Nos anos 60, retomou-se aqui no Brasil, uma necessidade de se buscar uma identidade nacional, tendo a classe universitária, como a classe salvadora dos males da industrialização. É bom lembrar que esse discurso nacionalista obviamente ia de encontro a toda e qualquer manifestação que significasse submissão ao capital estrangeiro. A musica conhecida como brega era justamente isso. Uma estética submetida a industria de massa. Portanto, música brega passou a ser toda a música que não fosse compartilhada com as expectativas de um público oriundo dos setores universitários.
É por isso que a denominação implica inevitavelmente um posicionamento segregador. Uma música ser brega, significa dizer que é mal feita, desagradável, ridícula, etc. Qual a conseqüência disso? Apesar dessa estética ter conseguido de certa forma demarcar suas fronteiras diante das outras, por ela historicamente carregar essa denominação pejorativa, os artistas, o público, mesmo se identificando com ela, muitas vezes se negam a aceitar essa classificação. Em outras palavras, aceita-se a música brega, mas não quer admitir que aceita.
Qual a relação disso tudo com o torto? Na minha opinião, assim como a música brega, a denominação torto tende a ser difícil de ser engolida por muitas pessoas. Assim como a denominação brega, a denominação torto implica um significado que diz respeito a tudo aquilo que é errado, grotesco, etc. Semana passada, por exemplo, um dos autores do torto, o Lou, disse-me que às vezes se sentia inseguro em divulgar mais o site do torto para os seus conhecidos porque o nome torto o incomodava. Assim como o brega, muitos indivíduos que se identificam com as perspectivas trazidas pelo Movimento, tendem a aceitá-lo, porém, não querem admitir que o que aceitam seja pensado como torto.
Porém, eu não vejo o torto como algo errado ou feio. Pelo menos na forma como eu penso, o torto assume uma posição ativa, isto é, somos tortos porque sabemos que inevitavelmente nos entortamos, ou seja, mudamos de opinião, de crença, transitamos coerentemente entre nossa própria contradição, falhamos, nos culpamos, refazemos nossos valores, vacilamos novamente e mudamos novamente. Enfim, não andamos sempre na reta previsível dos nossos atos. Acertamos e erramos, queremos o pecado, queremos o que nos convencionam como ética. Somos os dois, por isso não somos retilíneos. Abraçando e repudiando os vários lados ao mesmo tempo, o que nos resta é nos entortar.
Quanto à questão da não-aceitação, não acho que seja pela mudança da denominação que se acabará o preconceito criado em cima da denominação brega. Posso até ouvir uma música, e ao invés de brega, me utilize de outras denominações, mas não deixarei de estar associando essa estética ao brega, pois felizmente a música brega mesmo sendo dificilmente consensual, já conquistou alguns traços e alguns códigos capazes de me possibilitarem uma direção do que seja brega. E é por isso que eu sou a favor da manutenção da denominação brega, pois a música brega já atingiu sua peculiaridade diante da infinidade de outros universos musicais. Eu acho que existe a música brega, assim como existe o samba, o jazz, o blues, etc.
Já com relação ao torto, digo a mesma coisa. Pelo menos para mim, não tem por que mudarmos um termo por ele ser culturalmente definido como tudo que venha a fazer menção a posturas consideradas desagradáveis a expectativa moral da sociedade. Busco mostrar que quem se diz torto, admite que se entorta, e quem admite que se entorta, admite ser humano e bicho, instinto e cultura, bem e mal, certo e errado, sagrado e profano, convenção e subversão. Minha intenção está em mostrar que ser torto não é algo ruim, afinal, se Deus que é Onipresente, Onipotente, Onisciente, escreve certo por linhas tortas, o que dirá de nós, seus filhos imperfeitos.
Todos deveriam ler seu pensamento em relação a este assunto, caro Vina. Pois há, como você bem demonstrou, a total possibilidade de requestionarmos toda ideia que está preconcebida quando atacarmos um significante a fim de obtermos um significado.
ResponderExcluirAs relações de poder estão aí, em tudo, nós escolhemos se preferiremos a "paz sem voz".
Belíssimo texto!
