e paixões. Aquele foi um dia muito especial para ela. Alex tinha tudo anotado na sua cabeça. Ele sabia do Coronel Augusto, um político importante com mão dentro do Governo. Este se servia da moça todos os sábados às oito. Passavam algumas horas juntos depois o velho rabugento saía deslizando de alegria pelos becos escuros do Curral. O Coronel era um homem violento, muito arrogante e cheio de capangas. No seu dia de festa no Curral a capangada toda dava a “cobertura da área”. Os donos de boteco ficavam alegres porque todo mundo bebia e comia até as tantas.
O domingo passou rápido. O meio dia chegara rápido. Ninguém perguntou pela moça, exceto, sua mãe e dona Maria da tapioca como era de costume, elas brigavam por causa do cuidado de Dona Maria pela jovem de Ipú. À tardinha, Fátima bate à porta da moça: “Kathyyyy!” Nenhuma resposta veio de dentro do quarto. “Estranho” pensou a moça e foi-se com o vento. O buraco do muro estava agora aberto o tempo todo. Alex queria saber de sua amada. A noite chega. As meninas da rua estavam prontas para mais uma noite de trabalho. Elas eram como deusas caminhando pelos becos e quarteirões, bares e botecos, cada uma atraindo para si um macho afortunado, ou quem sabe, sedento de prazer e cheio de dinheiro para gastar. Elas nem notaram a falta de Kathyllene. O domingo virou madrugada de segunda-feira. A segunda virou terça.
- Kethyllene sumiu. Disse dona Maria da tapioca.
- E foi mulher. Por que tu dizes isso?
- A porta dela está fechada, isso não é normal.
- Vá ver que ela achou um homem rico e se mandou no oco do mundo. Ironizou Dona Joana.
Enquanto a duas conversavam Fátima aparece muito tensa e chuta a porta de Kathyllene, entra no quarto, senta-se na cama e chora angustiada abraçada aos lençóis dela. O povo do beco corre para ver o ocorrido e começa o falatório procurando saber o que houve. “O que houve?”
- Acharam um corpo na ponte metálica. E parece ser de uma prostituta. Disse Fátima.
- Se acalme mulher talves ela tenha ido a Ipú. Tenha fé em Deus. “Aquele que confia no Senhor, nunca será envergonhado”. Dona Joana terminou sua fala recitando as escrituras.
- Oh, meu Deus, pressinto coisa ruim, eu sabia, minha Nossa Senhora, que o rabugento ia fazer mal a menina. Disse dona Maria da tapioca.
- Que nada mulher, o coroné é gente fina. Ela num ia fazer nada não. E tu já tem prova que o corpo e dela mesmo, tu não viu! Disse outra moradora do beco.
Naquela época o radio era a única mídia eletrônica. E para alguma coisa sair no radio tinha que ser de muita importância.
- Vamos para o boteco de Seu Manuel! Quem sabe o radio informe.
- Ta doida, tu acha que vai sair notícia de puta no radio? Tem fé em Deus mulher! Disse Dona Joana, mais uma vez se metendo na conversa.
Apesar do desânimo de Dona Joana, o povo do beco foi ao boteco de Seu Manuel. O radio não dava nada. Era meio dia de terça feira. Um policial que sempre tomava uma pinga ali viu o sofrimento do povo e disse:
- A puta que morreu é daqui mesmo. Não sabemos o nome porque ela estava sem documento. O pescoço foi cortado quase decepando a cabeça. Ela trajava um vestido vermelho. A polícia diz que existe uma testemunha do crime. Um senhor de idade que viu um rapaz fazendo gestos obscenos no lugar. Era madrugada de domingo. A polícia está investigando este tarado. E tudo indica que ele mora no Curral. O policial estava contando a estória quando outros soldados armados entraram chutando portas e empurrando pessoas. Entraram em todas as casas e descobriram o buraco do muro da casa de dona Joana.
- Esta casa é sua?
- Sim, é.
- Como você explica este buraco para o quarto da vítima? Mora mais alguém com você?
- Sim, o meu filho, Alexssandro.
- Onde ele está?
Alex estava debaixo da cama e tremia de pavor quando viu toda aquela gente em sua casa. A polícia levou Alexssandro. Compararam os depoimentos do velho com os dos donos de bares e botecos da região e todos disseram que viram o rapaz naquela noite perguntando por uma moça. “Você viu Kathyllene?” Alexssandro foi julgado e condenado. O levaram para a antiga prisão, aquela, que hoje é a Casa da Cultura. Quatro longos meses passaram. O Coronel desapareceu do Curral das Éguas e Alexssandro foi encontrado morto em sua cela. Disse o carcereiro que foi o negão Banzé; comentam os presos que ele era meio avantajado e a lei da prisão era punir o agressor de uma feme com uma naquele lugar. Alexssandro não resistiu aos ferimentos e morreu.
A época da ressaca chegou, as ondas da praia de Iracema ficam mais violentas, tão violentas quanto os homens. No fundo do mar, próximo a um coral de arrecifes, entre algas e moluscos, uma linda sereia dá o seu primeiro grito. O canto das sereias sempre me fez chorar. Uma linda sereia apanhou uma concha marinha e a pôs em seu ouvido. Sim, eu a vi, a vi, como vejo o sol agora. Olhou para mim e desapareceu, e na imensidão do mar sumiu com sua liberdade, e foi para onde meus olhos velhos e cansados não podem ver. Você viu Kathyllene? Sim, o véio viu... Acucurucaia!
- Tu viu Kathylenne? Viu que hora ela voltou? Perguntou dona Maria da tapioca. Essa senhora se preocupava muito com as moças, era uma causa abraçada de coração.
- Não, não vi não. Mas, acho que deve estar dormindo, o coronel não veio ontem. Aquele safado!
- Veio, não, mulher, por quê? Perguntou de volta dona Maria.
- Não sei, não quero saber e tenho raiva de quem sabe. Concluiu a conversa dona Joana crente. Joana era uma protestante que foi morar no Curral depois que seu marido faleceu. Naquela época as indústrias que processavam a cera de carnaúba estavam em declínio, por esta razão, demitiram muita gente; os americanos haviam inventado a cera sintética. Depois disso seu Gonçalo ficou vivendo das economias até o infarto ceifar sua vida para sempre. Dona Joana crente, também, foi morar no Curral das Éguas. Joana tinha um filho, moço velho, nunca namorou, nunca saiu de casa e nem trabalhou. O povo do curral comentava que o coitado tinha um encosto. Alexssandro Dumas Ferreira de Cavalcante, era seu nome. Um rapaz bonito, inteligente, mas de comportamento muito estranho. Quando era dia de culto, ele dava lugar aos seus segredos. O mais interessante era olhar Kathyllene pelo buraco do muro do quintal. O barraco da moça era uma só parede com o muro do quintal de Alex. Ele retirava um tampão feito por ele mesmo e se deleitava em tudo que via. Conhecia todos os fregueses da moça. Mas, o melhor momento era quando esta estava sozinha banhando-se. Não havia água encanada, as pessoas pegavam água no chafariz e a levavam para casa. Era o famoso banho de cuia. Kathyllene passava horas brincando com a água que escorria pelo seu corpo jovem e torneado como um violino encantado. Um dia a jovem recebeu um gringo que havia chegado da Europa. Ela passou duas horas com ele. Foi trabalho especial. Alex viu tudo e parou de olhá-la quando sua mãe chegou da igreja. Depois ele a aguardou deitar-se e retornou para o cantinho do muro. Muitas foram as noites em que o rapaz sentiu prazeres indizíveis vendo sua amada nos braços de homens de todos os tipos. Ela era sua deusa. Os becos do Curral são estreitos, cedo de manhã, as pessoas estão escovando os dentes, outros lavando roupas, e outros tantos despejando os pinicos no córrego. Toda a sujeira do Curral vai para o mar. Aquela noite Alexssandro não dormira. Kathyllene tomara banho, por sinal, daqueles bem caprichados. Arrumou-se toda, usou seu melhor vestido. Um vestido comprido, peça única, todo vermelho. Maquiou-se, e bateu a porta atrás de si. Antes comentara com Fátima, sua confidente que ia sair com alguém da sociedade, mas, não disse o nome. Kathyllene nunca soube do amor de Alex. Nem se quer o conhecera direito. Dona Joana não deixava os dois se verem. Alex passou toda a madrugada esperando o retorno da moça de Ipú. Aquela noite ela não voltara para casa. Alex não sabia o que fazer, pois sempre ela trouxe seus clientes para seu barraco. Após uma espera angustiante, segundo ele mesmo comentara com sua voz interior, resolveu sair em busca da moça. Ele percorreu todos os bares e botecos, até algumas casas granfinas e nada da moça. Quase o dia amanhecendo, o rapaz cansado de procurar Kathyllene sentou-se um pouco no paredão da ponte metálica e fez uma prece a Deus: “Onde está Kathyllene?” O barulho do mar chamou o rapaz para a extremidade máxima da estrutura metálica que se erguia orgulhosamente sobre o mar de Iracema. Poucas foram as vezes que ele estivera ali. O vento era muito forte e a brisa salgada batendo em sua face o fez pensar nos momentos a sós com a moça Kathyllene. Ele iniciou um diálogo com ela em seu íntimo e a proporção que a conversa ganhava forma ele se masturbava lembrando-se de sua fantasias. Tomado pelo momento não percebeu uma brasa de cigarro acessa próximo a ele perto das pedras onde as ondas arrebentam. Cedo de manhã, sem sua mãe saber do ocorrido, ele a pergunta:
- Tu viu Kathyllene?
- Não. Que pergunta foi essa? O que tu tem a ver com essa puta, Alex, me diga!
- Nada, eu só queria saber se tu viu Kathyllene, é só! Replicou o rapaz com timidez.
- Tu te afaste desse povo do demônio, Alex, você não sabe o que ela pode fazer com tu! Disse sua mãe com muita convicção.
Uma vez Alex testemunhara pelo sagrado buraquinho da parede, uma conversa entre a menina de Ipú e uma amiga sua de infância. Elas passaram o dia juntas e falaram de como tinha sido bom os tempos de meninice. Os banhos de açude, as festas de São João. As brincadeiras de cabra-cega, etc., e lógico, as primeiras paqueras e paixões. Aquele foi um dia muito especial para ela. Alex tinha tudo anotado na sua cabeça. Ele sabia do Coronel Augusto, um político importante com mão dentro do Governo. Este se servia da moça todos os sábados às oito. Passavam algumas horas juntos depois o velho rabugento saía deslizando de alegria pelos becos escuros do Curral. O Coronel era um homem violento, muito arrogante e cheio de capangas. No seu dia de festa no Curral a capangada toda dava a “cobertura da área”. Os donos de boteco ficavam alegres porque todo mundo bebia e comia até as tantas.
O domingo passou rápido. O meio dia chegara rápido. Ninguém perguntou pela moça, exceto, sua mãe e dona Maria da tapioca como era de costume, elas brigavam por causa do cuidado de Dona Maria pela jovem de Ipú. À tardinha, Fátima bate à porta da moça: “Kathyyyy!” Nenhuma resposta veio de dentro do quarto. “Estranho” pensou a moça e foi-se com o vento. O buraco do muro estava agora aberto o tempo todo. Alex queria saber de sua amada. A noite chega. As meninas da rua estavam prontas para mais uma noite de trabalho. Elas eram como deusas caminhando pelos becos e quarteirões, bares e botecos, cada uma atraindo para si um macho afortunado, ou quem sabe, sedento de prazer e cheio de dinheiro para gastar. Elas nem notaram a falta de Kathyllene. O domingo virou madrugada de segunda-feira. A segunda virou terça.
- Kethyllene sumiu. Disse dona Maria da tapioca.
- E foi mulher. Por que tu dizes isso?
- A porta dela está fechada, isso não é normal.
- Vá ver que ela achou um homem rico e se mandou no oco do mundo. Ironizou Dona Joana.
Enquanto a duas conversavam Fátima aparece muito tensa e chuta a porta de Kathyllene, entra no quarto, senta-se na cama e chora angustiada abraçada aos lençóis dela. O povo do beco corre para ver o ocorrido e começa o falatório procurando saber o que houve. “O que houve?”
- Acharam um corpo na ponte metálica. E parece ser de uma prostituta. Disse Fátima.
- Se acalme mulher talves ela tenha ido a Ipú. Tenha fé em Deus. “Aquele que confia no Senhor, nunca será envergonhado”. Dona Joana terminou sua fala recitando as escrituras.
- Oh, meu Deus, pressinto coisa ruim, eu sabia, minha Nossa Senhora, que o rabugento ia fazer mal a menina. Disse dona Maria da tapioca.
- Que nada mulher, o coroné é gente fina. Ela num ia fazer nada não. E tu já tem prova que o corpo e dela mesmo, tu não viu! Disse outra moradora do beco.
Naquela época o radio era a única mídia eletrônica. E para alguma coisa sair no radio tinha que ser de muita importância.
- Vamos para o boteco de Seu Manuel! Quem sabe o radio informe.
- Ta doida, tu acha que vai sair notícia de puta no radio? Tem fé em Deus mulher! Disse Dona Joana, mais uma vez se metendo na conversa.
Apesar do desânimo de Dona Joana, o povo do beco foi ao boteco de Seu Manuel. O radio não dava nada. Era meio dia de terça feira. Um policial que sempre tomava uma pinga ali viu o sofrimento do povo e disse:
- A puta que morreu é daqui mesmo. Não sabemos o nome porque ela estava sem documento. O pescoço foi cortado quase decepando a cabeça. Ela trajava um vestido vermelho. A polícia diz que existe uma testemunha do crime. Um senhor de idade que viu um rapaz fazendo gestos obscenos no lugar. Era madrugada de domingo. A polícia está investigando este tarado. E tudo indica que ele mora no Curral. O policial estava contando a estória quando outros soldados armados entraram chutando portas e empurrando pessoas. Entraram em todas as casas e descobriram o buraco do muro da casa de dona Joana.
- Esta casa é sua?
- Sim, é.
- Como você explica este buraco para o quarto da vítima? Mora mais alguém com você?
- Sim, o meu filho, Alexssandro.
- Onde ele está?
Alex estava debaixo da cama e tremia de pavor quando viu toda aquela gente em sua casa. A polícia levou Alexssandro. Compararam os depoimentos do velho com os dos donos de bares e botecos da região e todos disseram que viram o rapaz naquela noite perguntando por uma moça. “Você viu Kathyllene?” Alexssandro foi julgado e condenado. O levaram para a antiga prisão, aquela, que hoje é a Casa da Cultura. Quatro longos meses passaram. O Coronel desapareceu do Curral das Éguas e Alexssandro foi encontrado morto em sua cela. Disse o carcereiro que foi o negão Banzé; comentam os presos que ele era meio avantajado e a lei da prisão era punir o agressor de uma feme com uma naquele lugar. Alexssandro não resistiu aos ferimentos e morreu.
A época da ressaca chegou, as ondas da praia de Iracema ficam mais violentas, tão violentas quanto os homens. No fundo do mar, próximo a um coral de arrecifes, entre algas e moluscos, uma linda sereia dá o seu primeiro grito. O canto das sereias sempre me fez chorar. Uma linda sereia apanhou uma concha marinha e a pôs em seu ouvido. Sim, eu a vi, a vi, como vejo o sol agora. Olhou para mim e desapareceu, e na imensidão do mar sumiu com sua liberdade, e foi para onde meus olhos velhos e cansados não podem ver. Você viu Kathyllene? Sim, o véio viu... Acucurucaia!
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
A Origem não tão original
Semana passada um número incrível de pessoas comentavam sobre o filme atualmente em cartaz "A Origem".Isso me despertou muitas expectativas, então eu fui conferir. Não nego que a produção é de encher os olhos, boa fotografia, belíssimos planos gerais e com direito a "non je ne regrette rien", de Piaf, como trilha sonora. Não tenho dúvidas que este filme será um estouro em bilheteria.
Apesar de apresentar um enredo inressante, a história remetia muitos clichês.Claro, toda estória que se preze no rol melodramático, sempre tem o mocinho carregado de culpas sedento pela sua redenção. Tendo como referência um amor perdido pela morte e a distância angustiante de estar longe dos filhos e da adorada América. Esse sentimento virtuoso acaba contaminando outros personagens, um deles, filho do dono de uma grande empresa, que tenta através do amor que sente pelo pai triunfar sobre os valores de coisificação constantes no seu dia-a-dia. Diante de tantos efeitos especiais e imprevistos, essa estória nos parece muito familiar, pois sabemos como tudo pode acabar.
Apesar de o filme retratar o sonho como peça fundamental , a estória se desenvolvia numa rápida engrenagem dos planos ,fazendo uma alusão ao sub consciente a uma racionalidade desmensurada, onde se pode alcançar ou tentar o domínio da mente humana. Podemos perceber,um interesse menor a reflexão , pois o que está valendo é a aventura garantida ao espectador. Gênero muito bem ovacionado no cinema clássico. Aventura e melodrama parecem dá muito certo. O sensacionalismo, a contemplação do gesto e a necessidade de arrancar suspiros da platéia juntamente como o dinamismo dos planos garantem , antes de tudo, uma espectatorialidade impressionante. Gênero esse que há muito tempo vigora na arena do espetáculo, digamos que logo depois da Revolução Francesa. Não iremos ser radical acreditando que não houve possibilidade de rearranjos e adaptações com a dada época, mas a essência, aquilo que dá a verdadeira tonalidade do melodrama sobrevive com um vigor nunca visto antes. Isso porque os efeitos especiais ajudam bastante.E falando em efeitos especiais, podemos perceber que eles surgem mais com uma tentativa mercadológica nos preceitos hollywoodianos. É só pensarmos a tridimensionalidade, chamado de cinema plástico, que na década de 30 já circulara no cinema russo tão bem contemplado por Eiseneistein. Os americanos só foram adaptar lá para década de 50 quando o cinema sofria duras quedas para os concorrentes francês, italianos e ingleses e a forte evasão dos espectadores para a tão sensacional televisão.
Tudo que se quer é convencer o público que os determinados valores difundidos nas salas de projeção é mais real que a nossa própria realidade, é a fantástica fabricação de sonhos e a possibilidade de ter múltiplas sensações de ter uma vida jamais vista. Os ingredientes de Hollywood é tão forte que há várias décadas o cinema político precisou de muitas de suas estratégias para manter suas ideologias no circuito cinematográfico. Há quem diga que não, que se pode produzir uma estética fora desses ditames no cinema como resposta a tecnologia desenfreada. É só vermos “Os Idiotas” de Lars Von Trier como filme emblemático do manifesto articulado no Dogma de 95, isso sim é uma verdadeira espetacularização da nossa realidade, pois nos causa um incômodo tão profundo que perdemos a nossa referência alienada tão bem valorizada pelas virtudes encontradas nos filmes de Hollywood.
Apesar de apresentar um enredo inressante, a história remetia muitos clichês.Claro, toda estória que se preze no rol melodramático, sempre tem o mocinho carregado de culpas sedento pela sua redenção. Tendo como referência um amor perdido pela morte e a distância angustiante de estar longe dos filhos e da adorada América. Esse sentimento virtuoso acaba contaminando outros personagens, um deles, filho do dono de uma grande empresa, que tenta através do amor que sente pelo pai triunfar sobre os valores de coisificação constantes no seu dia-a-dia. Diante de tantos efeitos especiais e imprevistos, essa estória nos parece muito familiar, pois sabemos como tudo pode acabar.
