segunda-feira, 7 de junho de 2010

Sobre o terralien

Meu objetivo neste texto é falar sobre algumas idéias que me inspiraram em criar a denominação e a posição terralien do torto. A primeira delas é a que eu denomino certeza falsa da verdade; a segunda diz respeito à verdade ideal; e a última é o eu desterritorializado.

A certeza falsa da verdade segue a seguinte lógica: quando nós justificamos para nós mesmos determinadas formas de conceber o mundo, antes, faz-se necessário fazermos determinados questionamentos para confirmamos nossa opinião. Nossos questionamentos não existiriam se não houvesse dúvidas. Se perguntarmos: se isso é assim, por que isso é assado? Se acharmos um argumento convincente para essa pergunta, é por que graças a nossa dúvida resolvida, chegamos a aparente verdade.

O que eu quero dizer com isso? Que essa verdade, por mais certa que possa parecer, já veio de uma dúvida, e que, portanto, ela inevitavelmente não pode ser tão absolutamente correta assim. Na melhor das hipóteses, ela é verdadeiramente duvidosa. Portanto, por essa verdade ter vindo de uma dúvida, inevitavelmente essa verdade será novamente posta em dúvida, gerando de forma incessante, outros formas de verdades e, simultaneamente, outras formas de duvidar essas verdades.

A partir daí surge o que eu chamo de verdade ideal. A verdade ideal é uma tentativa incansável do sujeito em alcançar o Ideal. O indivíduo nunca desiste de tentar encontrar a verdade por ele se encontrar sempre diante de uma possibilidade de construir novos caminhos para encontrar o enigma existente entre as suas lacunas. Essas lacunas seriam o Ideal. Porém, essas lacunas nunca são preenchidas, pois por mais que os nossos pontos de vista acreditem encontrar uma convicção sobre a verdade que se busca, as duvidas, nunca deixam um espaço suficiente para acalentar essa verdade.

Levando-se em conta que a verdade é fruto de questionamentos, e, portanto, das dúvidas; e que por isso mesmo, a verdade não passa de uma mera tentativa frustrada de alcançar aquilo que ela acredita ser o Ideal; o individuo não passa de um eu desterritorializado. Por que um eu desterritorializado? A resposta é simples: se buscamos através das verdades, aquilo que não alcançamos, pelo fato das verdades não serem absolutamente verdadeiras, uma vez que elas são oriundas das dúvidas, aquilo que nós acreditamos ser, não passa de uma mera máscara que tentamos fazer da gente.

Portanto, se elencamos várias características para definirmos o que somos, o que de fato somos, não passa de infinitas tentativas combinatórias de concebermos o que somos. Se a verdade vem da dúvida, e não passa de uma tentativa frustrada de atingir o Ideal, o fato de ser terráqueo, por exemplo, não passa de uma mera verdade que nos foi imposta, e, portanto, de meras verdades falsificadas verdadeiramente de sermos terráqueos.

Levando-se por essa lógica, se de fato, nos dizem que somos terráqueos, a primeira coisa a duvidarmos, é se de fato somos terráqueos. O melhor é pensarmos que estamos no planeta Terra por que assim foi convencionado, mas andamos com os pés fincados no chão e com nossas cabeças pertencentes a um outro universo que não o planeta Terra, do contrário, não questionaríamos a vida, o destino, a morte e o próprio planeta Terra.

Por isso que entortadamente prefiro admitir que somos TERRALIENS.

20 comentários:

