Na minha concepção, o metacômico é o riso rindo e questionando o próprio riso. O metacômico gargalha ao perceber o quão patética é a nossa crença nas meras fantasias que nos foram submetidas e também criadas por nós. O metacômico pergunta por exemplo: por que eu tenho que temer a morte, se acredito que agora eu estou vivo? Será que não me bastaria apenas viver? Por que eu penso no depois, se eu tenho convicção de que não tenho certeza do que virá?
Ao fazer essas questões, o metacômico se esbalda em risos coloridos de cinismos e de sarcasmos ao perceber no tanto de certeza que investimos em meras convenções que em nada nos justifica enquanto verdades absolutas, mas que ao mesmo tempo insistimos em acreditar nessas verdades, mesmo tendo consciência de que essas verdades não passam de criações. Sob essa ótica, o texto de João Maldito publicado no dia oito de dezembro no site do Movimento Torto, intitulado “Do metacômico”, trouxe-me muitas questões pertinentes.
Porém, ao falar que “o metacômico é maneira de se dar risadas no mundo despido de qualquer roupa, desenvolto de qualquer máscara e despossuído de qualquer rotulação; pois o mundo, em essência, é vazio”, eu tenho que dizer que não concordo, pois penso que o metacômico não acha que o mundo seja vazio. Apesar de conceber que muitas vezes nossa condição diante da realidade esteja submetida a uma lógica de convenções muitas vezes ausente de sentidos mais precisos, o metacômico enquanto gargalha desse aparente clima nonsense, critica e questiona sua gargalhada.
O metacômico acredita que, apesar da nossa prisão parecer tão ridícula diante das convenções construídas por meras fantasias, é justamente por via dessas fantasias que o indivíduo encontra motivos para a realização de seus projetos no mundo. Se por um lado, esses valores parecem idiotas, por outro, eles são de uma importância muito grande para os indivíduos, visto que é por via deles que os homens re-questionam a realidade, e por conseqüência, constroem-na.
Apesar de parecer um vácuo, a inevitabilidade em darmos um sentido ao que seja um vácuo, uma vaca ou um torto, por exemplo, implica termos sentidos que orientam nossas ações, e que, portanto, mesmo as convenções e os rótulos não dando conta de todos os detalhes da realidade, nós só nos sustentamos nessa realidade enquanto indivíduos, por termos em nós, co-existindo com o aparente vazio, a necessidade das rotulações e das máscaras.
E por isso que concebo a idéia de aceitar em minha concepção do que seja torto, o metacômico, uma vez que, assim como a perspectiva torta, para mim, o metacômico transita entre o desejo e a lei. Porém,enquanto a perspectiva torta, ao mesmo tempo que busca sair das convenções para explorar seus desejos e subjetividades, ela submete esses desejos às convenções por saber que, apesar de querer se libertar, ela também necessita de um limite; o metacômico ri daqueles que perdem noites de sono, por se verem aprisionados por uma culpa construída através de uma fantasia mascarada de realidade; mas por outro lado, admite que, apesar das fantasias e das convenções muitas vezes não passarem de besteiras, essas besteiras são importantes para o sentido de valor que o sujeito dá a realidade na qual ele se encontra.
Interessante como voce reafirma a minha idéia de essencialidade vazia várias vezes. Há o sujeito, o pensamento e as necessidades. O sujeito, com suas faculdades, pensa; pensa para suprir, de certa forma, as suas necessidades. As necessidades são um encadeamento de convenções; a parte, somente, as organicas, mas todas as outras irão orbitar em torno destas. Digamos que voce procura por comida, pois sente a necessidade de comer. Voce não come por comer, voce não se coça por se coçar; há em tudo uma injunção de fatores que te propulsionam a reagir. As suas vontades são supridas através da reação. Para cada ação haverá uma reação. Quando voce se exercita estará perdendo a barriga, porém desgastando outros órgãos que exercem determinada funcionalidade no seu corpo. Tudo se concatena e tudo se anula, porém a concatenação se dará a partir da ação-reação, o que surtirá numa nulidade de qualquer sentido, a não ser que o único sentido seja, como expões numa parte do seu texto, apenas viver, porque, depois das necessidades organicas, vem as necessidades artificiais, os meios de aperfeiçoamento ou degradação daquilo que para voce é necessário. Temos a luz do sol, mas fora preciso se criar a luz elétrica para que pudéssemos aproveitar a noite também. No entanto, se a luz elétrica não é uma luz organica como o é o sol, podemos dizer que ela é apenas um ornamento, um confeite que, por mais bem intensionada que seja os seus fins, criará uma sucessão de fatores sociais, como, por exemplo, a não democratização energética, logo, estigmas que irão segmentar a sociedade, que por si já é segmentada, em estamentos de certo e errado, bom e ruim, etc. Mesmo que voltássemos às cavernas, tenha certeza, refaríamos a história tal qual como ela aconteceu, a necessidade de desenvolver a técnica é uma característica inerente ao homem. Portanto, quando vermos uma ogiva nuclear mil vezes mais forte que as que foram jogadas pelos EUA, não façamos alarde, pois isto representará, apenas, a supressão de um apelo técnico que tem a essencia do poder. João Maldito
ResponderExcluirhttp://poeticspasm.blogspot.com/2009/12/o-amor-e-torto.html
ResponderExcluir"Em si mesma, toda idéia é neutra ou deveria sê-lo; mas o homem a anima, projeta nela suas chamas e suas demências; impura, transformada em crença, insere-se no tempo, toma a forma de acontecimento: a passagem da lógica à epilepsia está consumada... Assim nascem as ideologias, as doutrinas e as farsas sangrentas. Idólatras por instinto, convertemos em incondicionados os objetos de nossos sonhos e de nossos interesses. A história não passa de um desfile de falsos Absolutos, uma sucessão de templos elevados a pretextos, um aviltamento do espírito ante o Improvável. Mesmo quando se afasta da religião o homem permanece submetido a ela; esgotando-se em forjar simulacros de deuses, adota-os depois febrilmente: sua necessidade de ficção, de mitologia, triunfa sobre a evidência e o ridículo. Sua capacidade de adorar é responsável por todos os seus crimes: o que ama indevidamente um deus obriga os outros a amá-lo, na espera de exterminá-los se se recusam." EMIL CIORAN
ResponderExcluir*desconsidere os erros de português do primeiro post, é que digitei muito rápido.