Apesar de o filme retratar o sonho como peça fundamental , a estória se desenvolvia numa rápida engrenagem dos planos ,fazendo uma alusão ao sub consciente a uma racionalidade desmensurada, onde se pode alcançar ou tentar o domínio da mente humana. Podemos perceber,um interesse menor a reflexão , pois o que está valendo é a aventura garantida ao espectador. Gênero muito bem ovacionado no cinema clássico. Aventura e melodrama parecem dá muito certo. O sensacionalismo, a contemplação do gesto e a necessidade de arrancar suspiros da platéia juntamente como o dinamismo dos planos garantem , antes de tudo, uma espectatorialidade impressionante. Gênero esse que há muito tempo vigora na arena do espetáculo, digamos que logo depois da Revolução Francesa. Não iremos ser radical acreditando que não houve possibilidade de rearranjos e adaptações com a dada época, mas a essência, aquilo que dá a verdadeira tonalidade do melodrama sobrevive com um vigor nunca visto antes. Isso porque os efeitos especiais ajudam bastante.E falando em efeitos especiais, podemos perceber que eles surgem mais com uma tentativa mercadológica nos preceitos hollywoodianos. É só pensarmos a tridimensionalidade, chamado de cinema plástico, que na década de 30 já circulara no cinema russo tão bem contemplado por Eiseneistein. Os americanos só foram adaptar lá para década de 50 quando o cinema sofria duras quedas para os concorrentes francês, italianos e ingleses e a forte evasão dos espectadores para a tão sensacional televisão.
Tudo que se quer é convencer o público que os determinados valores difundidos nas salas de projeção é mais real que a nossa própria realidade, é a fantástica fabricação de sonhos e a possibilidade de ter múltiplas sensações de ter uma vida jamais vista. Os ingredientes de Hollywood é tão forte que há várias décadas o cinema político precisou de muitas de suas estratégias para manter suas ideologias no circuito cinematográfico. Há quem diga que não, que se pode produzir uma estética fora desses ditames no cinema como resposta a tecnologia desenfreada. É só vermos “Os Idiotas” de Lars Von Trier como filme emblemático do manifesto articulado no Dogma de 95, isso sim é uma verdadeira espetacularização da nossa realidade, pois nos causa um incômodo tão profundo que perdemos a nossa referência alienada tão bem valorizada pelas virtudes encontradas nos filmes de Hollywood.
Debaixo das Luzes Vãs dos Meus Cabelos
Mestiço, portando, como a maioria dos meus compatriotas, traços negros, lembro-me de ter, muito amedrontado, descolorido o cabelo, a fim de que enxergassem em mim um esteriótipo mais cosmopolita que genotípico. Pois diziam-me que a frieza e o racismo daqueles de lá seriam relevantes perigos a ter-se em conta. Aliás, por lá tinham marchado as tropas de um dos maiores genocidas da história, e ele tinha subido ao poder democraticamente. Tratava-se, portanto, de genocidas por convicção.
O embarque para lá poderia ter sido um evento trágico, por não ter, com razão, acontecido. Como estava saindo da capital de um país vizinho, cuja extensão até então subestimara, acabei chegando vinte minutos antes da saída do vôo que, com a simpática aprovação da tripulação, consegui alcançar.
- Eles ainda não me viram, vai que pensaram que sou seu compatriota quando a atendente do balcão lhes perguntou a opinião pelo rádio...
Mas, chegando à aeronave, mesmo em posse dos traços fenotípicos já descritos, não percebi olhares de soslaio.
Ao desembarcar, já na terra temida, fui recebido com educação exemplar pelos funcionários do aeroporto. Todos se prontificaram a me dar sem rodeios nem preguiça todas as informações que lhes solicitava.
- Vai ver que é porque eles são pagos para isto...
Peguei o metrô e em direção ao hotel, durante a viagem e vi uma velhinha reclamando sozinha em inglês britânico do peso de suas malas. Antecipei-me em ajudá-la, e ela muito amavelmente me agradeceu em espanhol.
Quando cheguei ao bairro em que ficava o hotel, o medo começou a se esvair. Nenhum resquício (de ordem caótica) da segunda guerra, nenhum olhar desconfiado, apenas um susto: por perceberem que estava perdido, dois nativos de lá se ofereceram para me ajudar em um idioma que nem era o deles. Um deles me acompanhou até a rua do hotel, e, para a surpresa de muitos, não era uma tocaia para me colocar numa câmara de gás.
Quando fui dar o primeiro rolé na noite, quase fui atropelado por um bonde que me espancaria silenciosamente, não fossem os gritos desesperados dos populares que esperavam no ponto. Este desespero foi tão caloroso, que até esfriou o Brasil.
O primeiro passeio foi calmo, e mais uma vez nenhum olhar de soslaio. As pessoas pareciam interagir de forma tão regular quanto em quaisquer outras cidades que já tinha conhecido até então. Precisei de uma informação e a pedi a um policial. Ele, por não saber inglês, fez questão de chamar alguns amigos por rádio e se certificar de que eu tinha mesmo compreendido tudo.
O primeiro restaurante em que entrei me reservou outra surpresa. O garçom-gerente era um mestiço de traços latinos que se colocou à disposição em umas seis línguas, dentre elas o português. Como o lugar estava lotado ele nos conduziu a uma mesa em que estava sentada uma dupla de mulheres. Elas nos cumprimentaram educadamente e continuaram conversando sem sinal de incômodo. Neste dia, girei no centro até tarde da noite, o que me obrigou a tomar um taxi na volta ao hotel. Quando descemos, eu e uma prima, do taxi, o taxista, muito gentilmente, nos agradeceu em português, sorrindo.
Malas prontas para seguir viagem à capital de um outro país vizinho, já quando estava no aeroporto esperando pelo vôo, um nativo se aproximou e iniciou uma conversa mostrando-se sinceramente interessado na nossa cultura e no nordeste do Brasil, e, por mais uma vez, não era uma tocaia.
Esta foi, de fato, minha experiência em Munique, Alemanha, em dezembro de 2007.
Quando cheguei ao Brasil, apaguei as luzes do cabelo e dei luzes ao meu cérebro, que apagou ao menos um dos meus vários preconceitos.
Acreditar é sempre um risco...
O embarque para lá poderia ter sido um evento trágico, por não ter, com razão, acontecido. Como estava saindo da capital de um país vizinho, cuja extensão até então subestimara, acabei chegando vinte minutos antes da saída do vôo que, com a simpática aprovação da tripulação, consegui alcançar.
- Eles ainda não me viram, vai que pensaram que sou seu compatriota quando a atendente do balcão lhes perguntou a opinião pelo rádio...
Mas, chegando à aeronave, mesmo em posse dos traços fenotípicos já descritos, não percebi olhares de soslaio.
Ao desembarcar, já na terra temida, fui recebido com educação exemplar pelos funcionários do aeroporto. Todos se prontificaram a me dar sem rodeios nem preguiça todas as informações que lhes solicitava.
- Vai ver que é porque eles são pagos para isto...
Peguei o metrô e em direção ao hotel, durante a viagem e vi uma velhinha reclamando sozinha em inglês britânico do peso de suas malas. Antecipei-me em ajudá-la, e ela muito amavelmente me agradeceu em espanhol.
Quando cheguei ao bairro em que ficava o hotel, o medo começou a se esvair. Nenhum resquício (de ordem caótica) da segunda guerra, nenhum olhar desconfiado, apenas um susto: por perceberem que estava perdido, dois nativos de lá se ofereceram para me ajudar em um idioma que nem era o deles. Um deles me acompanhou até a rua do hotel, e, para a surpresa de muitos, não era uma tocaia para me colocar numa câmara de gás.
Quando fui dar o primeiro rolé na noite, quase fui atropelado por um bonde que me espancaria silenciosamente, não fossem os gritos desesperados dos populares que esperavam no ponto. Este desespero foi tão caloroso, que até esfriou o Brasil.
O primeiro passeio foi calmo, e mais uma vez nenhum olhar de soslaio. As pessoas pareciam interagir de forma tão regular quanto em quaisquer outras cidades que já tinha conhecido até então. Precisei de uma informação e a pedi a um policial. Ele, por não saber inglês, fez questão de chamar alguns amigos por rádio e se certificar de que eu tinha mesmo compreendido tudo.
O primeiro restaurante em que entrei me reservou outra surpresa. O garçom-gerente era um mestiço de traços latinos que se colocou à disposição em umas seis línguas, dentre elas o português. Como o lugar estava lotado ele nos conduziu a uma mesa em que estava sentada uma dupla de mulheres. Elas nos cumprimentaram educadamente e continuaram conversando sem sinal de incômodo. Neste dia, girei no centro até tarde da noite, o que me obrigou a tomar um taxi na volta ao hotel. Quando descemos, eu e uma prima, do taxi, o taxista, muito gentilmente, nos agradeceu em português, sorrindo.
Malas prontas para seguir viagem à capital de um outro país vizinho, já quando estava no aeroporto esperando pelo vôo, um nativo se aproximou e iniciou uma conversa mostrando-se sinceramente interessado na nossa cultura e no nordeste do Brasil, e, por mais uma vez, não era uma tocaia.
Esta foi, de fato, minha experiência em Munique, Alemanha, em dezembro de 2007.
Quando cheguei ao Brasil, apaguei as luzes do cabelo e dei luzes ao meu cérebro, que apagou ao menos um dos meus vários preconceitos.
Acreditar é sempre um risco...
terça-feira, 24 de agosto de 2010
MST: Um olhar geografico.*
O MST é um movimento de luta pela reforma agrária, que surgiu a partir de ocupações de terra na região sul do Brasil. Sua fundação ocorreu no 1° Encontro Nacional dos Sem-Terra em Cascavel, Paraná que ocorreu entre 20 e 22 de janeiro de 1984. No seu processo de institucionalização o MST contou com o apoio da Comissão Pastoral da Terra (CPT), que articulou os camponeses que ansiavam lutar pela aquisição de terras. O MST tem como característica geral a organização política em prol da reforma agrária e efetua a ocupação de latifúndios como forma de denunciar à sociedade e ao Estado da existência da subutilização da terra, para que se efetue a desapropriação.
Na tentativa de fazer uma leitura conceitual do movimento social exposto, é salutar entender quais são os espaços que são produzidos através da ação desse movimento, espaços ao qual permite este se territorializar. A princípio entendo que a comunicação é um elemento fundamental para ligar as pessoas, é por onde se troca vivencias, informações variadas, e onde se engendra o que poderíamos chamar de socialização, criando corpo e organização para um grupo. É através deste olhar que acreditamos que “o espaço comunicativo é a primeira dimensão do espaço de socialização política” (FERNANDES, 1996, pg. 228).
No seio da práxis da luta pela terra, podemos observar o espaço comunicativo, ele existe nos vários acampamentos ao qual o Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST) se territorializa, e é através deste que se realiza a socialização das varias realidades dos sujeitos, bem como de como o grupo se situa, como por exemplo, expropriados pelo capital monopolista. O espaço comunicativo é uma dimensão que permite o aprendizado, possibilita o grupo organizar a forma ao qual resistem e irão dar cabo da luta. Não obstante a matriz discursiva do movimento reflete o discurso das instituições envolvidas com o Movimento. Como podemos observar na fala do entrevistado, a empatia da matriz discursiva desse individuo, da sua realidade, bem como de fatos que ele observou o direciona para o movimento, da mesma forma engendra através do espaço de comunicação ações para o grupo.
O espaço interativo é outra dimensão do espaço de socialização política (FERNANDES, 1996), nele residem agentes com uma consciência de sua condição mais sedimentada, ou seja, com um discurso crítico já cristalizado.
Com base em vivencias e leituras, nas autobiografias, através da interação dos agentes nesse processo, o símbolos e códigos hegemônicos são avaliados e ressignificados, criando assim uma matriz discursiva combativa. Contudo, outros agentes na dimensão organizativa do movimento o influenciam, outras matrizes políticas como a Igreja Católica, os Sindicatos de Trabalhadores Rurais (STRs). Com isso os discursos desses agentes acabam influenciando também o movimento, criando inevitavelmente uma pluralidade no mesmo, no caso divergências internas, mostrando assim que como foi mencionado, o espaço interativo é também político, portanto suscetível a conflitos, a mudanças. E é nesse processo de interação, sem a pretensão de se engendrar “massas”, com que os sujeitos criam possibilidades de confronto com o que foi historicamente construído, ou seja, esse modelo econômico que os expropria. Vale ressaltar que é o processo de espacialização que permite o movimento se territorializar, está atrelado aos processos de conquista da cidadania.
Existe outro processo espacial que podemos destacar com relação à ação do MST, que é o espaço de luta e resistência, é onde a luta se torna pública. Esse é o espaço da conflitualidade onde enfrentamentos por vezes sangrentos ocorrem, porém é o que permite o movimento se territorializar. O espaços de luta e resistência se manifesta quando os sem terra, exemplo, ocupam um latifúndio, ou quando invadem prédios públicos.
Por fim entendemos que os agentes centrais que compõe esse movimento, são as pessoas que passaram por uma exclusão sócio-espacial material e simbólica. É a partir de suas historias de vida similares, as empatias para com a causa da luta, a sede por efetivação dos seus direitos sociais, que vai sendo construindo os diferentes espaços do movimento, permitindo sua territorialização.
*Este texto é um fragmento do meu relatório final submetido ao programa de bolsas de iniciação cientifica PIBIC/CNPq/UFS.
Na tentativa de fazer uma leitura conceitual do movimento social exposto, é salutar entender quais são os espaços que são produzidos através da ação desse movimento, espaços ao qual permite este se territorializar. A princípio entendo que a comunicação é um elemento fundamental para ligar as pessoas, é por onde se troca vivencias, informações variadas, e onde se engendra o que poderíamos chamar de socialização, criando corpo e organização para um grupo. É através deste olhar que acreditamos que “o espaço comunicativo é a primeira dimensão do espaço de socialização política” (FERNANDES, 1996, pg. 228).
No seio da práxis da luta pela terra, podemos observar o espaço comunicativo, ele existe nos vários acampamentos ao qual o Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST) se territorializa, e é através deste que se realiza a socialização das varias realidades dos sujeitos, bem como de como o grupo se situa, como por exemplo, expropriados pelo capital monopolista. O espaço comunicativo é uma dimensão que permite o aprendizado, possibilita o grupo organizar a forma ao qual resistem e irão dar cabo da luta. Não obstante a matriz discursiva do movimento reflete o discurso das instituições envolvidas com o Movimento. Como podemos observar na fala do entrevistado, a empatia da matriz discursiva desse individuo, da sua realidade, bem como de fatos que ele observou o direciona para o movimento, da mesma forma engendra através do espaço de comunicação ações para o grupo.
O espaço interativo é outra dimensão do espaço de socialização política (FERNANDES, 1996), nele residem agentes com uma consciência de sua condição mais sedimentada, ou seja, com um discurso crítico já cristalizado.
Com base em vivencias e leituras, nas autobiografias, através da interação dos agentes nesse processo, o símbolos e códigos hegemônicos são avaliados e ressignificados, criando assim uma matriz discursiva combativa. Contudo, outros agentes na dimensão organizativa do movimento o influenciam, outras matrizes políticas como a Igreja Católica, os Sindicatos de Trabalhadores Rurais (STRs). Com isso os discursos desses agentes acabam influenciando também o movimento, criando inevitavelmente uma pluralidade no mesmo, no caso divergências internas, mostrando assim que como foi mencionado, o espaço interativo é também político, portanto suscetível a conflitos, a mudanças. E é nesse processo de interação, sem a pretensão de se engendrar “massas”, com que os sujeitos criam possibilidades de confronto com o que foi historicamente construído, ou seja, esse modelo econômico que os expropria. Vale ressaltar que é o processo de espacialização que permite o movimento se territorializar, está atrelado aos processos de conquista da cidadania.
Existe outro processo espacial que podemos destacar com relação à ação do MST, que é o espaço de luta e resistência, é onde a luta se torna pública. Esse é o espaço da conflitualidade onde enfrentamentos por vezes sangrentos ocorrem, porém é o que permite o movimento se territorializar. O espaços de luta e resistência se manifesta quando os sem terra, exemplo, ocupam um latifúndio, ou quando invadem prédios públicos.
Por fim entendemos que os agentes centrais que compõe esse movimento, são as pessoas que passaram por uma exclusão sócio-espacial material e simbólica. É a partir de suas historias de vida similares, as empatias para com a causa da luta, a sede por efetivação dos seus direitos sociais, que vai sendo construindo os diferentes espaços do movimento, permitindo sua territorialização.
*Este texto é um fragmento do meu relatório final submetido ao programa de bolsas de iniciação cientifica PIBIC/CNPq/UFS.
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
Folclore, história e consumo
Do dia 18 até o dia 22 de agosto, ocorreu no município de Laranjeiras- Sergipe, a Semana do Folclore. No evento, fiquei refletindo acerca da condição das manifestações folclóricas em meio ao contexto atual. Posso estar enganado, mas para mim, existem dois tipos de visões acerca do folclore. Uma das visões pende para uma postura mais romantizada que entende o folclore de forma muitas vezes estática. A outra visão pende para uma postura menos romantizada na qual o folclore passa a ser visto como algo obsoleto.Essa visão encara a cultura enquanto mudança.
Com relação ao primeiro tipo de perspectiva, o que eu percebo é uma tentativa de imposição de condutas. Quem não consumir cotidianamente as ditas manifestações folclóricas, passa a ser condenado e taxado de alienado, defensor da lucratividade industrial e outras denominações a mais. O que muitas vezes eu percebo nesse tipo de visão, é que parece que o folclore é a única representação verdadeira que já se existiu. Para esse grupo, apenas o folclore representa a legitima cultura de um povo.
Em se tratando da segunda perspectiva, diferente dos discursos anteriores, as manifestações folclóricas muitas vezes são vistas como obsoletas e que já não se ajustam ao presente contexto. Portanto, o folclore passa a ser sinônimo de atraso, e quem o consome é tido como descontextualizado. Nessa perspectiva, o folclore não possui uma grande importância cultural e social. Para esse grupo, não há como dar prioridade ao folclore diante das chamadas eras das indústrias culturais.
Eu pergunto: quais das duas visões estão certas?
Bom, durante o evento, eu percebi o quanto a Semana do Folclore possibilitava com que os grupos transmitissem a nossa história para várias gerações que estavam ali assistindo as suas apresentações. Também notei a possibilidade que esses grupos estavam tendo em se enriquecer ao trocarem experiências e informações com os outros grupos vindos de outros municípios como Brejo Grande, Barra dos Coqueiros, Própria, Rosário do Catete, dentre outros.
Nesse sentido, os mais românicos têm razão em lutar pela preservação das práticas folclóricas, afinal, não podemos negar a parcela de importância delas para a nossa cultura. Em um contexto marcado pela imposição do consumo e pelo excesso de informações jorradas pelos meios midiáticos, é imprescindível buscarmos meios para não perdermos o foco da nossa história, e, portanto, do entendimento sobre nós mesmos. Porém, o que eu percebo é que infelizmente, mesmo quando dizemos valorizar o folclore, fazemos dele algo esteriotipado. Prestigiamos os grupos sem sequer ter o interesse em contextualizar o que os grupos têm a dizer.
