quarta-feira, 25 de agosto de 2010

A Origem não tão original

Semana passada um número incrível de pessoas comentavam sobre o filme atualmente em cartaz "A Origem".Isso me despertou muitas expectativas, então eu fui conferir. Não nego que a produção é de encher os olhos, boa fotografia, belíssimos planos gerais e com direito a "non je ne regrette rien", de Piaf, como trilha sonora. Não tenho dúvidas que este filme será um estouro em bilheteria.
Apesar de apresentar um enredo inressante, a história remetia muitos clichês.Claro, toda estória que se preze no rol melodramático, sempre tem o mocinho carregado de culpas sedento pela sua redenção. Tendo como referência um amor perdido pela morte e a distância angustiante de estar longe dos filhos e da adorada América. Esse sentimento virtuoso acaba contaminando outros personagens, um deles, filho do dono de uma grande empresa, que tenta através do amor que sente pelo pai triunfar sobre os valores de coisificação constantes no seu dia-a-dia. Diante de tantos efeitos especiais e imprevistos, essa estória nos parece muito familiar, pois sabemos como tudo pode acabar.
Apesar de o filme retratar o sonho como peça fundamental , a estória se desenvolvia numa rápida engrenagem dos planos ,fazendo uma alusão ao sub consciente a uma racionalidade desmensurada, onde se pode alcançar ou tentar o domínio da mente humana. Podemos perceber,um interesse menor a reflexão , pois o que está valendo é a aventura garantida ao espectador. Gênero muito bem ovacionado no cinema clássico. Aventura e melodrama parecem dá muito certo. O sensacionalismo, a contemplação do gesto e a necessidade de arrancar suspiros da platéia juntamente como o dinamismo dos planos garantem , antes de tudo, uma espectatorialidade impressionante. Gênero esse que há muito tempo vigora na arena do espetáculo, digamos que logo depois da Revolução Francesa. Não iremos ser radical acreditando que não houve possibilidade de rearranjos e adaptações com a dada época, mas a essência, aquilo que dá a verdadeira tonalidade do melodrama sobrevive com um vigor nunca visto antes. Isso porque os efeitos especiais ajudam bastante.E falando em efeitos especiais, podemos perceber que eles surgem mais com uma tentativa mercadológica nos preceitos hollywoodianos. É só pensarmos a tridimensionalidade, chamado de cinema plástico, que na década de 30 já circulara no cinema russo tão bem contemplado por Eiseneistein. Os americanos só foram adaptar lá para década de 50 quando o cinema sofria duras quedas para os concorrentes francês, italianos e ingleses e a forte evasão dos espectadores para a tão sensacional televisão.
Tudo que se quer é convencer o público que os determinados valores difundidos nas salas de projeção é mais real que a nossa própria realidade, é a fantástica fabricação de sonhos e a possibilidade de ter múltiplas sensações de ter uma vida jamais vista. Os ingredientes de Hollywood é tão forte que há várias décadas o cinema político precisou de muitas de suas estratégias para manter suas ideologias no circuito cinematográfico. Há quem diga que não, que se pode produzir uma estética fora desses ditames no cinema como resposta a tecnologia desenfreada. É só vermos “Os Idiotas” de Lars Von Trier como filme emblemático do manifesto articulado no Dogma de 95, isso sim é uma verdadeira espetacularização da nossa realidade, pois nos causa um incômodo tão profundo que perdemos a nossa referência alienada tão bem valorizada pelas virtudes encontradas nos filmes de Hollywood.

4 comentários:

  1. Cara Maíra,
    Apesar do seu conhecimento invejável sobre o cinema, devo lhe confessar que onde queres problema, sou apenas curioso.
    Eu gostei do "final-não-final" do filme, e, sinceramente, se formos contar clichês, penso que a própria exploração da contingencialidade por parte dos filmes europeus já está me soando clichê.
    Você mesma explanou o contexzto da emergência do que chama de "espetáculo" no cinema de Hollywood, e acabou mostrando que foi muito mais uma questão de "dar ao povo o que o povo quer". Então, a quem cabe a crítica?

    Quanto a Lars Von Trier, gosto bastante de suas ideias. Ele gosta de rir da nossa idiotice, como o faz de maneira brilhante em Dogville, quando nos deixa cara a cara com nosso próprio sentimento de vingança irracional.

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  2. Uma palavra pode dizer muito, mas uma imagem, diz muito mais. Muito bom texto. Roosevelt

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  3. olá josue! claro, nao podemos negar alguns cliches, mas ficaria mais instigante qndo usa de modo um pouco diferenciado. Por exemplo, podemos observar muito bem nos filmes do woody allen, ele utiliza alguns cliches, personagens estereotipados, mas inserido em um contexto que nos faz refletir, pensar em uma diferente possibilidade. "A Origem" nos faz refletir, sim e muito, mas por trazer pontos em questao tão polemico e interessante, o sonho, não foi tão bem explorado. A sensação q tive foi que determinados estereotipos tomou conta da cena, sem contar nos excessos dos efeitos especiais.Principalmente como a montagem foi disposta, de modo reiterante em muitos aspectos encontrados no cinema clássico. um grande beijo!

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  4. sim meu caro roosevelt! é incrivel como a imagem diz muito mais q mil palavras, como cada gesto contemplado nos possibilita uma abusurda distensão em nosso pensamento. bjao

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