Meu caro vina,
ResponderExcluirNenhuma análise considerada racional pode desprezar esses pontos. O homem quando entorta vê que existe algo bem maior que sua teoria. Como bem coloca sua pessoa. "admite ser humano e bicho, instinto e cultura".
Concordo plenamente com você, Vina. A mudança de uma nomenclatura não significará se não for acompanhada de uma mudança substancial. A designação do torto para mim é legitima para o que se propõe. Tenho as minhas criticas em relação ao ato de entortar-se, o que já expus em outros textos, mas percebo como objetivo e direto e não creio que devemos "eufemizar" para atrair ou não outras pessoas. Já que acredito que quem ler os textos e buscar compreender o que venha a ser o torto vai se aproximar ou repudiar, que seja feito, e que seja feito de maneira consciente. Além disso aproveitem para deixar os comentários para possamos dialogar.
ResponderExcluirbj
Aly Soul,
ResponderExcluirÉ por ai mesmo. Eu penso da seguinte forma: mesmo considerando algo brega como algo mal feito, nós podemos encarar dentro de um repertório brega muitas coisas sublimes também. Se evitarmos ao máximo os nossos preconceitos, veremos que no repertório bregueiro podemos encontrar análises que possam contribuir de forma muito fecunda o nosso olhar para a realidade na qual estamos vivendo, afinal, gostando ou não, a mnúsica brega enquanto uma expressão, reflete os anseios, as esperanças e as frustrações de uma cultura.
O mesmo posso dizer para o torto. Ao invés de ficarmos presos ao significado oficializado do que entendem como torto, ou seja, como algo vinculado ao estranho, grotesco, errado, nós podemos resignificar esses significantes, ou como disse meu querido amigo Josua, " atacarmos um significante a fim de obtermos um significado." Pelo menos pensar em olhar de forma torta as coisas, pelo menos da forma como eu concebo o ser torto, é muito enriquecedor, pois amenizamos a pequeneza de olhares que se dizem "perfeitos", retilineos, olhares esses que, apesar de mascaradamente parecerem dignos de elogios, não compete às reações espontaneas dos humanos na cultura, pois a cultura humana se faz de falhas que são importantes para a revisão de novos valores, assim como o que convencionam como correto também é importante para a organização, para o convivio dos individuos na arena social. E mais: ser torto vai implicar em negar a aceitação tambem do que ele encara como errado, e vai negar também o que ele encara como certo. Enfim, em um mesmo ponto, o torto aceita, nega, comunga, repudia, ou seja, entorta-se.
E quanto as posições que você não comunga a respeito do torto, eu peço que traga mais alguns pontos para entortarmos nossos pontos de vista,afinal, é isso que o torto implora! hehehe
bjs
Josua,
ResponderExcluirA partir de seu comentario muito pertinente a respeito das possibilidades de requestionarmos as estruturas dos significados convencionalmente aceitos, e por você ter se adentrado no mundo dos homens certos e justos das leis, tenho uma perguntinha e gostaria que você me respondesse.
O que denominamos como certo? Pelo menos para mim, certo é tudo aquilo que fazemos de acordo com uma lógica aceita pela expectativa de uma cultura. Vamos lá: sabemos que como animais, temos fome. Um homem desempregado, sem perspectivas, termina por roubar para comer. Um bicho quando tá com fome e se ve impossibilitado de comer a carne, não se joga no outro bicho pra tentar usurpar a carne para se alimentar? Então me diga: a lei da sobrevivência não é algo natural? Por que o ter fome e lutar pela sobrevivência é algo natural, portanto, normal, e por sua vez, certo; e o ladrão que fez tudo isso é errado? hehehe Enfim, como posso determinar o que é certo ou errado, reto ou torto? kkkkkkk
bjs
Roosevelt,
ResponderExcluirEu deixo uma pergunta pra você para continuar aquela nossa discussão de domingo a noite que eu não consegui engolir: como eu não posso validar uma palavra se ela ainda não se encontra no social? Se olharmos no dicionario, a palavra torto vai significar o oposto do que eu concebo como torto, mas será que essa palavra no significado que eu dou não pode ser considerada válida? Como não? Você acabou de dizer em seu comentário que não da pra desprezar meu ponto de vista, o que significa dizer que nós nos entendemos. Então a palavra torto não pode ser considerada porque o social se resume a um grupo pequeno no todo? E vc e eu não somos sociais? Não estamos submetidos as mesmas leis que os outros? Não precisamos conviver em sociedade? Por que não o torto como concebemos? Será que ele não é social?
