Se tem uma coisa que seja capaz de irritar o torto, essa coisa se chama liberdade sem limites. Apesar do torto buscar sempre justificar para si mesmo que a independência é algo enriquecedor para ele e para qualquer sujeito, uma vez que o pensar por si mesmo, possibilita com que ele re-questione a realidade na qual ele se encontra, desnaturalizando assim, as verdades que nos são impostas, a liberdade prezada pelo torto é a liberdade convencionada.
Por outro lado, se há outra coisa que seja capaz de irritar o torto, essa coisa se chama total submissão às leis. Apesar do torto admitir que as leis são importantes para proporcionar uma organização de sentidos entre as pessoas, ele admite que as leis, por mais verdadeiras que possam parecer, estão sempre prontas para serem refutadas, uma vez que as leis, não passam de construções subjetivas. É devido a isso que o torto preza pela possibilidade de viver livremente, porém, de forma que não transgrida as normatizações impostas pela sociedade.
É pelo torto saber que, por um lado, nega a total submissão, e por outro, nega a total independência, que ele preza pelo exercício do que nosso querido torto Josué Maia chamou de hipocrisia benéfica. O que seria isso? Para mim, a hipocrisia benéfica, traduz-se como uma autonomia de etiqueta. Ou seja: na hipocrisia benéfica, o torto admite que apesar de ter suas opiniões, inevitavelmente ele é produto do meio, e que por isso mesmo, ele necessita se ver pertencido a esses padrões que ele mesmo condena, e para se sentir pertencido, ele tem que se utilizar também das etiquetas.
Portanto, a hipocrisia benéfica é um exercício consciente do torto em saber que, apesar de ter como qualquer sujeito, sentimentos relacionados à raiva, ao ódio, etc, inevitavelmente ele cria expectativas para os modelos de comportamento impostos por essa estrutura, e que, portanto, cabe a ele saber buscar recursos que são estipulados pela ética e pela moral com o intuito de tornar sua relação com o outro, a mais benéfica possível.
Não que a hipocrisia benéfica signifique uma tentativa de anular os conflitos, uma vez que, se para o torto, a subjetividade é algo inerente ao indivíduo, obviamente que os conflitos são inevitáveis em qualquer relação; porém, o torto sabe que ele se encontra submetido aos padrões sociais, e que assim como qualquer outro, ele cria expectativas em relação aos padrões de conduta instituídos por essas convenções.O torto ao exercitar a hipocrisia benéfica, por se ver submetido a uma lei, a uma convenção, ele tende a ser hipócrita, utilizando-se ao mesmo tempo dessa hipocrisia, para evitar colisões com o que os cerca, mantendo assim, uma postura benéfica.
Agora o que me intriga é quando essa Hipocrisia benéfica perpassa a lógica da boa convivência, que objetiva por reduzir as colisões com os que nos cercam, e adentra no campo, por exemplo, das relações sentimentais. Será que quando dizemos que amamos alguém fazemos isso por um mero capricho ou fetiche de tentar conquistar o outro ou por realmente sentirmos tal sentimento em relação a outra pessoa? Caso seja devido a primeira opção, haveria alguma benesse em ser hipócrita? João Maldito
ResponderExcluirA hipocrisia benéfica é um jogo de negociações que busca atingir interesses individuais, mas ao mesmo tempo busca garantir os limites impostos pelo social. Portanto, a hipocrisia benéfica existe tanto entre a lógica da boa convivência, como entre as relações de cunho mais intimistas e sentimentais.
ResponderExcluirA hipocrisia é uma forma de nos postarmos com a intenção de não machucarmos as pessoas. Apesar de prezarmos pela sinceridade, os tabus instituidos pelos modelos de comportamento sociais, muitas vezes nos dificulta em lidar com essa sinceridade tão glorificada por nosso discurso.Portanto, antes uma omissão (que é bem diferente de uma mentira), a uma sinceridade que venha ferir e desestabilizar os sentimentos de uma relação.
Nada fazemos ao outro, se o que fazemos não nos venha a trazer recompensas. Portanto, em uma relação sentimental, por mais que nós buscamos sentir com espontaneidade o carinho que investimos a uma outra pessoa, tenha certeza de que, se nós não sentissemos nada em relação a essa outra pessoa, inevitavelmente não ganhariamos o carinho que nós sentimos em nós mesmos, e portanto, não haveria relação sentimental, visto que não haveria interesses.
Olha, Vina, não é por nada, mas acho que às vezes voce dá enormes voltas com o seu discurso. Falas de um sentimento que me parece não um sentimento, mas uma axioma filosófico que cabe dentro das nossas conjecturas. Acredito que não é intenção do Torto se chegar a um estado estático, ou seja, num ponto onde nada se diverge, pois, através das convicções, se chega a uma perfeição onde as subjetividades não devam se confrontar, mas somente se entender. Acredito que não me convém estabelecer-me na vida como um ator de um teatro que existe de fato; penso ser a minha vida mais substancial, embora não seja coisa nenhuma, quando vou de encontro, quando olho com cara feia; meu objetivo, na vida, sendo eu alheio às convenções e dogmatismos, não [e firmá-los de modo que se estabeleçam para uma eternidade, mas ofender, ofender até quando não mais puder, porque eu sou aquilo que o Camus chama de homem revoltado. João Maldito
ResponderExcluirDe fato, não é intenção do torto se chegar a um estado estático. Em nenhum momento, eu levei em meu texto, a crença de que, através das convicções, eu pudesse chegar a uma perfeição na qual as subjetividades não pudessem se confrontar, tanto é que eu pus em meu texto uma observação: "não que a hipocrisia benéfica signifique uma tentativa de anular os conflitos".
ResponderExcluirO que eu quis dizer em meu texto, é que o torto sabe que necessita negociar com as expectativas, uma vez que ele tem consciência de que, ele por também ser produto do meio, possui, assim como o outro, expectativas, e assim como o outro, exige respeito.
Em nenhum momento eu retirei o estatuto de humano do torto, a ponto de não pensar na possibilidade do torto ser capaz de ofender o outro, assim como você disse em seu comentário. Inclusive eu disse no texto: "um exercício consciente do torto em saber que, apesar de ter como qualquer sujeito, sentimentos relacionados à raiva, ao ódio".
Outra coisa: realmente posso afirmar que eu dou voltas e voltas em meu discurso, principalmente se tratando de uma explanação do que eu entendo como torto, visto que para mim, o torto também arrodeia, busca encontrar sentido em tudo, e no fim, chega a um lugar cheio de vazios, porém, territorializado por fronteiras definíveis, apesar de suas evidentes indefinições.
Porém, é por isso mesmo que, apesar de pensar diferente de você, eu adorei o metacômico, termo criado por você, pois o metacômico, é justamente isso: a consciência do torto saber que o que ele pensa não passa de meras fantasias, e que portanto, não precisa ser pensado; porém, nunca deixa de ser pensado, uma vez que, inevitavelmente, as nossas fantasias, por se encontrarem incorporadas em nós, nos estimulam a buscar mais e mais respostas para darmos um sentido preciso, que na verdade, nós sabemos que elas não têm.
Daí a importância do riso rindo e dando limites ao proprio riso, justamente por saber que o fato de rir é justificável pela realidade ser um saco de besteiras fantasiosas, mas ao mesmo tempo, uma realidade que se torna séria devido as nossas idiotas fantasias.
É isso meu querido