terça-feira, 1 de junho de 2010

Contrariando o Roots

Vários séculos se passaram até os dias de hoje e desde os tempos de Cabral, temos que conviver mesmo que não querendo com esse índio brasileiro. Creio que desde essa época criamos uma noção desse índio quando não reificada, por demais estereotipada e/ou idealista. O contato que o homem dito racional e branco teve no passado foi semelhante a uma experiência, digamos, com um terráqueo vendo um ET. Visto isso, creio que o leitor imagina mais ou menos como seria essa visão, afinal, para os europeus a Europa era o centro do universo praticamente, e as relações de alteridade que eles tinham eram muito mais próximas, culturalmente falando, do que uma relação com selvagens de um lugar que eles não sabiam nem ao certo onde se situava. Advirto aos leitores que, a proposta do texto é debater livremente sobre o tema, afinal, não temos aqui a pretensão de lançar conceitos e tão pouco transportar o rigor acadêmico para o site.

Em um passado recente, no Brasil se buscava através de uma tímida proposta de identidade nacional, logo após da nossa “independência” no século XIX, resgatar a nossa nacionalidade dissociada da Europa usando a figura do Índio que seria no caso um brasileiro autentico. A questão aqui, é que esse Índio de José de Alencar no caso o Peri, perpassa o que nós havíamos comentado anteriormente, esse Índio é uma figura idealizada, e não obstante cunhado dentro de uma perspectiva etnocêntrica, afinal os valores transpostos para o arcabouço significativo da imagem do Índio corajoso e destemido, era do Europeu, ou seja, aquele das aventuras medievais. Outro aspecto de valoração desse índio em cunho etnocêntrico foi é claro, os exemplos de Colombo, Las Casas, Sepúlveda, Pero Vás de Caminha e outros colonizadores, que tratavam os índios ora como coisas monstruosas, que não tinham o mínimo de razão e moralidade, e, portanto deveriam ser aniquilados, ou postos como simples mercadoria, como uma especiaria das “Índias”. E muita vezes por mais reificados que fossem os Índios eram admirados por alguns colonos, a questão é que por mais que eles admirassem as produções indígenas eles não conferiam subjetividade aos Índios. E ainda podemos citar a outra relação de alteridade, aquela que ocorria entre os missionários e os Índios, os missionários por vezes viam os Índios como que crianças intelectuais, e que faziam o que faziam por ignorância, e alguns conferiam a eles uma alma, porém que necessitava ser doutrinada segundo os preceitos cristãos.

Feitos esse simplório histórico queria instigar aos leitores a seguinte reflexão, como que esse Índio é visto hoje? A imagem que possuímos muitas vezes é a imagem de um povo subordinado plenamente, e de fato concordo quase que absolutamente, mas a questão é, será que ainda não resiste á idéia do bom selvagem? Será que ainda resistimos em considerar os Índios como humanos, portanto iguais? E ainda vemos um Índio que parou no século XVII ou XVIII representados nos livros didáticos, e não refletimos muitas vezes a real condição desse Índio hoje. Eu creio que o passo para nos sentimos também como parte Índios, é enxergar esse outro com um olhar mais analítico e menos estereotipado, como, por exemplo, criar a necessidade de voltar ao “roots” e querer voltar no tempo como se estivéssemos de fato indo ao encontro do puro e/ou do pitoresco. Devemos sim tentar criar um maior contato com essa historia e que seja menos simplista e principalmente demasiadamente exposta de forma curta. E quero lembrar aos professores que, mesmo que seja o professor de química ou de física, todos, eu disse TODOS iram, segundo a LDB ter que ensinar alguns aspectos da cultura indígena.

9 comentários:

  1. Creio que a visão sobre os índios que nos é passada pelos meios de comunicação e pela escola ainda são aquelas estereotipadas. Vemos noticias sobre conflitos, principalmente no norte do país, entre indígenas e grilheiros e nas escolas ainda é passado e comemorado o dia do índio numa visão romantizada. Ainda nessa discussão, as civilizações nordestinas e do estado são pouco conhecidas, assim como a sua luta. Portanto, temos ainda uma situação de discriminação e romantização dessa minoria.

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  2. Essa questão que você propôs em requestionar essa necessidade da volta ao passado é de fato, um tapa na cara dos adeptos do roots.

    Essa turminha ou é bastante ingênua, ou possui uma relação de poder bastante latente inclusive aos seus olhos, o que não acho que seja uma regra para todos.

    A ingenuidade diz respeito a ignorância em não perceber que o tempo histórico é processo, e como todo processo, varia, e não pode ser mais regredido. O tempo é outro.

    Quanto as relações de poder, eu acredito que a partir do momento em que adornamos os indios, fazendo as criancinhas assoprarem em pedaços de pau, pintando a cara de tinta guache, estamos apenas reforçando uma representação pitoresca, longe das reais necessidades e lutas atuais do indio. Este continua sofrendo exlusões juridicas e preconceitos culturais de todas as ordens.

    O importante é entendermos essa visão passada, mas não como perpetuação dela, e sim como um caminho que possibilite um olhar mais claro sobre a história da cultura indígena, fazendo com que passemos a compreendê-los com mais criticidade no seu tempo presente.

    Querer apenas perpetuar o exótico, significa não querer abdicar de nosso olhar etnocentrico e europeizante. Voltar ao passado significa tentarmos conservar um passado, mas não compreendermos uma vitalidade presente sentida e experenciada pelos indigenas.