  1. Meu caro Vina Torto,
    Seguindo apenas nossos estintos a posteriore percebemos que o que conhecemos como percepção é apenas uma experiência com o mundo que estar dentro ou fora de nós. Portanto precisamos de uma apercepção das coisas, e isso ocorre de forma crítica e interdisciplinar. A suposta apreensão dos fatos ou dados que nos rodeiam podem ter valor real ou não. Por esta causa, precisamos de um fluxo constante de afirmações e negações para validarmos o que chamamos de conhecimento. Inevitávelmente o torto entende que o ser verdadeiro é tão falso qaunto o ser mentiroso ou duvidoso. Para mim enquanto torto, a tensão constante entre dúvidas e certezas é a fonte do conhecimento; conhecimento este que soma-se a outros até que se dilua novamente num mar de outras dúvidas que me levarão a busca de outras certezas.O torto entende, porém, que a nossa tentativa de chegarmos a um dado objetivo do real principia-se numa máquina bio-orgânica-psíquica que não pode ser dissociada do processo de apreensão da realidade. O que o pesquisador muitas vezes não entende é que seu discurso científico continua contaminado de preconceitos, pois o mesmo não pode ser separado do processo. O sujeito do conhecimento dialoga com o obejto do conhecimento partindo de si mesmo segundo sua leitura de mundo. O curioso é que até nas ciências "exatas" o sujeito continua presente como ser onipresente nas ciências. Portanto uma ciência multidisciplinar é premente se quisermos ter uma aproximação mais apurada da realidade. O multidisciplinar são vários olhos vendo o mesmo objeto e em diferentes lados. Infelizmente Descartes anda rodando as mentes de professores e alunos de todos os níveis de nossa educação. A fragmentação no ensino é também fragmentação na pesquisa e fragmentação nos resultados. O tempo que hoje vivemos e que chamam de Pós-modernidade faz necessário uma ruptura no curso das epistemologias que defendem a imparcialidade e e ausência de subjetividade em ciência, e isso é romper com o mito de uma ciência de um olho só, de especialistas e doutores nisso e aquilo, e que só respondem por esta o aquela área do saber. Prescisamos, é lógico, de resutados objetivos e especializados, contudo, estes tados devem ser contextualizados numa visão maior do que seria ciência.

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  3. "porém, essas lacunas nunca são preenchidas, pois por mais que os nossos pontos de vista acreditem encontrar uma convicção sobre a verdade que se busca, as duvidas, nunca deixam um espaço suficiente para acalentar essa verdade" = resumo da existência.

    Seu Roos, esqueceu apenas que, não obstante possamos vir a conseguir uma verdade mais próxima da real com a multidisciplinaridade, ainda assim, trazemos-nas com olhos humanos, o que, voltando a ótica do Vina, por si só, invalidaria todo o processo, já que essas verdades, por mais que perscrutadas sob indefinidas subjetividades, mesmo juntas e interconexas, surgem de incertezas tomadas como válidas a partir de um referencial imposto, ou lacuna, como quis o autor. Corremos o risco de, ao intercalarmos nossas dúvidas 'axiomadas', cair em uma verdade que de tão concisa nos ponha numa ilusão ainda mais densa.

    Mas nada sério. É só um questionamento despretensioso de minha parte.

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  4. Meu caro lou,
    Achei o seu comentário perntinente e alinhado com nossa visão torta. Contudo o que o Cacique tentou passar foi isso mesmo. Por essa razão a palavra fluxo é usado no texto em vez de linearidade. Pois, muitos pensam que o conhecimento é linear e acumulativo. A desconstrução é uma variável constante em nossa tentativa de construir o real em nossas cabeças.

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  5. Pois é meu querido Roosevelt,

    O grande erro do humano pós-iluminista é achar que só tem razão, é achar que é capaz de apreender a objetividade dos fenômenos, é acreditar que pode encontrar uma equação de algo tão complexo como a realidade, relacionando dados, captando regularidades e certezas.

    Somos bichos com fome e com sede. Somos um universo cindido entre o mundo simbólico o qual nos faz acreditar que o sentido que damos as coisas, de fato é o sentido do mundo; mas dividindo um espaço com ele, temos o lado bicho que rosna, que se submete aos ditames das meras percepções instintivas e que anda pelo mundo.

    O humano sumbólico que produz sentido sobre a sua existência é um terráqueo que classifica e se localiza em suas classificações, seja como nordestino, carioca, brasileiro, terráqueo, etc; o humano bicho reage, mistura-se com a natureza e desprende-se do conectivo simbólico que lhe proporciona sentidos sobre a vida, enfim, não possui nem classificações, nem localizações.

