Já que não possuo deveres para com a humanidade, senão a manifestação hipócrita de uma compreensão que não ostento, pois, apesar de sempre abrir os meus ouvidos para aquele que me fala, a minha boca se enche de saliva por tanto querer cuspir-lhe bem no meio do rosto, vejo-me na obrigação, pois, de soltar a língua e denegrir essa espécie da qual, por infelicidade, também faço parte.
Sinto pena daqueles que se reúnem em grupos com fins filantrópicos, uma vez que o seu corpo, embora composto por uma maioria fétida, será moldado por algumas pessoas detentoras de certa seriedade que, mesmo que ligadas inconscientemente a uma razão de ser que busca o enlevamento de suas individualidades, sendo aquele grupo do qual faz parte um artifício que lhes serve de degrau na busca por poder, a corja dos que não sabem dissimular é fator que recorre em tais grêmios da insolência declarada, não sabendo esses discriminar a arrogância branda feita por detrás de máscaras, da escarnação de arrogância imoralmente praticada aos olhos dos que sabem observar.
Não minto que me alegra ver as famílias felizes padecerem em brigas que se dão em alto tom, garantindo-me mais regozijo quando, furtivamente, a mão do homem bruto e másculo, predominante sobremaneira nessa terra tropical, acerta em cheio a cara imunda da sua mulher falastrona de pescoço gordo que, largando mão dos afazeres domésticos ou da busca de posição no mercado de trabalho, fica de esguelha na janela, observando, ao velho modo brasileiro, as vidas das pessoas que passam pelas ruas sem que percebam quão miseráveis são aqueles que lhes miram com os olhos da inveja e do desdém.
Dá-me ânsia quando vejo essas pessoas frente as suas casas, firmando, não obstante, o pensamento de que me asseguro para olhá-las com fisionomia também hipócrita, já que, como disse o bom poeta, também devemos aprender a ser feras. E sempre há aquela cordialidade imunda e empoleirada dos domingos monótonos, um boa tarde de soslaio e desconfiança pois cada um é cônscio das dimensões do seu terreno imaginário, a gratidão que se faz impaciente quando esta é feita para desejar-nos votos de confiança e amizade sincera. Aceito a tudo isso com os bons modos que me foram ensinados no cômico e magistral circo da vida, tanto que quando passado esse momento de desconforto com aquele que me pára para desejar o que quer que seja, por ter sido tão bem educado, sinto dificuldades em reassumir uma postura verdadeira e coerente para comigo mesmo, não à toa sempre me flagro tentando ludibriar-me com pensamentos que beiram o entendimento com o meu próximo, sempre pronto a dar-me punhaladas, deixando eu de ser tão ordinário quanto são eles.
No entanto, percebo que há algum prazer no fato de ser ordinário, pois, diferente dos que são ordinários de maneira não pensada, sou um ordinário por não me destituir das minhas faculdades racionais; ou seja, utilizo-me de algo que me fora mostrado com as peçonhas do amigo próximo para, sem que ele perceba, possa lhe devolver as mordidas com a mesma, senão mais, força com que me mordera. O bom viver exige o hábito da selvageria recíproca; aqueles que não se sentem confortáveis em aprender isso, creia, estarão passíveis, irrevogavelmente, de serem boas bestas na vida; atuarão como Édipo no seu trágico destino de parricida e incestuoso: meros artífices nas mãos dos deuses-homens.
Daria infinitas linhas se me propusesse a contar o que penso sobre meu semelhante numa só tacada, porém, como se quisesse definhá-los pouco a pouco num processo de defloração onde a vítima está dormente para não morrer de dor, prefiro optar pela calma e lhes arrancar a pele de suas vaidades paulatinamente.
Tá dito, se bem que as bestas que estão sendo atacadas não terão inteligência suficiente para entender as palavras desse texto. Pouco me importo com isso; leiam, debatam entre si por que são tão idiotas; conspurquem-me com as suas opiniões infundas e ralas; chamem-me de despótico, integralista, nazista, xenófobo, racista, ou qualquer coisa, mas saibam que continuarão, embora os ataques que a mim dedicam, sendo as mesmas bestas de sempre!