    Entortemos o olhar: voltemos ao passado para compreendermos o presente, mas aceitemos o presente como forma de tentarmos analisar com um crivo mais critico, as dificuldades pelas quais ainda passam os indios

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  3. Sim, pertinente. Tal como o Marxismo, é ingênuo crer na concretização. Mas atento que devemos, ao menos sob a ótica ecológica, tomar cuidado com esse positivismo tecnocientífico desenfreado. Ou melhor: talvez, já que se fundem as culturas, quando da dominação, devêssemos atentar para as noções de harmonia e equilíbrio ambiental que tinham nossos "selvagens", por uma questão de precaução e sobrevivência.

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  4. A respeito das relações ambientais e de propostas de resgate a respeito dos aspectos ecologicos que podemos resgatar de nossos povos mais antigos, indico um site de permacultura urbana da casa permacultural dos Hólon, e se possivel ler a respeito da agroecologia seria bom tb.

    O Site:

    http://www.13luas.art.br/casadosholons/xps/modules/tinycontent/index.php?id=1

    Video:

    http://www.youtube.com/watch?v=6-GFcuKqD5k

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  5. Belíssimo texto, grande Reuel!

    Em relação à parte histórica, foi muito interessante como você abordou a questão do outro. Afinal, a própria ideia de modernidade já considera o ponto de vista de um progresso europeizado, não à toa autores como Dussel irão militar pelo advento da transmodernidade, ou seja, criar sujeitos de comunicação ideal e não um mero outro sem subjetividade e humanidade.

    Mas, fazendo apenas uma justiça, é fato que Sepúlveda era um fdp que usou toda a sua argumentação a favor do argumento falacioso de que os índios não possuiam alma, portanto, deveriam ser colonizados e escravizados, mas Las Casas, na "Disputa de Valladolid" quando discutiu com aquele foi talvez o primeiro a defender a perspectiva cultural. Ao fim do debate, inclusive, chegou a radicalizar a sua opinião e deixar claro que não seria certo os espanhóis invadirem a América.

    Abração!

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  6. Ademais, precisa-se dissociar progresso positivo de evolução positiva. Avanço e evolução podem não significar a mesma coisa, levantando a responsabilidade social e ambiental (moral) como medida de separação conceitual. Afirmaria, por esta hermenêutica, que os "selvagens" teriam sido conquistados por uma raça mais avançada (razão), porém menos evoluída (sabedoria).

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  7. engraçado vina como vc usa o marxismo nos estudos ( entenda com isso quero dizer querendo ou n o marxismo e importante para o estudo sociologicos e economico , principalmente do feudalismo ao nosso presente )
    quanto a essa parada permacultura agroecologia sao coisas inviaveis a nossa sociedade futura , pelo fato dessas praticas se prenderem a determinadas classes sociais , como serao praticadas se boa parte da populaçao sera excluida disso . gostaria de colocar que a permacultura e agroecologia atualmente e usada como mercadoria , assim como essa onda de movimento sustentavel ou seja isso so serve pra fazer $ . futuramente sim a permacultura e agroecologia pode ser usada realmente como medida sociais dentro do capitalismo , mas claro onde ah capitalismo a exclusao social . mas eficiente do que permacultura agroecologia e moda . e o coletivismo ou o estado eficiente ( mas claro n estou usando isso como verdade absoluta ) mas de fato coletivismo e bastante interesante para humanidade , a tecnologia usada para o fim social e humanista em vez de somente para o acumulo de capital como e usada atualmente , parece me bem mais interesante do que esse papo de permacultura e agroecologia .

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  8. engraçado vina como vc usa o marxismo nos estudos ( entenda com isso quero dizer querendo ou n o marxismo e importante para o estudo sociologicos e economico , principalmente do feudalismo ao nosso presente )
    quanto a essa parada permacultura agroecologia sao coisas inviaveis a nossa sociedade futura , pelo fato dessas praticas se prenderem a determinadas classes sociais , como serao praticadas se boa parte da populaçao sera excluida disso . gostaria de colocar que a permacultura e agroecologia atualmente e usada como mercadoria , assim como essa onda de movimento sustentavel ou seja isso so serve pra fazer $ . futuramente sim a permacultura e agroecologia pode ser usada realmente como medida sociais dentro do capitalismo , mas claro onde ah capitalismo a exclusao social . mas eficiente do que permacultura agroecologia e moda . e o coletivismo ou o estado eficiente ( mas claro n estou usando isso como verdade absoluta ) mas de fato coletivismo e bastante interesante para humanidade , a tecnologia usada para o fim social e humanista em vez de somente para o acumulo de capital como e usada atualmente , parece me bem mais interesante do que esse papo de permacultura e agroecologia .
    ALAN
    obs : colquei 2 comentarios do mesmo pq esqueci de colocar meu nome no primeiro rsrs

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  9. O que instiga na vida contemporânea dos índios, e infelizmente é pouco conhecido entre nós e pelos meios de comunicação, é a cultura digital. Há alguns sites e no Youtube tb videos produzidos pelos próprios ìndios.

    Sugiro o Índigenas Digitais: http://www.indigenasdigitais.org/

    Este, entre tantos outros sites, demonstram através dos usos da tecnologia digital e dos modos de vestir e falar, condição pós-colonial e pós-estrutural das viventes das OCAS!

    Belo texto man!! Abraços.

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