    Estamos em um lugar sem saber onde estamos. Somos terraliens

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  6. Querido Lou,

    Você está com a razão ao tecer a sua observação. No entanto, eu gostaria de dizer que, pelo fato de termos a nossa frente as convenções construidas pela cultura, nós damos sentidos as coisas, mas pelo fato dessas coisas terem sido apenas construções, inevitavelmente requestionamos essas próprias verdades.

    As coisas não possuiem um sentido em si mesmas. O sentido somos nós que damos a elas, e por isso mesmo, elas estão constantemente sendo refutadas pois o que achamos sobre elas não foi uma criação que se encontrou mais além do que dos próprios limitados dominios do humano.

    E é devido a essa condição que mesmo com a multidisciplinaridade, mesmo construindo uma heterogenea rede de saberes, não atingiremos a verdade em seu sentido absoluto, pois as verdades por serem oriundas de palavras, sempre darão brechas a novos significados e a novas interpretações.

    O que Rossevelt quis dizer é que com o exercicio em olhar o mundo de forma multidisciplinar, aprenderemos a analisar a realidade de forma menos prepotente, sem as velhas classificações simplistas e limitadas. Pelo menos foi isso que eu entendi

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  7. Concordo em tudo, inclusive na visão que teve do comentário do Mestre Ross. O que apontei é que, ao nos tornamos menos limitados, perdemo-nos em classificações maiores e aida mais complexas, sem estar menos equivocados do que antes, malgrado com firmeza maior, pensando-nos menos deturpados e ignorantes, o que não ocorreria sob a hipótese de termos evoluído da menção equivocada. Algo como sucessões do "acertar a escolha errada" de sua canção. Mas entendi, sim, e os creio ambos pertinentes em suas colocações, apenas completando-as, se é que não estamos todos engodados!

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  8. Meu caro Lou,
    O torto admite o engoldo de nossas concepções. o torto é torto porque enquanto eterno questionador sem cair no abismo sofista acredita e desacretida até em si mesmo. às vezes penso será que o torto é mais uma convenção?

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  9. A verdade que me tange, Seu Ross, desculpe-me a sinceridade, é que minha sanidade mental não tem a flexibilidade necessária à um Torto. Se eu vier a me tornar um de vocês, vou acabar no Juliano Moreira. De toda sorte, imagino poucos fins melhores do que este à minha existência. Lá terei paroxetina gratuita! =P

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  10. Tenho muitas vezes "uma pulga atrás das orelhas" com os textos dos colegas, especialmente os de Roosevelt. Parece querer demonstrar que, se nos observássemos como seres com desejos instintivos, seríamos mais condecendentes com a natureza, menos destrutivos. Não é justamente o desejo, sempre insatisfeito, que nos transforma em puros destruidores? O simbólico, cantado pelo Vina, não é somente uma objetificação desse plano do animal, um norte momentâneo de ação do instinto, sempre falível, porque, seres errantes, tortos, queremos sempre superação, dominação, satisfação. O mundo dos instintos está mais para os textos de Sade que para um mundo dos ursinhos carinhosos. É minha opnião. Sem razão, sem Deus, tudo é possível. Não existe ética, julgamento moral da natureza! Outra coisa, a completa tortidão está superada, a linguagem impede a total destruição do mundo simbólico, feita pelo homem e para o homem. A classificação é infalivel. Porque Vina fala em cachorro e logo aponta para um quando o vê? Sabe porque ele faz isso, faz porque, implicitamente, tem uma definição das características do cachorro, classifica também o mundo. Os tortos deveriam escrever textos sobre a linguagem. Seriam textos interessantes. Deveriam mostrar como a linguagem é a uma violência. Sabia que nem a linguagem deixa vocês enxergarem-se como tortos. Trago uma citação do Niestszche:

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  11. “O que chamamos de “eu”

