(Artigo publicado no Cinform dia 24/03/2010- www.cinform.com.br/blog/vinatorto)
São inúmeras tribos musicais. Tem grupo cantando heavy metal com suas vozes cavernosas ou estridentes, tem tribo rebolando gostoso com o pagode, tem tribo balançando as mãozinhas no ritmo quente do axé, etc. A única diferença disso tudo é que eles cantam músicas que louvam o Senhor. No entanto, quem não louva o Senhor assim como eles, muitas vezes não passam de seres profanos e comandados pela força maligna do Satanás.
Vivemos em um mundo que se caracteriza por sua natureza plural. Facilitadas pelo contexto global, as diferenças musicais se intercruzam e se fundem em novas formas culturais oriundas de todas as parte do planeta. Atualmente, é impossível pensarmos haver grupos literalmente isolados dos outros. No entanto, apesar dessas trocas ocorrerem de forma mais intensa entre as culturas, nós encontramos formas de distinções e segregações bastante manifestas entre os diversos grupos. A música gospel é um grande exemplo.
Mesmo se inserindo nas diversas trocas estabelecidas por esse contexto mundializado, ela se posiciona de forma extremamente segregadora. Apesar da música gospel agregar inúmeras tendências musicais como o axé music, ritmo influenciado por toda uma concepção afro, a dita música gospel se nega a aceitar as doutrinas religiosas influenciadas pelos povos africanos, por exemplo. Excluem o público do pagode por acharem que estimulam a sensualidade, mas incluem o pagode em seu repertório.
A partir disso, eu tenho uma questão: a apropriação da pluralidade musical na música gospel acontece pelo fato dela buscar se interagir com essa multiplicidade de estilos musicais, ou será que essa pluralidade rítmica serve como intuito de angariar mais adeptos? Enfim, seria uma postura voltada para um interesse cultural, aceitando as infindáveis formas de estilos musicais, ou estaria no meio disso tudo, uma postura voltada para interesses políticos e econômicos?
Eu acredito que a necessidade de trazer essa diversidade ao repertório gospel se deva a um interesse político e econômico de angariar mais adeptos. Por determinadas instituições saberem que inevitavelmente as trocas entre as diversidades culturais são estabelecidas entre os indivíduos inseridos no contexto global, essas instituições religiosas se aproveitam dessa diversidade e adiciona ao seu repertório, um número maior de estilos para com isso, agregarem mais adeptos à sua doutrina.
Portanto, a instituição não inclui em seu repertório uma diversidade musical, por compartilhar de todos os universos musicais, até por que, o que percebemos cotidianamente, é que determinadas tendências religiosas se negam a aceitar as diferenças. Essas doutrinas buscam preservar seus dogmas, por ter como interesse, angariar público para ter mais poder político e econômico na sociedade.
Portanto, eu acredito que a diversidade musical ao ser apropriada no repertório da música gospel, não necessariamente queira dizer que a música gospel admita a importância de se aceitar a diversidade. Ao contrário. A instituição religiosa ligada à música gospel, nega-se em aceitar as concepções religiosas de outras tendências, pois aceitando, a doutrina que estimula a chamada música gospel, se vê diante de uma disputa doutrinária, correndo o sério risco de perder o seu prestígio na conjuntura da política e do mercado.
Por isso mesmo que eu acredito que a música gospel se diversifica de forma excludente. Se por um lado se apropria das influências alheias; por outro, resguarda-se em seu mundo, expurgando as influências que ela mesmo se apropria. Apropria-se da multiplicidade cultural para angariar mais adeptos, e se centraliza ao determinar como “Verdade”, apenas a sua forma de entender o mundo por não querer perder o seu poder. A música gospel não passa de uma pluralidade centrípeta.
Caro vina!
ResponderExcluirbons apontamentos! Um comentário legal foi " a música gospel não passa de uma pluralidade centrípeta",isso denuncia as boas intenções impregnada no discurso da música gospel.
A música entra como utilidade maxima para a difusão dos seus interesses de modo espontâneo. Vc sem querer acaba cantando trechos de letras amplamente difundidas.
