sexta-feira, 16 de julho de 2010

Diálogos com o blasé

Resolvi escrever sobre esse tema como forma de me retratar ao pouco espaço que reservei a discussão do blasé no texto anterior, intitulado “O flâneur e o torto”. Já que me detive mais a essas duas personagens como formas de construção da visão de mundo e onde afirmo que existe uma aproximação entre essas duas formas no que tange a navegação social.
Mas deixemos de conversa fiada e vamos ao blasé. Diferente do flâneur e do torto, esse estado mental do individuo moderno trata-se de um modo de vida reproduzido, podemos assim dizer, por uma grande parcela da população. Ressalvo que não há pretensões de vê-lo como negativo ou positivo, pois se trata de uma interpretação que Simmel utilizou para compreender o comportamento dos indivíduos que vivem em grandes áreas urbanas.
Tomando a visão de que somos provocados e provocadores, a leitura do estar blasé trata-se de um mecanismo para lidar com a estrutura exigida pelas instituições modernas, no tocante a performances e comportamentos diante das relações sociais. Já que a condição de ser comum aos valores morais e concepções culturais se pulverizam devido a alta densidade demográfica e as diversas práticas culturais da nossa complexa rede de instituições e relações sociais. Portanto, a leitura de Simmel se torna pertinente em detectar a forma objetiva de como pensar, agir e comportar-se nessa rede complexa de relações.
O individuo pode seguir esse tipo de comportamento como uma forma de garantir a sua “segurança ontológica” (parafraseando Giddens), pois eles podem sentir e perceber a influência causada em sua personalidade e optam por segui-la para alcançar as suas motivações. De outra forma, o flâneur e o torto, também fazem suas escolhas e navegam em sociedade de outra maneira, mais critica, menos reservada.
O blasé expressa nas entrelinhas a influência direta das instituições modernas sobre o indivíduo, levando-o a uma prática objetiva, reservada e individualizada, no tocante a vida social. Tendo em vista, que essa é uma exigência externa e interna, tomando como base a subjetividade, que o universo multifacetado o faz e que expressa como defesa ontológica. Por outro lado, os desejos por influenciar o contexto social, por meio de manifestações ideológicas, artísticas, étnicas ou culturais apresentam outra forma de trânsito, mais fluída e com menos reserva. Já para o flâneur como para o torto, as formas podem ganhar a dimensão da subjetividade na sua interação com o mundo com o perder-se do olhar ou do trânsito livre. Escolher qualquer uma dessas navegações não garante necessariamente uma existência social e/ou ontológica confortável.

7 comentários:

  1. Por Deus, um intelectual no Torto!

    Brincadeiras a parte, muito bom texto, bastante esclarecedor.

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  2. Prof. Alysson,

    fiquei muito satisfeita em ler a continuidade de seu pensamento. Obrigada.

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  3. Fiquei com peso na consciência, pois quis escrever sobre vários assuntos em um curto espaço e acabaram sobrando lacunas. Creio que agora posso continuar com outros temas.

    Obrigado Lou e Renata pelos comentários espero ter deixado clara a minha idéia.

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  4. Alysson,

    Muito interessante seu texto. Às vezes cada vírgula ou ponto de seguimento torna-se uma lacuna nos nossos textos. Mas nem por isso a ideia deixou de ser lançada.

    Gosto do debate sobre o blasé. Sempre me identifiquei com a noção sociológica sobre essa categoria cultural. Algumas noções empreendidas pelas esferas e escolas da comunicação é que não me agradam, principalmente quando tomam o blasé por alienado ou indiferente "a torto e a direito", a tudo, a todos (Estou retirando a categoria torto como concebida neste blog. Apenas fraseei o popular).

    O blasé é um sujeito social que isenta-se do outro para viver em seu espaço próprio mas em qualquer lugar. Suas atitudes o reservam da ostentação, mas nós somos blasés somente quando precisamos. Não é uma identidade cristalizada ser blasé. Ela é fluida, ela é evocada quando necessitamos abster-se do outro.

    Sou e não sou blasé, torto, flaneur! Depende de cada caso, lugar, estado...

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  5. Nossa!! Você foi um entortado, tipico ideal. rsrsrsrsrsr. Trazendo, inclusive, a discussão de Hall sobre identidade. Concordo contigo quando se refere sobre o blasé como categoria. Realmente não acredito que sejamos só uma coisa ou outra cristalizada. Somos seres humanos, subjetivos e mutáveis. Talvez, alguns menos que outros, mas reagimos das diversas formas às situações no contexto que vivemos.

    Obrigado pelo instigante comentário

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  6. creio que o bom texto não necessariamente seja aquele esclarecedor e sim aquele que instiga nosso questionamento e foi isso que você causou em mim agora: um olhar mais questionador.
    Espero ler mais textos seus em breve

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