Quando eu escrevo em meus textos que o torto transita entre a sua necessidade constante de expressar seus desejos (valores, subjetividade), e entre a sua consciência do inevitável limite dado a esses desejos (lei, objetividade), eu não quero propor uma garantia de relações meramente harmônicas entre esses dois universos. Apesar de mostrar que o torto busca lidar de forma diplomática entre os distintos objetivos encontrados entre esses dois pólos, eu não quero acreditar que o torto lida sempre de forma estável nessa relação.
Primeiro eu gostaria de dizer que o torto é um humano, e assim como qualquer humano, possui seus preconceitos. Apesar do torto saber que não existe nenhuma verdade única, o torto, assim como qualquer agente submetido aos modelos morais estabelecidos pela sociedade, possui suas classificações como padrões do que seja certo, e do que seja errado. É por ter essas classificações infiltradas nele que o torto, por se encontrar tão habituado com elas, muitas vezes nem se apercebe que essas classificações não passam de convenções, e por isso mesmo são refutáveis. Nesse instante é que o preconceito se revela.
O preconceito se revela por que o torto por ser humano, inevitavelmente é carne, alma e sangue transitando por suas veias, e que por isso mesmo, o torto em seu momento de impulso, pode se esquecer dos seus ideais encontrados por ele em sua forma de pensar o mundo e estourar, brigar, gritar, ofender. Pois, se por um lado, o torto busca respeitar os valores do outro, por outro lado, ele busca se fazer reconhecido ao outro, visto que o torto, por também ser produto do meio, é a projeção do outro, e, portanto, exige os seus valores também.
Quando o torto acha que o outro desrespeitou seu espaço, ele reage. Porém, é bom ressaltar que o torto não desliza em suas próprias convicções apenas quando ele percebe que o outro invadiu seu espaço. Pelo torto possuir também suas classificações, inevitavelmente ele aprova ou reprova determinadas condutas, e por isso mesmo, ele não está livre em ser inconveniente, falho, mal educado e impulsivo, invadindo também o espaço do outro.
A diferença é que, mesmo não estando livre em falhar com o outro, o torto admite que, mesmo não aceitando determinada conduta, ele, assim como qualquer outro indivíduo, não detém a capacidade de possuir uma verdade plena sobre as coisas. É por isso que, mesmo sendo capaz de criticar a postura do outro, o torto sabe que, assim como aquele a quem ele direciona sua reprovação, ele também é um sujeito frustrado que critica o outro justamente por também ser um idiota que não passa de um ser errante de si mesmo.
Apesar do torto propor ajustes em lidar com sua vontade e com os limites dados a essa sua vontade, ou seja, de propor um relacionamento harmônico com os opostos; o torto, por possuir classificações, também assume muitas vezes uma postura que não consegue ser condizente com a relação que ele mesmo justifica como positiva em seus argumentos, afinal, o torto é humano demais.
O torto tem como fim o esboço do ser humano a cru, entremeado entre aquilo que deseja e aquilo que é, sendo, portanto, também, um ser que leva tais posicionamentos para tudo aquilo que ornamenta a existência, dentre tais confeites, a arte, até porque esta é uma mímese do que somos: desenha as nossos egos convencionados e essas mesmas convenções em tamanho mínimo, o que faz com que tenhamos um olhar mais científico sobre o que representamos no plano social, germinando em nós a dúvida sobre como devemos agir, a que devemos seguir, etc. João Maldito
ResponderExcluir