As pessoas transitam nas ruas, os carros correm apressados, a violência pulsa intensamente. Concorrendo a essa loucura urbana, a princesinha de Copacabana sempre de braços abertos para acolher turistas, impressionados com o humor carioquês, o clima contagiante, enfim, a cidade maravilhosa. Em um ponto dessa cidade cosmopolita- onde você encontra qualquer cidadão do mundo por acidente que de repente escolheu o Rio para ficar por uns tempos, até não ser surpreendido por uma bala perdida- se encontra o edifício Master.
Antes de comentar sobre o filme produzido por Eduardo Coutinho, gostaria de apontar um sobre a questão que me deixa um tanto curiosa: a emergência de apêndices em uma cápsula que parece ser tão envernizada, ou seja, a insurgência de algumas comunidades dentro de uma sociedade. Ao meu ver, as comunidades surgem na tentativa de resgatar , ou melhor, produzir algum sentido que por um momento foi tolhido pela sociedade. Um exemplo que me vêm agora à cabeça é a favela. Ela nasce da cidade, mas dela se degenera. Por constituir de elementos relegados a essa sociedade, a favela produz uma nova configuração dentro da cidade. As pessoas transitam não em ruas, mas em caminhos orlados de casas, os carros não correm apressados, mas tropeçam em caminhos não pavimentados, a violência pulsa, mas com um diferencial: quem é atingido, é reconhecido. Enfim, as pessoas não estão dissolvidas no anonimato.
Logo que assisti o filme O edifício Master, o autor me trouxe uma sensação de brincar com essa idéia de comunidade coexistindo em uma sociedade. As pessoas se encontram no mesmo espaço, mas pouco se relacionam ou até mesmo não se conhece. O seu mundo somente é individualizado quando dá acesso ao seu apartamento, depois de um imenso corredor sombrio preso na escuridão.
Mas quando a vida daquelas pessoas são expostas para produzir o documentário, suas vidas tomam o novo significado, cada morador é personalizado. Suas histórias são relatadas pondo a tona lembranças, revelações e sentimentos. Mesmo que o edifício seja uma passagem para alguns, ali não deixa de ser um ambiente que trouxe recordações e que serviu por algum momento, um lugar que protegeu e também empurrou contra a pior de todas as violências: a solidão. Uma solidão tão familiar na cidade grande: estar no meio de tanta gente e ser apenas mais um, preso em suas lembranças, angústias e receios.
Maira,
ResponderExcluireste seu texto me influenciou a construir um ensaio para publicar próxima semana no torto a respeito de um debate que eu e reuel astronauta tivemos sabado passado relacionado ao bairro siqueira campos. O que podemos constatar, e que lá, assim como o lance do edificio master, existem aspectos comunitários inseridos em uma rede complexa de comércio que gera a fisionomia de uma cidade.
Porém, eu acredito que mesmo que a comunidade coexista diante de um cenário complexo e hetrogêneo como o que nós vivemos, essa comunidade, por se encontrar ligada a esses aspectos societários, tende a não possuir essa personalização tão precisa como as comunidades as quais temos conhecimento ao menos teórico. Ao lado dos laços construidos, temos o velho medo da violência que termina provocando o nosso mais atual conhecido mundinho da solidão.
É isso que me fez gostar do olhar torto. Veja: não estou aqui dizendo que vc tentou mostrar um olhar torto. Eu digo o torto de acordo com meu ponto de vista. Mas voltando: o torto ele consegue visualizar as partes coexistindo com o todo, ao mesmo tempo que independentes, também enxerga essas partes como integradas ao complexo. Assim como não assume olhares estáticos como comunidade OU sociedade, tradição OU modernidadee, não deixa de desafiar o olhar cotidiano ao encarar os dois individualmente e ao mesmo tempo os dois em constante interação, assim como observa fenômenos que se repetem e fenômenos que mesmo se repetindo, assumem configurações distintas. Entortando nosso olhar, somos capazes de verificarmos o fluxo, pois não temos medo da contradição, não temos medo de sermos incoerentes dentro de nossa lógica, enfim, não temos medo de entortar.
bjs
Belo texto Maíra,
ResponderExcluirOnde os homens estiverem eles darão um jeito para superarem sua car~encias. esse animal é guerreiro.
É a realidade de diversos prédios de classe média alta, principalmente; pessoas muito próximas e discretas (leia-se solitárias). Parabéns.
ResponderExcluiré isso aí. Não cabe apenas definir o que seja comunidade ou sociedade em termos sólidos e unificador. Como vc mesmo ressaltou , Vina, isso só daria certo nos termos teóricos e olhe lá se não cairia em contradição. Considero tb o q Lou argumentou , uma realidade de diversos prédios, que acredito eu que não esteja restrito a classe média apenas. Até por que o Edifício Master é popularse não me engano do Copacabana.
ResponderExcluirVejo que cabe aqui um comentário citado por Bauman qndo ele fala da necessidade de criar uma comunidade solidária que na verdade uma vez pensada ela nunca será realizada. Pois quando almejamos é porque o nosso desejo egoísta já fora explicito e pulsa diabolicamente. Podemos viver com os outros, seja numa sociedade ou em uma pretensa comunidade, mas sempre quebraremos o trato de sermos verdadeiramente solidarios sempre pensando no todo, no coletivo em que o individualismo perderia seu vigor.