A missa da tardinha, após a ladainha de um padre fiel terminou na calçada onde o povo sentado assistia, avidamente, o poslúdio daquele culto.
Deus sentiu náuseas; o divino foi às últimas consequências: "Eu, doravante, sou apenas um nome".
Os homens tomaram para si esse substantivo próprio e dividiram o espólio da fé.
Agora tem culto em todo canto;
É uma forma silenciar o pranto daquele que não crer.
O melhor crente é o ateu, pois, admite a sua descrença.
Confessa sua fé na falta da mesma.
Conheci um homem que andou com Deus.
Desde moço, o rapaz, de joelhos clamava aos céus.
Esse senhor, agora, maduro pulou o muro e foi para um gongá.
Lá o chão é de barro, suas vestes se sujam de cinza e lama.
Seus amigos não gostaram;
Sua mulher o amaldiçoou;
Seus antigos irmãos, com piedade, exorcizaram seu demônio.
Caridade!
Caridade!
Isso é caridade! Não tem preço o que fizemos por ele!
Fizemos todo o possível até o limite da paciência!
Isso faz a diferença!
Agora, é com ele!
O moço se animou no gongá;
Alegrou almas aflitas;
Andou com elas até a aprenderem a correr.
Lutero não gostou do crente naquele lugar.
O motivo é que ele está louco!
Essa é causa!
Nossa teologia é certa; é a razão do espírito; a revelação dos céus.
Interne-o!
Interne-o!
Conspirem contra ele! Estamos numa guerra santa!
Ele não aguenta, seu coração é carne, então ele se quebranta!
Queima a casa do diabo e tirem o rapaz de lá!
Vejam, até, sua mulher o deixou!
Que a cidade saiba que nossa fé tem argumento.
Nossas premissas se sustentam!
Nosso culto é legal!
Deus voltou ao mundo; de súbito Jeová desceu à terra.
Parem com essa porfia!
Tudo isso é infâmia humana, eu conheço o menino;
Desde moço ouço o seu soluço, vejo sua cândida alma;
Ele não faz mal a ninguém; nem no mundo eu estava para brigarem por mim!
Deus trouxe uma velha samaritana;
A cidade viu sua pele enrugada e envelhecida.
Seu fedor espantou a todos.
Os fieis não suportaram a criatura.
O problema está na falta de fé; ela não busca, não se arrepende!
O infortúnio é o seu destino!
O inferno sua recompensa.
Mas, no mundo tem quem pensa;
tem quem se acostumou com o pó, com a sujeira dos homens.
O moço do gongá abraçou a mulher pobre.
falou-lhe palavras que entendesse;
não usou dogmas, nem argumentos de fé.
A senhora nojenta, mulher asquerosa, de quem todos fogem se pôs em pé.
Então o Senhor Deus sorriu: "Parece que na terra ainda tem amor".
Deus voltou descansar.
E o homem do gongá andou sete dia até que seu peito parou.
Não há religião que a faça a diferença se pusermos na frente nossas crenças.
Há na terra uma conspiração que distancia os irmãos e silencia o assobio de Deus.
Seu vento paira sob o firmamento.
É uma maravilha da criação.
Que cesse a tormenta, assim não se aguenta!
Há púlpitos, há gongas;
Há mármore caro,
Há barro sujo.
Mas, se lá dentro Ele está, então, não há conspiração...
Nenhum comentário:
Postar um comentário