    A linguagem e os preconceitos sobre que se edifica a linguagem formam muitas vezes obstáculo ao aprofundamento dos fenômenos interiores e dos instintos: porque não existem palavras senão para graus superlativos desses fenômenos e desses instintos. - Ora, estamos habituados, quando as palavras nos faltam, a não observar com rigor, porque é penoso pensar com precisão; chegava-se até mesmo outrora a decretar involuntariamente que onde cessa o reino das palavras, cessa também o reino da existência. Cólera, ódio, amor, piedade, desejo, conhecimento, alegria, dor – são todos nomes que convém apenas a condições extremas; os graus mais ponderados, mais medianos nos escapam, mais ainda os graus inferiores, incessantemente em jogo, e no entanto são eles que tecem a trama de nosso caráter e de nosso destino. Ocorre muitas vezes que essas explosões extremas – e o prazer ou o desprazer mais medíocre, dos quais somos conscientes, seja provando uma comida, seja escutando um som, constituem talvez ainda, segundo uma avaliação exata, explosões extremas – rasgam a tela e formam então exceções violentas, quase sempre consecutivas a acumulações: - e como podem elas, a esse título, induzir o observador ao erro! Exatamente como enganam o homem de ação. Todos, enquanto somos, não somos o que parecemos ser segundo os únicos estados em que temos consciência e pelos quais temos palavras – e. […]
    Por conseguinte, a recriminação e o elogio; nós nos desconhecemos segundo essas explosões grosseiras, que só por nós são conhecidas, tiramos conclusões a partir de uma matéria em que as exceções ultrapassam a regra, enganamo-nos ao ler esse escrito confuso de nosso eu, aparentemente claro. Entretanto, a opinião que temos de nós próprios, essa opinião que formamos por esse caminho errôneo, o que chamamos de “eu”, trabalha a partir de então para formar nosso caráter e nosso destino.” (Aurora – § 115)


    “(...) A nós, seres orgânicos, nada interessa originalmente numa coisa, exceto sua relação conosco no tocante ao prazer e à dor. Entre os momentos em que nos tornamos conscientes dessa relação, entre os estados do sentir, há os de repouso, os de não sentir: então o mundo e cada coisa não têm interesse para nós, não notamos mudança neles (como ainda hoje alguém bastante interessado em algo não nota que um outro passa ao lado). Para uma planta, todas as coisas são normalmente quietas, eternas, cada coisa igual a si mesma. Do período dos organismos inferiores o homem herdou a crença de que há coisas iguais (só a experiência cultivada pela mais alta ciência contradiz essa tese). A crença primeira de todo ser orgânico, desde o princípio, é talvez a de que todo o mundo restante é uno e imóvel. -

    Nesse primeiro nível do lógico, o pensamento da casualidade se acha bem distante: ainda hoje acreditamos, no fundo, que todas as sensações e ações sejam atos de livre-arbítrio; quando observa a si mesmo, o indivíduo que sente considera cada sensação, cada mudança, algo isolado, isto é, incondicionado, desconexo, que emerge de nós sem ligação com o que é anterior ou posterior. Temos fome, mas primariamente não pensamos que o organismo queria ser conservado; esta sensação parece se impor sem razão e finalidade, ela se isola e se considera arbitrária. Portanto: a crença na liberdade da vontade é erro original de todo ser orgânico, de existência tão antiga quanto as agitações iniciais da lógica; a crença em substâncias incondicionadas e coisas semelhantes é também um erro original e igualmente antigo de tudo o que é orgânico. Porém, na medida em que toda a metafísica se ocupou principalmente da substância e da liberdade do querer, podemos designá-la como a ciência que trata dos erros fundamentais do homem, mas como se fossem verdades fundamentais." (Humano, demasiado humano – § 18)

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  12. A linguagem, Vina, leva a esses erros comentados por Vossa senhoria. É possível livrar-se da linguagem, deixo a bola com Vossa maestria! Abaixo trago uns textos meus que podem ajudar no assunto. Peço-lhe que escreva sobre o assunto. Sera importante na guinada de vocês rumo a tortidão! Como sempre, será muito mais didático - o que não deixa de ser produndo - que eu!

