quarta-feira, 19 de setembro de 2012
DEUS E A CULPA PAULINISTA
A relação entre Cristianismo e culpa é tão forte que não temos como entender o plano soterológico sem associá-lo à uma culpa universal e pessoal. A doutrina do Pecado Original, e sua extensão a todas as pessoas, tenham consciência ou não disso, nivelou a humanidade por baixo na sua condição de devedora inata e sem solução, exceto, se buscá-la na agência legítima e fiel representante do sagrado - A Igreja de Cristo; seja na versão romanizada ou na versão anglo-saxonizada (um apêndice da primeira).
Não resta dúvida que a mensagem de Cristo acalma a alma e nos deixa relaxados para trabalharmos no dia seguinte (Max Weber). Contudo precisamos pensar essa mensagem numa perspectiva pragmática. Faz dois mil anos que Cristo veio ao mundo. A Bíblia está em todos os lugares, e em todas as línguas, e em todas as formas; existem Bíblias explicadas, Bíblias translineares, etc., tudo para torná-la mais inteligível, acessível ao leigo. Existem países que grande parte da população confessa ser cristã Protestante ou cristã Católica – são massas religiosas quase hegemônicas, mas, há algo bem curioso e que me angustia quando penso sobre isso: O Cristianismo tem sido, sobretudo ao longo dos séculos, uma ideia e não uma conduta de vida – uma práxis existencial. “Faça o que eu digo, mas, não faça o que eu faço”.
O Cristianismo é uma ideia que possui sua gênese no dogma da culpa de um homem que já nasce devendo ao seu criador, e que terá que pagar por isso. Partindo do conceito de culpa, o Cristianismo se desdobra em uma série de outros conceitos todos voltados para a cristianização – a artificialização do homem para tirá-lo de sua mais real natureza: “O homem a imagem do outro”. A teologia do século XV considerava o homem como um ser criado, um ser perfeito, um ser que veio ao mundo pronto, ou seja, acabado – nada a acrescentar, exceto, a falha de percurso, conhecida por todos como “O Caso de Adão e Eva – os bonequinhos do Paraíso”.
Os teólogos reformistas não tiveram um olhar antropocêntrico, nem tão pouco observaram o vizinho conversando. Pois, se tivessem se preocupado um pouco mais com o animal – homem veriam na linguagem as contradições de seus postulados. A degeneração da raça de matriz adâmica é mito hebraico; o homem vara as eras e ascende em retorno ao seu Criador!
Como todas as espécies criadas por Deus, estamos nós em Evolução. A linguagem humana comprova o progresso das civilizações. De figuras e rabiscos nos paredões e cavernas úmidas, o homem desenvolveu a capacidade de significar e representar seu signo com mais perfeição. Isso comprova que nós tivemos uma evolução filogenética e outra ontogênica. À proporção que o nosso sistema nervoso foi sendo aperfeiçoado, nossa capacidade cognitiva foi ampliada, nossa percepção do mundo e da divindade foi melhorada. Conhecer o bem e o mal não faz mal algum! O conhecimento só incomoda àqueles que se alimentam da ignorância das massas!
Essa doutrina é parte do acervo teológico paulinista. O Paulinismo, uma nova versão do Cristianismo, dito primitivo, ensina que o pecado entrou no mundo por Adão e que sairá ou saíu por Cristo - o novo Adão, que para Paulo, é uma mistura de Deus-Homem-Espírito Santo. Temos aqui, claramente, o amor que se revela na culpa, e que produz o medo (Carta aos Romanos, cap V).
É muito difícil alguém sustentar que a inclinação moral foi herdada geneticamente. É mais difícil ainda aceitar a justiça divina transferindo a culpa de um homem para os seus descendentes que nem sabem de sua existência, ou, se podem de alguma forma, prova-la! O pecado Original, ou a teologia do medo e da culpa atenta contra o princípio da justiça divina e da racionalidade humana! Já dizia o grande codificador Espírita: “Toda religião que atentar contra a razão, desconfie dela”.
