quinta-feira, 24 de junho de 2010

Sonhos

- Sonhe!
- Como?
- Eu disse, sonhe!
- Você diz fingir não estar acordado?
- Sim.
- Por quê?
- É bom sonhar, não?
- Nem sempre. Os pesadelos me apavoram.
- Existem tantos sonhos bons.
- Sei.
- Existem sonhos vários.
- Prefiro ficar acordado. Na luz do dia vejo com mais clareza.
- Por quê?
- Isso me dá mais certezas.
- Os homens buscam certezas. Como não as encontram, criam as suas.
- O direito é uma certeza.
- Quem cria as leis?
- Ah, não me venha com essa!
- Todos recebem o que tem direito?
- Claro que não. Isso não ocorre. Tudo tem suas falhas.
- Um dia sonhei que os homens conseguiam controlar as forças da natureza.
- É claro que os homens não controlam o mundo.
- Então o mundo está fora do poder de suas mãos. Os sonhos; nunca sabemos de sua origem, eles são como o vento. Os sentimos, mas, não sabemos a sua casa. Os homens controlam as palavras?
- Não. Falamos o que não sabemos. Falamos de nosso mundo como o vemos. Mas não podemos confiar nos olhos.
- Os sonhos, às vezes, são avisos que algo está errado. Outras vezes são brincadeiras de nossa mente.
- Sim.
- Reconheço sua idéia. Mas, prefiro não sonhar. A vigília é mais interessante que o sono.
- Sei. Nunca te ocorreu estar sonhando acordado?
- Como? Não entendo.
- É pena, tenho que ir.
- Para onde?
- Para onde sempre vou. Não é assim todos os dias. Em todos os lugares?
- Sei. Estou com sono. Vou dormir.
- Entendo.

3 comentários:

  1. Subvertendo paradoxalmente o paradigma distorcido, né? Tô ligado.

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  2. Meu caro Anderson,
    O torto entorta. Abraços.

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  3. Caro Roosevelt,

    Muito bom este seu conto. Gostei muito do que escreveu neste trecho:

    - Então o mundo está fora do poder de suas mãos. Os sonhos; nunca sabemos de sua origem, eles são como o vento. Os sentimos, mas, não sabemos a sua casa. Os homens controlam as palavras?
    - Não. Falamos o que não sabemos. Falamos de nosso mundo como o vemos. Mas não podemos confiar nos olhos.

    Os sonhos são tortos. O olhar tenta alinhar sempre que procuramos desentortar os sonhos a ainda que andando torto.

    abraços,
    Eder.

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