Por outro lado, enquanto eu acompanhava pelas ruas de Laranjeiras, uma belíssima apresentação de Samba de Pareia, eu passei ao lado de algumas casas que agregavam um numero de pessoas ao som do arrocha e dos ditos forrós eletrônicos. Dando continuidade a minha caminhada, deparei-me com vários laranjeirenses que se amontoavam nos bares para acompanhar uma partida do campeonato brasileiro de futebol.
Para mim, os menos românticos também têm razão em não encarar o folclore como a única cultura verdadeira, afinal, temos que reconhecer que vivemos em uma cultura de massa, e que o brasileirão é uma grande expressão cultural, assim como a Calcinha Preta é a banda mais consumida no cotidiano de boa parte dos indivíduos. No entanto, não é por que eu admita que a cultura de massa é preponderante em nosso cotidiano, que eu vou negar a importância de termos um olhar sobre a nossa história representada no folclore. Como eu disse anteriormente, uma sociedade consciente de si, é uma sociedade que tem conhecimento de sua história.
Precisamos de um olhar capaz de entortar, transitar e revisar as duas concepções acerca do folclore. Um olhar capaz de enxergar a importância dessas manifestações como forma de não perdermos de vista a nossa memória cultural, mas tendo o cuidado de não tornar o folclore algo estático, uma vez que o folclore é reflexo da cultura, e portanto, é dinâmico. Por outro lado, partirmos para um olhar que aceite a cultura de massa sem esquecer a nocividade também trazida por ela, isto é, como um tipo de cultura que pode acabar com o nosso entendimento sobre a nossa história em prol da efemeridade do consumo estimulado pelos meios massivos.
Com relação ao primeiro tipo de perspectiva, o que eu percebo é uma tentativa de imposição de condutas. Quem não consumir cotidianamente as ditas manifestações folclóricas, passa a ser condenado e taxado de alienado, defensor da lucratividade industrial e outras denominações a mais. O que muitas vezes eu percebo nesse tipo de visão, é que parece que o folclore é a única representação verdadeira que já se existiu. Para esse grupo, apenas o folclore representa a legitima cultura de um povo.
Em se tratando da segunda perspectiva, diferente dos discursos anteriores, as manifestações folclóricas muitas vezes são vistas como obsoletas e que já não se ajustam ao presente contexto. Portanto, o folclore passa a ser sinônimo de atraso, e quem o consome é tido como descontextualizado. Nessa perspectiva, o folclore não possui uma grande importância cultural e social. Para esse grupo, não há como dar prioridade ao folclore diante das chamadas eras das indústrias culturais.
Eu pergunto: quais das duas visões estão certas?
Bom, durante o evento, eu percebi o quanto a Semana do Folclore possibilitava com que os grupos transmitissem a nossa história para várias gerações que estavam ali assistindo as suas apresentações. Também notei a possibilidade que esses grupos estavam tendo em se enriquecer ao trocarem experiências e informações com os outros grupos vindos de outros municípios como Brejo Grande, Barra dos Coqueiros, Própria, Rosário do Catete, dentre outros.
Nesse sentido, os mais românicos têm razão em lutar pela preservação das práticas folclóricas, afinal, não podemos negar a parcela de importância delas para a nossa cultura. Em um contexto marcado pela imposição do consumo e pelo excesso de informações jorradas pelos meios midiáticos, é imprescindível buscarmos meios para não perdermos o foco da nossa história, e, portanto, do entendimento sobre nós mesmos. Porém, o que eu percebo é que infelizmente, mesmo quando dizemos valorizar o folclore, fazemos dele algo esteriotipado. Prestigiamos os grupos sem sequer ter o interesse em contextualizar o que os grupos têm a dizer.
Por outro lado, enquanto eu acompanhava pelas ruas de Laranjeiras, uma belíssima apresentação de Samba de Pareia, eu passei ao lado de algumas casas que agregavam um numero de pessoas ao som do arrocha e dos ditos forrós eletrônicos. Dando continuidade a minha caminhada, deparei-me com vários laranjeirenses que se amontoavam nos bares para acompanhar uma partida do campeonato brasileiro de futebol.
Para mim, os menos românticos também têm razão em não encarar o folclore como a única cultura verdadeira, afinal, temos que reconhecer que vivemos em uma cultura de massa, e que o brasileirão é uma grande expressão cultural, assim como a Calcinha Preta é a banda mais consumida no cotidiano de boa parte dos indivíduos. No entanto, não é por que eu admita que a cultura de massa é preponderante em nosso cotidiano, que eu vou negar a importância de termos um olhar sobre a nossa história representada no folclore. Como eu disse anteriormente, uma sociedade consciente de si, é uma sociedade que tem conhecimento de sua história.
Precisamos de um olhar capaz de entortar, transitar e revisar as duas concepções acerca do folclore. Um olhar capaz de enxergar a importância dessas manifestações como forma de não perdermos de vista a nossa memória cultural, mas tendo o cuidado de não tornar o folclore algo estático, uma vez que o folclore é reflexo da cultura, e portanto, é dinâmico. Por outro lado, partirmos para um olhar que aceite a cultura de massa sem esquecer a nocividade também trazida por ela, isto é, como um tipo de cultura que pode acabar com o nosso entendimento sobre a nossa história em prol da efemeridade do consumo estimulado pelos meios massivos.
sexta-feira, 20 de agosto de 2010
NÃO QUERO CONCEDER-TE MEU ÚLTIMO GOZO
Darei um último motivo escabroso para que não me peça mais nada.
Decerto que essa separação brusca não tem flash back.
A essência do amor é brega.
Nas declarações, nas cartas ridículas de Pessoa, no calor da paixão...
Só sei que não quero mais conceder-te meu último gozo.
Pelo escárnio que os seus gemidos se tornaram para os meus ouvidos,
cheios de cera.
E meu gozo fica retido pelo ópio, antídoto da chegada de suas palavras em meu córtex, que cortava o último surto de razão.
Agora é tarde!
O seu muco já está salgado e esse orgasmo falso já não é meu,
Desde o dia em que se fez em nossa companhia um outro eu.
Decerto que essa separação brusca não tem flash back.
A essência do amor é brega.
Nas declarações, nas cartas ridículas de Pessoa, no calor da paixão...
Só sei que não quero mais conceder-te meu último gozo.
Pelo escárnio que os seus gemidos se tornaram para os meus ouvidos,
cheios de cera.
E meu gozo fica retido pelo ópio, antídoto da chegada de suas palavras em meu córtex, que cortava o último surto de razão.
Agora é tarde!
O seu muco já está salgado e esse orgasmo falso já não é meu,
Desde o dia em que se fez em nossa companhia um outro eu.
quinta-feira, 19 de agosto de 2010
Eu não vi
Que a chama do amor aqueça meu peito.
Que a paixão se apiede de mim e me faça reviver entre os escombros das cidades.
Que a mão da caridade me possua como um gênio do bem.
Que meu bicho adormeça no mais profundo inconsciente acorrentado em minhas entranhas.
Alguém disse: “Há uma pedra no caminho, no caminho há uma pedra”.
Eu não disse isso!
Eu sempre digo: “Há um bicho no caminho, no caminho há um bicho”.
Não tiraram a pedra.
Não tiraram o bicho.
Mudaram o caminho.
A pedra foi com ele, o bicho também.
Aprenderam outros rumos.
Os antigos travestiram-se na modernidade dos tempos.
Em uma gruta se esconde uma serpente.
Uma serpente, uma gruta.
Sinto cheiro de gente.
Tem gente no caminho, no caminho tem gente.
E eu não vi...
Que a paixão se apiede de mim e me faça reviver entre os escombros das cidades.
Que a mão da caridade me possua como um gênio do bem.
Que meu bicho adormeça no mais profundo inconsciente acorrentado em minhas entranhas.
Alguém disse: “Há uma pedra no caminho, no caminho há uma pedra”.
Eu não disse isso!
Eu sempre digo: “Há um bicho no caminho, no caminho há um bicho”.
Não tiraram a pedra.
Não tiraram o bicho.
Mudaram o caminho.
A pedra foi com ele, o bicho também.
Aprenderam outros rumos.
Os antigos travestiram-se na modernidade dos tempos.
Em uma gruta se esconde uma serpente.
Uma serpente, uma gruta.
Sinto cheiro de gente.
Tem gente no caminho, no caminho tem gente.
E eu não vi...
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
Aos teus poréns
Eis-me aqui
Aos teus poréns
E aos teus poréns
Sou subversivo
Delito atribuído
Não sei onde
Entretanto
Entre tantos
Entre quantos
Temores
Perdas
Vícios
E o Dantesco vão que em nós se fez
Quando vomitamos nossas leis
Censuras
Fachadas
Amém
A criação de um ser aquém
Separadas forças na bifurcação
De uma fé fraca
Fetiches são palavras
Que nos atam
Pra nunca darmos razão
À sempre nobre, errante, densa alma
Presos à verdade que convém
E aquela que está para além
Das convenções
Do amém?
Da ciração de um ser aquém?
Doravante são passos
São passas
Onde eu nem sei
Mas, meu amor, já minguante,
Quer de volta o que espalhei
Aos teus poréns
E aos teus poréns
Sou subversivo
Delito atribuído
Não sei onde
Entretanto
Entre tantos
Entre quantos
Temores
Perdas
Vícios
E o Dantesco vão que em nós se fez
Quando vomitamos nossas leis
Censuras
Fachadas
Amém
A criação de um ser aquém
Separadas forças na bifurcação
De uma fé fraca
Fetiches são palavras
Que nos atam
Pra nunca darmos razão
À sempre nobre, errante, densa alma
Presos à verdade que convém
E aquela que está para além
Das convenções
Do amém?
Da ciração de um ser aquém?
Doravante são passos
São passas
Onde eu nem sei
Mas, meu amor, já minguante,
Quer de volta o que espalhei
terça-feira, 17 de agosto de 2010
Poema Pobre.
Oi querida como vai?
Para onde?
Escorre em mim a incerteza
Resvala em mim um não sei dizer.
É candura e mansidão minha fala
Se me perco contando retalhos das minhas horas
É pela criança que sou
E aqui, tendo que andar só
Faço vibrar a água colocando minhas emoções em teus cristais.
É pode ser
Que eu sinta os teus sinais, quiçá
Porem o que atordoa é a embriaguez do pathos
Fazendo que meus atos
Não tenham em si alguma lucidez
Por isso me derramo em palavras.
Canto alto meu descontrole
Os pingos nos is
A gravata para o jantar
A grande forma que pedem as grandes volúpias
Escorei pra debaixo da porta.
Canto em sol menor
Pois o poeta é um grande fraco
Sem conseguir imantar o fluido cotidiano
Esconde-se em letras
Em sons
Só.
Para onde?
Escorre em mim a incerteza
Resvala em mim um não sei dizer.
É candura e mansidão minha fala
Se me perco contando retalhos das minhas horas
É pela criança que sou
E aqui, tendo que andar só
Faço vibrar a água colocando minhas emoções em teus cristais.
É pode ser
Que eu sinta os teus sinais, quiçá
Porem o que atordoa é a embriaguez do pathos
Fazendo que meus atos
Não tenham em si alguma lucidez
Por isso me derramo em palavras.
Canto alto meu descontrole
Os pingos nos is
A gravata para o jantar
A grande forma que pedem as grandes volúpias
Escorei pra debaixo da porta.
Canto em sol menor
Pois o poeta é um grande fraco
Sem conseguir imantar o fluido cotidiano
Esconde-se em letras
Em sons
Só.
Aracaju reclamada
Aracaju recebe outdoors pousando para a Modernidade. Ao mesmo tempo a cidade deixa seus bairros não-centrais com as faixas de pedestres apagadas e ruas esburacadas. A modernidade aracajuana para uma anedota das grandes cidades brasileiras. Crescer sem crescimento! Os servidores reclamam greve, o prefeito discursa pelo metrô, os políticos de oposição barram projetos sociais, os serviços urbanos são ruins (ônibus, sinalização de placas e ruas etc, falta passarelas etc). Os militantes comemoram o comunismo no poder, os empresários comemoram o turismo e consumismo.
Por um lado, como toda cidade, Aracaju apresenta seus avanços e retrocessos ao adentrar a lógica do discurso da modernidade tardia. Turismo e consumo dos bens culturais; embelezamento das regiões centrais; capas de revistas. A cidade também respira uma condição interessante. A prefeitura investiu nos projetos de habitação e isso logrou bons resultados para muitas pessoas que aproveitam essa oportunidade. Ciclovias, propagandas do errôneo termo "qualidade de vida", academias ao ar livre. Muito forró, festivais e festas públicas etc.
Por outro lado, Aracaju ganhou um lastro de ambíguidades maiores que seu próprio umbigo. Ruas e avenidas estreitas sem escoamento para outras. Recuo para ônibus em nossas estreitas avenidas, tanto as velhas quanto as novas. Carros cada vez mais presentes nestas. Pessoas cada vez com menos condições de atravessar tranquilamente uma rua, já que a cidade não tem boa sinalização (o que contrapõe a inserção na modernitè e no turismo!). Falta boa estrutura para escoamento de águas durante as chuvas também. Mas isso não é novidade no nosso país: ausência de bom saneamento básico. Que mais falta? Muitas coisas. Apenas pontuamos os pontos mais pontuados a olho nu!
Por fim, uma coisa mudou significativamente. Pela calma noturna e falta de identificação com os lugares, muitos dizem que Aracaju é uma cidade provinciana, um interior travestido de capital! Bom, esse papo é velho e envelheceu os discursos locais. Um exemplo típico para o que proponho discutir aqui é a cidade de Belém do Pará. Esta possuí uma média de 1.000.000 de habitantes. Duas vezes mais que Aracaju. Em todos os lugares que visitei e precisei perguntar aos nativos eles diziam: lá é muito bonito, muito bom, mas cuidado que é perigoso! A cidade é, por outro lado, muito tranquila. A tensão residia mais nas palavras dos moradores que nas ruas ermas. Vejo essas duas cidades, aliás, todas as cidades que conheço a partir de uma articulação do cosmopolitismo e provincianismo.
Enquanto que Belém ganhou o estigma de perigosa, e não deixa de ser, Aracaju ganhou de cidade provinciana. Também não deixa de ser. Contudo, sem o ar pejorativo atribuído a este termo. Ela não é por si uma cidade cosmopolita a exemplo das inserções globais em Sampa, Salvador, Rio, BH etc. Mas, por exemplo, nos espaços de sociabilidades juvenis é possível observar sua inscrição. No entanto, quando atribuem uma identidade à Aracaju muitas vezes esquecem-se as mudanças para falar do que já foi. Então, afinal, entrou esta cidade para a modernidade reclamada em contraposição à cidade provinciana? É uma cidade moderna! A pergunta é simples, porém de resposta complexa. Ao passo que publicizam uma nova Aracaju através de seus espaços centrais, pouco se vê, se ouve, se fala da Aracaju que o Aracajuano conhece...
Por um lado, como toda cidade, Aracaju apresenta seus avanços e retrocessos ao adentrar a lógica do discurso da modernidade tardia. Turismo e consumo dos bens culturais; embelezamento das regiões centrais; capas de revistas. A cidade também respira uma condição interessante. A prefeitura investiu nos projetos de habitação e isso logrou bons resultados para muitas pessoas que aproveitam essa oportunidade. Ciclovias, propagandas do errôneo termo "qualidade de vida", academias ao ar livre. Muito forró, festivais e festas públicas etc.
Por outro lado, Aracaju ganhou um lastro de ambíguidades maiores que seu próprio umbigo. Ruas e avenidas estreitas sem escoamento para outras. Recuo para ônibus em nossas estreitas avenidas, tanto as velhas quanto as novas. Carros cada vez mais presentes nestas. Pessoas cada vez com menos condições de atravessar tranquilamente uma rua, já que a cidade não tem boa sinalização (o que contrapõe a inserção na modernitè e no turismo!). Falta boa estrutura para escoamento de águas durante as chuvas também. Mas isso não é novidade no nosso país: ausência de bom saneamento básico. Que mais falta? Muitas coisas. Apenas pontuamos os pontos mais pontuados a olho nu!
Por fim, uma coisa mudou significativamente. Pela calma noturna e falta de identificação com os lugares, muitos dizem que Aracaju é uma cidade provinciana, um interior travestido de capital! Bom, esse papo é velho e envelheceu os discursos locais. Um exemplo típico para o que proponho discutir aqui é a cidade de Belém do Pará. Esta possuí uma média de 1.000.000 de habitantes. Duas vezes mais que Aracaju. Em todos os lugares que visitei e precisei perguntar aos nativos eles diziam: lá é muito bonito, muito bom, mas cuidado que é perigoso! A cidade é, por outro lado, muito tranquila. A tensão residia mais nas palavras dos moradores que nas ruas ermas. Vejo essas duas cidades, aliás, todas as cidades que conheço a partir de uma articulação do cosmopolitismo e provincianismo.
Enquanto que Belém ganhou o estigma de perigosa, e não deixa de ser, Aracaju ganhou de cidade provinciana. Também não deixa de ser. Contudo, sem o ar pejorativo atribuído a este termo. Ela não é por si uma cidade cosmopolita a exemplo das inserções globais em Sampa, Salvador, Rio, BH etc. Mas, por exemplo, nos espaços de sociabilidades juvenis é possível observar sua inscrição. No entanto, quando atribuem uma identidade à Aracaju muitas vezes esquecem-se as mudanças para falar do que já foi. Então, afinal, entrou esta cidade para a modernidade reclamada em contraposição à cidade provinciana? É uma cidade moderna! A pergunta é simples, porém de resposta complexa. Ao passo que publicizam uma nova Aracaju através de seus espaços centrais, pouco se vê, se ouve, se fala da Aracaju que o Aracajuano conhece...
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
Música brega é torta (parte 3)
Nos anos 60, retomou-se aqui no Brasil, uma necessidade de se buscar uma identidade nacional, tendo a classe universitária, como a classe salvadora dos males da industrialização. É bom lembrar que esse discurso nacionalista obviamente ia de encontro a toda e qualquer manifestação que significasse submissão ao capital estrangeiro. A musica conhecida como brega era justamente isso. Uma estética submetida a industria de massa. Portanto, música brega passou a ser toda a música que não fosse compartilhada com as expectativas de um público oriundo dos setores universitários.
É por isso que a denominação implica inevitavelmente um posicionamento segregador. Uma música ser brega, significa dizer que é mal feita, desagradável, ridícula, etc. Qual a conseqüência disso? Apesar dessa estética ter conseguido de certa forma demarcar suas fronteiras diante das outras, por ela historicamente carregar essa denominação pejorativa, os artistas, o público, mesmo se identificando com ela, muitas vezes se negam a aceitar essa classificação. Em outras palavras, aceita-se a música brega, mas não quer admitir que aceita.
Qual a relação disso tudo com o torto? Na minha opinião, assim como a música brega, a denominação torto tende a ser difícil de ser engolida por muitas pessoas. Assim como a denominação brega, a denominação torto implica um significado que diz respeito a tudo aquilo que é errado, grotesco, etc. Semana passada, por exemplo, um dos autores do torto, o Lou, disse-me que às vezes se sentia inseguro em divulgar mais o site do torto para os seus conhecidos porque o nome torto o incomodava. Assim como o brega, muitos indivíduos que se identificam com as perspectivas trazidas pelo Movimento, tendem a aceitá-lo, porém, não querem admitir que o que aceitam seja pensado como torto.