O que mais escutamos é a capacidade que o gospel tem como agregador de valores, de aceitação das pluralidades.
Como bem argumentou, não passaria de uma estratégia que amplia outros valores para manutenção de seus interesses, ao mesmo tempo se auto afirmando nos valores ortodoxos. Esse exemplo, da musica gospel, como entre outros setores, ilustra uma jogada de interesses para se manter e ate mesmo crescer nas expectativas do mercado.
Caro Vina.
ResponderExcluirPenso o seguinte, eu como uma pessoa já participante no cenário gospel, como fiel e como também musico gospel, penso o seguinte: O engraçado é que os evangélicos pensam que apenas colocando uma letra que fale a respeito de Deus, ou apenas esteja sendo cantada por um evangélico com letras é claro aceitáveis para o contexto discursivo, estão fazendo musica religiosa. Pode ser um preconceito meu, mas creio que uma musica religiosa deva levar um individuo a uma reflexão, a um sentimento suave e colocando uma aspas bem grande, a um sentimento "elevado", pois se não estes mesmo deveriam se abrir e compartilhar das manifestações do Funk tocado por pessoas não evangélicas por exemplo, pois afinal a musica gospel hj em dia, ao não ser por algumas letras, não se diferem em nada das musicas tocadas por pessoas de outras religiões, como o forró, o axé e o funk.
Discordo da sua visão em relação a forma determinista da música gospel nos aspectos econômico e político. Não descarto as influências desses, porém vejo que a pluralidade musical utilizada pela música gospel possui um foco bem mais claro e direcionado, que é o da evangelização, ou seja, a música é um instrumentos de evangelização para arrebanhar mais fiéis.
ResponderExcluirO mercado percebendo esse filão investe nesse frutífero mercado que possui um público fiel.
Em relação a política, meu caro Vina, gostaria que você abordasse e esclarecesse um pouco mais, pois não encontro essa ligação da musica gospel com a política.
bj
É isso aí Alysson... É sempre bom separar o joio do trigo.
ResponderExcluirHá o mercado por um lado, a religião por outro. Há os valores do religioso e os valores dos não-religiosos (ou religiosos não praticantes). A questão é que se atribuímos a estes grupos religiosos e à música gospel este fechamento à diferença estamos, talvez, deixando de lado o que o Rock n' Roll faz, o que o movimento punk prega, entre outros grupos do mundo musical. Acredito, como bom (ou mau) rockeiro que fui; como baiano (axé); e não religioso que a diferença está mais nos valores introduzidos cotidianamente, nos cultos de suas igrejas, que nos espaços musicais. Isto vale para as demais "tribos". Tenho amigos evangélicos que usam os mesmos adereços que um "black metal" usa nos shows de rock! Talvez o mercado tenha proporcionado esta aceitação de bens culturais, mas por outro lado, ele é incapaz de sancionar positivamente as diferenças. Diferenças criam identidades e as identidades reforçam-nas. Assim, torna difícil, num mundo tão conflitivo como o nosso que todo evangélico aceite o diferente. Da mesma forma um acadêmico intelectualista não aceita abertamente em seu espaço cultural uma pessoa com outro modo de vida... Para todos os casos aqui citados isso não deve ser generalizado!
ResponderExcluirAly Soul,
ResponderExcluirALY SOUL: "a pluralidade musical utilizada pela música gospel possui um foco bem mais claro e direcionado, que é o da evangelização, ou seja, a música é um instrumentos de evangelização para arrebanhar mais fiéis".
VINA TORTO: "Eu acredito que a necessidade de trazer essa diversidade ao repertório gospel se deva a um interesse político e econômico de angariar mais adeptos.
Portanto, o que NÓS mostramos é que a pluralidade musical se encontra associada a uma necessidade de agregar mais gente pro rebanho.
ALY SOUL: "O mercado percebendo esse filão investe nesse frutífero mercado"
VIAN TORTO "Por determinadas instituições saberem que inevitavelmente as trocas entre as diversidades culturais são estabelecidas entre os indivíduos inseridos no contexto global, essas instituições religiosas se aproveitam dessa diversidade e adiciona ao seu repertório, um número maior de estilos para com isso, agregarem mais adeptos à sua doutrina".