abraços
Vina, gostaria apenas de fazer uma retificação. Eu disse, na verdade, que tinha certo receio de apresentar o site para pessoas que eu reconhecia a impossibilidade de compreender ou aceitar esta necessidade de requestionamentos "ato contínuo", tomando tal atitude como meramente rebelde ou insensata. Quando o disse, ainda, citei o exemplo de meus familiares e o texto Madalena, alegando que não saberia que tipo de reação lhos causaria, e, que me entristeceria, caso, por falta de compreensão, lhos decepcionasse a leitura.
ResponderExcluirQuanto ao texto, excepcional!
Adicionando, certamente o nome "Torto", de dada maneira, influencia no julgamento alheio mais propenso ao senso comum, já que a palavra, mesmo conotativamente, carrega enviesamento imbuído de más impressões.
ResponderExcluirE sim, ainda que eu reconheça a necessidade de manter uma boa imagem mediante a estrutura, faço das minhas palavras às de Compadre Washington, do É o Tchan: "Pau que nasce Torto, nunca se endireita". E, sim, a menina (leitor reto) que quiser entender os conflitos, tem mesmo de requebrar pegando na cabeça.
ResponderExcluirMeu caro Vina,
ResponderExcluirVocê me conhece e sabe que não gosto de citar referências. Por isso vou colocar assim: Uma palavra já consolidada por processo lingüístico chamado de diacrônia encrustou-se no flído socio-lingüístico, portanto é palavra ou vocábulo da língua. Estas duas terminologias tem vlores diferentes. Como você pode ver, a diacronia é um processo sobretudo histórico. Qualquer pode criar códigos, mas isso não significa que ele vai pegar. O exemplo maoir disso foi o Esperanto. Roosevelt
Roosevelt,
ResponderExcluir"Uma palavra já consolidada por processo lingüístico chamado de diacrônia encrustou-se no flído socio-lingüístico(...) Qualquer pode criar códigos, mas isso não significa que ele vai pegar."
Levando-se que no fluido sócio-linguistico, o torto significa algo diferente do que concebemos no movimento, o termo não é social? Será que o torto não pertence a uma cultura, e portanto, é social?
Lou,
ResponderExcluirÉ como eu falei: o torto, assim como a música brega, mesmo que venha a se provar como diferente das denominações que impoem a eles, não deixam de ter no horizonte cognitivo do ouvinte ou do leitor, uma propensão antecipadamente classificatória da forma como eles foram construidos historicamente.
Outra coisa: a coisa cresce, fica torta, e portanto, podem quebrar e pegar na cabeça hehehe.
Mattoso Câmara nos diz que uma palavra é aquela que não precisa de nada exceto si mesma para expressar significado. Um advérbio é um vocábulo, mas não é uma palavra, ele precisa de um outro vocábulo para completar seu sentido. Chamar uma cadeira de Gur, por exemplo não é criação de palavra, é, na verdade um acordo de criança para fazer diferente o que já está no léxico. Contudo, isso não significa que não podemos usar os variados recursos da língua mãe, o uso consciente desta nos dá uma gama de variáveis de comunicação. mas, criar palavra no strito sensus, é algo, ao meu ver bem mais complicado. Os neologismos existem, mas veja de onde eles vêem.
ResponderExcluirAto falho. Falando nisso, que tal removermos essas mensagens de "esta postagem foi removida pelo autor"?
ResponderExcluirRoosevelt,
ResponderExcluirmas não seria torto, uma palavra ja consolidada? Deixaria de ser palavra se eu propusesse um novo significado a ela? Mesmo o significado dela não sendo aceito para uma quantidade maior de pessoas, eu não poderia considerar a palavra torta como algo social? O torto enquanto outra denominação não se encontra estabelecido por discussões entre outras pessoas? Ou seja, sera que ele não se encontra no ato interativo entre agentes que compõem o social?