Porém, eu não vejo o torto como algo errado ou feio. Pelo menos na forma como eu penso, o torto assume uma posição ativa, isto é, somos tortos porque sabemos que inevitavelmente nos entortamos, ou seja, mudamos de opinião, de crença, transitamos coerentemente entre nossa própria contradição, falhamos, nos culpamos, refazemos nossos valores, vacilamos novamente e mudamos novamente. Enfim, não andamos sempre na reta previsível dos nossos atos. Acertamos e erramos, queremos o pecado, queremos o que nos convencionam como ética. Somos os dois, por isso não somos retilíneos. Abraçando e repudiando os vários lados ao mesmo tempo, o que nos resta é nos entortar.
Quanto à questão da não-aceitação, não acho que seja pela mudança da denominação que se acabará o preconceito criado em cima da denominação brega. Posso até ouvir uma música, e ao invés de brega, me utilize de outras denominações, mas não deixarei de estar associando essa estética ao brega, pois felizmente a música brega mesmo sendo dificilmente consensual, já conquistou alguns traços e alguns códigos capazes de me possibilitarem uma direção do que seja brega. E é por isso que eu sou a favor da manutenção da denominação brega, pois a música brega já atingiu sua peculiaridade diante da infinidade de outros universos musicais. Eu acho que existe a música brega, assim como existe o samba, o jazz, o blues, etc.
Já com relação ao torto, digo a mesma coisa. Pelo menos para mim, não tem por que mudarmos um termo por ele ser culturalmente definido como tudo que venha a fazer menção a posturas consideradas desagradáveis a expectativa moral da sociedade. Busco mostrar que quem se diz torto, admite que se entorta, e quem admite que se entorta, admite ser humano e bicho, instinto e cultura, bem e mal, certo e errado, sagrado e profano, convenção e subversão. Minha intenção está em mostrar que ser torto não é algo ruim, afinal, se Deus que é Onipresente, Onipotente, Onisciente, escreve certo por linhas tortas, o que dirá de nós, seus filhos imperfeitos.
É por isso que a denominação implica inevitavelmente um posicionamento segregador. Uma música ser brega, significa dizer que é mal feita, desagradável, ridícula, etc. Qual a conseqüência disso? Apesar dessa estética ter conseguido de certa forma demarcar suas fronteiras diante das outras, por ela historicamente carregar essa denominação pejorativa, os artistas, o público, mesmo se identificando com ela, muitas vezes se negam a aceitar essa classificação. Em outras palavras, aceita-se a música brega, mas não quer admitir que aceita.
Qual a relação disso tudo com o torto? Na minha opinião, assim como a música brega, a denominação torto tende a ser difícil de ser engolida por muitas pessoas. Assim como a denominação brega, a denominação torto implica um significado que diz respeito a tudo aquilo que é errado, grotesco, etc. Semana passada, por exemplo, um dos autores do torto, o Lou, disse-me que às vezes se sentia inseguro em divulgar mais o site do torto para os seus conhecidos porque o nome torto o incomodava. Assim como o brega, muitos indivíduos que se identificam com as perspectivas trazidas pelo Movimento, tendem a aceitá-lo, porém, não querem admitir que o que aceitam seja pensado como torto.
Porém, eu não vejo o torto como algo errado ou feio. Pelo menos na forma como eu penso, o torto assume uma posição ativa, isto é, somos tortos porque sabemos que inevitavelmente nos entortamos, ou seja, mudamos de opinião, de crença, transitamos coerentemente entre nossa própria contradição, falhamos, nos culpamos, refazemos nossos valores, vacilamos novamente e mudamos novamente. Enfim, não andamos sempre na reta previsível dos nossos atos. Acertamos e erramos, queremos o pecado, queremos o que nos convencionam como ética. Somos os dois, por isso não somos retilíneos. Abraçando e repudiando os vários lados ao mesmo tempo, o que nos resta é nos entortar.
Quanto à questão da não-aceitação, não acho que seja pela mudança da denominação que se acabará o preconceito criado em cima da denominação brega. Posso até ouvir uma música, e ao invés de brega, me utilize de outras denominações, mas não deixarei de estar associando essa estética ao brega, pois felizmente a música brega mesmo sendo dificilmente consensual, já conquistou alguns traços e alguns códigos capazes de me possibilitarem uma direção do que seja brega. E é por isso que eu sou a favor da manutenção da denominação brega, pois a música brega já atingiu sua peculiaridade diante da infinidade de outros universos musicais. Eu acho que existe a música brega, assim como existe o samba, o jazz, o blues, etc.
Já com relação ao torto, digo a mesma coisa. Pelo menos para mim, não tem por que mudarmos um termo por ele ser culturalmente definido como tudo que venha a fazer menção a posturas consideradas desagradáveis a expectativa moral da sociedade. Busco mostrar que quem se diz torto, admite que se entorta, e quem admite que se entorta, admite ser humano e bicho, instinto e cultura, bem e mal, certo e errado, sagrado e profano, convenção e subversão. Minha intenção está em mostrar que ser torto não é algo ruim, afinal, se Deus que é Onipresente, Onipotente, Onisciente, escreve certo por linhas tortas, o que dirá de nós, seus filhos imperfeitos.
Oi, tem algum nazista por aí?
Me deu um repentino medo de sair de casa. Com um copo de leite na mão, ando de um lado para o outro no centro da sala na esperença de que mais um dia passe rapidamente. Mas para quê? De que adianta? Já estou na beira dos 90, a passagem do tempo seria um dos meus inimigos por agora.
O anúncio da morte me veio muito cedo, há mais de 60 anos, generais dos Aliados me procuravam para ser condenado no tribunal de Nuremberg a fim de firmar o acerto de contas com os Direitos Humanos. Muitos dos meus colegas foram julgados e executados, mas alguns deles, assim como eu, pediram asilo para países não tão centrais na guerra. Hoje não sei mais quem sobrevive, creio que morreram de doença porque de guerra já não adiatara mais morrer.
Mas andam anunciando por aí que o governo alemão está em busca dos últimos nazistas. Semana passada abri a revista e vi *"Com os carrascos da Segunda Guerra prestes a morrer de velhice, o mundo corre para punir os poucos que restam". Pelo que vejo, estam falando de mim...Estou velho, doentes, coxo e cheio de manias obsessivas e compulsivas. Sou o legado vivo, uma enciclopedia ambulante de todos os fatos e detalhes que rolavam nos bastidores da guerra.
E me pergunto, para que irem atrás de mim agora? Fazer justiça? Isso não seria tão justo assim,tudo bem que trabalhei para Gestapo e tínhamos métodos mais escabrosos para torturar os judeus, mas eu não tinha outra escolha. Para você viver na Alemanha do Füher, teria que se submeter a todos os seus mandos.O país ia de mau a pior, as coisas andavam sob trilhos desgovernados, para se ter uma idéia em Janeiro de 1923 uma fatia de pão custava 250 marcos em menos de 6 meses passou a custar 3.465 marcos em novembro o pão já estava valendo 201 000 000 000. Parece mentira. Mas todos, sejam eles da alta patente ou um simples cidadão nadavam na lama suja que espalhava por todos os recantos do país. O que pensavamos era sobreviver naquele Pandemônio e cuidar de nossas famílias.
Utilizando as fraquezas do povo alemão, Hitler fazia grandes discursos em prol da familía, integridade e da nação. Quem não se simpatizaria com isso? Pois a política dos elefantes não deu certo. Por acharem que o Tio Sam estava banhado de uma avalanche de capital, nas leis de super produção e consumo a todo custo, se deram mal. Até antes de 1929, o Estado era um problema para a economia, depois...todos nós sabemos a que fim teve. Então, o Estado mais do que nunca era simbolo de poder na 2ª Guerra, precisavamos provar para o planeta que erámos realmente bons, pois saímos muito encurralados da 1ª. E não podia esquecer deles. Os russos! temos ter cuidado com eles! Os bolcheviques iria nos enlatar no comunismo do absurdo. O bigode suntuoso de Stalin nos transformariamos em ratos!
Confesso que nunca fui nazista, eu precisava ser nazista, achava esse projeto uma das piores engenharias inventadas. Uma vez, em um jantar casual, eu e meus colegas já tínhamos bebido muitas doses de cevada, especulamos por que o nazismo surgiu. E foi quase unânime a nossa conclusão. O nazismo surgiu por motivos muito mais pessoal do que político. Andavam falando que Hitler, quando jovem, não conseguiu entrar na Academia de Belas Artes, ele vivia de suas pinturas, quem financiava era os seus namorados judeus. Alguns deles riquissímos. Disseram também que ele era um reles soldado, mas conseguia subir de patente por ser amantes dos grandes generais do exército. Para ser sincero, eu acho que isso não está muito longe de ser verdade. A sua vida foi um verdadeiro espetáculo. O nazismo foi produto de sua loucura.
Minha nossa! O telefone está tocando histericamente! aposto que deve ser algum agente alemão me abordando "oi! tem algum nazista por aí?"
o que diria? Bom, se eu negar em atender eles iram tocar insistentemente...eu sei como eles são. A Velha Ordem infiltra feito fantasma atualmente. é melhor eu atender. Irei distorcer a minha voz. Putz...pior que estou velho demais para isso! Vou atender!
- Alô!
Menos mal! uma voz feminina, doce e sensual.
- Bom dia, Senhor! Somos representantes da Rede farmacêutica *** e viemos oferecer uma nova versão de sildenafila.
Tum, tum, tum...
Ora diabos! É claro que desliguei o telefone. Como eles são inteligentes. Pôs uma mulher para se certificar se tem algum velho nazista sobrevivente. Sabem sim que tem um velho morando aqui, pois por que ofereceriam sildenafila ao um jovem de 20 anos? Medicamento para disfunção sexual. Viagra. Hoje, ela é a alegria dos homens, mas há uns anos atrás era simbolo de horror. Essa rede farmaceutica está espalhada por todo mundo e ninguém impediu a sua expansão, foi responsável por formulas químicas e medicamentos para exterminar os judeus, os ditos não arianos. Diferente de mim, ela está viva e cada vez mais renovada. Claro, ela precisa existir! Ela dá lucros, e eu não.
Eles querem acabar com os nazistas em nome dos Direitos Humanos. Direitos Humanos? A melhor atitude que os países deveriam fazer eram se unir e acabar com o Tio Sam. Ele já deu trabalho demais e continua dando. Não foi ele que explodiu uma bomba em 194... me falhou a memória! Uma bomba de horror que matou muitos inocentes. Achos que não somos só nós assassinos em massa! Creio eu que acaba matando muito mais, e ainda pior, não mais de uma vez, mas continuamente através da mcdonaldização alimenticia que nem para os ratos eles estão perdoando.
Indo não muito longe, temos o governo populista dos brasucas que o seu representante se negou, primeiramente, a intervir nas relações internas da política do Irã. Sakineh vive agonizando sem saber quantos dias te restam. Ah! mas não vamos ser etnocêntricos! é cultura de cada país. Em alguns as mulheres mandam nos homens em outros elas não podem olhar para os lados sob o risco de serem apedrejadas. Como os Direitos Humanos é mais forte vale uma cadeira para o Conselho de Segurança da ONU, voltemos atrás. Não custa nada da asilo político a uma mulher que sofre nas mãos de um governo tirano. Não dá para listar as peripécias de cada governo. Todos tem muito mais o que fazer. Se não me acharam agora, para quê gasta dinheiro rastreando os últimos nazistas? será que as profissoes de agentes estão entrando em extição? só pode! Vou pagar mais o que? estou , velho, coxo, canceroso, cheios de manias obsessivas compulsivas, e lembranças que atormentam quando me lembro de entulhos humanos se convulsionando na câmara de gás ou espalhados por toda Alemanha. Ela deveria está mais preocupada com a crise que foi presenteado pelos gregos, pois muitos irão está com os salários congelados até 2014, alguns desempregados, impostos aterrorizantes e o velho pão...nas alturas! Isso está me cheirando quando tudo começou, mas outro Hitler não teria espaço. Primeiro que a globalização está mundializada, Estado totalitário não cabe, só é privilegio para Cuba. E outra ninguem vai querer falar alemão. Acho que os principais carrascos já se foram de modo justos, Sadam...Augusto Pinochet, eles sim foram grandes financiadores do horror, mas... nós? fomos apenas braços, pernas, ouvidos e boca de Hitler, que preferiu se matar a ter que se ajoelhar aos Aliados. Morte típica de quem acredita ser raça superior depois de praticar tantas insanidades. Orgulho ou culpa? vai lá saber!
O telefone toca histericamente!!!!mais histericamente que antes. O que faço? me escondo debaixo da cama? ta tocando! Já sei! Vou para o porão! Não, tou gordo demais irão me achar logo. o que faço? o que faço?
Não pensei muito. Atendi.
- ALÔ....? ALÔ...?
Antes que perguntassem se tinha algum nazista por aqui. tirei o fio da tomada e com a roupa do corpo fugi da minha casa relembrando o tempo de exilado.
* Citação que está em itálico foi retirada da revista IstoÉ, 11ago/ 2010 ano 34 nº 2126, PG.86
O anúncio da morte me veio muito cedo, há mais de 60 anos, generais dos Aliados me procuravam para ser condenado no tribunal de Nuremberg a fim de firmar o acerto de contas com os Direitos Humanos. Muitos dos meus colegas foram julgados e executados, mas alguns deles, assim como eu, pediram asilo para países não tão centrais na guerra. Hoje não sei mais quem sobrevive, creio que morreram de doença porque de guerra já não adiatara mais morrer.
Mas andam anunciando por aí que o governo alemão está em busca dos últimos nazistas. Semana passada abri a revista e vi *"Com os carrascos da Segunda Guerra prestes a morrer de velhice, o mundo corre para punir os poucos que restam". Pelo que vejo, estam falando de mim...Estou velho, doentes, coxo e cheio de manias obsessivas e compulsivas. Sou o legado vivo, uma enciclopedia ambulante de todos os fatos e detalhes que rolavam nos bastidores da guerra.
E me pergunto, para que irem atrás de mim agora? Fazer justiça? Isso não seria tão justo assim,tudo bem que trabalhei para Gestapo e tínhamos métodos mais escabrosos para torturar os judeus, mas eu não tinha outra escolha. Para você viver na Alemanha do Füher, teria que se submeter a todos os seus mandos.O país ia de mau a pior, as coisas andavam sob trilhos desgovernados, para se ter uma idéia em Janeiro de 1923 uma fatia de pão custava 250 marcos em menos de 6 meses passou a custar 3.465 marcos em novembro o pão já estava valendo 201 000 000 000. Parece mentira. Mas todos, sejam eles da alta patente ou um simples cidadão nadavam na lama suja que espalhava por todos os recantos do país. O que pensavamos era sobreviver naquele Pandemônio e cuidar de nossas famílias.
Utilizando as fraquezas do povo alemão, Hitler fazia grandes discursos em prol da familía, integridade e da nação. Quem não se simpatizaria com isso? Pois a política dos elefantes não deu certo. Por acharem que o Tio Sam estava banhado de uma avalanche de capital, nas leis de super produção e consumo a todo custo, se deram mal. Até antes de 1929, o Estado era um problema para a economia, depois...todos nós sabemos a que fim teve. Então, o Estado mais do que nunca era simbolo de poder na 2ª Guerra, precisavamos provar para o planeta que erámos realmente bons, pois saímos muito encurralados da 1ª. E não podia esquecer deles. Os russos! temos ter cuidado com eles! Os bolcheviques iria nos enlatar no comunismo do absurdo. O bigode suntuoso de Stalin nos transformariamos em ratos!
Confesso que nunca fui nazista, eu precisava ser nazista, achava esse projeto uma das piores engenharias inventadas. Uma vez, em um jantar casual, eu e meus colegas já tínhamos bebido muitas doses de cevada, especulamos por que o nazismo surgiu. E foi quase unânime a nossa conclusão. O nazismo surgiu por motivos muito mais pessoal do que político. Andavam falando que Hitler, quando jovem, não conseguiu entrar na Academia de Belas Artes, ele vivia de suas pinturas, quem financiava era os seus namorados judeus. Alguns deles riquissímos. Disseram também que ele era um reles soldado, mas conseguia subir de patente por ser amantes dos grandes generais do exército. Para ser sincero, eu acho que isso não está muito longe de ser verdade. A sua vida foi um verdadeiro espetáculo. O nazismo foi produto de sua loucura.
Minha nossa! O telefone está tocando histericamente! aposto que deve ser algum agente alemão me abordando "oi! tem algum nazista por aí?"
o que diria? Bom, se eu negar em atender eles iram tocar insistentemente...eu sei como eles são. A Velha Ordem infiltra feito fantasma atualmente. é melhor eu atender. Irei distorcer a minha voz. Putz...pior que estou velho demais para isso! Vou atender!
- Alô!
Menos mal! uma voz feminina, doce e sensual.
- Bom dia, Senhor! Somos representantes da Rede farmacêutica *** e viemos oferecer uma nova versão de sildenafila.
Tum, tum, tum...
Ora diabos! É claro que desliguei o telefone. Como eles são inteligentes. Pôs uma mulher para se certificar se tem algum velho nazista sobrevivente. Sabem sim que tem um velho morando aqui, pois por que ofereceriam sildenafila ao um jovem de 20 anos? Medicamento para disfunção sexual. Viagra. Hoje, ela é a alegria dos homens, mas há uns anos atrás era simbolo de horror. Essa rede farmaceutica está espalhada por todo mundo e ninguém impediu a sua expansão, foi responsável por formulas químicas e medicamentos para exterminar os judeus, os ditos não arianos. Diferente de mim, ela está viva e cada vez mais renovada. Claro, ela precisa existir! Ela dá lucros, e eu não.
Eles querem acabar com os nazistas em nome dos Direitos Humanos. Direitos Humanos? A melhor atitude que os países deveriam fazer eram se unir e acabar com o Tio Sam. Ele já deu trabalho demais e continua dando. Não foi ele que explodiu uma bomba em 194... me falhou a memória! Uma bomba de horror que matou muitos inocentes. Achos que não somos só nós assassinos em massa! Creio eu que acaba matando muito mais, e ainda pior, não mais de uma vez, mas continuamente através da mcdonaldização alimenticia que nem para os ratos eles estão perdoando.
Indo não muito longe, temos o governo populista dos brasucas que o seu representante se negou, primeiramente, a intervir nas relações internas da política do Irã. Sakineh vive agonizando sem saber quantos dias te restam. Ah! mas não vamos ser etnocêntricos! é cultura de cada país. Em alguns as mulheres mandam nos homens em outros elas não podem olhar para os lados sob o risco de serem apedrejadas. Como os Direitos Humanos é mais forte vale uma cadeira para o Conselho de Segurança da ONU, voltemos atrás. Não custa nada da asilo político a uma mulher que sofre nas mãos de um governo tirano. Não dá para listar as peripécias de cada governo. Todos tem muito mais o que fazer. Se não me acharam agora, para quê gasta dinheiro rastreando os últimos nazistas? será que as profissoes de agentes estão entrando em extição? só pode! Vou pagar mais o que? estou , velho, coxo, canceroso, cheios de manias obsessivas compulsivas, e lembranças que atormentam quando me lembro de entulhos humanos se convulsionando na câmara de gás ou espalhados por toda Alemanha. Ela deveria está mais preocupada com a crise que foi presenteado pelos gregos, pois muitos irão está com os salários congelados até 2014, alguns desempregados, impostos aterrorizantes e o velho pão...nas alturas! Isso está me cheirando quando tudo começou, mas outro Hitler não teria espaço. Primeiro que a globalização está mundializada, Estado totalitário não cabe, só é privilegio para Cuba. E outra ninguem vai querer falar alemão. Acho que os principais carrascos já se foram de modo justos, Sadam...Augusto Pinochet, eles sim foram grandes financiadores do horror, mas... nós? fomos apenas braços, pernas, ouvidos e boca de Hitler, que preferiu se matar a ter que se ajoelhar aos Aliados. Morte típica de quem acredita ser raça superior depois de praticar tantas insanidades. Orgulho ou culpa? vai lá saber!