"Já que não possuo deveres para com a humanidade"
ResponderExcluirVocê está enganado: você querendo ou não, possui deveres para com a humanidade sim, até por que, inevitavelmente você pertence a uma coisa chamada coletividade.
"não à toa sempre me flagro tentando ludibriar-me com pensamentos que beiram o entendimento com o meu próximo"
Pra você ver como inevitavelmente somos produtos do meio.
"a minha boca se enche de saliva por tanto querer cuspir-lhe bem no meio do rosto"
Volto a dizer: para mim, o torto é aquele que sabe entortar, e não aquele que admite ser humano, mas incapaz de rever sua condição de alteridade com o outro na realidade que o cerca.
Essa sua postura, para mim não passa de um posicionamento de qualquer radical que se manifesta contrário ao mundo, mas sem nenhuma postura de re-exercicio critico de cidadania em sua relação com o outro. Sinceramente, acho essa sua postura por demais excludente e incapaz de saber exercitar o ato de se entortar.
"diferente dos que são ordinários de maneira não pensada, sou um ordinário por não me destituir das minhas faculdades racionais"
É isso que eu tentei dizer do torto empenado que você tanto me criticou. Eu observei que, apesar do torto admitir que mesmo buscando se degustar com a pluralidade, pende mais para um lado, que para o outro, ele, assim como o torto empenado, é também um idiota errante de si mesmo.
A diferença é que você tem a capacidade de acreditar que se utiliza de suas faculdades racionais; já em meu texto eu digo que, apesar do torto acreditar enxergar o mundo de forma mais "crítica", essa crítica é refutável, pois assim como o outro a quem ele refuta, essa crítica está predisposta a ser refutada constantemente, e portanto, mesmo admitindo possuir um posicionamento mais consciente, o que eu concebo como torto, não acredita que ele sendo o torto, seja O cara capaz de possuir os instrumentos racionais enquanto os outros a quem ele critica, não sejam.
"as bestas que estão sendo atacadas não terão inteligência suficiente para entender as palavras desse texto"
É por uma posição como essas que eu tendo a aceitar a minha posição do torto, pois eu acredito, que antes do torto ser um marginal no sentido único do termo, ele muitas vezes se marginaliza por não conseguir aceitar todas as "Verdades" impostas para ele, mas por outro lado, ele busca (pelo menos) uma convivência menos intolerante para com o outro, visto que, ele sabe que o outro, assim como ele, tanto erra, quanto acerta; mesmo o torto admitindo que, também como o outro, ele possui classificações e portanto, direitos de aceitar ou reprovar determinadas concepções.
Eu acho essa postura melhor e mais politicamente humana do que a postura de rebaixar o outro a um grau de incompetência. Isso sim pra mim possibilita a tendência de se começar a criar determinadas formas de estatutos, e pior!!!! estatutos dos mais tirânicos que se possa haver!
Eu sou um déspota esclarecido, dono do trono de mim mesmo. João Maldito
ResponderExcluirBom, só não sei como você lida no momento em que, em a sua relação com o outro, você percebe que o seu reinado não passa de um mero desejo seu, desejo esse que, infelizmente não é capaz de ser saciado por você a todo instante, uma vez que, para conquistarmos os nossos desejos e legitimarmos nossas verdades, temos que negociar com o outro, afinal, não existimos solitariamente no mundo.
ResponderExcluirÉ preciso entortar e fazer o jogo com deus e com o diabo, gostando ou não.
Voce afirma isso pois não se contenta somente com as ervilhas, precisa do banquete a cada hora; acha que para suprimir as necessidades não basta unicamente o seu pão, mas ver em mofo o pão do outro. Um homem que vive para si e se contenta com o que lhe é vital não precisa fazer deferencia a quem governa, pois o governo, para ele, é tão bestial quanto a fatalidade que é a vida. Viver só se torna agradável pois dá para se morrer de rir com os reis bobocas e os bobos que se embaralham tentando arranjar novos meios de se agradar a este que governa. Acho que a melhor forma de se passar pela vida é ficar contente com as nossas bocas cheias de dentes e com a maciez de nossas poltronas. Correr em busca de algo é muito cansativo. João Maldito
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