sexta-feira, 28 de setembro de 2012
UMBANDA, umbandas, CONTINUUM, e as Psicografias
Muitas são as propostas explicativas do surgimento do movimento religioso chamado Umbanda. Uns alegam que ela é a filha mais nova do Candomblé. Outros dizem que a Umbanda já existia em continentes que a geologia não tem nada a dizer - Lemúria e Atlantes. Nesses lugares, ela tinha o nome AUMBANDHAN. Outros dizem que a Umbanda surgiu do Candomblé de eguns, ou de caboclos, como se isso fosse possível em um verdadeiro Candomblé.
A literatura científica nos diz que a Umbanda surgiu durante o processo de industrialização e urbanizaçaõ no eixo Rio – São Paulo. Dizem que ela teve origem nas religiões africanas, e que ela é sincrética. A Umbanda para os sociólogos surge da necessidade das camadas pobres das cidades em processo de crescimento urbano se identificarem enquanto sujeitos num mundo de anônimos. Os antropólogos estudam suas raízes e sua configuração cultural, e para eles, se ela é diversa, ou controversa, nada tem a ver – Não há problema! O olhar científico não tem a preocupação de olhar a Umbanda com Espíritos. Para ele, ela é uma religião experiência, uma mistura de elementos doutrinários de outras religiões que tomam configurações regionais por todo o país, ou seja, dizer o que é Umbanda, a luz da ciência é um tanto complicado. Alguns autores dizem que temos cinco diferentes raízes doutrinárias: A xamânica, a orientalista, a africana, a católica e a kardecista – eu, particularmente, já encontrei umbanda com marcas discursivas protestantes – Pasmem! O problema é colocar tudo isso no mesmo saco como se elementos teologicamente halogênicos pudessem se misturar! Isso é o mesmo que colocar Agostinho tomando cerveja com um pajé Xavante, ou Lutero jogando xadrez com um mestre Ramas do Tibet. Os discursos não se complementam e tendem a uma situação de conflito. O movimento de embranquecimento da origem da Umbanda diz que foi Zélio Fernandino de Moraes, um médium kardecista, que teve problemas sérios de saúde e que seus guias, em um centro espírita, profetizaram um espiritismo sem preconceitos. “Está faltando uma rosa!” Logo em seguida, em sua prática diária, ele risca pontos cabalistas negando tudo que disse, pois, a doutrina kardecista não entende ligação vibracional com entidades por meio de lei de pemba, então, Umbanda não é Espiritismo no sentido literal do termo.
Se tomarmos as raízes africanas da Umbanda, teremos um verdadeiro sarapatel de doutrinas e fundamentos religiosos. Cada nação de Candomblé trouxe suas crenças para a Umbanda, assim, uma Umbanda de influência Ketu é diferente da de influência Omolokô; a de influencia Jêje é diferente da de Angola, e assim vai o barquinho rumo a uma verdadeira Babilônia de crenças dentro de uma mesma religião. Posso dizer, sem medo de errar, que em se tratando de Umbanda – a realidade é confusa, e o terreno é minado!
Seria muito mais apropriado nos referirmos ao nosso movimento com um termo plural: Umbandas, pois, é o que vemos no dia-a-dia de nossa pratica e na consulta aos livros especializados e escritos por autores umbandistas. É aqui que meu terreno começa a aparecer! O discurso teológico umbandista!
Como teólogo eu entendo que uma teologia surge da reflexão sobre o sagrado e sua epifania. Essa última, geralmente aparece nos chamados livros canônicos ou sagrados, ou revelações. Não basta apenas alguém experimentar o sagrado para daí construir um pensamento sobre Ele. É necessário que esse sagrado emane seu ego, se revele e se manifeste a mais pessoas para que haja fatos contundentes sujeitos a apreciação racional. Toda teologia é construída por um arcabouço teórico – uma epistemologia teológica. Não existe teologia sem uma filosofia implícita. É por essa razão que encontramos marcas do empirismo inglês nas teologias sistemáticas do Puritanismo Protestante daquele país. Não podemos deixar de ver o pensamento filosófico de Platão na antropologia teológica da Igreja de Roma e de suas derivações, nem deixar de ouvir as máximas positivistas de Augusto Comte no pensamento Espírita. Assim como o pensar o real está sujeito a uma época, o pensar o sagrado está sujeito aos nossos conceitos de homem, de mundo e de Deus.
