terça-feira, 10 de agosto de 2010

Um universo em si.

Na manhã de ontem, recebi um bom dia um tanto cansado, o meu então, foi deveras cansado. Como bom torto, mesmo que ainda sobre efeito da resseca fruto de férias pequenas, fui tentando ler a noite anterior e criar como um bom macaco “evoluído”, um fio de lógica para fatos manifestados na noite anterior. Não irei tratar os fatos aqui detalhadamente, como um diário, afinal não cabe aos leitores os saber, porém irei criar um campo lógico que deixará as experiências pessoais engendrar uma contribuição para os leitores.

Nesta noite aconteceram fatos adversos, que mexem sobremaneira com o senso de moral alheio. Obviamente não quero aqui suplantá-los, porém trabalhá-los de uma forma um tanto diferente. Primeiro queria colocar a seguinte inferência, até que ponto somos aparência ou preconceito? Segundo até que ponto podemos aceitar esse outro que tanto queremos proteger em nossos afetos (sobremaneira nos nossos dias onde a tônica do politicamente correto soa), por algo que convencionalmente em nossos tempos é imperativo que aceitemos, porém internamente não queremos aceitar?

Como bem falo para o torto Vina, somos produto e produtor. Sabendo disso podemos pensar o seguinte, ao mesmo tempo somos amigos do tempo e inimigos dele. Pois que, se somos produto cultural, ou seja, frutos de uma herança de valores que desde nossa infância nos contamina, somos amigos do tempo, e ao mesmo tempo, se pudermos encarar a vida como um fluxo, entenderemos que somos produtores de valores também, portanto, inimigos do tempo, passivos de sermos repelidos por ele. Como falo em outros textos meus aqui nesse espaço, poderíamos encarar o outro como um processo, e este processo para mim está atrelado a essa dimensão da realidade que aqui exponho.

Se encararmos esse outro como amigo do tempo, podemos pensar o seguinte: até que ponto valores coletivos do presente podem suplantar valores individuais? Para deixar mais claro, como podemos aceitar diversidades culturais, que se encontram diluídas em nosso fluido sócio-cultural, diversidades sexuais, diversidades físicas (deficientes físicos) e etc. Se o que nos vêm em mente é um pré-juízo involuntário? Pensamos ora, o que mais vemos em todas as mídias é a contaminação frenética de valores que afirmam que estas pessoas devem ser aceitas, por que então que pessoas aparentemente liberais ainda cultivam preceitos arcaicos? Abrimos então esse leque mais ainda, podemos conceber então que não só o desvio é fruto de um processo, de acomodação de valores e uma posterior criação destes, podemos encarar o pré-juízo ou o preconceito também como um processo, um estagio frágil de certo tipo de classificação social para a acomodação ou naturalização de um habitus.

Referente até que ponto podemos ser verdadeiramente o estigma que nos colocam ou a aparência, é uma pergunta um tanto complexa, e não tenho a intenção de esgotar esse tema aqui, afinal faço apenas um esboço dessa temática, que poderíamos perfeitamente aprofundar com os colegas. O que penso a respeito é que, considero o processo de estigmatização ou de projeção de um juízo de valor como algo natural, e que serve ao meu ver para organizar o nosso espaço, afinal em cidades onde as distancias só aumentam e o conhecimento das diversas alteridades se reduz consideravelmente, é necessário e é real a estigmatização quase que instantânea, causando ou repulsa ou empatia.

Porém, se estivermos aptos a entender melhor este outro podemos suplantar certos valores e criar outros, buscar entender o outro não é um esforço pequeno, afinal mexe com nossas reentrâncias valorativas, mas admito que injustiças como execrar outras pessoas por cor ou sexualidade, são questões ainda passivas e merecedoras de uma reavaliação e sobremaneira de um esforço próprio para um AUTOCONHECIMENTO. E por fim, não podemos afirmar que alguma pessoa seja verdadeiramente o que ela aparenta ser, antes de tudo devemos nos desafiar a conhecê-la, se pudermos nos permitir é claro.

Um comentário:

  1. Reuel Astronauta,

    Somos um bando de animais falantes que cuspimos valores cheios de virtudes paralelo a nossa antiga e sempre renovada máscara. O outro não é apenas o que se mantém externo a mim. O outro sou eu próprio de mim. Na verdade, sou uma cidade cosmoplotiva cheia de desigualdades, de conflitos, de residuos. Uma cidade chamada Outro que é violenta, amável, sincera de mentiras. Como posso julgar ter tido a capacidade de fazer a leitura completa do outro fora de mim, se nem de mim mesmo eu consigo fazer essa leitura completa?

    No entanto, será que eu poderia negar fazer uma leitura do outro? Bicho, eu sou o produto de um contexto, sou dotado de convenções, de classificações, de valores. Portanto, precisamos relativizar as coisas, mas não podemos nos punir por classificá-las. Mesmo eu sabendo que a ninguem eu desvendarei a verdadeira verdade, por que eu não posso expurgar esse outro do meu ciclo? E se eu acho esse outro idiota, ridiculo, cretino? Sou isso tambem? Sou. Mas posso simplesmente não querer compartilhar minhas experiências com esse outro por eu achá-lo idiota, ridiculo e cretino. Afinal, o bom senso pertence a mim, assim como a incoerencia também. Se eu não fosse esses lados ao mesmo tempo, eu não requestionaria os meus valores e os valores do mundo, e por isso mesmo, eu não faria história, e nós sabemos muito bem que inevitavelmente o bicho-homem faz historia e deixa seus registros para a posteridade, ou seja, para as próximas gerações fofinhas e desnorteadas, assim como sempre foi a complexa história humana.

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