Meu caro vina,
ResponderExcluirO que propõe o posto pela referência lingüística
dada a vossa excelência não condiz com vossa relativização a todo custo. O amigo quer me convencer que uma língua artificial terá o mesmo comportamento lingüístico de uma língua natural. É claro que toda língua de certa forma é artificial enquanto criação da espécie humana e não de uma pessoa em particular. Mas, é natural enquanto língua mãe e aprendida de forma inconsciente por meio de negociações entre no mínimo duas pessoas. A ato de falar e pensar são intrísecos. As funções mentais superiores dependem amplamente da aprendizagem de uma língua. O aprendizado de uma língua estrangeira comprova esta tese. O que o amigo deseja é me convencer que se eu chamar isto ou aquilo de gur ou de outra coisa, isso, se tornará léxico. Compete ao colega torto produzir uma pesquisa no campo da língüística no intuito de comprovar científicamente sua tese, acredito que você traria uma contribuição muito grande nesta área. Por outro lado, poderá se queimar para sempre como muitos tentando relativizar o óbvio. Acho que o torto ganharia mais seriedade se não se prendesse a coisas tão pequenas e tão batidas como a gênesis social do signo lingüístico. Não existe língua sem uma sociedade, ou sem um conjuto psíquico de falantes que comungam o conhecimento do sistema. Roosevelt
A Pré-história da lingüística acreditava que o signo era aleatório. Era apenas uma combinação mecânica de partes. O velho exemplo do Arbore nos remete a esta época. Mas a coisa mudou desde então. O signo possui uma conspiração com o social tão forte que comumente dizemos que uma dada língua externa uma certa cultura. E quando falo do social estou falando das duas vias. O sujeito e o todo. Há uma interação nestas partes, contudo a pressão do fluido lingüístico coletivo é maior que a do sujeito, assim, entendemos os diversos falares em um mesmo sistema lingüístico e enquanto professores de língua não podemos impor uma norma culta de todo jeito. Por esta razão acredito que eu não posso impor minha "palavra" como léxico de uma língua que eu não possuo na sua inteireza, sou apenas um mero possuidor de algumas palavras e sintagmas. Mal consigo manejar estas estruturas, porque a língua é maior do que eu. O português está no conjunto de todos os seus falantes. Eu detenho uma pequena parte que me foi internalizada por pressão de minha sociedade e cultura. Não tive e não tenho a liberdade de falar como quero, exceto sob acordo dentro do sistema, e isso é metalinguagem. Roosevelt
ResponderExcluirRoosevelt,
ResponderExcluir" Acho que o torto ganharia mais seriedade se não se prendesse a coisas tão pequenas e tão batidas como a gênesis social do signo lingüístico."
Muito decepcionante saber disso vindo de você. Coisas pequenas? Meu deus, você não se deu conta da imensidão que um debate desse pode trazer! Podemos a partir dele enxergar uma nova concepção de social, pois diferente do que você disse, eu não acho que eu iria me queimar só por que estou trazendo novas questões a respeito do tema. Sinceramente, não sou um cara que paro no tempo em aceitar uma concepção que qualquer outro descobriu, e que foi tão chocante para os valores de uma época como o fato de pensarmos outras concepções das palavras no social como eu estou tentando fazer com você, mas que infelizmente você simplesmente diz isso é isso por que assim a linguistica diz. Esse papo de aceitar apenas o que venha a ser léxico como social, me soa como uma postura frágil, pois assim como observou de forma bastante salutar o Lou, o léxico é algo que beneficia apenas a estrutura, e uma estrutura em si apenas é reflexo de uma relação de poder, de controle social, afinal, só é válida apenas a palavra ditada pela gramatica oficial, ou seja, o que os indivíduos oriundos de setores privilegiados determinam. Aqueles individuos que se utilizam de outras palavras que não se encontram nesse guetozinho, são marginalizados de um social. Meu querido, apesar de você criticar minha realitividade e encará-la como pequena, eu digo que um olhar mais altero é muito importante e nos ajuda a entortarmos nossas concepções ao invés de ficarmos presos ao que é ( é pra quem?? kkkkk)
Roosevelt,
ResponderExcluir"A Pré-história da lingüística acreditava que o signo era aleatório. Era apenas uma combinação mecânica de partes. (...) Mas a coisa mudou desde então."
