sexta-feira, 4 de junho de 2010

POR DENTRO DA INTIMIDADE...

Estava a conversar com uma amiga sobre o relacionamento que ela estava vivendo e, pra mim, foi uma surpresa, pois já tinha ouvido falar sobre maneiras diversas de se relacionar amorosamente e eroticamente, mas nunca tinha ouvido falar sobre o que ela chamou de RENI (Relacionamento Não Identificado). Já tinha ouvido de modalidades como namoro/casamento aberto, ficar, amor livre, poligamia, orgia, suingue e o tradicionalíssimo namoro/casamento monogâmico, mas o RENI foi a primeira vez. Segundo ela, essa modalidade está entre o ficar e o namoro monogâmico. Nessa modalidade, está implícito valores monogâmicos, pois as partes saem para programações afins se apresentam juntas em locais públicos, mantém contato, mas não fecham o compromisso como um namoro.
As modalidades não convencionais centradas na idéia do amor livre e perspectivas hedonistas como a orgia, suingue, troca de casais e os relacionamentos homossexuais são os principais alvos das convenções. Vou trabalhar com a perspectiva de que os relacionamentos prescindem de “acordos” entre os envolvidos que podem ser dois ou até mais de dois e que esses “acordos” podem estar implícito ou explicito. O que está em jogo é a busca dessa subjetividade por uma satisfação biológica e/ou sócio-cultural.
A idéia de amor livre surge no bojo das idéias anarquistas que questionavam a monogamia, porém, o amor livre ficou taxado pelas convenções como relação promíscua, principalmente, quando da revolução sexual dos anos sessenta promulgada pelos hippies. O amor livre na sua cartilha de princípios prega a espontânea relação entre as partes, ou seja, que elas possam livremente decidir da sua união ou da sua dissolução sem necessitar da oficialização por meio do casamento, pois esse pode vir a criar sentimentos de possessão e de dependência psicológica. Além desses, outros eventos como a invenção da pílula anticoncepcional, a ampliação dos direitos de união legal para homossexuais são exemplos de relacionamentos que aqui chamaremos de não convencionais.
O fato de que essas modalidades de relacionamento não convencionais ganharam projeção por meio de páginas na internet, sites de relacionamento e na vida prática, isso cria um choque com os valores estabelecidos e leva a discussão sobre a perda de valores morais. Esses valores que “estão se perdendo”, na verdade corresponde ao processo de transformações sócio-culturais que a humanidade já passou em outras épocas. Por exemplo, a mulher não tinha o direito de demonstrar prazer em Grécia antiga, cabia a elas a função de procriar, assim como, a escolha de casamentos que ficava a cabo das famílias.
As mudanças nas formas de relacionamento proporcionaram a emersão das individualidades, em que essas gozam do direito de escolher seus pares e projetam suas fantasias para os relacionamentos que assumem, tendo como possíveis motivações a realização dos desejos individuais, afirmação das identidades e realização da satisfação por meio do cultivo do espírito hedonista que está diluído em nossos tempos.
Uma das modalidades que parece ter sido aceita pelas convenções é o “ficar”. Aceita pela como estágio para firmar compromissos impostos pelos valores estabelecidos. O “ficar” é permitido com ressalvas, como disse, ele é autorizado com a condição de ser um estágio e não um relacionamento permanente, para isso, acontece a vigília dos amigos, pais ou de uma das partes que relembram os valores monogâmicos e a visão pejorativa que uma mulher pode vir a carregar por ter que namorar com homens diferentes. Por outro, essa modalidade reforça o lado masculino, no tocante a virilidade e a condição de macho.
Pois bem, sejam nos relacionamentos convencionais ou nos não convencionais todos prescindem de acordos. Além disso, a idéia de pluralidade, quando o assunto é sexualidade, abre um leque para possibilidades de relacionamentos outros que vão (re)construindo no dialogo entre a satisfação do ser social e da sua subjetividade.

5 comentários:

  1. Querido Alysson,

    apesar de me encontrar sem internet, e de só agora ter lido de forma não tão minuciosa seu texto, uma vez que me encontro em uma lan house, o que eu posso dizer é que pra variar, suas analises entortam nossas cabeças.

    Essa idéia de estabelecer publicamente um compromisso com o outro, e deixar de forma implicita a idéia de uma relação aberta, é tipico de um contexto confuso pelo qual estamos passando. O que quero dizer é que ao mesmo tempo em que nos damos conta de que os valores tradicionais não conseguem mais se adaptar na maioria das vezes a esse contexto fluido, plural e contingente, e portanto, buscmos um relacionamento aberto; por outro lado nós carregamos uma carga enorme de valores deixados pelos nosso antepassados cristãos, e não conseguimos suportar a idéia de estar com alguém sem cobrarmos a fidelidade.

    Apesar da liberdade que sai de nossas bocas, a monogamia está mais que fincada em nossa alma. Para tentar amenizar essa relação, surge uma proposta de relacionamento como o que você citou, o RENI. Enfim, é uma forma de eu dizer: não seja de outro, mas sei que inevitavelmente você não é minha. Ou seja: acalento minha expectativa cristão, monogâmica; mas deixo a possibilidade mais inevitável do contexto atual que é o ato de experimentar outras relações. Porém, como sou, querendo ou não, monogâmico, prefiro manter uma relação frágil, porém, bem disfarçada entre a monogamia/poligamia para satisfazer minha indefinição identitária, e para saciar minha expectativa em não querer ser corno hehehe.

