Certa vez lia uma entrevista do Leonardo Boff na revista de filosofia e ele disse algo assim: As crianças representam o que há de mais puro na filosofia. São elas as verdadeiras filosófas.
Bom, de fato confirmo sobre tais dizeres da forma mais contundente possível.
Ensinava ao meu sobrinho sobre o uso da camisinha, mostrando como colocar no pinto e na buça quando o mesmo perguntou: tem a do peito?
Após fazer um "hãmmm?", caí na gargalhada, e surpreso, fiquei a me sentir um boboca mesmo, um cara que vive escrevendo um monte de lorotas, quando na mais pura concepção do possível, uma criança de 10 anos faz-me tal pergunta.
Lembrei quando questionei porque "porta" chama-se "porta", porque "cocô" chama-se "cocô" e porque quando estou em casa não vejo o que as outras estão fazendo na rua. Nesta última lembro que minha irmã me chamou de "idiota!". Mas, eu só tinha 7 anos. Era um zé, um mané...
Fiquei tão frustrado e constrangido que passei tempos sem fazer tais perguntas absurdas.
Certo dia vejo uma velhinha passar e clamar para os céus porque Deus não a atendia. Resolvi deitar na rede e ficar olhando para o céu por horas, até que dormi no sereno e Deus realmente não apareceu.
Perguntei a minha mãe ao acordar (já na cama): Mãe porque Deus não atende quando falamos com ele?
Mas logo ela disse: Não meu filho, ele atende, basta que sejamos bons e um dia ele virá!
"Porra!" - Pensei, "já vi que ele não aparece pra mim tão cedo. Mas será que fui tão ruim assim com apenas 7 anos?"
Bom, se crianças são inocentes, não são ruins! Não fazem maldades. Correto?
Má repara senhor, você é exigente, hein?!
Eder,
ResponderExcluirAntes de mais nada, eu gostaria de dizer que as criancinhas são maldosas sim, se considerarmos o ato de maldade a uma expectativa de virtude contruida pela cultura humana. Como disse o Cazuza na música "Só as mães são felizes": " a inocência cruél das criancinhas, como seus comentários desconcertantes..."
Mas compreendi perfeitamente quando você relacionou a ideia de Boff a uma filosofia pura. Mas antes vou fazer uma observação: se a pureza significa espontaneidade, é bom lembrarmos que as crianças de rua, por exemplo, perdem essa pureza filosófica muito mais cedo que um carinha como eu de classe média. As próprias circunstâncias fazem com que elas aprendam a lidar com questões cruas da vida.
Mas se tratando de crianças com a realidade de seu sobrinho, e sobre o ponto que de fato você buscou mostrar em seu texto, eu corcordo plenamente. As crianças, por ainda se encontrarem geralmente em um período de adaptação mais intensa aos regulamentos morais de uma cultura, terminam fazendo questões que não tendem a ser bloqueadas pelas resistências geradoras das vaidades que possuem os adultos. Essas resistências é que provocam inúmeros sentidos para a realidade, e esses sentidos tendem a circular em meio mundo de voltas, pois as cobranças éticas, comportamentais, morais, são muito mais incorporadas que nas crianças. Isso termina por trazer questões filosóficas que se perdem na diretividade e simplicidade dos resultados como chegam as crianças. Como é boa essa pureza... pena que não conseguimos, nem podemos mais voltar atrás rsrs
Muito do caralho seu texto man
Houve uma época na história da infância em que as crianças eram tratadas como pequenos adultos. Isso não foi há muito tempo atrás. Quando Freud escreveu sobre a sexualidade infantil, o mundo e em particular a Igreja, ficaram chocados. O velho psicanalista foi apedrejado. Por outro lado devemos entender que o mundo infantil é bem diferente do nosso. A ciência, e não a religião, afirma isso. Piaget, Vygotsky e outros. Lado a lado com a criança existe a infância. Esta é um tempo de descobertas que para nós seriam tolices. Mas para elas é uma revolução. A criança vê o mundo no olhar do adulto, o mundo do adulto. Contudo este mundo é o da criança. Cognitivamente falando ela é diferente de nós. Ela está em apredizagem para a formação de funções mentais que só estarão totalmente prontas no tempo devido e por meios devidos. Concordo plenamente com o torto Eder. Tomar uma criança como inocente em tudo e fonte de pureza é prevaricar contra os fatos da ciência.
ResponderExcluirHouve uma época que perguntamos o que era cada coisa para conhecer, como usar, para brincar, comer etc. Nas crianças residem curiosidades impressionantes. Elas buscam tudo, fazer coisas como subir escadas; sofás; camas, observar formigas trabalhando, os pais conversando, a tv publicizando imagens, comer de tudo até o próprio cocô (como um gavião a ciscar tudo pela frente).
ResponderExcluirImaginem quando um filho, sobrinho ou amiguinho perguntando o que é isso, porque aquilo, porque não etc. É uma busca filosófica pelo conhecimento ainda não interiorizado, não refletido sobre premissas e experiências pessoais. Elas conhecem através dos signos, dos objetos com que deparam. E ainda através das palavras que aprendem para cada coisa.
Vivem de peripécias.
E concordo muito com os comentários de vocês! São muitos temas para cada contexto. De crianças a filósofos.
ResponderExcluir