Apesar de você admitir que a noção de signo da pré-história da linguistica se encontra ultrapassada, você vai negar a importância desse pensamento para a concepção que a linguistica tem atualmente? Não percebe as mudanças de pensamentos? Será que o que estou tentando trazer a respeito da palavra no social é tão absurda a ponto de você entende-la que eu apenas digo o óbvio? Na história das reflexões, as coisas não são óbvias. Cuidado com esse olhar estrutural. Cair na relativização é uma merda, mas se limitar ao estrutural é tão merda quanto.
É como um Europeu, 500 anos antes, chegar e dizer que o iorubá não ia pegar em Paris, e, por isso, afogá-lo no esquecimento. Gur, em hebraico, significa filhote de leão. Se o leão é o rei e senta no trono, o filhote sentará na cadeira!
ResponderExcluirPS.: Entendo perfeitamente que minha participação nessa discussão é impertinente, irrisória e irrelevante. =D
Então meu caro mestre vamos abrir uma via de reflexão iniciando da possibilidade do falante alterar o sistema sem passar pela via diacrônica.
ResponderExcluirA palavra produz pensamento, é produção de sentidos. Elas se organizam em sintagmas que carregam possibilidades ideológicas e combinatórias. Os sentidos são construídos no espaço e tempo, e meio. Esses fatores fazem o germe dos sentidos. A língua é uma fonte de sentidos construídos históricamente. Assim, uma unidade significativa mínima também tem construção histórica. O semântico trata de significados, o sintagma cuida da possibilidade de sentidos dentro do sistema. A estrutura e o sentido. Assim a palavra produz pensamento, e o pensamento palavras.
ResponderExcluirRoosevelt,
ResponderExcluirA estrutura impõe aquilo que se encontra oficializado, e o sentido requestiona incessantemente essa estrutura. Sabemos que ao nos referir a alguem, usamos a palavra você. No entanto na internet, nós usamos vc. Quem estabelece socialmente suas relações no mundo virtual, sabe que vc é você, porém, vc não se encontra na conjugação da gramática. Portanto, se as palavras só existem no social, e esse social é o que se oficializa, obviamente que quem frequenta o mundo virtual faz parte de um social, assim como quem não sabe conjugar os vermos oficializados pela gramática tambem se encontra. O social é tudo, tanto o oficial, como o marginal, ambos transitam entre a estrutura e o sentido.
Lou,
ResponderExcluirApesar de compreender o que você quis dizer quando citou o dito popular "pau que nasce torto nunca se endireita", ou seja, como a concepção de que o que é torto fica pra sempre errado, a minha pessoa, andando hoje pela rua, teve um insight a respeito disso. Veja: de fato o pau que nasce torto nunca se endireita, mas não por que ele sempre estará agindo contra às expectativas morais de uma sociedade, e sim, por que ele sempre vai duvidar das verdades impostas por essa sociedade. Mesmo as verdades que o pau torto aceite, ele vai ter consciência de que elas não são intocáveis e eternas, pois o torto pensa que mesmo as opiniões das quais ele compartilha, são construções humanas, e por isso mesmo, subjetivas, nem um pouco consensuais e falhas. Quem se entorta, entorta-se diante do que convencionam como verdade e como mentira. Como Deus também escreve por linhas tortas e Ele foi o Criador de tudo isso, percebemos que a natureza é torta de nascimento hehehe e natureza que nasce torta nunca se endireita kkkkkkkkkk, a não ser a natureza dos humanos que acreditam que conseguiram superar suas condições de bichos e se acham externos a natureza. No entanto, ai eu posso dizer a você que eles acham que vivem andando em linhas retilineas, mas que eu saiba qualquer individuo muda de valores ao longo de sua vida, do contrário, não faria história. Eu sou torto e tenho um pau torto também, e até o meu cu que me ensinaram que se chama reto, eu não sei, afinal, nunca consegui enxergá-lo kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Entendi. Quando o sujeito descobre que o entortar é um benefício indiscutível, tanto para ele quanto para a evolução das definições morais (verdade) da estrutura (claro, não na intenção de destruí-las ou justificá-las tão somente, mas propondo novas perspectivas e discutindo-as), não há dúvidas de que venhamos a construir algo de certa relevância.
