segunda-feira, 10 de junho de 2013
PARA UM NOVO PENSAR
Rodei o mundo e vi, ao longo dos anos, que nós sabemos muito pouco da natureza. Afastamo-nos tanto dela que conseguimos vê-la, ali, em um lugar distante de nós. Nossa noção de mundo entendia que a natureza era alguma coisa em algum lugar. Hoje, pela força da natureza, pois, o pensamento humano é natureza; ambos estão nela; dizemos que “ela precisa ser poupada”. É a consciência (natureza) tendo consciência que precisa dela mesma segundo as leis que sempre existiram. Se há regularidade, se há estrutura, se há movimento, se há sentido, então a natureza é viva; Deus expressa sua vontade e consciência pelas leis da natureza que ele criou.
Separar a realidade entre ideia e matéria, entre emoção e razão, entre sujeito e objeto foi um equívoco muito grande da razão humana. A necessidade de classificar a realidade transformou a ciência numa máquina extremamente pesada. Fez sua lógica funcionar a partir de uma falsa dependência da natureza. Ela se tornou fonte de riquezas e matéria prima, e a ciência fonte de técnicas cada vez mais complexas para extrair da natureza; essa relação de dependência não tinha consciência das consequências de quebrar leis naturais. É melhor achar assim que pensar diferente. Abro mão das teorias de conspiração e de que o homem fez o que quis mesmo sabendo das consequências; prefiro acreditar que o sujeito da época não possuía o ethos para dialogar com a natureza como se falasse consigo mesmo.
Não a nada no homem que não seja natural. Não há nada na natureza que não exista nas moléculas do homem. Defendo que a realidade psíquica é a natureza na dimensão dos sentidos. Neste reino o signo é o gene causador de toda a cadeia dos sentidos e das representações da realidade. Defendo que a estrutura semiótica de nossa psique é inteiramente natural. O que chamamos de objeto é natureza ou em estado puro ou modificado pela ação dela mesma (o homem). Assim, consigo pensar que toda a natureza regula, modifica, estrutura e promove os movimentos que ocorrem em si mesma. As ideologias são produtos da natureza humana que constituem e movem toda a máquina psíquica de qualquer sociedade. Defendo que o psiquismo do sujeito sempre estará em estado de sujeição ao psiquismo coletivo. O psiquismo coletivo é necessário para que a natureza simbólica da realidade possa ser expressa por seus atores – Os sujeitos.
As leis naturais são forças inerentes a ela mesma que a faz mover-se no tempo e no espaço. Uma lei; uma determinação. Existem determinismos na natureza como a foça da gravidade. Mas, embora os determinismos, todas as formas inteligentes da natureza tem sua unicidade. Uma individuação do outro, uma distância na organização e expressão da cadeia de signos, o que nos faz entender que a natureza chamada de oculta é tão natural quanto a que pensamos que estamos vendo. Portanto, ver o sujeito oculto, obscuro aos olhos do materialismo histórico soa muito estranho, no entanto, o sujeito é sujeito do que diz e faz, logo, o gene de toda a organização, de toda individuação, de todo sujeito é sua complexidade. O oculto, o espírito e o visível se misturam de maneira tão natural que os homens acharam que as separando as entenderiam melhor.
Penso diferente, pois, o dialogismo entende que não existe outro lócus para o homem que não seja o lugar do diálogo. A nossa condição natural é de diálogo. O mundo, a natureza, todas as formas e representações de qualquer pedaço do tempo constituem o núcleo do sujeito, mas, as formas de reorganizar e de criar novas imagens, e sentidos nos apresenta a inteligência espiritual; esta é tão natural como tudo mais na natureza, a matéria se agrupa em diversos lugares da realidade material. A realidade material e a realidade semiótica constituem a natureza em determinado tempo. Ora, se a natureza viva segue leis que o materialismo defende que surgiram pela probabilidade de um dado evento, como um raio que cai em tua cabeça, muito mais longe, o materialismo poderia ir se considerasse com mais seriedade todas as dimensões e organizações da matéria.
Tanto a filosofia quanto a teologia cooperaram para que a heresia do humano extremamente humano se espalhasse pelo mundo. “Olha a natureza ali!” Existe até hoje quadros da natureza viva. Para o dialogista um quadro ou qualquer produção do homem é expressão racional da natureza. Não existe distância entre o pintor e a árvore, ou o pássaro e a gravura quanto a natureza, ambos são natureza. Parece ser difícil pensar que a racionalidade humana é a racionalidade de uma pequena parte da natureza. A natureza é racional na espécie humana assim como manifesta extrema sabedoria em todas as suas leis.
Para entender que nada existe nesse planeta que não já existisse nele ou viesse de outras partes da natureza como os outros orbes; basta ver a fotografia da terra tirada do espaço. Não há prova maior do que ver a terra e ver que tudo que temos e construímos está nela e depende dela. Depende da certeza de suas probabilidades. Quanto a estas coisas falarei em outro texto. Porém quero ressaltar que a natureza transcende o limite planetário de nosso orbe e se apresenta em todas as partes do universo; isso é muito importante para entendermos que o mundo pós – moderno não deve considerar as questões planetárias somente, mas, considerar que também estamos em diálogo com o universo. Assim como os antigos se fascinavam com o fogo, o brilho de uma estrela está me dizendo alguma coisa.