O telefone toca histericamente!!!!mais histericamente que antes. O que faço? me escondo debaixo da cama? ta tocando! Já sei! Vou para o porão! Não, tou gordo demais irão me achar logo. o que faço? o que faço?
Não pensei muito. Atendi.
- ALÔ....? ALÔ...?
Antes que perguntassem se tinha algum nazista por aqui. tirei o fio da tomada e com a roupa do corpo fugi da minha casa relembrando o tempo de exilado.
* Citação que está em itálico foi retirada da revista IstoÉ, 11ago/ 2010 ano 34 nº 2126, PG.86
domingo, 15 de agosto de 2010
Palavras de um Rei Bosta ( Por Reuel Astronauta e Vina Torto )
Tenho medo e um imenso universo no bolso
Tudo que enxergo é grandioso
Mas tenho fome, pois no meu prato, sequer eu tenho osso.
Na minha ilha de desejos, escrevo com um pincel apenas
Pois me deixaram aqui sozinho a ver o mar
De percepções que me trancam na ilha.
Não importa se na ilha posso provar da cajuína ou da mandioca
Na minha oca o que se canta quebra nas pedras da ilha
E no seu mar não ecoa o que se fala na oca
Ilha de ocas repletas de imensidão
O mar o céu dão o seu traço
Mas eu com um pincel apenas
Pinto a minha própria imagem.
O eco é grandioso e tudo é oco
Pois se o que eu acho que é meu se dilui no mar
Afoitas, as ondas sempre refazem a ilha.
O que levo comigo é esse velho pincel
Que eu nunca compreendi por que o tenho.
Na ilha não existe tela nem tintas para pintar.
Nela, ando sempre com um bom amigo
Que já me amou de surpresas e desencantos.
Tudo que enxergo é grandioso
Mas tenho fome, pois no meu prato, sequer eu tenho osso.
Na minha ilha de desejos, escrevo com um pincel apenas
Pois me deixaram aqui sozinho a ver o mar
De percepções que me trancam na ilha.
Não importa se na ilha posso provar da cajuína ou da mandioca
Na minha oca o que se canta quebra nas pedras da ilha
E no seu mar não ecoa o que se fala na oca
Ilha de ocas repletas de imensidão
O mar o céu dão o seu traço
Mas eu com um pincel apenas
Pinto a minha própria imagem.
O eco é grandioso e tudo é oco
Pois se o que eu acho que é meu se dilui no mar
Afoitas, as ondas sempre refazem a ilha.
O que levo comigo é esse velho pincel
Que eu nunca compreendi por que o tenho.
Na ilha não existe tela nem tintas para pintar.
Nela, ando sempre com um bom amigo
Que já me amou de surpresas e desencantos.
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
REPOUSO NO REFLEXO
Vejo o reflexo do meu eu no espelho que é a água parada na privada.
Por alguns instantes repouso a minha imagem na superfície fina, hospedada por visitantes invisíveis que, a todo instante, tentam me convencer da sua existência.
Durante o dialogo mudo,
O liquido fluido, em cor amarela, aos poucos, jorra do meu corpo como excremento rejeitado.
Trêmulo, meu espelho privado respinga gotas de orvalho anti-lirico e distorce minha imagem na turbulência da água.
O meu espelho, até o instante inquebrável, assume o desconcerto de um ser distorcido, do qual não consegue mais reconhecer a sua própria imagem.
E depois disso, qual será a nova face? E depois dessa, qual será essa nova imagem? Após as últimas gotas posso ver outra face que perde a forma, a cor, o cheiro e, inaprazível, ainda abriga vidas invisíveis.
Por alguns instantes repouso a minha imagem na superfície fina, hospedada por visitantes invisíveis que, a todo instante, tentam me convencer da sua existência.
Durante o dialogo mudo,
O liquido fluido, em cor amarela, aos poucos, jorra do meu corpo como excremento rejeitado.
Trêmulo, meu espelho privado respinga gotas de orvalho anti-lirico e distorce minha imagem na turbulência da água.
O meu espelho, até o instante inquebrável, assume o desconcerto de um ser distorcido, do qual não consegue mais reconhecer a sua própria imagem.
E depois disso, qual será a nova face? E depois dessa, qual será essa nova imagem? Após as últimas gotas posso ver outra face que perde a forma, a cor, o cheiro e, inaprazível, ainda abriga vidas invisíveis.
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
A grama que brota do chão
Varra a calçada com esta vassoura!
Os panfletos denunciam que eles estão de volta.
São fiéis criaturas. Vampiros cruéis.
Herdeiros de coronéis.
Amigos de bacharéis.
Eles gostam de dar tapinhas nas costas.
Apertam as mãos do povo com um sorriso aberto.
Seu nome pode ser qualquer um.
Mas o fim da estrada ninguém vê.
Sempre foi assim, Maria!
Cale a boca que o homem passa!
Mais uma trapaça, mais uma constituição em nome do povo.
Mais uma eleição cara.
As cidades acreditam.
O povo e as vacas juntas caminham no mesmo curral.
Sim senhor seu deputado!
Conte comigo novamente.
Tem sido assim desde Cabral.
Por isso tem gente que não nega: É melhor ser cara de pau.
O problema é do outro.
De quem?
Da grama que brota do chão...
Os panfletos denunciam que eles estão de volta.
São fiéis criaturas. Vampiros cruéis.
Herdeiros de coronéis.
Amigos de bacharéis.
Eles gostam de dar tapinhas nas costas.
Apertam as mãos do povo com um sorriso aberto.
Seu nome pode ser qualquer um.
Mas o fim da estrada ninguém vê.
Sempre foi assim, Maria!
Cale a boca que o homem passa!
Mais uma trapaça, mais uma constituição em nome do povo.
Mais uma eleição cara.
As cidades acreditam.
O povo e as vacas juntas caminham no mesmo curral.
Sim senhor seu deputado!
Conte comigo novamente.
Tem sido assim desde Cabral.
Por isso tem gente que não nega: É melhor ser cara de pau.
O problema é do outro.
De quem?
Da grama que brota do chão...
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
Brevíssimo Prefácio à Prosa de Roosevelt Vieira Leite
É bem verdade que hodiernamente (na realidade já há algum tempo) as escolas literárias, tais como didaticamente as institucionalizamos enquanto perspectivas estéticas comuns no passado, já não existem. Muito embora encontremos um aparecimento em massa de sintomas, tais como o niilismo, a super-recriação do mundo através do bombardeamento de signos, a derrota serial dos ídolos, a ansiedade, entre outros fatores que transformam alguma parte das produções contemporâneas em pastiche ácido e desiludido.
Entretanto, o projeto de dessubstancialização do sujeito que caracteriza o niilismo ainda não se deu por completo (se por acaso for seu destino completar-se) e a prosa deste cearense, teólogo e pedagogo de formação, é exemplo disto.
Temos, como primeiro afeto, a presença da religião nos textos, e sabe-se que toda religião pressupõe um sentido-fundamento (que pode ou não ser um deus), portanto a tese do completo niilismo já é derrubada a priori.
Apesar da desterritorialização e da diluição da identidade nos nossos tempos, temos como sinais de uma escancarada idiossincrasia o existencialismo e o psicologismo em que Roosevelt mergulha pretos-velhos e elementos de uma cultura tão oralizada como é a afro-brasileira. No vocabulário um tanto rústico de Pai Joaquim “Joaquim e o Tempo” materializam-se elaborações que contemplam de Platão a Espinosa e a mais densa cosmologia, por exemplo.
A esperança nas obras do cearense não é um engajamento paternalista, neste sentido há já um esvaziamento de crenças (o que aliás caracteriza de certa forma todo o Movimento Torto), a esperança é, sim, investida numa inteligibilidade de um ser que produz a ordem real que possivelmente subjaz os fenômenos ordenados de forma tão subjetiva pelo nosso entendimento. Aliás, há um tanto de Alberto Caeiro implícito nas obras do autor, no sentido de que cada um tem a medida do seu próprio sofrimento, portanto não há espaço para o paternalismo pretensioso e onisciente nem à demogagia partidária: não há (aspas) salvadores das pátrias ou das dores.
Do ponto de vista das características estritamente literárias, percebemos algo que já é um tanto conhecido da prosa moderna para cá: cânones misturados de forma livre, muito embora não haja a subversão formal dos modernistas. Apesar de termos alguns textos mais introspectivos (“O dito, dito novamente”, por exemplo), verificamos a predominância da construção dialógica. Há um certo espaço para a colagem alinear no que se refere ao tempo de algumas narrativas, como “Sombras”, por exemplo, e um constante desprestígio à causalidade (uma ideia humeana que ronda pelo Torto).
Vemos, a esta altura já obviamente, que os laços com a tradição na “prosa rooseveltiana” não foram totalmente rompidos, no máximo rearrumados. Aliás, como escreveu Ferreira Gullar “o verdadeiro novo nasce do velho, resulta de sua superação e transformação; por isso mesmo tem raízes profundas na cultura, na história, na linguagem. Fazer o novo não é questão apenas de vontade, mas de necessidade.”
Aliás, em se tratando de diálogos, o texto “Joaquim e o Tempo” nos remete analogicamente à escrita platônica. A posição curiosa da “moça negra, verdadeira deusa da África” se dirigindo a um sujeito suposto saber “no caso, Pai Joaquim” lembra-nos muito os momentos de Glauco e Sòcrates.
A prosa de Roosevelt Vieira Leite é bem isto, uma escrita que tem sempre em um dos bolsos a contingencialidade, a crítica à suposta onipotência humana, a mitologia afro-brasileira copulando com a prolixidade platônica, o animal humano que se embrenha pelas matas e vísceras do Ceará e chega subitamente à Praça Fausto Cardoso, de onde vislumbra o Rio Sergipe, em que “ afogará sua consciência, para depois se fascinar pelo barulho da correnteza”.
Espero que o limitado arsenal teórico que embasou a composição destas pouquíssimas linhas possa converter-se em coisa boa, qual seja, um convite informal à envolvente literatura deste tão talentoso torto.
Entretanto, o projeto de dessubstancialização do sujeito que caracteriza o niilismo ainda não se deu por completo (se por acaso for seu destino completar-se) e a prosa deste cearense, teólogo e pedagogo de formação, é exemplo disto.
Temos, como primeiro afeto, a presença da religião nos textos, e sabe-se que toda religião pressupõe um sentido-fundamento (que pode ou não ser um deus), portanto a tese do completo niilismo já é derrubada a priori.
Apesar da desterritorialização e da diluição da identidade nos nossos tempos, temos como sinais de uma escancarada idiossincrasia o existencialismo e o psicologismo em que Roosevelt mergulha pretos-velhos e elementos de uma cultura tão oralizada como é a afro-brasileira. No vocabulário um tanto rústico de Pai Joaquim “Joaquim e o Tempo” materializam-se elaborações que contemplam de Platão a Espinosa e a mais densa cosmologia, por exemplo.
A esperança nas obras do cearense não é um engajamento paternalista, neste sentido há já um esvaziamento de crenças (o que aliás caracteriza de certa forma todo o Movimento Torto), a esperança é, sim, investida numa inteligibilidade de um ser que produz a ordem real que possivelmente subjaz os fenômenos ordenados de forma tão subjetiva pelo nosso entendimento. Aliás, há um tanto de Alberto Caeiro implícito nas obras do autor, no sentido de que cada um tem a medida do seu próprio sofrimento, portanto não há espaço para o paternalismo pretensioso e onisciente nem à demogagia partidária: não há (aspas) salvadores das pátrias ou das dores.
Do ponto de vista das características estritamente literárias, percebemos algo que já é um tanto conhecido da prosa moderna para cá: cânones misturados de forma livre, muito embora não haja a subversão formal dos modernistas. Apesar de termos alguns textos mais introspectivos (“O dito, dito novamente”, por exemplo), verificamos a predominância da construção dialógica. Há um certo espaço para a colagem alinear no que se refere ao tempo de algumas narrativas, como “Sombras”, por exemplo, e um constante desprestígio à causalidade (uma ideia humeana que ronda pelo Torto).
Vemos, a esta altura já obviamente, que os laços com a tradição na “prosa rooseveltiana” não foram totalmente rompidos, no máximo rearrumados. Aliás, como escreveu Ferreira Gullar “o verdadeiro novo nasce do velho, resulta de sua superação e transformação; por isso mesmo tem raízes profundas na cultura, na história, na linguagem. Fazer o novo não é questão apenas de vontade, mas de necessidade.”
Aliás, em se tratando de diálogos, o texto “Joaquim e o Tempo” nos remete analogicamente à escrita platônica. A posição curiosa da “moça negra, verdadeira deusa da África” se dirigindo a um sujeito suposto saber “no caso, Pai Joaquim” lembra-nos muito os momentos de Glauco e Sòcrates.
A prosa de Roosevelt Vieira Leite é bem isto, uma escrita que tem sempre em um dos bolsos a contingencialidade, a crítica à suposta onipotência humana, a mitologia afro-brasileira copulando com a prolixidade platônica, o animal humano que se embrenha pelas matas e vísceras do Ceará e chega subitamente à Praça Fausto Cardoso, de onde vislumbra o Rio Sergipe, em que “ afogará sua consciência, para depois se fascinar pelo barulho da correnteza”.
Espero que o limitado arsenal teórico que embasou a composição destas pouquíssimas linhas possa converter-se em coisa boa, qual seja, um convite informal à envolvente literatura deste tão talentoso torto.
terça-feira, 10 de agosto de 2010
Um universo em si.
Na manhã de ontem, recebi um bom dia um tanto cansado, o meu então, foi deveras cansado. Como bom torto, mesmo que ainda sobre efeito da resseca fruto de férias pequenas, fui tentando ler a noite anterior e criar como um bom macaco “evoluído”, um fio de lógica para fatos manifestados na noite anterior. Não irei tratar os fatos aqui detalhadamente, como um diário, afinal não cabe aos leitores os saber, porém irei criar um campo lógico que deixará as experiências pessoais engendrar uma contribuição para os leitores.
Nesta noite aconteceram fatos adversos, que mexem sobremaneira com o senso de moral alheio. Obviamente não quero aqui suplantá-los, porém trabalhá-los de uma forma um tanto diferente. Primeiro queria colocar a seguinte inferência, até que ponto somos aparência ou preconceito? Segundo até que ponto podemos aceitar esse outro que tanto queremos proteger em nossos afetos (sobremaneira nos nossos dias onde a tônica do politicamente correto soa), por algo que convencionalmente em nossos tempos é imperativo que aceitemos, porém internamente não queremos aceitar?
Como bem falo para o torto Vina, somos produto e produtor. Sabendo disso podemos pensar o seguinte, ao mesmo tempo somos amigos do tempo e inimigos dele. Pois que, se somos produto cultural, ou seja, frutos de uma herança de valores que desde nossa infância nos contamina, somos amigos do tempo, e ao mesmo tempo, se pudermos encarar a vida como um fluxo, entenderemos que somos produtores de valores também, portanto, inimigos do tempo, passivos de sermos repelidos por ele. Como falo em outros textos meus aqui nesse espaço, poderíamos encarar o outro como um processo, e este processo para mim está atrelado a essa dimensão da realidade que aqui exponho.
Se encararmos esse outro como amigo do tempo, podemos pensar o seguinte: até que ponto valores coletivos do presente podem suplantar valores individuais? Para deixar mais claro, como podemos aceitar diversidades culturais, que se encontram diluídas em nosso fluido sócio-cultural, diversidades sexuais, diversidades físicas (deficientes físicos) e etc. Se o que nos vêm em mente é um pré-juízo involuntário? Pensamos ora, o que mais vemos em todas as mídias é a contaminação frenética de valores que afirmam que estas pessoas devem ser aceitas, por que então que pessoas aparentemente liberais ainda cultivam preceitos arcaicos? Abrimos então esse leque mais ainda, podemos conceber então que não só o desvio é fruto de um processo, de acomodação de valores e uma posterior criação destes, podemos encarar o pré-juízo ou o preconceito também como um processo, um estagio frágil de certo tipo de classificação social para a acomodação ou naturalização de um habitus.
Referente até que ponto podemos ser verdadeiramente o estigma que nos colocam ou a aparência, é uma pergunta um tanto complexa, e não tenho a intenção de esgotar esse tema aqui, afinal faço apenas um esboço dessa temática, que poderíamos perfeitamente aprofundar com os colegas. O que penso a respeito é que, considero o processo de estigmatização ou de projeção de um juízo de valor como algo natural, e que serve ao meu ver para organizar o nosso espaço, afinal em cidades onde as distancias só aumentam e o conhecimento das diversas alteridades se reduz consideravelmente, é necessário e é real a estigmatização quase que instantânea, causando ou repulsa ou empatia.
Porém, se estivermos aptos a entender melhor este outro podemos suplantar certos valores e criar outros, buscar entender o outro não é um esforço pequeno, afinal mexe com nossas reentrâncias valorativas, mas admito que injustiças como execrar outras pessoas por cor ou sexualidade, são questões ainda passivas e merecedoras de uma reavaliação e sobremaneira de um esforço próprio para um AUTOCONHECIMENTO. E por fim, não podemos afirmar que alguma pessoa seja verdadeiramente o que ela aparenta ser, antes de tudo devemos nos desafiar a conhecê-la, se pudermos nos permitir é claro.
Nesta noite aconteceram fatos adversos, que mexem sobremaneira com o senso de moral alheio. Obviamente não quero aqui suplantá-los, porém trabalhá-los de uma forma um tanto diferente. Primeiro queria colocar a seguinte inferência, até que ponto somos aparência ou preconceito? Segundo até que ponto podemos aceitar esse outro que tanto queremos proteger em nossos afetos (sobremaneira nos nossos dias onde a tônica do politicamente correto soa), por algo que convencionalmente em nossos tempos é imperativo que aceitemos, porém internamente não queremos aceitar?
Como bem falo para o torto Vina, somos produto e produtor. Sabendo disso podemos pensar o seguinte, ao mesmo tempo somos amigos do tempo e inimigos dele. Pois que, se somos produto cultural, ou seja, frutos de uma herança de valores que desde nossa infância nos contamina, somos amigos do tempo, e ao mesmo tempo, se pudermos encarar a vida como um fluxo, entenderemos que somos produtores de valores também, portanto, inimigos do tempo, passivos de sermos repelidos por ele. Como falo em outros textos meus aqui nesse espaço, poderíamos encarar o outro como um processo, e este processo para mim está atrelado a essa dimensão da realidade que aqui exponho.