Portanto, o que NÓS mostamos é que há um interesse do mercado em se apropriar de um filão do mercado.
Quando falo em política, refiro-me a uma posição de prestígio e de influências que determinadas instituições religiosas tentam conquistar para angariar espaços de poder dentro da sociedade e do mercado.
Só queria que você me explicasse em que situação eu fui determinista, e o que você quer dizer com ser determinista
bjs
Lou,
ResponderExcluirSeparar joio do trigo é que é se utilizar do determinismo hehehehe, visto que você não exercita um olhar capaz de observar os dois em suas diferenças, além de não enxergar ao mesmo tempo, o transito entre eles. Simplesmente os separa, deteminando o lugar de cada um em separado
Éder,
ResponderExcluirNão acho que devemos separar a religião de mercado, visto que todos nós, independente do grupo do qual fazemos parte, estamos inseridos em um sistema que preza pelo dinheiro, e temos como objetivo conquistar essa grana como forma de preservarmos nossa existência, assim como satisfazermos nossas necessidades das mais básicas às mais complexas.
"Talvez o mercado tenha proporcionado esta aceitação de bens culturais, mas por outro lado, ele é incapaz de sancionar positivamente as diferenças".
Adorei essa análise. Eu compartilho com você. Ao mesmo tempo em que o mercado instiga ao consumo da diversidade de bens de todas as ordens, ele continua estruturado de forma desigual, e essa desigualdade tem gerado inumeras segregações e intolerâncias. Porem, não acho que devemos também separar os espaços musicais dos espaços dos cultos religiosos, visto que a música é reflexo de todo um sistema de valor introduzido e muitas vezes imposto por determinadas instituições religiosas. Como eu disse, a música gospel toca de tudo, do metal ao pagode, porém, para ser gospel, tem que adorar ao Senhor. No entanto, Reuel em seu comentário, ja disse que hj em dia o gospel não se diferencia de outras tendências. Preciso pensar melhor sobre isso.
a diferença está mais nos valores introduzidos cotidianamente, nos cultos de suas igrejas, que nos espaços musicais.
Vina,
ResponderExcluirreforço o que disse: "a diferença está mais nos valores introduzidos cotidianamente, nos cultos de suas igrejas, que nos espaços musicais.", pq concordei de alguma forma com sua análise.
Eu não separo religião e música, nem religião e mercado. Afinal, sou um pós-moderno assumido! Mas o que eu quis dizer é com base no argumento da aceitação à diversidade musical. Então aí, a diferença ela é recriada em identidades diversas. Mas os cultos religiosos introduzem essa adoração ao senhor que chega à música. Não sei bem como ocorre esse processo, mas se no rock'n'roll o diabo foi adorado em detrimento de Deus e dos fiéis não vejo como crítico o posicionamento dos evangélicos.
Embora sei que os cultos evangélicos são intolerantes e segregacionistas. Mas acredito que a música é só um reflexo brando dos cultos. Mas não está isenta desses valores. É brando pq aceitou, mercadologicamente, a diversidade!
Vina,
ResponderExcluirE se eu separar o joio do trigo, comer o joio e jogar o trigo no lixo? =D
Lou,
ResponderExcluirBom, ai vc fez uso dos dois diferenciadamente, mas mesmpo separando-os, vc n deixou de escolher o fim de cada um que vc separou. Mesmo colocando o joio de um lado e o trigo do outro, vc não pode concebê-los em separado. Dai o porquê eu sempre acho que um olhar determinista enfraquece qualquer capacidade de expor um bom argumento
abraços
Éder,
ResponderExcluirConcordo com vc quando observa que de certa forma existe uma flexibilidade das instituições religiosas se tratando do agregado de diversidades que o repertório gospel opera no mercado. Foi bem interessante esse outro lado dos adoradores do diabo e de deus que vc expôs, no entanto, mesmo aceitando seu argumento, não deixo de insistir na observação da segregação e da intolerância dos grupos, assim como vc tb observou. Então o que vc enxerga é que a prática religiosa é que reflete a intolerância, e não a música? Ou seja, a música é mais um reflexo dessa prática?
abraços