Fiel era a menina ao relógio implacável.
A pobre criatura não percebia que os minutos, os segundos e até as horas rasgavam sua face com sucos na derme.
A terra debaixo de seus pés silenciosa lhe preparava uma cova.
Seu rosto, dia triste, dia alegre esperava o carro de seus sonhos e pesadelos.
Por vezes, o sorriso lhe curou as rugas.
Outro dia, seu queijo feria o chão;
O chão onde todos pisam e se cansam.
A moça sonhava proibida.
A desgraça estava na praça.
Na praça da frente, perto do posto, distante da gente.
Eu a amava no silêncio.
Suas lágrimas; sorvi contente.
Não lhe era parente.
Morava no mesmo prédio.
Andava na mesma rua.
Vivia o mesmo tédio.
Pois, ela não me via.
A pobre menina bonita que me enchia os olhos e acelerava o peito se foi.
O carro a levou; seu motorista vestido de terno bege era o foco do seu olhar.
No canto, a dez metros de lá, do seu costumeiro lugar de sentar, chorei sua partida.
O coração não escolhe a quem amar.
Enganoso e estranho órgão que pulsa sangue sem parar.
Em diástole e sístole ele te leva a lugares que não podes.
Crueldade da natureza!
Malvadeza!
Amar sem ser amado; uma tortura sem cura!
Nunca mais a vi.
Dizem que foi para São Paulo.
Pensei que a moça era carioca.
Beijei o lugar onde ela sentava todas as noites às sete.
Destruíram a calçada;
Construíram um Shopping.
Nada restou no chão de concreto.
- Psiu!
- Silêncio!
Vejo uma morena sentada na mesma calçada!
Vejo um amor não consumado.
Vejo um coração, agora, confortado.
A vejo na lembrança que ainda arde nos olhos do peito:
- Ela não tem defeito!
A culpa é da calçada...
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