Se encararmos esse outro como amigo do tempo, podemos pensar o seguinte: até que ponto valores coletivos do presente podem suplantar valores individuais? Para deixar mais claro, como podemos aceitar diversidades culturais, que se encontram diluídas em nosso fluido sócio-cultural, diversidades sexuais, diversidades físicas (deficientes físicos) e etc. Se o que nos vêm em mente é um pré-juízo involuntário? Pensamos ora, o que mais vemos em todas as mídias é a contaminação frenética de valores que afirmam que estas pessoas devem ser aceitas, por que então que pessoas aparentemente liberais ainda cultivam preceitos arcaicos? Abrimos então esse leque mais ainda, podemos conceber então que não só o desvio é fruto de um processo, de acomodação de valores e uma posterior criação destes, podemos encarar o pré-juízo ou o preconceito também como um processo, um estagio frágil de certo tipo de classificação social para a acomodação ou naturalização de um habitus.
Referente até que ponto podemos ser verdadeiramente o estigma que nos colocam ou a aparência, é uma pergunta um tanto complexa, e não tenho a intenção de esgotar esse tema aqui, afinal faço apenas um esboço dessa temática, que poderíamos perfeitamente aprofundar com os colegas. O que penso a respeito é que, considero o processo de estigmatização ou de projeção de um juízo de valor como algo natural, e que serve ao meu ver para organizar o nosso espaço, afinal em cidades onde as distancias só aumentam e o conhecimento das diversas alteridades se reduz consideravelmente, é necessário e é real a estigmatização quase que instantânea, causando ou repulsa ou empatia.
Porém, se estivermos aptos a entender melhor este outro podemos suplantar certos valores e criar outros, buscar entender o outro não é um esforço pequeno, afinal mexe com nossas reentrâncias valorativas, mas admito que injustiças como execrar outras pessoas por cor ou sexualidade, são questões ainda passivas e merecedoras de uma reavaliação e sobremaneira de um esforço próprio para um AUTOCONHECIMENTO. E por fim, não podemos afirmar que alguma pessoa seja verdadeiramente o que ela aparenta ser, antes de tudo devemos nos desafiar a conhecê-la, se pudermos nos permitir é claro.
E aí, Mano?
A seleção joga hoje, terça-feira, 10/08/2010, às 21h30. A nação se moverá para ver os novos jogadores e o futuro do time. Os meninos da vila serão o foco do jogo. Certamente todos querem show desses "meninos". Todos anseiam em esquecer a frustração da última copa do mundo, quando o Brasil perdeu vergonhosamente para o fraco time da Holanda. Sim, para os mais apaixonados, considero fraco aquele time holandês. A seleção brasileira também era fraca. Mas para se aceitar uma derrota deve-se pelo menos ser através de muita luta em campo.
Enfim. Agora é bola pra frente que atrás vem gente. E o Brasil, em sua época de eleição presidencial vibra mais pela renovação do futebol, pois até o momento a representação eleitoral não ditou novidades. A esquerda discursa os mesmos discursos. A direita não faz diferente. Os em cima do muro não manifestam nenhuma novidade. Daí que o técnico da seleção, Mano Menezes, ao responder para os jornalistas sobre a importância em assumir este cargo, discursou: Assumir o comando da seleção brasileira é estar diante de um dos mais importantes cargos do país.
A que se conteste esta afirmação. Mas para o momento em que pese o pouco reconhecimento de muitas e importantes profissões no nosso país, o Mano não sai da razão. Pelo menos a "nação" reconhece sua importância. Ai se ele falha... O Dunga falhou quando menos devia. Mas isento o pobre rapaz. O Mano, este sim, não poderá falhar. Ele assumiu um dos "cargos mais importantes do país". Até mesmo os debates eleitorais ganharam pouco destaques nos noticiários de hoje. Bom, até admiro a ironia e a intolerância de William Waack, apresentador do Jornal da Globo, ao contestar a frase de Mano com um sonoro: Mais importante? A expressão do apresentador resvala no que significa o diploma dos jornalistas brasileiros equiparados pelo STF ao de chefe de cozinha. Bom, para mim, cada profissão tem o seu valor, embora ninguém escolha em ser o lixeiro por livre e espontânea vontade.
Mas, o chefe de cozinha, esse sim talvez tenha razão em nem sequer se manifestar, pois ele faz todos calarem a boca, apreciarem, vibrarem, cagarem e dormirem na cesta quando põe seus deliciosos pratos à mesa!
Enfim. Agora é bola pra frente que atrás vem gente. E o Brasil, em sua época de eleição presidencial vibra mais pela renovação do futebol, pois até o momento a representação eleitoral não ditou novidades. A esquerda discursa os mesmos discursos. A direita não faz diferente. Os em cima do muro não manifestam nenhuma novidade. Daí que o técnico da seleção, Mano Menezes, ao responder para os jornalistas sobre a importância em assumir este cargo, discursou: Assumir o comando da seleção brasileira é estar diante de um dos mais importantes cargos do país.
A que se conteste esta afirmação. Mas para o momento em que pese o pouco reconhecimento de muitas e importantes profissões no nosso país, o Mano não sai da razão. Pelo menos a "nação" reconhece sua importância. Ai se ele falha... O Dunga falhou quando menos devia. Mas isento o pobre rapaz. O Mano, este sim, não poderá falhar. Ele assumiu um dos "cargos mais importantes do país". Até mesmo os debates eleitorais ganharam pouco destaques nos noticiários de hoje. Bom, até admiro a ironia e a intolerância de William Waack, apresentador do Jornal da Globo, ao contestar a frase de Mano com um sonoro: Mais importante? A expressão do apresentador resvala no que significa o diploma dos jornalistas brasileiros equiparados pelo STF ao de chefe de cozinha. Bom, para mim, cada profissão tem o seu valor, embora ninguém escolha em ser o lixeiro por livre e espontânea vontade.
Mas, o chefe de cozinha, esse sim talvez tenha razão em nem sequer se manifestar, pois ele faz todos calarem a boca, apreciarem, vibrarem, cagarem e dormirem na cesta quando põe seus deliciosos pratos à mesa!
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
Edíficio Master, uma comunidade?
As pessoas transitam nas ruas, os carros correm apressados, a violência pulsa intensamente. Concorrendo a essa loucura urbana, a princesinha de Copacabana sempre de braços abertos para acolher turistas, impressionados com o humor carioquês, o clima contagiante, enfim, a cidade maravilhosa. Em um ponto dessa cidade cosmopolita- onde você encontra qualquer cidadão do mundo por acidente que de repente escolheu o Rio para ficar por uns tempos, até não ser surpreendido por uma bala perdida- se encontra o edifício Master.
Antes de comentar sobre o filme produzido por Eduardo Coutinho, gostaria de apontar um sobre a questão que me deixa um tanto curiosa: a emergência de apêndices em uma cápsula que parece ser tão envernizada, ou seja, a insurgência de algumas comunidades dentro de uma sociedade. Ao meu ver, as comunidades surgem na tentativa de resgatar , ou melhor, produzir algum sentido que por um momento foi tolhido pela sociedade. Um exemplo que me vêm agora à cabeça é a favela. Ela nasce da cidade, mas dela se degenera. Por constituir de elementos relegados a essa sociedade, a favela produz uma nova configuração dentro da cidade. As pessoas transitam não em ruas, mas em caminhos orlados de casas, os carros não correm apressados, mas tropeçam em caminhos não pavimentados, a violência pulsa, mas com um diferencial: quem é atingido, é reconhecido. Enfim, as pessoas não estão dissolvidas no anonimato.
Logo que assisti o filme O edifício Master, o autor me trouxe uma sensação de brincar com essa idéia de comunidade coexistindo em uma sociedade. As pessoas se encontram no mesmo espaço, mas pouco se relacionam ou até mesmo não se conhece. O seu mundo somente é individualizado quando dá acesso ao seu apartamento, depois de um imenso corredor sombrio preso na escuridão.
Mas quando a vida daquelas pessoas são expostas para produzir o documentário, suas vidas tomam o novo significado, cada morador é personalizado. Suas histórias são relatadas pondo a tona lembranças, revelações e sentimentos. Mesmo que o edifício seja uma passagem para alguns, ali não deixa de ser um ambiente que trouxe recordações e que serviu por algum momento, um lugar que protegeu e também empurrou contra a pior de todas as violências: a solidão. Uma solidão tão familiar na cidade grande: estar no meio de tanta gente e ser apenas mais um, preso em suas lembranças, angústias e receios.
Antes de comentar sobre o filme produzido por Eduardo Coutinho, gostaria de apontar um sobre a questão que me deixa um tanto curiosa: a emergência de apêndices em uma cápsula que parece ser tão envernizada, ou seja, a insurgência de algumas comunidades dentro de uma sociedade. Ao meu ver, as comunidades surgem na tentativa de resgatar , ou melhor, produzir algum sentido que por um momento foi tolhido pela sociedade. Um exemplo que me vêm agora à cabeça é a favela. Ela nasce da cidade, mas dela se degenera. Por constituir de elementos relegados a essa sociedade, a favela produz uma nova configuração dentro da cidade. As pessoas transitam não em ruas, mas em caminhos orlados de casas, os carros não correm apressados, mas tropeçam em caminhos não pavimentados, a violência pulsa, mas com um diferencial: quem é atingido, é reconhecido. Enfim, as pessoas não estão dissolvidas no anonimato.
Logo que assisti o filme O edifício Master, o autor me trouxe uma sensação de brincar com essa idéia de comunidade coexistindo em uma sociedade. As pessoas se encontram no mesmo espaço, mas pouco se relacionam ou até mesmo não se conhece. O seu mundo somente é individualizado quando dá acesso ao seu apartamento, depois de um imenso corredor sombrio preso na escuridão.
Mas quando a vida daquelas pessoas são expostas para produzir o documentário, suas vidas tomam o novo significado, cada morador é personalizado. Suas histórias são relatadas pondo a tona lembranças, revelações e sentimentos. Mesmo que o edifício seja uma passagem para alguns, ali não deixa de ser um ambiente que trouxe recordações e que serviu por algum momento, um lugar que protegeu e também empurrou contra a pior de todas as violências: a solidão. Uma solidão tão familiar na cidade grande: estar no meio de tanta gente e ser apenas mais um, preso em suas lembranças, angústias e receios.
Música Gospel: uma pluralidade excludente
(Artigo publicado no Cinform dia 24/03/2010- www.cinform.com.br/blog/vinatorto)
São inúmeras tribos musicais. Tem grupo cantando heavy metal com suas vozes cavernosas ou estridentes, tem tribo rebolando gostoso com o pagode, tem tribo balançando as mãozinhas no ritmo quente do axé, etc. A única diferença disso tudo é que eles cantam músicas que louvam o Senhor. No entanto, quem não louva o Senhor assim como eles, muitas vezes não passam de seres profanos e comandados pela força maligna do Satanás.
Vivemos em um mundo que se caracteriza por sua natureza plural. Facilitadas pelo contexto global, as diferenças musicais se intercruzam e se fundem em novas formas culturais oriundas de todas as parte do planeta. Atualmente, é impossível pensarmos haver grupos literalmente isolados dos outros. No entanto, apesar dessas trocas ocorrerem de forma mais intensa entre as culturas, nós encontramos formas de distinções e segregações bastante manifestas entre os diversos grupos. A música gospel é um grande exemplo.
Mesmo se inserindo nas diversas trocas estabelecidas por esse contexto mundializado, ela se posiciona de forma extremamente segregadora. Apesar da música gospel agregar inúmeras tendências musicais como o axé music, ritmo influenciado por toda uma concepção afro, a dita música gospel se nega a aceitar as doutrinas religiosas influenciadas pelos povos africanos, por exemplo. Excluem o público do pagode por acharem que estimulam a sensualidade, mas incluem o pagode em seu repertório.
A partir disso, eu tenho uma questão: a apropriação da pluralidade musical na música gospel acontece pelo fato dela buscar se interagir com essa multiplicidade de estilos musicais, ou será que essa pluralidade rítmica serve como intuito de angariar mais adeptos? Enfim, seria uma postura voltada para um interesse cultural, aceitando as infindáveis formas de estilos musicais, ou estaria no meio disso tudo, uma postura voltada para interesses políticos e econômicos?
Eu acredito que a necessidade de trazer essa diversidade ao repertório gospel se deva a um interesse político e econômico de angariar mais adeptos. Por determinadas instituições saberem que inevitavelmente as trocas entre as diversidades culturais são estabelecidas entre os indivíduos inseridos no contexto global, essas instituições religiosas se aproveitam dessa diversidade e adiciona ao seu repertório, um número maior de estilos para com isso, agregarem mais adeptos à sua doutrina.
Portanto, a instituição não inclui em seu repertório uma diversidade musical, por compartilhar de todos os universos musicais, até por que, o que percebemos cotidianamente, é que determinadas tendências religiosas se negam a aceitar as diferenças. Essas doutrinas buscam preservar seus dogmas, por ter como interesse, angariar público para ter mais poder político e econômico na sociedade.
Portanto, eu acredito que a diversidade musical ao ser apropriada no repertório da música gospel, não necessariamente queira dizer que a música gospel admita a importância de se aceitar a diversidade. Ao contrário. A instituição religiosa ligada à música gospel, nega-se em aceitar as concepções religiosas de outras tendências, pois aceitando, a doutrina que estimula a chamada música gospel, se vê diante de uma disputa doutrinária, correndo o sério risco de perder o seu prestígio na conjuntura da política e do mercado.
Por isso mesmo que eu acredito que a música gospel se diversifica de forma excludente. Se por um lado se apropria das influências alheias; por outro, resguarda-se em seu mundo, expurgando as influências que ela mesmo se apropria. Apropria-se da multiplicidade cultural para angariar mais adeptos, e se centraliza ao determinar como “Verdade”, apenas a sua forma de entender o mundo por não querer perder o seu poder. A música gospel não passa de uma pluralidade centrípeta.
São inúmeras tribos musicais. Tem grupo cantando heavy metal com suas vozes cavernosas ou estridentes, tem tribo rebolando gostoso com o pagode, tem tribo balançando as mãozinhas no ritmo quente do axé, etc. A única diferença disso tudo é que eles cantam músicas que louvam o Senhor. No entanto, quem não louva o Senhor assim como eles, muitas vezes não passam de seres profanos e comandados pela força maligna do Satanás.
Vivemos em um mundo que se caracteriza por sua natureza plural. Facilitadas pelo contexto global, as diferenças musicais se intercruzam e se fundem em novas formas culturais oriundas de todas as parte do planeta. Atualmente, é impossível pensarmos haver grupos literalmente isolados dos outros. No entanto, apesar dessas trocas ocorrerem de forma mais intensa entre as culturas, nós encontramos formas de distinções e segregações bastante manifestas entre os diversos grupos. A música gospel é um grande exemplo.
Mesmo se inserindo nas diversas trocas estabelecidas por esse contexto mundializado, ela se posiciona de forma extremamente segregadora. Apesar da música gospel agregar inúmeras tendências musicais como o axé music, ritmo influenciado por toda uma concepção afro, a dita música gospel se nega a aceitar as doutrinas religiosas influenciadas pelos povos africanos, por exemplo. Excluem o público do pagode por acharem que estimulam a sensualidade, mas incluem o pagode em seu repertório.
A partir disso, eu tenho uma questão: a apropriação da pluralidade musical na música gospel acontece pelo fato dela buscar se interagir com essa multiplicidade de estilos musicais, ou será que essa pluralidade rítmica serve como intuito de angariar mais adeptos? Enfim, seria uma postura voltada para um interesse cultural, aceitando as infindáveis formas de estilos musicais, ou estaria no meio disso tudo, uma postura voltada para interesses políticos e econômicos?
Eu acredito que a necessidade de trazer essa diversidade ao repertório gospel se deva a um interesse político e econômico de angariar mais adeptos. Por determinadas instituições saberem que inevitavelmente as trocas entre as diversidades culturais são estabelecidas entre os indivíduos inseridos no contexto global, essas instituições religiosas se aproveitam dessa diversidade e adiciona ao seu repertório, um número maior de estilos para com isso, agregarem mais adeptos à sua doutrina.
Portanto, a instituição não inclui em seu repertório uma diversidade musical, por compartilhar de todos os universos musicais, até por que, o que percebemos cotidianamente, é que determinadas tendências religiosas se negam a aceitar as diferenças. Essas doutrinas buscam preservar seus dogmas, por ter como interesse, angariar público para ter mais poder político e econômico na sociedade.
Portanto, eu acredito que a diversidade musical ao ser apropriada no repertório da música gospel, não necessariamente queira dizer que a música gospel admita a importância de se aceitar a diversidade. Ao contrário. A instituição religiosa ligada à música gospel, nega-se em aceitar as concepções religiosas de outras tendências, pois aceitando, a doutrina que estimula a chamada música gospel, se vê diante de uma disputa doutrinária, correndo o sério risco de perder o seu prestígio na conjuntura da política e do mercado.
Por isso mesmo que eu acredito que a música gospel se diversifica de forma excludente. Se por um lado se apropria das influências alheias; por outro, resguarda-se em seu mundo, expurgando as influências que ela mesmo se apropria. Apropria-se da multiplicidade cultural para angariar mais adeptos, e se centraliza ao determinar como “Verdade”, apenas a sua forma de entender o mundo por não querer perder o seu poder. A música gospel não passa de uma pluralidade centrípeta.
domingo, 8 de agosto de 2010
Código Florestal para quem? (Por Daniella Vinha)
Há tempos, os murmúrios de uma possível reformulação do Código Florestal brasileiro vêm assombrando uma pequena parcela da população nacional. De um lado, uma bancada ruralista com interesses pessoais escondidos atrás do lema de ampliação da extensão de terras para a agricultura, levantando a bandeira de que o país precisa intensificar a produção de alimentos e não há mais terras disponíveis para isso. Do outro, uma bancada de cientistas um tanto satisfeitos com o Código Florestal que, além de belíssima lei envolta por princípios éticos, favorece o desenvolvimento de suas ações na conservação da natureza, já que os ruralistas são obrigados a recompor a vegetação devastada por séculos de desenvolvimento.
Não se justifica a ação impensada e mergulhada no moralismo dos ditos ruralistas. De fato, o país tem cientistas e instituições de pesquisa reconhecidamente capazes de dar o parecer sobre o devaneio moral desses sujeitos. A biotecnologia, as técnicas de aumento de produtividade do solo, os sistemas agroflorestais, entre outros, são provas de que é possível produzir muito mais e ainda conservar o pouco de florestas que nos restam. Por que então, a comunidade científica não foi fortemente consultada e considerada na pauta de reformulação da bela lei?
Interesses contrários fazem parte da história da humanidade e representam pontos de fragilidade nos quais ganham, na maioria das vezes, aqueles que detêm o poder. Numa sociedade civilizada, bons argumentos podem ser a única maneira de barrar tais processos apolíticos. Entretanto, compreender que a perda substancial de vegetação e, consequentemente, da biodiversidade é um contrasenso em tempos de mudanças climáticas, só tem sentido vindo de fora para dentro. É uma sábia atitude, digna de alimentar o brio e o orgulho ambientalista, comunicar a sociedade internacional sobre o risco de retrocesso ambiental a que o Brasil está sujeito, principalmente após nosso presidente ter anunciado, na reunião de Copenhague, a meta de redução de 37% das emissões de carbono até 2020. Mas como rebater o argumento do aumento da produção agrícola nacional e ao mesmo tempo ouvir o presidente da Câmara dos Deputados dizer que o Brasil é o único país no mundo em que a lei obriga o produtor rural a ter uma reserva legal e a vegetar as áreas de mananciais?