A Teologia do medo, também atenta contra o processo de hominização da besta homo sapiens. Isso é fato! É empírico! O sujeito que fala; o homo loquens nos diz de suas sendas pelos campos desse mundo. Ele veio da pedra dura, e após melhora-la, ele desenvolve técnicas fonéticas e fonológicas para materializar no mundo das formas seu pensamento. E isso, meus caros, é Evolução! Deus, então criou um ser-devir.
Oh, como é graciosa sua sabedoria! Como são insondáveis seus pensamentos para nós homens de carne!
Viver sem culpa é o desafio do cristão de qualquer credo! Não tenho débito por vir ao mundo. Meu débito é bem anterior ao mundo das formas; ele tem sua explicação no mundo virginal onde a matéria é tão sutil que podemos considera-la, para efeito de explicação, quase zero – o mundo da energia pura. O Carma causal, eu tomo como uma experiência que o Senhor dos Senhores fez no kairos. A experiência que produz experiência. Viver é experimentar, é aprender, é tentar, é melhorar, pelo menos é muito mais humano que a acese puritana que nos põe em mosteiros sem muros. Mas, para nós da Umbanda, viver é despertar seu Cristo interior!
“Desperta tu que dormes e Cristo te iluminará!” Acorda homem, o Cristo Planetário te convida à seara da Caridade! Pois, sem ela jamais veremos a Deus!
Assim, meus amados irmãos em Cristo, tenho posto a minha angustia sobre a culpa de viver. E entendo que viver é uma experiência abençoada pelo Pai das luzes e que devemos, a cada encarnação fazer o melhor para melhorarmos ainda mais essa espécie escolhida para tão nobre e espetacular experiência divina – VIVER no mundo das formas. Ademais, vos lembro, sobretudo, sois pneumas e nele VIVEIS E VOS MOVEIS. Que Oxalá, nosso Cristo vos abençoe. Paz e Luz!
Casa de Oração Caminho de Luz, Tobias Barreto, Se. Contato rovlt@hotmail.com
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Querido Roosevelt,
ResponderExcluirEu sinceramente acho um absurdo a ideia que as religiões cristãs criaram no que diz respeito à dívida que o homem tem com o seu criador. Se de fato existe o criador, ele nos colocou ao mundo para desvendarmos as suas surpresas, mas o ato de desvendarmos as suas surpresas inevitavelmente nos leva a nos barrar diante dos obstáculos e dos nossos erros. Ora, o homem é um constante processo. Ele é devir. Não é direito, mesmo do criador, imputar essa culpa pelos nossos deslizes. O criador fez o mundo para que a gente possa desmembrá-lo, desmascará-lo dia após dia. O erro também é sagrado, afinal, diz respeito a mais um exercício de encontro que o homem estabelece consigo e com a sua espiritualidade. Reproduzindo uma frase belíssima sua exposta no texto, " Conhecer o bem e o mal não faz mal algum!". O problema é que as religiões, principalmente as religiões cristãs massivas, não buscam educar esse homem para o exercício e o confronto incessante com as suas contradições, afinal, reconhecer e aprender a dialogar com as contradições implica na capacidade do homem de se emancipar, de encontrar uma via capaz de permiti-lo se superar. Porém, assim como você atentou," o conhecimento só incomoda àqueles que se alimentam da ignorância das massas!". É isso meu caro: a culpa provoca entraves na vida do sujeito, impossibilita-o de andar, de repensar os seus erros. Resultado: a consolidação de um infantilismo pecaminoso e vitimado, afinal, nada depende de mim e o meu erro não existe já que meu infantilismo se conforta em jogar a culpa para o destino.
Meu caro sociólogo suas palavras são verdadeiras. A chantagem feita pelas religiões massivas e massificadoras principia por essa via - a culpa. mas, cá entre nós, Exu nos diz que viver é bom e cada um arque com seus pepinos. nada mais justo do que você ou eu pagarmos por um vacilo de um cara que a gente nem se quer sabe se existiu. kkkkk salve o torto.
ResponderExcluirEm breve freire e mudança social.