segunda-feira, 19 de julho de 2010

Big Brother Brasil: entretenimento e cidadania

O Big Brother Brasil, programa da rede globo, mesmo recebendo muitas pedradas, atingiu esse ano a sua décima edição. Novamente eu vou tentar encontrar neste texto uma possibilidade de entortarmos nosso olhar. Como vou tentar trazer uma análise torta, eu pretendo compactuar com alguns aspectos trazidos pelo BBB e depois trazer o que eu acho reprovável nele.

Primeiramente eu gostaria através de minhas hipóteses, de explicar o porquê o BBB, ao trazer a vida privada, tem provocado tanta audiência. Acredito que uma das explicações seja referente à construção do nosso Estado. O Estado brasileiro foi um Estado imposto pelos colonizadores com o intuito apenas de sugar nossas matérias-primas, e não pela necessidade espontânea do povo.

Não compreendemos a importância do Estado, pois ele surge para atender aos interesses dos colonizadores. Pelo Estado ter sido imposto e por não compreendermos a importância da esfera pública, tendemos a ter um grande interesse na vida privada, fenômeno muito bem explorado pelo BBB. (Recomendo ao leitor que leia o último texto de Éder sobre o público e o privado neste site).

Depois de ter tentado compreender o porquê da audiência do BBB, gostaria de abordar sua relação com o entretenimento. Carregamos um legado horrível em separarmos o entretenimento da cidadania. Entendemos cidadania como sinônimo de consciência. Já em relação ao entretenimento, reduzimo-lo ao meramente alienante e voltado para o consumo imediato.

Segundo penso, cidadania não significa apenas os direitos e deveres que o individuo deve ter em sua relação cotidiana com o outro. Cidadania implica formas de participação. Um telespectador pode muito bem utilizar seu poder de participação, de opinar sobre determinados fatos ocorridos no Big Brother Brasil, e se deixar levar por um momento de descanso, ou seja, de entretenimento.

Um programa como o Big Brother Brasil pode possibilitar não só a identificação do indivíduo em relação a determinado participante do programa, repensando assim, sua própria identidade, como também possibilitar o requestionamento de novos valores. Esses novos questionamentos se estendem às vidas privadas, assim como às vidas públicas desse telespectador.

Levando-se em conta que esses valores se estendem a práticas estabelecidas socialmente entre os agentes, podemos perceber que mesmo que o BBB tenha como objetivo trazer o entretenimento para a linda família brasileira, inevitavelmente o telespectador ao participar do cotidiano dos “brothers”, tende a repensar seus valores, se identificar, opinar, criticar, etc.

É por isso que eu acredito que nenhum individuo é incapaz de processar opiniões acerca dos conteúdos que recebe, visto que qualquer sujeito possui escolhas e concepções sobre determinado assunto. É devido a isso que eu não compartilho com a perspectiva que tende a encarar o BBB apenas como um programa que aliene. No momento do programa, inevitavelmente o telespectador interage.

Porém, não é por que eu entenda que a ausência do Estado justifique a imensa audiência do BBB que necessariamente eu naturalize a sua posição alheia. Mesmo sabendo que uma questão como a da nossa formação seja bastante complexa, os meios televisivos privados têm a obrigação de criar projetos que tenham como objetivo, educar o brasileiro também a dialogar com as decisões públicas.

A outra crítica que faço se refere ao próprio entretenimento. Apesar do entretenimento não se encontrar desvinculado da participação do cidadão, o BBB, como forma de mostrar a todo custo seus patrocinadores ao publico, força a barra com provas que pelo menos para mim, chegam a um nível de idiotização absurda tentando fazer a propaganda das empresas que custeiam o programa.

A audiência do BBB pode ser reflexo de uma formação histórica, assim como o entretenimento do BBB traz aspectos de cidadania. Porém, devemos cobrar a presença do Estado nas mídias privadas para propor projetos que busquem maiores conscientizações referentes ao bem público, não deixando essas mídias apenas à mercê de seus patrocinadores sedentos por lucros.

3 comentários:

  1. Caro Vina,

    Desde já, parabéns. Confesso que o tema é instigante para um debate entre o poder da mídia e o poder público estatal. E esta tema como você expôs é de difícil correlação. Os espaços públicos virtuais e midiáticos são hoje grandes responsáveis pelo intenso deslocamento cultural e por parte das mudanças constantes dos sujeitos.
    Dois pontos me chamam a atenção no seu texto (os colchetes são apenas para não colocar a citação inteira):

    1) "Um programa como o Big Brother Brasil pode possibilitar não só a identificação [...] às vidas privadas, assim como às vidas públicas desse telespectador."

    2)"É por isso que eu acredito que nenhum individuo é incapaz [...] É devido a isso que eu não compartilho com a perspectiva que tende a encarar o BBB apenas como um programa que aliene. [...] o telespectador interage."

    Estes dois parágrafos lembram o que De Certeau fala sobre os usos que os sujeitos fazem com os bens culturais. Seja lá o que for! Isso eu já comentei no texto de Alysson, sobre os Santos Juninos. Acredito que a alienação pode até existir em casos específicos da vida pública, mas considerar que as pessoas não possuem opinião é arrogância político-acadêmica.


    Abraços.

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  2. Querido Éder,

    Realmente essa relação entre o poder da mídia e o poder público estatal é de dificil articulação, visto que a midia tem se distanciado dos interesses éticos públicos, e os próprios meios públicos se encontram submetidos aos interesses mercadológicos, uma vez que não só o mercado assume uma nitida preponderânia diante da cultura atual, como também as instituições públicas são preenchidas por grandes empresários.

    Eu acredito que podemos estabelecer uma relação harmônica entre mercado e Estado, visto que, em primeiro lugar, com criticas ou não, o consumo e a natureza individualizada do capitalismo é fato, e por isso mesmo, o mercado inevitavelmente aparece, assim como necessitamos dele; mas também acredito que o Estado, por mais que se encontre imerso a essa natureza mercadológica cultural, deva reencontrar os seus principios éticos e teóricos que é a sua função de gerenciar os agentes envolvidos na sociedade, assim como possibilitar cvom que esses agentes encontrem referências nas malhas sociais, deixando de se sentir vazios diante do esvaziamento que observamos da arena social.

    Como fazer? Deixo a pergunta para você e para os demais leitores que queiram se atrever a responder essa pergunta tão curta, porém, tão complexa.

    abraços

    abraços

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  3. Na verdade veja bem o q eu vou te dizer agora, creio que um país que teve uma industrialização tardia, um processo de urbanização tb tardia, é notório que as relações sociais mais aproximadas ainda exista como simbolo no imaginário das pessoas, como esse gosto aí pela vida privada, bem como a ideia dos militantes por exemplo de querer um "carnaval sem cordão".

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