Ao ler a carta enviada para a revista Science, um cidadão europeu informado provavelmente se preocuparia com o aquecimento global, já que o Brasil polui por queimar florestas. Mais do que isso, a estimativa de perda de 100 mil espécies em função de uma única canetada na lei, é um disparate e verdadeiro descaso. Já um típico cidadão brasileiro, sequer saberia o que é o código florestal e, diga-se de passagem, muitos acadêmicos das áreas ambientais não sabem. O pobre cidadão trabalhador das casas Bahia, ou de qualquer outro trabalho comum e digno que seja, não saberia sequer racionalizar o número cem mil, já que cem reais em seu bolso para gastar com suas necessidades e ainda sobrar um trocado não passa de mera fantasia. Racionalizar esse número em espécies? Piorou! Se conseguir reconhecer duas dúzias delas ao seu redor, o ato é digno de nota. Entretanto, as dívidas mensais de sua moradia popular são a mais pura realidade. Mas o que o trabalhador das casas Bahia tem a ver com isso? É simples. Um cidadão amoral, aqui entendido como aquele desprovido de um conjunto de valores estabelecidos por uma sociedade é o mesmo sujeito que alimenta o moralismo. Sim, porque o moralista só consegue deliberar sobre o sujeito desprovido de moralidade. Para um simples e digno cidadão brasileiro, entender que a perda de diversidade biológica afetaria sua vida é algo um tanto desconectado de sua realidade. Ao contrário, entender que a expansão da agricultura pode gerar mais desenvolvimento, mais trabalho e ainda redução no preço da sua conta de supermercado, representa melhores condições para o pagamento de suas dívidas. É essa a lógica. A lógica da oralidade e do imediatismo.
O ato tão assombroso da reformulação da lei chegou, finalmente, à pauta de discussão na qual as forças contrárias se confrontam. Ela claramente mostra o cenário da suposta democracia de um país que tenta ser democrático. Mais, ainda além. Se as decisões políticas não são as decisões do povo, nem mesmo da sociedade intelectualizada, em parte, isso também é responsabilidade das instâncias acadêmicas. É extremamente relevante conservar a biodiversidade, mas isso do ponto de vista científico. Tão verdade que é praticamente impossível conceituá-la rapidamente e, ao mesmo tempo, explicar como sua redução afeta a sobrevivência do homem, dada a sua complexidade. A biodiversidade fica entendida, no senso comum, meramente como a diversidade de espécies, enfraquecendo o argumento da discussão. Por outro lado, é mais forte debater sobre o assoreamento de rios, perda de solo por erosão e conseqüências para a matriz energética do país, já que do ponto de vista do cidadão trabalhador, o que é mais útil é informá-lo de que suas contas de água e energia elétrica sofrerão um imenso reajuste percentual se as florestas forem derrubadas.
Não se justifica a ação impensada e mergulhada no moralismo dos ditos ruralistas. De fato, o país tem cientistas e instituições de pesquisa reconhecidamente capazes de dar o parecer sobre o devaneio moral desses sujeitos. A biotecnologia, as técnicas de aumento de produtividade do solo, os sistemas agroflorestais, entre outros, são provas de que é possível produzir muito mais e ainda conservar o pouco de florestas que nos restam. Por que então, a comunidade científica não foi fortemente consultada e considerada na pauta de reformulação da bela lei?
Interesses contrários fazem parte da história da humanidade e representam pontos de fragilidade nos quais ganham, na maioria das vezes, aqueles que detêm o poder. Numa sociedade civilizada, bons argumentos podem ser a única maneira de barrar tais processos apolíticos. Entretanto, compreender que a perda substancial de vegetação e, consequentemente, da biodiversidade é um contrasenso em tempos de mudanças climáticas, só tem sentido vindo de fora para dentro. É uma sábia atitude, digna de alimentar o brio e o orgulho ambientalista, comunicar a sociedade internacional sobre o risco de retrocesso ambiental a que o Brasil está sujeito, principalmente após nosso presidente ter anunciado, na reunião de Copenhague, a meta de redução de 37% das emissões de carbono até 2020. Mas como rebater o argumento do aumento da produção agrícola nacional e ao mesmo tempo ouvir o presidente da Câmara dos Deputados dizer que o Brasil é o único país no mundo em que a lei obriga o produtor rural a ter uma reserva legal e a vegetar as áreas de mananciais?
Ao ler a carta enviada para a revista Science, um cidadão europeu informado provavelmente se preocuparia com o aquecimento global, já que o Brasil polui por queimar florestas. Mais do que isso, a estimativa de perda de 100 mil espécies em função de uma única canetada na lei, é um disparate e verdadeiro descaso. Já um típico cidadão brasileiro, sequer saberia o que é o código florestal e, diga-se de passagem, muitos acadêmicos das áreas ambientais não sabem. O pobre cidadão trabalhador das casas Bahia, ou de qualquer outro trabalho comum e digno que seja, não saberia sequer racionalizar o número cem mil, já que cem reais em seu bolso para gastar com suas necessidades e ainda sobrar um trocado não passa de mera fantasia. Racionalizar esse número em espécies? Piorou! Se conseguir reconhecer duas dúzias delas ao seu redor, o ato é digno de nota. Entretanto, as dívidas mensais de sua moradia popular são a mais pura realidade. Mas o que o trabalhador das casas Bahia tem a ver com isso? É simples. Um cidadão amoral, aqui entendido como aquele desprovido de um conjunto de valores estabelecidos por uma sociedade é o mesmo sujeito que alimenta o moralismo. Sim, porque o moralista só consegue deliberar sobre o sujeito desprovido de moralidade. Para um simples e digno cidadão brasileiro, entender que a perda de diversidade biológica afetaria sua vida é algo um tanto desconectado de sua realidade. Ao contrário, entender que a expansão da agricultura pode gerar mais desenvolvimento, mais trabalho e ainda redução no preço da sua conta de supermercado, representa melhores condições para o pagamento de suas dívidas. É essa a lógica. A lógica da oralidade e do imediatismo.
O ato tão assombroso da reformulação da lei chegou, finalmente, à pauta de discussão na qual as forças contrárias se confrontam. Ela claramente mostra o cenário da suposta democracia de um país que tenta ser democrático. Mais, ainda além. Se as decisões políticas não são as decisões do povo, nem mesmo da sociedade intelectualizada, em parte, isso também é responsabilidade das instâncias acadêmicas. É extremamente relevante conservar a biodiversidade, mas isso do ponto de vista científico. Tão verdade que é praticamente impossível conceituá-la rapidamente e, ao mesmo tempo, explicar como sua redução afeta a sobrevivência do homem, dada a sua complexidade. A biodiversidade fica entendida, no senso comum, meramente como a diversidade de espécies, enfraquecendo o argumento da discussão. Por outro lado, é mais forte debater sobre o assoreamento de rios, perda de solo por erosão e conseqüências para a matriz energética do país, já que do ponto de vista do cidadão trabalhador, o que é mais útil é informá-lo de que suas contas de água e energia elétrica sofrerão um imenso reajuste percentual se as florestas forem derrubadas.
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
REVENDO ACORDOS NEM SEMPRE TORTOS
A busca dos códigos e regras sociais possui um componente vital para o ser humano, já que se esses tratam das formas de como ele, ator social, deve proceder diante das situações que o próprio contexto coloca para eles e que pode funcionar momentaneamente como estabilidade para a instabilidade existencial.
A minha perspectiva de analise caminha na direção de os comportamentos regidos pelas práticas culturais, em especial, dos relacionamentos de amizade, amorosos e familiares povoam o nosso cotidiano e nos fornecem elementos que buscam a estabilidade e o reforço do elemento civilizador (entendo esse termo como a prática regida pelos códigos e símbolos disponíveis num dado contexto cultural que funciona como organizador das ações dos atores sociais) em contraposição a prática instintual ou puramente biológica.
Em outro texto (por dentro da intimidade....) escrevi que os “acordos”, como principio de ajuste de interesses intersubjetivos permeiam os relacionamentos implícita ou explicitamente. Continuo a defender essa concepção, pelo fato de que independente das modalidades de relacionamentos (a dois, a três, seja lá quantos forem) esse método, quase egoísta, propõe reciprocidade no processo de interação, o dialogo é o principal instrumental, porém não é o único, já que as sensações e o processo reflexivo do relacionamento acompanhado pelas subjetividades avaliam se ainda existe ou não o interesse para os atores sociais envolvidos.
Os códigos, as práticas e os símbolos que constituem as culturas buscam o equilíbrio psíquico do ser social no caminho de orientá-lo para um sentido que se propõe estável para a sua vida. Os conceitos são exagerados e colocados como metas dispares a característica das práticas humanas. Por exemplo, a idéia de amor para toda a vida pregada pela monogamia é ideal, pois o correr dos anos transforma aquela força motriz emotiva, chamada de paixão, em uma continuidade conformada, mesmo que seja infeliz, frustrada, ou pautada por interesses econômicos. É sabido que os sentimentos são mutáveis na medida em que entram em contato com outras experiências.
Conceitos que se propõe em seus discursos uma característica supervalorizada geralmente proporcionam aos atores sociais a sensação de estabilidade emocional e cognitiva. Os relacionamentos, no seu sentido de proximidade relacional, da cumplicidade, do compartilhamento de sentimentos e emoções, confiança, respeito e expectativas, ajudam a formar um espírito de estabilidade e a dispersar a condição finita que todos temos. Nessa condição, os atores sociais partem de fórmulas fornecidas pelas convenções na busca de um porto seguro. O acordo como propus em parágrafo anterior, não se trata de uma fórmula reproduzida pelas convenções. Ele é dialogado, reflexivo e pensa na satisfação existencial dos envolvidos. Não chega a ser meramente racional ou afetivo, ele é hibrido, pois emerge da condição de humanidade, grosso modo, combinada entre civilização e instintual.
A minha perspectiva de analise caminha na direção de os comportamentos regidos pelas práticas culturais, em especial, dos relacionamentos de amizade, amorosos e familiares povoam o nosso cotidiano e nos fornecem elementos que buscam a estabilidade e o reforço do elemento civilizador (entendo esse termo como a prática regida pelos códigos e símbolos disponíveis num dado contexto cultural que funciona como organizador das ações dos atores sociais) em contraposição a prática instintual ou puramente biológica.
Em outro texto (por dentro da intimidade....) escrevi que os “acordos”, como principio de ajuste de interesses intersubjetivos permeiam os relacionamentos implícita ou explicitamente. Continuo a defender essa concepção, pelo fato de que independente das modalidades de relacionamentos (a dois, a três, seja lá quantos forem) esse método, quase egoísta, propõe reciprocidade no processo de interação, o dialogo é o principal instrumental, porém não é o único, já que as sensações e o processo reflexivo do relacionamento acompanhado pelas subjetividades avaliam se ainda existe ou não o interesse para os atores sociais envolvidos.
Os códigos, as práticas e os símbolos que constituem as culturas buscam o equilíbrio psíquico do ser social no caminho de orientá-lo para um sentido que se propõe estável para a sua vida. Os conceitos são exagerados e colocados como metas dispares a característica das práticas humanas. Por exemplo, a idéia de amor para toda a vida pregada pela monogamia é ideal, pois o correr dos anos transforma aquela força motriz emotiva, chamada de paixão, em uma continuidade conformada, mesmo que seja infeliz, frustrada, ou pautada por interesses econômicos. É sabido que os sentimentos são mutáveis na medida em que entram em contato com outras experiências.
Conceitos que se propõe em seus discursos uma característica supervalorizada geralmente proporcionam aos atores sociais a sensação de estabilidade emocional e cognitiva. Os relacionamentos, no seu sentido de proximidade relacional, da cumplicidade, do compartilhamento de sentimentos e emoções, confiança, respeito e expectativas, ajudam a formar um espírito de estabilidade e a dispersar a condição finita que todos temos. Nessa condição, os atores sociais partem de fórmulas fornecidas pelas convenções na busca de um porto seguro. O acordo como propus em parágrafo anterior, não se trata de uma fórmula reproduzida pelas convenções. Ele é dialogado, reflexivo e pensa na satisfação existencial dos envolvidos. Não chega a ser meramente racional ou afetivo, ele é hibrido, pois emerge da condição de humanidade, grosso modo, combinada entre civilização e instintual.
quinta-feira, 5 de agosto de 2010
O dito, dito novamente
Estes dias caminhei bastante pelas ruas e lugares desta terra. O meu amigo, Cacique Pindaíba quem o diga. Desde muitos anos idos falamos sobre quase tudo por aqui. Os homens falam como pedras rolando das montanhas. Nunca se sabe ao certo o que as palavras podem fazer. Sabemos que elas são germes de formas mentais que nos afetam por dentro e por fora. Uma única palavra pode bastar, e calar a natureza por alguns instantes. O silêncio da natureza é um imperativo para nossa sobrevivência.
Os curumins, todas as tardes, vão ao encontro de Vovó Inã na beira do rio de Oxum. Este rio sempre esconde segredos. Os homens guardam suas palavras no fundo de suas águas, e lá deixam suas consciências adormecidas e depois se fascinam com o barulho da correnteza que as leva para longe. As crianças aprendem com os grandes segurando nas cordas da língua. Por isso, Inã sempre contava uma estória para os meninos ao cair do dia. Ela falava dos guerreiros, das vitórias e das derrotas. Falava sobre os encantados da natureza. Vovó Inã nunca escondeu que o homem é um lobo de lobos. Sua consciência foi embora com o rio, somente o sábio sabe onde ela está.
Um dia Pindaíba me mostrou as vísceras de um pássaro. Ele me contou que poderíamos prever o futuro por meio delas. “As vísceras encantam o corpo e a alma domina o animal”. Disse ele no dia em que aprendi a caçar. O comportamento humano nasce, então, de suas próprias vísceras. O social é visceral. São vísceras dialogizantes, as vísceras dos homens. O cacique estava certo.
Eu não sabia do instinto dos homens. Foi no rio, ao lado de Inã, que vi o corpo nu de uma cabocla. O sangue aqueceu meu rosto. Senti que um homem estava em mim. “As vísceras põem rédeas nos instintos para fazerem dos homens seus cavalos”. Não foi a toa que escolhemos o coração para dizer de amor. O social é instintual. O cacique falou a verdade.
As meninas do rio de Inã, de Oxum, de todos nós brincam de bolos de barro e fazem suas ocas como as dos homens grandes. As crianças sonham com o mundo dos adultos. Os rapazes imitam os guerreiros e envergam o arco e lançam flechas. Todos imaginam seu mundo. Alguém disse um dia que a imaginação criou o mundo. O social é psiquificado. As vísceras, os instintos, os símbolos se somam e criam o sujeito do mundo. Agora o mundo não uma paisagem e o homem parte dela. O mundo é um palco de constantes conflitos. É terra de lobos. Não sabemos quando começou, mas a natureza soube dizer de si e por si. O homem é a natureza falante. O social é uma malha de sentidos. A linguagem justifica sua existência empírica. E o homem não sobrevive sem isso.
As probabilidades são enormes de nada existir naquilo que auferimos o valor de existente. Tudo que eu disse é o dito que já foi dito várias vezes. As formas mudam, o sentido é o mesmo. A nossa ciência, a nossa filosofia são sentidos criados pelos homens. São nossos mitos que se transmutam com o tempo. São corredeiras eternas enquanto for possível nossa existência. E nunca chegaremos a lugar algum. Temos que admitir: Ele não existe.
Os curumins, todas as tardes, vão ao encontro de Vovó Inã na beira do rio de Oxum. Este rio sempre esconde segredos. Os homens guardam suas palavras no fundo de suas águas, e lá deixam suas consciências adormecidas e depois se fascinam com o barulho da correnteza que as leva para longe. As crianças aprendem com os grandes segurando nas cordas da língua. Por isso, Inã sempre contava uma estória para os meninos ao cair do dia. Ela falava dos guerreiros, das vitórias e das derrotas. Falava sobre os encantados da natureza. Vovó Inã nunca escondeu que o homem é um lobo de lobos. Sua consciência foi embora com o rio, somente o sábio sabe onde ela está.
Um dia Pindaíba me mostrou as vísceras de um pássaro. Ele me contou que poderíamos prever o futuro por meio delas. “As vísceras encantam o corpo e a alma domina o animal”. Disse ele no dia em que aprendi a caçar. O comportamento humano nasce, então, de suas próprias vísceras. O social é visceral. São vísceras dialogizantes, as vísceras dos homens. O cacique estava certo.
Eu não sabia do instinto dos homens. Foi no rio, ao lado de Inã, que vi o corpo nu de uma cabocla. O sangue aqueceu meu rosto. Senti que um homem estava em mim. “As vísceras põem rédeas nos instintos para fazerem dos homens seus cavalos”. Não foi a toa que escolhemos o coração para dizer de amor. O social é instintual. O cacique falou a verdade.
As meninas do rio de Inã, de Oxum, de todos nós brincam de bolos de barro e fazem suas ocas como as dos homens grandes. As crianças sonham com o mundo dos adultos. Os rapazes imitam os guerreiros e envergam o arco e lançam flechas. Todos imaginam seu mundo. Alguém disse um dia que a imaginação criou o mundo. O social é psiquificado. As vísceras, os instintos, os símbolos se somam e criam o sujeito do mundo. Agora o mundo não uma paisagem e o homem parte dela. O mundo é um palco de constantes conflitos. É terra de lobos. Não sabemos quando começou, mas a natureza soube dizer de si e por si. O homem é a natureza falante. O social é uma malha de sentidos. A linguagem justifica sua existência empírica. E o homem não sobrevive sem isso.
As probabilidades são enormes de nada existir naquilo que auferimos o valor de existente. Tudo que eu disse é o dito que já foi dito várias vezes. As formas mudam, o sentido é o mesmo. A nossa ciência, a nossa filosofia são sentidos criados pelos homens. São nossos mitos que se transmutam com o tempo. São corredeiras eternas enquanto for possível nossa existência. E nunca chegaremos a lugar algum. Temos que admitir: Ele não existe.
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
De pau a pique
Sou apenas um rapaz
De um centro urbano que ainda crê em Deus:
Deus com letra maiúscula
Forma minúscula
Imagem crepuscular
Pra mostrar que tou seguro
Vou me esforçar, que é pra cê num mangar d’eu...
Todo dia em que acordo muito tarde
Visto luto pela manhã que morreu
Porque esta sensação de se atrasar com o mundo
É tão besta, mas por ela sofro eu
Eu sei, vivo sozinho em mim mesmo
Eu sei, de Aracaju a Munique
Viajo no trem dos meus medos,
Castelos de pau a pique
Em lugares sempre ermos
Construo dentro do peito
Me arrodeia a fé dinamite
De um centro urbano que ainda crê em Deus:
Deus com letra maiúscula
Forma minúscula
Imagem crepuscular
Pra mostrar que tou seguro
Vou me esforçar, que é pra cê num mangar d’eu...