Olha, Vina, eu entendo o seu ponto de vista a respeito da minha posição em dizer que o mundo da essencia é vazio, no entanto, acredito que ele converge as questões que por mim são levantadas à óptica existencialialista de se pensar que, porque vivo e tudo me é desconhecido, não deva me indagar, por exemplo, sobre a existencia ou não de deus. Bem, dentro dessa perspectiva existencial da qual falei, posso até concordar e acrescentar mais coisas de modo a firmar que o metacomico seja mesmo um objeto de tal corrente. Há uma diferença entre o seu texto e o meu, que é o fator de voce tentar dá alçada ao metacomico como se isso fosse algo que devesse chegar ao entendimento social, fazerndo com que questões que atribulam o suave caminhar do mundo pudessem ser desanuviadas; já no meu, pelo que vejo, não quero que isso aconteça, pois sou conscio de que, mesmo que muitas pessoas leiam esses nossos textos, poucas ainda serão as que alcançarão o metacomico. Possa ser que isso soe, como voce diz, iluminista, mas não descarto a contribuição que tal pensamento tenha nos legado, afinal, ele, como o metacomico, fora algo feito a sua época, contestara valores e fez com que a humanidade pudesse dar um passo adiante. O metacomico está no meta.
ResponderExcluirO que quero dizer é que, apesar de vivermos e sentirmos esse social do qual voce fala, ele é, como até voce diz indiretamente no seu post, um mosaico de imaginários, sendo impossível para nós pensarmos ele como algo que seja realmente factual e possa vir a ser concatenado. São diversos mundos em constante atrito o que cria, com efeito, uma desregularidade, logo, um não sentido, pois, para uma determinada causa, teremos vários efeitos e vice-versa. O metacomico, por si mesmo, não será acessível a todos, uma vez que é preciso, como no mito de Platão, sair da caverna para se enxergar essa luz que, de certa forma, ofusca quaisquer sentidos que possa ter a vida. Encerro com uma frase do Louis Ferdinand Céline: Sejamos nós mesmos: atrozes e absurdos. abrs. João Maldito
Bendito Maldito,
ResponderExcluirO que eu acho é que, não é por que as coisas nos são desconhecidas, que necessariamente devemos não pensar sobre a existência de deus, por exemplo, uma vez que inevitavelmente pensamos sobre a sua existência. Se essas coisas nos são desconhecidas, é por que inevitavelmente buscamos sentidos para elas, do contrário, não conceberíamos as coisas nem como conhecidas ou como desconhecidas, simplesmente elas existiriam por existir.
É por isso mesmo que não acredito que estamos em um vazio. Prefiro acreditar que estamos em um mundo recheado de significações e de porquês, mas sentido como esvaziado por se encontrar arrodeado de excessos de sentidos. Se a essência fosse vazia, não precisaríamos nos entortar, e sequer pensar se haveria o torto, o certo, o feio, o ridículo, etc. Enfim, não teríamos sequer noção dos opostos. Não teríamos a velha amiga incomoda contradição.
Mesmo que eu produza um texto sobre o metacômico querendo que os outros indivíduos, que assim como eu, por viverem no social, possam interpretar e discutir, mesmo sabendo que muitos possam não chegar ao entendimento do que quero dizer sobre o metacômico, não é meu objetivo fazer com que o metacômico chegue a um entendimento social da forma como você se expressou em seu comentário. O que quero mostrar é que o metacômico está inserido no social, e como tudo que se encontra no social, ele se encontra entre a autonomia e inevitavelmente também é produto das limitações que nos são impostas, e que por isso mesmo, ele é vontade de rir e questionar criticamente à vontade de rir, ou seja, é desejo e lei.
Diferente do que você disse, não acho que isso soe iluminista em seu comentário. Quando me referi a sua postura como iluminista, quis dizer que você, muitas vezes ainda guarda um quê de classificação, de graus, de bipolarizações; porém, como eu já te disse, por compartilhar com o torto, eu sou adepto em admitir que inevitavelmente, mesmo tendo consciência de muitos pontos fragilizados da perspectiva iluminista, eu também trago traços iluministas, afinal, se eu não tivesse minhas classificações, por que eu precisaria a todo custo me entortar? Se eu entorto, é por que eu preciso quebrar um pouco essas classificações que me são impostas, e se eu busco quebrar essas classificações, é por que eu as tenho.