Permitam-me dizer que a doutrina Espírita Kardecista possui consistência teológica e credibilidade social porque ela possui um código que lhe possibilita a construção de sua ética, de sua filosofia, e de sua práxis religiosa. Esse código é sempre revisto pelo olhar do tempo filosófico, mesmo que suas máximas permaneçam inabaláveis. Quem ousaria dizer algo contra a veracidade do Mediunato Espírita? Ou quem negaria a existência do Fluido Cósmico Universal? São doutrinas retiradas de um código construído sistematicamente pela engenharia espiritual dos irmãos ascencionados. Onde houver a verdade, pode haver o diálogo, contudo, a contradição no discurso é impossível sob pena do código não ser mais um código.
Todos os protestantes são conhecidos pelo seu proselitismo, sua mensagem apelativa, salvívica, sua crença no código judaico-cristão – A Bíblia que explica tudo. Nenhuma igreja protestante negará a deidade de Cristo ou a crença no Pecado Original. Todo protestante acredita na trindade e na parousia – A volta de Cristo de forma literal e visível; como é interpretado por seus doutores: “todo olho o verá”.
Observemos três umbandistas conversando. O primeiro dirá que a Umbanda verdadeira é aquela que tem Orixá como no Candomblé, e que seu Orixá é rígido, pois, possui fundamento. O segundo dirá que o Orixá não existe, é apenas uma energia. O terceiro dirá que o Orixá é um caboclo que desce na vibração dessas divindades. Costuma-se dizer que: “Na minha casa se cultua assim”. Logo, não posso dizer que existe uma só religião de Umbanda, mas que existem umbandas, macumbas, catimbós, juremas, e o carro puxa o que a imaginação poder produzir. Por favor, me mostrem se estou errado!
Tenho escrito sobre a necessidade da codificação do movimento umbandista em vistas a um diálogo mais coerente com a sociedade. A Umbanda tem valor! Não resta dúvida, quanto a isso, sou testemunha, muitas foram as pessoas que encontraram o sagrado na fé umbandista, se é que posso dizer isso - umbandista - e estão até hoje muito bem. A questão, é que ainda não houve uma filtragem racional, ou uma análise sistemática do que temos, do que somos e o que queremos no mundo! A resposta que me deram foi: “A diversidade só enriquece a Umbanda”. Esse discurso não tem embasamento teológico, ele é sobre tudo antropológico, pois, nos vê enquanto cultura, ou seja, reza, dança, estética, gastronomia, lendas, canto, milongas e o diabo a quatro! Essa foi a posição de um mestre em Sociologia da Cultura da Universidade Federal da Bahia onde apresentei um artigo sobre educação: “Não tem quem tire o caráter diverso da Umbanda, e é bom que continue assim, pois, a diversidade só a enriquece”. O ilustre intelectual se declarou umbandista diante de minha pessoa, e defronte a imagem de Iemanjá no Rio Vermelho em Salvador.
Sou médium umbandista há oito anos com vivência mediúnica e atuação em diferentes terreiros em Aracaju e Tobias Barreto. Recebi a missão de um guia para evangelizar terreiros de Umbanda, e isso me obriga a ver coisas que me assustam mesmo com 52 anos de idade e muita estrada percorrida. Recentemente fizeram magia negra para me matar. Depois me vendo entre os vivos repetiram o mesmo procedimento, mas, graças a Deus ainda estou na terra para perguntar: O que é Umbanda? É magia negra? É religião? É o esoterismo europeu misturado as maracás tupiniquins?
Defendo a codificação porque acredito que com o material existente e disponível, com humildade e Cristo no coração, podemos desenhar uma religião carismática que em muito contribuirá com o processo de cristificação do homem na Nova Era. Defendo a codificação porque como qualquer religião, a Umbanda necessita de um CONTINUUM, e ele só ocorre se houver estudo sistemático e a identificação do sujeito com a nova experiência religiosa que promove a metanoia. É necessário umbandistas que sejam convertidos, e não clientes de terreiros, ou milongueiros, por esse Brasil a fora, para que a Umbanda continue a existir e a crescer e a ganhar aceitação social.