Todo dia em que acordo muito tarde
Visto luto pela manhã que morreu
Porque esta sensação de se atrasar com o mundo
É tão besta, mas por ela sofro eu
Eu sei, vivo sozinho em mim mesmo
Eu sei, de Aracaju a Munique
Viajo no trem dos meus medos,
Castelos de pau a pique
Em lugares sempre ermos
Construo dentro do peito
Me arrodeia a fé dinamite
terça-feira, 3 de agosto de 2010
Andarilho
Andava sozinho na rua, chutei a lata que apareceu risonha ofensiva, matei meu último cigarro. Naquela noite a cidade dormia, esperava eu que ela nunca acordasse do sonho mórbido do dia. Ofendido xingei a morbidez da calada noite, não tinha mais fôlego para aturar a casta rua. Atravesso um beco, caio em outra rua, subo desço minha barriga enjoada vomita poesia e essas casas tão caladas incógnitas feias, medonhas, sei que se parecem com o enigma da vida. Chego em casa tomo meu copo de cachaça, a solidão me engole até as reentrâncias do meu ser, a santa etílica me envolve suprime a minha vergonha existencial. Estava cansado por demais para me vingar da noite e ainda estou cansado desta poesia fingida, destas filosofias: Hipertensas
Velhas
Caóticas
Impessoais
Fugidas
Continência meu senhor cheguei pontualmente para bater este ponto.
Palavras sempre comedidas vulgares.
Cérebro me escuta por alguns instantes vê:
A ruína
Imprópria,
A hostilidade
Brasileira!
06/05/08
Velhas
Caóticas
Impessoais
Fugidas
Continência meu senhor cheguei pontualmente para bater este ponto.
Palavras sempre comedidas vulgares.
Cérebro me escuta por alguns instantes vê:
A ruína
Imprópria,
A hostilidade
Brasileira!
06/05/08
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
Por uma pornografia poética
Ao falar pornografia poética, eu me refiro a uma pornografia mais interessante para mim. Obviamente que eu, como um torto que admite que existe uma pluralidade de valores, sei muito bem que a poética implica a forma como cada olhar enxerga o mundo. O titulo deste texto pode soar com algo tendencioso, e é, afinal, eu como torto, sei que tenho minhas escolhas, e é por isso que me entorto.
A poética para mim vai implicar uma construção de sentidos na forma como cada um faz a representação do coito. Agir na poética implica no agir da nossa vontade de acordo com nossos sentimentos. Podemos em um dia fazer sexo convencional encaixando a doida reta em uma posição só, podemos fazer sexo de forma agressiva, no sofá, no bujão, e por ai vai.
Podemos querer comer alguém meramente pelo tesão que encontramos nesse alguém, ou seja, por esse alguém ter um rabo gostoso, por acharmos que esse alguém possui tetas magníficas, braços, músculos, etc. Também podemos querer encaixar a dita cuja por relações de fantasias afetivas que construímos sobre determinada pessoa como o encantamento pelo sorriso, pelo olhar.
Devemos também lembrar que o ato sexual é justificado de acordo com todo um processo que nos leva a ele. Apesar de sermos animais cheios de instintos, sabemos que enquanto cultura humana, a foda não vai ocorrer simplesmente por que saímos cheirando a priquita da nega. Nos humanos existe o sentido que damos ao estabelecermos nossos atos, assim como os vários contextos.
O sexo é um misto de vontade de esporrar com fantasia. Só existe motivação para determinado ato, quando uma dada circunstância nos faz criar sentido para realizarmos tal ato. É devido a isso que eu acredito que o sexo necessita de várias situações e vários estados de espírito para ser realizado. Parece que em alguns pornôs não é assim que as coisas funcionam.
Nas tramas dos filmes, geralmente aparece uma gostosona espremendo as tetas em frente à câmera e do nada surge uma picona dura pronta para ser chupada, ou o filme começa com a boazuda dançando ao mesmo tempo em que já aparece um macho na cama com o pirulito no maiúsculo. Existem tantas situações para o sexo, mas boa parte dos filmes pornôs se prende ao fuder pelo fuder.
Eu gosto de assistir ao filme pornô para me enxergar dentro de uma possibilidade em meu dia a dia. Para mim, um filme tem que provocar uma catarse em mim, pois a catarse é o que estimula minhas fantasias. Não consigo me degustar poeticamente de uma trama que não me possibilita flutuar no reino da imaginação, e para mim, sem imaginação, nenhuma trama surte efeito.
Não quero impor um padrão de filme pornô, até por que qualquer pessoa pode utilizar um pornô para um outro fim, como para bater uma punhetinha rápida, por exemplo. Assim como existem vários tipos de dramas e comédias, existem os vários pornôs, mas chamo atenção para a carência de tramas encontradas por mim na maior parte dos filmes desse gênero.
Eu também vejo lados muito necessários nos filmes pornôs. Certa vez fui fazer um espermograma, e ao chegar em uma sala para jorrar minha porra no frasquinho, estava passando uma foda excepcional com a deliciosa Vivian Mello. Ao ficar salientando meu menino dênis, poetizei legal. O que seria de mim naquele lugar estranho sem a fantasia que me causou aquele rabão...
.
A poética para mim vai implicar uma construção de sentidos na forma como cada um faz a representação do coito. Agir na poética implica no agir da nossa vontade de acordo com nossos sentimentos. Podemos em um dia fazer sexo convencional encaixando a doida reta em uma posição só, podemos fazer sexo de forma agressiva, no sofá, no bujão, e por ai vai.
Podemos querer comer alguém meramente pelo tesão que encontramos nesse alguém, ou seja, por esse alguém ter um rabo gostoso, por acharmos que esse alguém possui tetas magníficas, braços, músculos, etc. Também podemos querer encaixar a dita cuja por relações de fantasias afetivas que construímos sobre determinada pessoa como o encantamento pelo sorriso, pelo olhar.
Devemos também lembrar que o ato sexual é justificado de acordo com todo um processo que nos leva a ele. Apesar de sermos animais cheios de instintos, sabemos que enquanto cultura humana, a foda não vai ocorrer simplesmente por que saímos cheirando a priquita da nega. Nos humanos existe o sentido que damos ao estabelecermos nossos atos, assim como os vários contextos.
O sexo é um misto de vontade de esporrar com fantasia. Só existe motivação para determinado ato, quando uma dada circunstância nos faz criar sentido para realizarmos tal ato. É devido a isso que eu acredito que o sexo necessita de várias situações e vários estados de espírito para ser realizado. Parece que em alguns pornôs não é assim que as coisas funcionam.
Nas tramas dos filmes, geralmente aparece uma gostosona espremendo as tetas em frente à câmera e do nada surge uma picona dura pronta para ser chupada, ou o filme começa com a boazuda dançando ao mesmo tempo em que já aparece um macho na cama com o pirulito no maiúsculo. Existem tantas situações para o sexo, mas boa parte dos filmes pornôs se prende ao fuder pelo fuder.
Eu gosto de assistir ao filme pornô para me enxergar dentro de uma possibilidade em meu dia a dia. Para mim, um filme tem que provocar uma catarse em mim, pois a catarse é o que estimula minhas fantasias. Não consigo me degustar poeticamente de uma trama que não me possibilita flutuar no reino da imaginação, e para mim, sem imaginação, nenhuma trama surte efeito.
Não quero impor um padrão de filme pornô, até por que qualquer pessoa pode utilizar um pornô para um outro fim, como para bater uma punhetinha rápida, por exemplo. Assim como existem vários tipos de dramas e comédias, existem os vários pornôs, mas chamo atenção para a carência de tramas encontradas por mim na maior parte dos filmes desse gênero.
Eu também vejo lados muito necessários nos filmes pornôs. Certa vez fui fazer um espermograma, e ao chegar em uma sala para jorrar minha porra no frasquinho, estava passando uma foda excepcional com a deliciosa Vivian Mello. Ao ficar salientando meu menino dênis, poetizei legal. O que seria de mim naquele lugar estranho sem a fantasia que me causou aquele rabão...
.
domingo, 1 de agosto de 2010
Síntese do Documentario de Michael Moore (por Ananda Teles)
Iniciaremos a síntese do documentário com o conceito do próprio capitalismo, que nada mais é do que um sistema econômico que tem como característica principal a propriedade privada dos meios de produção e a liberdade de iniciativa dos próprios cidadãos.
Analisando o tema podemos relacionar a uma história criminosa, onde existe guerra sobre a luta de classe, além de podermos comparar o documentário a uma sanguessuga, onde um por cento do país se alimenta da massa populacional. Uma história de amor abusiva, onde as pessoas podem consumir, mas são manipuladas pelo Estado.
Moore retrata que a responsabilidade pela crise econômica mundial e política de desregulação do mercado é a ganância dos executivos empresariais. Esse tipo de política beneficia uma única classe, os mais ricos. Os prejuízos existem, mas essa parte principal cabe aos trabalhadores.
O documentário retrata logo de início, os milhares e milhares de pessoas que perdem constantemente seus empregos e casas, devido à ação de poderosos bancos da Wall Street de organizarem um golpe de Estado financeiro, no período de transição da saída de George Bush e a posse de Barack Obama, com a transferência de dinheiro dos contribuintes para instituições financeiras privadas.
As pessoas são envolvidas pelos programas do Estado que demonstram os benefícios que elas podem alcançar, seguindo as propostas de conseguirem dinheiro fácil e seguro, fazendo empréstimos sobre empréstimos e hipotecando suas casas a taxas de juros exorbitantes pela máfia dos bancos. Quando elas começam a fazer parte desses projetos e planos governamentais, se vêem completamente enlamaçadas, sem ter por onde começar a cobrir os juros dos empréstimos, dos financiamentos, enfim, das “bondades” impostas pelo sistema capitalista.
Várias pessoas foram entrevistadas e relataram acontecimentos desumanos. Um desses grandes exemplos é o fato de funcionários mortos trazerem mais lucro para a empresa, do que quando eles estão vivos e ativos.
Moore conseguiu entrevista com pessoas que passam por um sofrimento e remorso constante. Elas relatam no documentário, que perderam seus entes queridos e foram surpreendidos com um golpe. Não existia pensão, pois as empresas conseguiam desviar essa renda para a própria empresa.
O resultado é o desenvolvimento, onde as empresas lucram de forma suja e falsa, onde as pessoas pagam e sofrem em prol do crescimento econômico da potência americana. E a cada período eleitoreiro, essas pessoas depositam confiança nos candidatos a presidência, e tentam acertar em um governo que propicie benefícios, assim como Roosevelt, que traria melhorias para os americanos.
As pessoas elegeram Obama, depois do tão temido Bush, e sempre esperam colocar no poder um presidente que olhe para o povo. O que acontece é que mesmo que existam melhorias, o mundo continuará capitalista e sempre existirá um maior beneficiado.
O documentário de Morre é uma forma de podermos conhecer que o capitalismo, desde que começou a penetrar por praticamente todas as nações, tem faces e vertentes que podem trazer benefícios e grandes problemas sociais.
Segundo Ariovaldo, em A mundialização do capitalismo e a geopolítica mundial no fim do século XX (2005), nos mostra que nesse período o mundo passava por várias transformações; guerras, surgimento, expansão e crise do socialismo, as disputas entre EUA e URSS. É nesse cenário tão conturbado que há a formação dos grandes monopólios denominados multinacionais que começa a adentrar em cada nação, trazendo novas formas de organização de trabalho.
O capital começava a girar e trazer benefícios que assim como no documentário de Moore, enchia as pessoas de desejo e ânsia de consumo. Na verdade todo esse sentimento pode ser referenciado como BIOPODER, onde o Estado consegue moldar a mente humana através de propagandas enganosas, que deixa toda a verdade obscura. Quando essa realidade vem à tona, as pessoas já não sabem como se livrar das garras desse poder tão forte e ao mesmo tempo tão manipulador.
Segundo Lênin, uma particularidade muito importante do capitalismo é a chamada concentração, onde uma única empresa reúne diferentes ramos da indústria, que /ou representam fases sucessivas da elaboração de matéria-prima ou desempenham um papel auxiliar em relação às outras. As empresas passam a ter uma taxa de lucro mais estável, que aos poucos o comércio passa a ser eliminado. Essas empresas combinadas irão permitir o aperfeiçoamento técnico e a obtenção de lucros suplementares em comparação com as simples empresas e fortalece cada vez mais a posição da empresa combinada.
No documentário de Moore, podemos verificar esse fato quando as pessoas perdem seus empregos. As empresas são transferidas para funcionarem em conjunto com a que exerce maior poder. A concentração das grandes empresas determinou o emprego de enormes capitais e as empresas que vão surgindo se encontram perante exigências cada vez mais elevadas em relação ao capital e essa circunstância dificulta o seu aparecimento.
O que ele deixa bem claro, é que as pessoas precisam lutar, e correr atrás dos seus direitos. É preciso haja uma organização e a formação de um ideal concreto, assim como as famílias do MOTU e os mexicanos que lutam por casa e terras. Eles são alguns dos milhares de pessoas espalhadas pelo mundo que sofrem com o lado desumano imposto pelo capitalismo.
Por fim, Moore faz uma abordagem rica capaz de tornar um tema complexo, que muitas vezes não atrai o público, em uma explicação sucinta e ao mesmo tempo agradável e humorística, fazendo comparações históricas e reforçando uma dinâmica com o poder de compreensão do espectador.
O documentário, de uma forma ou de outra afeta o espectador de diferentes maneiras e isso irá depender da interpretação de cada um. Apesar da abordagem, descrita acima, Moore se apresenta muitas vezes como um influenciador e sensacionalista, por impor sua idéia no próprio documentário, fazendo brotar nos espectadores o desejo de banir o capitalismo por completo.
Ficou perceptível, que nós devemos ter cuidado na maneira de assimilar o tema abordado e continuamente concluir os pros e contras que podem repercutir numa sociedade global. O filme não poderá ser julgado como certo ou errado, pois o capitalismo para milhares de pessoas está em bom funcionamento, assim como o socialismo para outros.
Analisando o tema podemos relacionar a uma história criminosa, onde existe guerra sobre a luta de classe, além de podermos comparar o documentário a uma sanguessuga, onde um por cento do país se alimenta da massa populacional. Uma história de amor abusiva, onde as pessoas podem consumir, mas são manipuladas pelo Estado.
Moore retrata que a responsabilidade pela crise econômica mundial e política de desregulação do mercado é a ganância dos executivos empresariais. Esse tipo de política beneficia uma única classe, os mais ricos. Os prejuízos existem, mas essa parte principal cabe aos trabalhadores.
O documentário retrata logo de início, os milhares e milhares de pessoas que perdem constantemente seus empregos e casas, devido à ação de poderosos bancos da Wall Street de organizarem um golpe de Estado financeiro, no período de transição da saída de George Bush e a posse de Barack Obama, com a transferência de dinheiro dos contribuintes para instituições financeiras privadas.
As pessoas são envolvidas pelos programas do Estado que demonstram os benefícios que elas podem alcançar, seguindo as propostas de conseguirem dinheiro fácil e seguro, fazendo empréstimos sobre empréstimos e hipotecando suas casas a taxas de juros exorbitantes pela máfia dos bancos. Quando elas começam a fazer parte desses projetos e planos governamentais, se vêem completamente enlamaçadas, sem ter por onde começar a cobrir os juros dos empréstimos, dos financiamentos, enfim, das “bondades” impostas pelo sistema capitalista.
Várias pessoas foram entrevistadas e relataram acontecimentos desumanos. Um desses grandes exemplos é o fato de funcionários mortos trazerem mais lucro para a empresa, do que quando eles estão vivos e ativos.
Moore conseguiu entrevista com pessoas que passam por um sofrimento e remorso constante. Elas relatam no documentário, que perderam seus entes queridos e foram surpreendidos com um golpe. Não existia pensão, pois as empresas conseguiam desviar essa renda para a própria empresa.
O resultado é o desenvolvimento, onde as empresas lucram de forma suja e falsa, onde as pessoas pagam e sofrem em prol do crescimento econômico da potência americana. E a cada período eleitoreiro, essas pessoas depositam confiança nos candidatos a presidência, e tentam acertar em um governo que propicie benefícios, assim como Roosevelt, que traria melhorias para os americanos.
As pessoas elegeram Obama, depois do tão temido Bush, e sempre esperam colocar no poder um presidente que olhe para o povo. O que acontece é que mesmo que existam melhorias, o mundo continuará capitalista e sempre existirá um maior beneficiado.
O documentário de Morre é uma forma de podermos conhecer que o capitalismo, desde que começou a penetrar por praticamente todas as nações, tem faces e vertentes que podem trazer benefícios e grandes problemas sociais.
Segundo Ariovaldo, em A mundialização do capitalismo e a geopolítica mundial no fim do século XX (2005), nos mostra que nesse período o mundo passava por várias transformações; guerras, surgimento, expansão e crise do socialismo, as disputas entre EUA e URSS. É nesse cenário tão conturbado que há a formação dos grandes monopólios denominados multinacionais que começa a adentrar em cada nação, trazendo novas formas de organização de trabalho.
O capital começava a girar e trazer benefícios que assim como no documentário de Moore, enchia as pessoas de desejo e ânsia de consumo. Na verdade todo esse sentimento pode ser referenciado como BIOPODER, onde o Estado consegue moldar a mente humana através de propagandas enganosas, que deixa toda a verdade obscura. Quando essa realidade vem à tona, as pessoas já não sabem como se livrar das garras desse poder tão forte e ao mesmo tempo tão manipulador.
Segundo Lênin, uma particularidade muito importante do capitalismo é a chamada concentração, onde uma única empresa reúne diferentes ramos da indústria, que /ou representam fases sucessivas da elaboração de matéria-prima ou desempenham um papel auxiliar em relação às outras. As empresas passam a ter uma taxa de lucro mais estável, que aos poucos o comércio passa a ser eliminado. Essas empresas combinadas irão permitir o aperfeiçoamento técnico e a obtenção de lucros suplementares em comparação com as simples empresas e fortalece cada vez mais a posição da empresa combinada.
No documentário de Moore, podemos verificar esse fato quando as pessoas perdem seus empregos. As empresas são transferidas para funcionarem em conjunto com a que exerce maior poder. A concentração das grandes empresas determinou o emprego de enormes capitais e as empresas que vão surgindo se encontram perante exigências cada vez mais elevadas em relação ao capital e essa circunstância dificulta o seu aparecimento.
O que ele deixa bem claro, é que as pessoas precisam lutar, e correr atrás dos seus direitos. É preciso haja uma organização e a formação de um ideal concreto, assim como as famílias do MOTU e os mexicanos que lutam por casa e terras. Eles são alguns dos milhares de pessoas espalhadas pelo mundo que sofrem com o lado desumano imposto pelo capitalismo.
Por fim, Moore faz uma abordagem rica capaz de tornar um tema complexo, que muitas vezes não atrai o público, em uma explicação sucinta e ao mesmo tempo agradável e humorística, fazendo comparações históricas e reforçando uma dinâmica com o poder de compreensão do espectador.
O documentário, de uma forma ou de outra afeta o espectador de diferentes maneiras e isso irá depender da interpretação de cada um. Apesar da abordagem, descrita acima, Moore se apresenta muitas vezes como um influenciador e sensacionalista, por impor sua idéia no próprio documentário, fazendo brotar nos espectadores o desejo de banir o capitalismo por completo.
Ficou perceptível, que nós devemos ter cuidado na maneira de assimilar o tema abordado e continuamente concluir os pros e contras que podem repercutir numa sociedade global. O filme não poderá ser julgado como certo ou errado, pois o capitalismo para milhares de pessoas está em bom funcionamento, assim como o socialismo para outros.
Assinar:
Postagens (Atom)