    Acredito que esse RENI é um acordo torto, pois ao mesmo tempo em que não abdica das convenções, das expectativas, da aceitação em se admitir como produto do meio; busca encontrar caminhos para transitar com seus desejos plurais. E mais torto ainda por sabermos que, apesar da tentativa de transito, inevitavelmente nos confrontamos com nossos valores cristalizados, ao mesmo tempo em que os nossos valores cristalizados socialmente se confrontam com nossos desejos pessoais

    ResponderExcluir
  2. "como sou, querendo ou não, monogâmico, prefiro manter uma relação frágil, porém, bem disfarçada entre a monogamia/poligamia para satisfazer minha indefinição identitária, e para saciar minha expectativa em não querer ser corno hehehe. "

    Adorei essa analise. Concordo com a sua observação tendo em vista que a monogamia como valor ligado ao cristianismo se apresenta como um furado, já que as promessas de fidelidade eternas se diluem com o tempo ou na primeira oportunidade, ou na segunda , ou na terceira hehehehe.

    Lembrando que o RENI foi uma modalidade a mim apresentada por uma amiga. foi daí que me veio a idéia de construir o texto, ou seja, de analisar as modalidades de relacionamento destacando o que é convencional e o que não é.

    Acredito que a monogamia como preceito de eternidade das partes a assumem e oficalizam por meio do casamento não é durável de forma alguma, como já te disse, as individualidades, a influência dos espiritos de nosso tempo minam esse valor e o que vemos é uma ascensão de modalidades que sejam mais convenientes as partes, já que todos buscam satisfazer suas subjetividades.

    Obrigado pelas analises, meu querido.

    ResponderExcluir
  3. Sempre deparo com dificuldades para falar sobre o tema da mono ou poligamia. No entanto, acredito que entre os jovens-adolescentes a prática sexual da poligamia é algo até inevitável, pois é um momento de descobertas (não exatamente de promiscuidades).

    Entre os homens e as mulheres há uma "competição simbólica", às vezes mais explícitas, às vezes mais veladas. Mas entre os amigos(as) cabe sempre essa vigilância citada por Alysson. Em vários momentos isso é pertinente. Mas nas idades mais "maduras" a poligamia não é exatamente uma 'competição', conforme dito aqui. Acredito que entre os adultos há sempre uma quebra dos valores fixos e tradicionais do casamento, visto que a rotina sexual etc e tal, corre sempre um risco de diluir-se em morosidade.

    Por fim, essa ideia do RENI entortou meus zóios! Achei muito interessante a descrição de Alysson e Vina sobre isso. Numa palavra: é estar livre para não se livrar um do outro.

    abrazos!!

    ResponderExcluir
  4. Meu caro, Eder, sempre bom ouvi-lo, vê-lo e lê-lo. Sua analise é pertinente. Principalmente quando pontua essa tendência monogâmica ou poligâmica dos relacionamentos.

    Concordo quando você comenta sobre a competição simbólica. Sendo um momento em que o corpo e as mentes "amadurecem" e que as posições se definem mais claramente diante dos valores, porém, na minha visão ainda existem os valores permeando o relacionamento monogamico, pois esse esta posto previamente no processo de constituição dos relacionamentos, justamente por essa herança cultural. O que vai diferenciar, são as posições dos atores em relação a construção desse relacionamentos que podem ser convencionais ou não-convencionais, como assinalei no texto.

    Quanto aos jovens-adolescentes diria que não apenas é uma fase de poligamia, devido também a ebulição dos hormônios, como também de descoberta da sexualidade.

    Quanto ao RENI. É um exemplo para mostrar a idéia do que eu chamo de "acordos", que se trata da relação entre bagagens culturais e individuais, as quais cada um constrói no seu trafego social, principalmente trazidas de outras experiências. Os acordos seriam uma espécie de ajuste dessas individualidades em prol de um objetivo comum, que satisfaçam perenemente ou momentaneamente as partes.

    Além disso, lanço a idéia de partir da construção dos relacionamentos por meio de "acordos", em contraposição as fórmulas prontas e acabadas.

    ResponderExcluir
  5. Caro Alysson,

    De fato tenciono concordar com as duas concepções na vida adulta. Por um lado, há essa cristalização da monogamia, fruto de uma tradição cultural cristã. Por outro lado, esse embate entre o que poder ser o não convencional depende de como casou-se também. Há casamentos arrumados, forçados, amados, odiados, fadados ao fracasso, de sucesso etc. A questão é que entre eles, há uma grande possibilidade de sempre haver o "pulo da cerca", tornando-o não propriamente poligamico como referi anteriormente [e aproveito para corrigir-me] mas menos fixo e estável entre aqueles que já começaram 'descasando'. Por fim, a dificuldade de manter um casamento atualmente deve-se ao fato da cultura sexual não ser mais a mesma.

    De resto, concordo com teus argumentos. Muito bom pra pensar!

    abrazos!

    ResponderExcluir