sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
O manifesto torto por Roosevelt Leite
Pensar o torto não significa necessáriamente pensar torto. Sabe-se que literalmente é impossível entortar o pensamento. Então, vejo o torto como algo que veio para provocar reações, fazer o cataléptico mover-se e caminhar com suas próprias pernas, ou melhor idéias. O torto é torto porque foge das convenções, não se obriga a trabalhar paradígmas, nem se desobriga de nenhum dos dois. O torto deixa a mente livre, arejada, para pensar o que quiser, e no quisito arte literária, escrever o que quiser e achar certo. Alguém dirá: Mas isto já existe! Bem, deve existir outros tortos pelo mundo. Que eles se manifestem, escrevam, produzam, e entortem o mundo até mostrar as entranhas, ou melhor, suas contradições. Lembra? Aquelas coisas que estão no nível do inter-dito, do discurso ideologicamente ordenador, provocador de reações condicionadas, de comportamentos padronizados e sustentadores de um discurso base: "Há uma ordem e não um caos". O torto é subversivo, é guerrilha, é destruidor de idéias voláteis, de castelos de chocolate com calçadas de balas. O torto é periferia, é marginal, é burguesia. É todo mundo conversando e vendo o que está, ora admirando-se, apaixonando-se, ora incomodando, cutucando o bicho papão mascarado de messias. É isso, que os tortos apareçam para após nossos colóquios, descobrirmos que pelo menos tentamos dizer algo novo, que hoje é torto, amanhão, como tudo mais, será mais uma palavra dormindo no berço de sua diacronia...
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Se ser torto corresponde a ser subversivo, não sou um torto. É necessário se pensar em duas proposições: dentro do torto há subversão? ou o próprio objeto do torto, a realidade torta, é a subversividade?
ResponderExcluirAcredito que as minhas idéias sobre o nosso objeto de estudo são tão límpidas e sinceras quanto o passar dos rios límpidos e correntes que vão ter com o mar. João Maldito
Querido torto Roosevelt,
ResponderExcluirConcordo profundamente com suas palavras. Acredito que o torto seja subversivo e conservador em um mesmo instante de tempo. Como a sua pessoa bem escreveu, o torto é marginal e burguês. Se por um lado ele critica a dita direita, por outro lado, ele reconhece falhas na dita esquerda; do mesmo modo que, se ele aceita a dita esquerda, ele reconhece os inúmeros pontos frutiferos da dita direita. Ele critica a estrutura, querendo se inserir no sistema.
O torto é um inovador obsoleto. Inovador por ele valorizar a sua subjetividade, e, portanto, inevitavelmente gerar coisas novas, visto que, ninguém é plenamente igual a ninguém, uma vez que mesmo um individuo se assemelhando ao outro, inevitavelmente em algum momento, ambos vão ter pontos de vista que vão diferenciá-los em relação ao outro. Obsoleto por saber que a postura torta de ver o mundo não tem nada de inovadora, pois em todas as epocas da história, sepre houveram os tortos, mesmo que o termo torto não fosse usado por eles. Por exemplo: eu posso citar dois personagens que considero que tenham sido tortos que foram, Chacrinha, Sócrates e Jesus Cristo.
No entanto, tenho que lhe dizer que nossos pensamentos se entortam sim. Posso dizer inclusive, que eles vivem se entortando, do contrário, não respiraríamos contradições e paradoxos em nossos discursos e em nossos atos.
Para finalizar, parabéns pelo seu texto, e como você bem observou, o torto é agora, talvez amanhã. Ele é um ser submetido as convenções sociais como qualquer outro, e como qualquer outro, pode desaparecer e virar uma peça de museu em uma imensa sucata.
A diferença é que o torto admite que vive renascendo por estar sempre se suicidando, se auto destruindo, se reconstruindo, encontrando novos atalhos e chegando sempre aos velhos caminhos sem saida. O torto anda com uma bússola na mão, mas perdido em seus referenciais. Demarca seu território gritando ao mundo que não pertence a nenhum lugar.