ResponderExcluirE aí eu jogo esse questionamento profundíssimo e de impacto estonteante: quem sabe não é aquele pau torto quem está a alcançar, de fato, o Ponto G?
O ponto g não é igual pra todas, assim como o pau torto não é preferência de todas. A questão posta desde o início não é a fluidez dos sentidos após uma crise na razão. A questão é a gênesis de uma palavra. Por volta de 177 e alguma coisa um padre francês aproximou-se de surdos pobres e viu que estudando a linguagem deles, ele poderia evangelizá-los. Nasceu desde então a libras. Esse sistema lingüístico ganhou o status de língua natural, ao contrário do Esperanto por algumas razões, dentre elas "o público comunicante, uma vez, que é uma língua gesto-visual. Isso só veio acontecer em 2004, eu acho. Muita água rolou-diacrônia, muita gente usa-aceitação social, uso social, possui estrutura semântica e sintática própria- é língua, e por último seus usuários se entendem perfeitamente sem esforço, ou seja, há um processo de internalização. O que vcs colocam não se encaixa em nada disso.
ResponderExcluirConcordo. Mas acredito que, colocando com jeitinho, tudo se encaixa, como expressou em "o Ponto G não é igual pra todas, assim como o pau torto não é preferência de todas", mesmo que o sentido aqui seja metafórico e, geralmente, as preferências individuais pouco tenham a ver com a verdade em si, e, ainda, raramente a verdade em si é de fato pura e plena. Ademais, esses comentários já retomavam a discussão anterior, que tratava da semântica do nome Torto. Entendo, Roosevelt, sua preocupação em não deturpar demais os sentidos e os termos, e acho deveras pertinente e aceitável. Acompanhei o debate dos dois aqui e, sendo sincero, não sei de que lado fico. Considero a ambos muito coerentes e bem articulados.
ResponderExcluirOutros pontos:
ResponderExcluir1. Quem entorta, entorta pra cima, pra baixo, pra esquerda e pra direita.
2. Se entorta-se, supõe-se transitante entre uma condição e outra. Nisto, inclui-se ainda a condição de reto ou neutro, como por exemplo, entortando-se pra esquerda estando antes na direita, mas não a ponto de passar totalmente para a esquerda.
3. O torto pode também assumir condições de rigidez e flexibilidade, a depender da fluidez com a qual determinada verdade lhe apeteça. Daí decorre-se o alcance da compenetração e da convexidade do entortamento.
4. Muito embora tenhamos nos utilizado de uma denotação sexual com conotação epistemológica, tudo isso serve para ambos os casos.
Ps.: Momento de descontração!
" Por volta de 177 e alguma coisa um padre francês aproximou-se de surdos pobres e viu que estudando a linguagem deles, ele poderia evangelizá-los. Nasceu desde então a libras."
ResponderExcluirOu seja, UM padre fez surgir essa linguagem que chamamos de libra. Pô, é evidente nessa sua frase que o padre não precisou ter oficializado essa linguagem apenas quando estava em um social maior. Ele enquanto padre, descobriu formulas de como se comunicar com os surdos. Portanto, se eu digo que torto pode ser não apenas o contrário do errado, e sim o requestionamento da virtude e do vicio, posso considerar o torto uma linguagem codificável, mesmo que a maioria não aceite meu argumento.
Lou,
ResponderExcluirEu penso exatamente da forma como você expôs essas pontuações acerca do torto. Não é que o torto viva se comportando de forma errada. Claro que o torto admite errar, pois ele não entortaria se ele não se encontrasse entre o que é dito certo e errado. No entanto, como você disse, apesar dele assumir uma posição, essa posição não se firma em um extremo, ou seja, em uma decisão estática. Por isso que comparei o torto a música brega, uma vez que a música brega, assim como o torto, mesmo sendo associada a caracteristicas pejorativas, não necessariamente eu ponho a pensar esse gênero musical como um universo que tenha em seu repertório apenas traços que venham a denegri-lo. Assim eu penso sobre o torto. Ser torto pode ser algo positivo. Ser torto pode implicar facilidades em optar pelos desvios, pelas contingencias, sem deixar de agir com responsabilidade de acordo com as expectativas oficializadas pela cultura.