Vejo a Umbanda como uma corruptela do Espiritismo; como uma variável, filha de uma leitura pentecostal de uma ideia tradicional Espírita. Para mim, Umbanda é Espiritismo popular, assim como o pentecostalismo é protestantismo popular. O que precisa é a doutrina, a leitura espírita aplicada à realidade e práxis umbandista, a apropriação das máximas evangélicas do Cristo como nos propôs o nosso irmão Malagrida (Caboclo das Sete Encruzilhadas) – expressão tão mal entendida e comentada. Ser popular não é ser do vulgo, do bruxedo, do chifrudo. Ser popular, para mim, nos remete a estética de nosso discurso, ao seu conteúdo, a estética fluídica usada por nossos guias cuja razão é sobre tudo pedagógica, e a sua magia vegeto-mento-astral, uma vez que atuamos nas camadas menos intelectualizadas, e que com toda certeza, jamais entenderiam o discurso dos mestres kardecistas com seus postulados filosóficos e sua linguagem distanciada dos dialetos populares. Fazemos o trabalho que os doutores dos grandes centros kardecistas não ousariam se quer por um dedinho nele. Quando nada tem mais jeito, quando a casa vai cair, os irmãos kardecistas se lembram dos verdadeiros caboclos e pretos velhos da Umbanda de Jesus. Provem-me o contrário e eu calarei a boca! Pois atendo quase todas as semanas irmãos de mesa kardecistas! O caminho oposto é também real.
Somos tão diferentes e tão parecidos que existe no movimento umbandista a tal máfia das psicografias. Ao longo de árduo estudo e dedicação ao mediunato só obtive com coerência umas três ou quatro psicografias. A última foi de Luiz de Camões dois dias antes da passagem de meu pai. Fui acordado de madrugada com rimas e versos que não pertencem ao meu estilo literário. Declamei o poema na madrugada de uma sexta feira. Até hoje não sei onde ele se encontra, onde o coloquei. Em seu lugar publiquei “lágrimas do Exílio” de autoria nossa que está nesse site.
O que me ocorre em meus textos são intuições e a certeza da presença de um ser negro e meigo que me acompanha quando “É hora de dizer”. Ele faz o mesmo quando vou aos centros de Umbanda; ouço a voz tão meiga quanto a que ouço ao computador: “Não se preocupe, eu estou com você”. Isso não é psicografia. Não sou especialista no assunto, mas, acho que é isso.
No movimento umbandista, a moda é dizer-se inspirado pelo Ogum tal. O Pai fulano e o Caboclo x e psicografar doutrinas que depois entram em conflito com as outras psicografias de mesma natureza. Falta a coerência e a coesão do tecido discursivo dado por essas “entidades”. Assim como encheram a Umbanda de uma panaceia de procedimentos sem fim, estão agora psicografando a torto e a direito. Tive o laborioso cuidado de buscar as origens desses discursos. Todos estão na Internet e nos livros especializados em esoterismo ou teurgia. Eles são Alice Baile, os trabalhos de Ramatis, Papus, Franz Bardon, Karl Burn, Franz Barret, Eliphas Levi, Cagliostro, Johannes Fausto e outros. Foi desses autores que esses irmãos tiraram suas psicografias, e abrem seus mistérios velados ao mundo umbandista que pagar por seus livros caríssimos. Assim Pai Guiné diz uma coisa, e Pai João diz outra, e por sua vez, ao fim da cadeia discursiva todos estarão mais ignorantes do que no início. No kardecismo existe psicografia de todo tipo: Cartas do além, de outros planetas, médiuns atuando em programas de tevê como sendo um “Show da Fé Espírita”. Existem até aqueles que fazem tratamento espiritual ao vivo com direito a: “Você deixou sua alma no passado...”
- Meu veio o que tá havendo?
- O fim é igual ao começo. O bicho é mesmo.
- Então as trinta moedas ainda estão no mundo?
- Não só elas, mas, as mãos, as cunharam.
- E é meu véio?
- É...
Isso não é psicografia é só o coração queimando. Salve a pemba, salve a jurema, salve Joaquim de Aruanda!
O que me resta então no movimento umbandista é meu banquinho de madeira numa casa da periferia de Tobias Barreto. É lá que sinto paz e falo com Deus! Sem a caridade ninguém verá a salvação! Por isso me esforço para não entrar em contradição.
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