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  13. A linguagem é uma técnica criada pelo homem para facilitar a vida em meio as turbulências da natureza. A comunicação necessita da linguagem e através da línguagem surge a com-unidade. Os relacionamentos intersubjetivos necessitam de uma unidade de sentido, de um catálogo do mundo sintático. Existe, portanto, uma ligação intríseca entre o surgimento da linguagem e o surgimento da sociedade.

    A linguagem é o estabelecimento de um conjunto de significados estáveis - mesmo que assistamos a flutuação da língua - para que as pessoas consigam se unir e dominar a natureza. Ela é (foi) uma técnica de fortalecimento da espécie. Entretanto, com o tempo, os homens, depois de convencionado o católogo, não conseguem mais sair da estrutura nominal sintática da língua, desse mínino de sentido criado, e ficam aprisionados na própria teia lógica dos nomes e construções frasais. A língua, de técnica, torna-se o mundo possível para todos os integrantes da sociedade.

    Surge um mundo além do mundo existente. Se o mundo existente é em devir e multifacetado, o mundo da linguagem é sobremaneira estático. A metafísica surge por causa da linguagem. A teoria do ser aparace em sintonia com a necessidade de comunicação. O nome, técnica de união de membros de uma espécie, transforma-se no ser enquanto ser e na substância. Começa o processo de deificação da técnica e a estabilização dos limites para o pensar humano. O mundo da língua torna-se o real e o real existente torna-se uma cópia da língua. Inversão de mundos. O convencional torna-se o verdadeiro e o real, em devir, o fictício.

    O nominalismo trouxe a teoria do ser. Através da linguagem surgiu a teoria da identidade. O nome é aquilo que há de comum nos diversos seres particulares. A substância onde se inscreve os predicados, categorias, estados, afecções nada mais é do que o nome, uma técnica, transformado em um objeto além do tempo e do espaço. Aristóteles dá razão a isso quando na Metafísica diz: "Com efeito, não ter um significado determinado equivale não ter nenhum significado; e se as palavras não têm nenhum significado, tornam-se impossíveis o discurso e a comunicação recíproca e, na verdade, até mesmo um discurso consigo mesmo. De fato, não se pode pensar nada se não se pensa algo determinado; mas se é impossível pensar algo, então pode-e também dá um nome preciso a esse determinado objeto que pensado. Fique, portanto, estabelecido, como dissemos no início, que o nome exprime um e só um signifcado determinado".

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  14. A linguagem é alienante como a própria economia. Crescemos os escritos com nossa contribuição discursiva e quanto mais crescemos esse conjunto, mais ficamos presos em sua engrenagem. Portanto, ou o marxismo errou o alvo, ou é preciso reelaborar a tese do fetiche e da alienação. Mesmo que abolissemos os inconvenientes da divisão do trabalho, ou o processo de restrição da liberdade do homem em favor dos bens materiais, tese implícita nas elucrubações de marx, sobrará aquilo que sustenta todos os inconvenientes da teoria da identidade, das estruturas infalíveis, do mundo estável e congelado, que é a linguagem.

    A teoria do valor alienante e medida de todas as coisas não está somente na relação de trabalho, está também nas relações de comunicação, bem mais difíceis de serem mudadas, porque sobretudo o homem, é um ser que vive em rebanho. Temos a peculiaridade, dentro de nossa espécie, de viver juntos e, para tanto, construímos todo esse arranjo que facilita nossos contatos e a expressão de nossos desejos.

    Diz bem Aristóteles, quando diz que o homem, pelo fato de precisar da mulher para dá permanência a espécie, através da cópula, ser um ser social. E a linguagem, como toda técnica, surge ligada às necessidades do organismo, aos aspectos naturais e instintivos, mas com o tempo parece ter se desligado de todos esses aspectos e virado um mundo além de nosso mundo do dia-a-dia, orgânico e afetivo, bastante mutável.

