quarta-feira, 21 de julho de 2010

O Neurótico Alado III

Há algum tempo, em Pedantia...

Eis a missão de vocês: hastear até às sete em ponto estas três bandeiras na seguinte ordem, primeiro a da revolução, segundo da inércia e, por fim, a da Suprema Verdade.
Faço questão de ratificar que estarei aqui às sete em ponto e só quero dar com as vistas na imagem destas bandeiras perfeitamente hasteadas, de modo a lamberem carinhosamente o ar! Ah! E vocês, tratem de consertar estas posturas tortas, pois, em seguida, avaliarei com precisão mais-que-cirúrgica se vocês estão ou não com a postura mais correta de reverência.

- Depois do imperativo gritado em voz grave e rouca aos prisioneiros de guerra, o capitão Augusto Max retirou-se tal qual um rato ao sentir a mais ínfima perturbação e foi direto ao urologista do exército queixar-se de seu problema de reto. Não bastasse uma doença rara que lhe acometia a visão fazendo com que só enxergasse a partir de um olho só: era abrir os dois simultaneamente e tudo que via era nada além de um vidro irritantemente embaçado.

Precisamente às 7 em ponto lá estava ele brincando de ping-pong com sua visão a fim de conferir severamente o serviço dos prisioneiros.

- Não era possível! Eles não tinham medo de morrer! Tinham queimado as bandeiras?! Seria muita corag... NÃO! SERIA MUITA REBELDIA! – Bradou mentalmente o capitão esturricado num murmurar absolutamente incompreensível aos que não liam sua mente. – Mas, que diabos aconteceu por aqui??? – Conseguiu enfim urrar de forma definitiva o capitão.

Na verdade o que via eram pedaços avulsos das bandeiras misturando-se no ar e no chão. Os prisioneiros só puderam dar uma simples e objetiva explicação: Senhor! Hasteamos com todo cuidado possível as bandeiras, mas, assim que chegavam ao topo cediam ao vento, pois que em todas as direções que tomava reivindicava as bandeiras!

- O capitão então ordenou de imediato que passassem a madrugada inteira restaurando cada fragmento delas, mas cada pedaço já se tinha assemelhado em demasia com um outro que até então lhe houvera sido completamente diferente, e as coisas acabaram se tornando subjetivas demais para se sobreporem com a maestria desejada por Augusto Max. Melhor mesmo seria cuidar do reto.

10 comentários:

  1. Aqui no torto é bom cuidar do reto. Bom texto. Roosevelt

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  3. Auguste Comte + Karl Marx! Achei massa. Muito embora, não devamos esquecer que deve-se entortar não só a esquerda positiva, como também a direita fenomenológica, tal como a central idealista e a encurvada intimista! Ao menos até que no solo do povo covarde de Pedantia pouse a nave de Clark Kent (o nietszcheano) antes da descoberta da kryptonita. Que comentário ridículo esse meu.

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  4. Josua,

    Caraaaaalho!!!!!!!!!!!! Que texto fodíssimo man!!!!

    A tirania, por mais perfeita que ela possa parecer, não suporta à rebeldia dos ventos fluidos do tempo. Com toda a ordem que se possa haver, inevitavelmente aparecem as contingências. Por mais que hajam classificações e imposições, há sempre vários olhares que transitam em milhões de direções ao mesmo tempo, e que no final das contas, essa necessidade em acreditar na imposição, não passa de um medo de se encarar a própria incapacidade de se fazer cumprir a mesma postura reta que se quer vomitar.

    bjs

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  5. Bem poderíamos começar por: "direita fenomenológica" Mas o q é isso? Alguns pós-modernos niilistas como o Fucuiama poderia talvez ser de uma direita pedante...

    Josué parabéns pelo texto, acredito assim tb, talvez alguma força de coesão social, de movimento monolítico ideologicamente para um bem maior, seja a causa desse obscuro dogmatismo. Por vezes imagino estar em uma Igreja quando passeio por alguns lugares da UFS. Creio que, a interpretação sobre um fato social degradante e triste ao nosso ver, não precisa necessariamente assumir ou usar uma mesma lente, eu posso encontrar vários caminhos para resolver tal problema, e tb criar mosaicos teóricos se a mim houver lógica.

    Parabéns!

    Reuel Astronauta.

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  6. Uma vez ouvi de um respeitado professor indagar em uma banca de mestrado para o jovem apresentante de sua dissertação, por que ele teria usado Fucuolt, uma vez que o msm contradiria algumas perspectivas do quadro teórico do rapaz. O rapaz usava um quadro teórico, sobre maneira materialista-histórico. Pois é... acho fantásticas as duas bases...

    Reuel Astronauta.

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  8. "Bem poderíamos começar por: 'direita fenomenológica'. Mas o q é isso?"

    Não é. Em alusão ao fato da personagem elaborada por Josué, o Augusto Max (nítida junção das perspectivas positivistas às do materialismo histórico, do qual há também clara crítica denunciativa no texto, em tom sarcástico e ridicularizador de negação à ambas), em que parto do princípio de que o positivismo, com Comte, é a bandeira da direita e o materialismo histórico, com Marx, a da esquerda, sugeri, também ironicamente, que entortássemos ainda aquilo ao qual os nossos tão odiados "fundamentalistas" não tomam como verdade. Afinal, se o de lá não está com a verdade, tampouco está o de cá. Se é pra entortar, não sejamos tendenciosos: que entorte-se a tudo, inclusive os que se escondem atrás do não-pseudo-pedantismo. A palavra deve ser necessariamente uma faca de dois gumes no Torto, penso eu. Como prova disso, retiro tudo que digo. Quanto à "direita fenomenológica", me refiro à ideia Husserliana de que matéria e espírito possuíam realidades distintas, premissa da qual tenho sérias dúvidas, por concordar com o holismo e a interconexão, seja direta ou indireta, entre natural e transcendental.

    PS.: Os textos removidos são fruto de neuroses ortográficas.

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  9. Incrível texto, um dos melhores. Parabéns!

    Marrone

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  10. Narrativa impecável! Por que não publica um livro de contos, "o Neurótico Alado"?

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