quarta-feira, 23 de junho de 2010

O ciclo de Maria

Em homenagem a este período tão regional, eis uma poesia minha tão regional...



Estende Maria a sua trouxa eterna
De roupas lavadas com suor da terra
Do sangue de velhas veias freáticas
Que, por força do acaso, driblaram as fábricas

E belo é seu homem, de enxada na mão
Tão guenzo, tão pobre, mas fiel cristão
Bebendo do talvez eterno que São Pedro dá
Vivendo no lodo da vida, mas sem reclamar

Seu palco é a seca, mosaico febril
A terra banida do verde Brasil
Seu céu já não chora, seu chão se separa
Seus meninos morrem, sua vida acaba

E, no fim, a morte a transforma em grãos
Grãos como estes que compõem o chão
Que mesmo, por sina, ao se fragmentar
Trará sua vida ao mesmo lugar

3 comentários:

  1. Cara, que poesia bacana!!

    Fico pensando em relação ao perfil da sua poesia. Ela traz uma linha que segue o esteriótipo do Nordeste miserável, com cenários pautados pela seca, que é sim, a realidade de uma politica que demonstra... pouca vontade de mudar a realidade.

    "E belo é seu homem, de enxada na mão
    Tão guenzo, tão pobre, mas fiel cristão
    Bebendo do talvez eterno que São Pedro dá
    Vivendo no lodo da vida, mas sem reclamar"

    A Exclusão dos beneficios da vida "civilizada", inclui uma parcela considerável da população nessa situação.

    Meu querido, parabéns pela bela poesia.

    Não encare essa observação como uma critica negativa. Foi apenas uma reflexão. No mais gostei d

    ResponderExcluir
  2. Josua,

    Vou ser sincero: adorei a sua poesia, mas estou com saudade de seus textos mais ensaistas, enfim, aquelas belas polêmicas que ~você traz muito bem.

    Mas falando da poesia, diferente da visão militante-política de ser do Alysson, eu captei um ponto bastante interessante nela que diz respeito ao fluxo da vida, a circularidade indefinivel que vai chegar no mesmo lugar pra todo mundo, isto é, na cova. Crescemos, construimos e buscamos, mas no final das contas, cansamos, vamos embora, e não encontramos sequer os miseros porcentos de nossos questionamentos, e nos tornamos simplesmente o desgaste de todo nosso crescimento, pois no fim de tudo, viramos restos, e dos restos, viramos pó. Do que nos sobra, nos refarezemos mais uma vez novamente denovo rsrs em vida, saudando e nos misturando aos elementos da natureza e assim vamos indo. Como você bem observou," E, no fim, a morte a transforma em grãos"

    Parabéns

    ResponderExcluir