A linguagem é uma técnica criada pelo homem para facilitar a vida em meio as turbulências da natureza. A comunicação necessita da linguagem e através da linguagem surge a com-unidade. Os relacionamentos intersubjetivos necessitam de uma unidade de sentido, de um catálogo de mundo sintático. Existe, portanto, uma ligação intrínseca entre o surgimento da linguagem e o surgimento da sociedade.
A linguagem é o estabelecimento de um conjunto de significados estáveis - mesmo que assistamos a flutuação da língua - para que as pessoas consigam se unir e dominar a natureza. Ela é (foi) uma técnica de fortalecimento da espécie. Entretanto, com o tempo, os homens, depois de convencionado o catálogo, não conseguiram (em) mais sair da estrutura nominal sintática da língua, desse mínimo de sentido criado, e ficaram (am) aprisionados na própria teia lógica dos nomes e construções frasais. A língua, de técnica, tornou-se o mundo possível para todos os integrantes da sociedade.
Surge um mundo além do mundo existente. Se o mundo existente é em devir e multifacetado, o mundo da linguagem é sobremaneira estático. A metafísica surge por causa da linguagem. A teoria do ser aparace em sintonia com a necessidade de comunicação. O nome, técnica de união de membros de uma espécie, transforma-se no ser enquanto ser e na substância. Começa o processo de deificação da técnica e a estabilização dos limites para o pensar humano. O mundo da língua torna-se o real e o real existente torna-se uma cópia da língua. Inversão de mundos. O convencional torna-se o verdadeiro e o real, em devir, o fictício. É mundo das ideias de Platão!
Pensem nisso!
Meu caro, Anderson. Gostei das observações do seu texto.
ResponderExcluirA linguagem é um mediador entre esses mundos e principalmente uma ferramenta para estabelecer a comunicação entre as subjetividades, por meio de codigos, símbolos, significados e sentidos.
Essa repartição de dois mundos, que você traz em seu texto é bem interessante, pois pode vir a tornar-se uma prisão. No caso de sua utilização seja meramente pragmática. Por outro lado, essa mesma ferramenta pode nos ajudar a subverter essa prática. A não percepção da existência desse outro mundo, o real, com suas outras possibilidades,acaba por ficar limitado, principalmente, acredito eu, pelo pragmatismo do e (auto) aprisionamento do cotidiano.
Meu caro Anderson,
ResponderExcluirO amigo traz para o torto um tema muito pertinente, pois o que fazemos aqui é uma bricadeirinha com as palavras. Contudo não podemos nos ater a essa referência apenas. Hoje entendemos que a relação do homem com a linguagem é ambígua, uma vez que a mesma pode ser encarada tanto como aprisonamento como instrumento de libertação do homem. Está é em um primeiro momento afirmação de estruturas, e em segundo momento desconstrução das mesmas. A linhguagem vista como cultura transcende ao conceito posto pelo amigo. Jacobson já nos dizia isso a um tempo atrás. O homem prende, escravisa, manipula, e lucra por meio dos signos, mas em contra partida ele refaz, expia e reconstroi seu mundo. A linguagem nesse contexto é fluida como tudo mais ao nosso redor. A linguagem em psicanálise nos mostra de forma nítida o que Platão em sua época não conseguiu inferir. o Signo não é aleatório como pensava Saussure, ela é uma elaboração da cultura, portanto um devir. A filosofia do dito contempla esta premissa como fundamento primero de sua tese, mas vamos mais adiante, bem mais adiante dos cânones primeiros da lingüística estrutural. Mas, reconheço seu texto como um início para uma longa discussão torta. Valeu o texto.
Allysson,
ResponderExcluir"A não percepção da existência desse outro mundo, o real, com suas outras possibilidades,..."
Como falaremos de real se falamos e escrevemos sobre ele mediados por um instrumento que impede "dizer" a intensidade e sobre a riqueza do mundo que nos cerca ...
Tem um comentário de um amigo Edivan no orkut bem interessante sobre esse raciocínio (pra mim ele resumiu muito bem a teoria de Wittgenstein), veja:
"Penso que a linguagem, sendo estruturante do pensamento, não chega a ser uma cadeia para o pensamento, é antes a própria possibilidade do pensar. Até aqui nada demais. Quando se critica a linguagem em sua característica de sustentáculo da metafísica o que se faz é usar uma linguagem ainda mais sofisticada (e nem por isso mais verdadeira) que possa dar conta dessa problemática, ou seja, se a crítica da linguagem não pode escapar de um determinado conjunto de conceituações, se o que se pode fazer é partir para novos cânones fornecedores de significado, estamos sempre e definitivamente presos à linguagem, sempre constituindo novas metafísicas. O apelo ao real e sua oposição à linguagem é falsa por isso: só temos acesso ao mundo pela linguagem, fora dela nada existe para nós. Então chegaremos a conclusão, já levantada aqui, de que o homem se utiliza da linguagem como forma de dominar a natureza, mas não temos o direito a partir disso de dizer que conhecemos o mundo ou que exista um mundo para além da nossa capacidade cognitiva. Um cérebro recebendo estímulos numa cuba de vidro poderia produzir as mesmas imagens e sensações que um mundo externo a nós. A linguagem, além do aspecto social evidente, é também fruto do desenvolvimento da espécie. Não posso pensar a linguagem como uma prisão, no entanto é uma ferramenta de uso limitado e limitante, mas esse "limitante" diz respeito a nossa própria capacidade de conhecer, a nossa própria estruturação lógica de pensamento. Não temos garantias de que o mundo corresponda as nossas categorias, e no entanto é apenas por essas categorias que podemos conhecer.
Não há o real atras de nossas sensações (isso em si já é metafísica), podemos apenas nos limitar a ver um mundo para nós, muito duvidoso aliás."
Cogito, logo erro.
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