    A metafísica realista tornou necessaria a linguagem quando partiu para objetificar os significados através da definição infalível, através do critério da necessidade. Ou seja, tentou doar objetos aos nomes, quando na verdade deveria torná-los mutáveis ou cantar sua mutabilidade e convencionalidade. A metafísica dos idealistas trouxe a transferência das consequências da linguagem para o plano do sujeito. Nos idealistas a linguagem, que na antiguidade foi o mecanismo para construção da teoria do ser e suas categorias, foi transferida para dentro da subjetividade e transformou-se na lente em que os seres humanos veem o mundo. A teoria de Kant, que justifica a autonomia e um plano ético além da experiência, como um factum da razão, só fez mudar o enfoque da linguagem, que saiu do significado e foi parar no significante, agora transformado em estrutura da própria língua.

    Cada cultura utiliza - ou modifica alguns usos - a linguagem de um modo peculiar, embora exista sempre uma estrutura sempre fiel e idêntica no tempo, que não muda. A linguagem, técnica de domínio da natureza, tornou-se necessidade. "Aquilo que não pode ser diferente do que é". E essa necessidade é sustentada pela sociedade, pelo medo das consequências de não conseguirmos nos comunicar. Os homens não conseguem sair desse mundo da linguagem - apesar de sua fluidez, existe nela um núcleo duro sustentado pela própria sociedade - a partir disso fazem um processo de deificação dela.

    Para sair desse arcabouço, basta novamente retornar para o significado, desmonstrando que ele é sempre além de qualquer nome, justamente porque ele é em devir e múltiplo. Que o homem sempre terá a necessidade de aprimorar e acrescentar novos nomes as coisas dentro dos signos já existentes, porque surgirão situações e coisas não integradas na classificação da linguagem. Deve-se fazer o caminho inverso daquele que foi feito pela metafísica ao criar uma grade para nosso pensar.

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  15. É muito difícil a constituição do caminho exato que o homem fez para criar a linguagem. O nome entra sim numa classificação construída para ser útil no domínio da natureza. O nome é nossa primeira intervenção positivista, violenta. Justamente por isso a metafísica realista utilizou a necessidade da linguagem para imprimir uma certa imposição de cunho formal, de um mundo além da experiência. A metafísica parece ter invertido o processo.

    Certa vez em uma conversa disse ao Edivan:

    "Aristóteles foi bem mais experto. Criou a essência - forma - substância - universal e juntou com a matéria - particularidade - acessório e deu surgimento a questão do substrato. Ou seja, produziu uma teoria em que o particular convive com o universal imanentemente. Nesse caso, a forma em si é ato e a matéria é ser em potência, o movimento é a constante atualização da forma na matéria que dão surgimento aos sínolos (existentes sensíveis)."

    Depois perguntei:

    "Se lhe dessem determinado material, por exemplo, vidro e o pedissem para fabricar (suponhamos que você tem a arte de fabricar copos) copos, onde está a realidade do copo como universal? Na sua arte, não é? O copo particular deve surgir de um copo imaterial, a forma (definição) na cabeça do artifice. É como se a realidade do copo fosse depositada na matéria para que surgisse um determinado copo. Então o que torna o copo "um copo" é a essência de copo em um copo particular. O que diferencia um copo de garfo ou de um prato, a definição do copo. O que diferencia o copo de plástico de um copo de vidro, a matéria. A teoria de Aristoteles é bem engenhosa."

    Por incrível que pareça recebi uma resposta que cabe exatamente em nossa elucrubação:

    "Sobre o conceito de forma em Aristóteles, hoje essas denominações, forma, matéria, substância, parecem ter perdido qualquer validade ou sentido, tornando-se abstrações equivocadas (só uma opinião pessoal). A ideia (forma) do copo não existe como realidade para além do copo, mas já é um conceito, uma derivação linguística retirada da experiência do copo ou do seu próprio ser feito. Ou seja: fazemos o copo, denominamo-os por copo, então derivamos o conceito constituido empiricamente e tornamos a isso uma substância, daí trazemos o fim da operação para o início, como se ele já estivesse lá antes da nossa atividade."

    Edivan parece ter explicado como surgiu a metafísica nessas palavras acima. É o que penso também. O homem classificou o mundo e depois tornou imutável a classificação, através das dificuldades de romper com a linguagem.