A natureza enquanto coisa objetiva, palpável nada pode nos dizer de si mesma. O dizemos dela são os sentidos que ela provocou em nosso sistema de inervação. Desta forma, não existe uma única natureza, mas, múltiplas naturezas concebidas pela psique do sujeito. A cultura dos povos, suas religiões e modos de produção sustentam plenamente essa assertiva. A diferença de olhar a natureza, não deve ser problema; pelo contrário, os diferentes olhares para a natureza nos possibilitam dizer mais dela e fazendo isso nos aproximamos muito mais de um conhecimento racional.
Para um novo pensar a natureza é necessário a construção de novos sujeitos; a Educação deveria ter com urgência uma preocupação maior com os problemas ambientais. Infelizmente, essa mulher fogosa nunca abandonará o seu amante – o estado. È o estado, legitimado, agindo por suas leis que mais viola desde os tempos de Cabral as leis da natureza brasileira. O modo de produção aqui implantado não considerou a relação dialógica entre produção e meio e ambiente, sem esse diálogo sincero, a natureza nos destruirá, ou nós estamos cometendo suicídio global.
O positivo das ideologias humanas é que eles podem anular as outras ou conjugarem-se, a ideologia é plástica, pode facilmente ser reorganizada. Assim, para cada época, temos um modelo diferente de homo sapiens. O homem pensa seu certo e seu errado a partir das relações materiais no eixo sincrônico de sua existência. Todos os tempos históricos estão presentes na massa discursiva que constitui nossa consciência. Da mesma forma que foi certo matar elefantes, a ideologia pode formar sujeitos que abominem essa prática – cabe à educação olhar para esse lado.
A filosofia grega e depois o pensamento europeu não percebeu que sua ciência era metafísica. O inconsciente dizia: “joguemos toneladas de gases no ar”. “Joguemos nossos esgotos no mar e nos rios”. É o mesmo que dizer que somos autossuficientes, somos maior e melhor que a natureza, somos a IMAGO DEI. Que devaneio, que torpeza de raciocínio! Nada no universo, pode ser a imagem do todo; o Em Si eterno, o Eu sou de Moisés não pode ter uma imagem, pois, Ele é inimaginável. Toda imagem tem seus contornos, suas simetrias; o Eu sou não cabe nelas; a imaginação é incapaz de dizer plenamente sobre Ele, pois, O Eu sou só é entendido por si mesmo.
Até que ponto a criação do humano no mundo serviu para a natureza? A construção da Imago Dei; do humano, e da civilização distinta, digo, sem relação alguma com a natureza é culpa da razão europeia, principiando, com os postulados gregos. A dicotomia do material e do espiritual me perdoe os que disseram isso, foi uma alavanca para que as máquinas destruíssem tudo a sua frente. A pregação do reino dos céus tirou nossos olhos do que era real e concreto – “Eu sou barro, logo, sou natureza”. A igreja fez de tudo para desanimalizar o homo sapiens. A necessidade de comprovar o dogma, ou as assertivas das escrituras como “O niilismo cristão, ou a ascese puritana” carregou nosso olhar para o abstrato, para a parábola, ou metáfora, enquanto isso os esgotos enchiam os rios e mares de toda sorte de pecados.
Culpo a teologia, a filosofia, e a ciência pela concepção de um homem sem considerar sua relação umbilical com a mãe natureza, pela criação da natureza distante, fora de mim, eu e ela somos objetos distintos. Uma filosofia que pense a relação do homem e seu meio ambiente será a filosofia do futuro. A humanidade precisa de um novo pensar; precisa considerar sua animalidade natural.
O que chamo de animalidade são todas as marcas orgânicas e psíquicas que mostram que somos animais que se racionalizaram pela probabilidade de uma evolução. O animal homem é um organismo biológico e precisa se sentir psicologicamente assim, para que o simbólico considere que ele é também animal como o animal que o criou. A natureza nos ensina que todas as formas de vida estão em interrelação e formam uma imensa rede de interdependências. Todas as formas de vida do planeta se completam nas outras tornando a vida e o planeta autossustentáveis desde que as regras não sejam quebradas.
Pensar novo necessita considerar dois grandes paradigmas: A humanidade exageradamente humana, e o animal puramente retórico. Este ultimo existe nos nossos enunciados sobre nós mesmos e sobre os outros. Dizemos de nós: “Os seres humanos não são como os animais”. Nos esquecemos que nossas drogas são testadas neles o que nos mostra a semelhança orgânica entre nós e eles. Sendo assim, o homem pode rever sua teoria sobre a humanidade trazendo-a mais perto da natureza para que as gerações futuras sintam o dever de preserva-la.
Infelizmente os discursos construídos sobre nossa humanidade nos distanciou de nossa animalidade. Tanto o discurso secular quanto o eclesiástico fundaram o homem fora da natureza e o ensinaram a olhar para ela como se ela não fosse nós mesmos.
A educação não está preparada para formar essa geração porque sua função tem sido reproduzir o discurso de uma humanidade exagerada. Ser animal não é obrigatoriamente um ser inferior, é somente entender que somos iguais a todos e somos apenas mais um elo na imensa corrente natural.
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