    A metafísica realista utilizou da necessidade da linguagem para imprimir uma certa imposição de cunho formal, um mundo além da experiência. Transformou o nome convencional em forma e definição além dos sentidos. Mas o próprio Aristóteles cai em aporias, pois se a forma é dedutiva no conhecimento e perceptível como relação ao particular, como o homem pode ter certeza que ela existe se ela perpassa o discurso verdadeiro?

    Aristóteles fala da intuição, outras vezes da necessidade, ou seja, a definição é captação da essência da coisa, daquilo que ela não pode ser diferente, senão se descaracteriza como ser uno e determinado perante outras coisas. Será que a linguagem, com seus signos pré-formados, não ajuda Aristóteles provar a teoria do ser?

    Claro que a necessidade de comunicação impõe certa plausilidade nas questões levantadas pela metafísica e por isso uma certa recorrência desse mesmo mecanismo de ver o mundo. Tem um livro da Viviane Mosé que trata do tema através de Nietszche. O nome do livro é "Nietszche e a grande política da linguagem".

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  16. Fiu muito criticado enquanto estudante das Ufs sobre a filosofia do dito. Esse projeto continua inacabado. São coisas do Brasil, preciso trabalhar. O sintagma é ideologia pura, isso é fato. Assim como o dito meu é parte do dito teu, estamos sempre dizendo algo e dizendo nada, pois o que digo já foi dito. O dizer é um fluxo contínuo compartilhado por uma humanidade que se afirma e se nega no diz. A ciência que si diz exata precisa da língua para expor suas teorias por esta razão si nega pois precisa inventar novos ditos que fatalmente cairão em contradição em uma outra afirmação que lhe será naquele momento uma negação do seu dito. Mas o que é isso? Senão uma cadeia de ditos que nunca cessará enquanto existirem homens sobre terra.

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  17. Há outro problema muito bem levantado pelo Wittgenstein. A linguagem permite exergar a existência ou forma uma grade para o pensar? Como falar de real se utilizamos o nome? Captamos o real ou captamos o nome que doamos ao real que achamos real?

    Mas concordo, é coisa do Brasil, não há incentivo ao pensar! O importante são as tentativas, o burilar, parabéns! Vejo grande honestidade em suas tentativas, como faço - tento fazer - com o direito.

    Força!

    Anderson Eduardo do Couto

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  18. Lou,

    essas discussões mais profundas são boas pessoalmente!

    abs

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  19. Meu caro Anderson,
    O que é o direito senão mais um dito-mito. será que o amigo acredita realmente que o direito é direito e que as a justiça é feita? Afinal, o que é direito? Vivemos em uma realidade de convenções onde os conceitos são fluidos e o que parece ser ser pode Não ser o que parece. A putabilidade é um mal necessário por força do processo civilizatório. Isso não se pode inverter, mas quando falando do homem pelo viès psicanalítico, não podemos afirmar com 100% de certeza o que é que estamos dizendo. "100% de consciência é empíricamente impossível em psicanálise" (Jung) Logo inferimos que o estado de normalidade ou o Estado de Direito é o estado de neuróticos. Além do mais a ilusão direito universal e igual para todos como se pensa no senso comum cai por terra ante o processo histórico relacionado à massa que domina e faz as leis e a massa dominada e alienada que não pode intevir nesse processo. A parte que lhe cabe é a idéia que a justiça tem sido feita. Para conceber-se o direito precisamos de uma idéia concreta do que é certo e errado e, é claro, uma potência para a consecusão objetiva do mesmo. A história mostra que esta pot~encia se volta contra os fracos e os manipula. O direito existe em momentos específicos para aqueles que o podem comprar. No nosso caso, o mecardo jurídico está muito longe de ser democrático. Assim, o torto nega o direito enqaunto realidade concreta, objetiva e universal, e o afirma enquanto necessidade dos homens de se organizarem, mesmo sabendo que cada ordem é um caos particular. nada é nada até que se diga. Então diga sem falar pela boca do outra, pois o intelectual pode ser umgrande alienado, u contador das estórias dos outros.

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