terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Do metacômico

Em virtude dos significados variados que podem ser atribuídos as palavra cômico e meta, é de imprescindível necessidade que o nosso leitor esteja a par do que vem a ser essa nova terminologia que por mim fora criada. Para que fique claro que a intenção do termo não é propriamente confeitar, feito uma guloseima verbal, a minha expressão escrita, advirto que o mesmo fora criado de maneira inusitada; ou seja, transcrevia as linhas que eram formadas pelo meu pensamento, e como forma de hiperbolizar a sensação que queria causar com o que havia escrito até então, objetivando que algum termo de relevo visse a somar-se dando mais força ao texto, veio-me, então, à cabeça tal expressão, que, apesar de ter a sua finalidade concretizada no meu pensamento, ainda não havia sido racionalizada de modo que eu pudesse, caso perguntado, responder com precisa coerência o que vem a ser o metacômico.

O meta cômico, conforme o vejo, tem um sentido, sobretudo, que se caracteriza por ser uma máxima que pode, de maneira homogênea, delimitar, dentro da universalidade, o terreno que é pisado, por exemplo, por cada cultura. Que seja tido como uma ética ou, sendo mais claro, uma moral que se serve de parâmetro às atitudes que devem convergir não à segmentação irracional entre grupos, caracterizada sempre por abusos e hegemonia de poder, mas à compreensão, através da demarcação de vontades, da sujeição das pessoas à determinadas formas de se agir. Não que essas formas não possam vir a ser escarnecidas diante de uma perspectiva de pensamento pessoal, pois podem e é salutar que se faça mesmo isso, uma vez que a frutificação do trabalho racional só se dá através do modelo dialético, o que requer teses e antíteses para se chegar a sínteses que sejam coniventes a subjetividade de um determinado sujeito ou as subjetividades que compõem um determinado grupo – por mais arbitrárias que estas sejam. Mas vai me perguntar o curioso que essa façanha poderia render possíveis desentendimentos, já que, se não me agrada, poderei dar risadas à vontade das ações daquele a quem observo. Parece-me até, de certa forma, supra-humano ansiar que as coisas transcorram tal e qual como se diz, não obstante, ao que me parece, ser a confusão parte orgânica da natureza do homem, nunca tendo, em toda a história que lhe serve de ponteio, passado períodos de paz entre eles. Mas digo que, se curioso for, perceberá que tal modelo descrito até então, requer um mínimo de abstração e enlevo da atividade do raciocínio; em outras palavras, o que conta não são as palavras que me são ditas, mas as possibilidades de tais palavras não me representarem nada. Ora, se me chamassem de cachorro, mesmo que fosse um desconhecido, por que haveria de fazer querela com isso? O homem, que se diz douto, ignora o que não esteja à altura do seu senso de divagação, portanto, este mesmo homem, digno de todas as felicidades que se pode haver na terra, com pouquíssima coisa há de se preocupar, uma vez que as atitudes que estejam abaixo de um piso de discernimento abstracional, podem ser tidas como meros exemplos de como não se deve agir e nunca devem, os que se dizem doutos, fazerem delas motivos para austeridades ou perda infunda e bestial da paciência.

O metacômico, digamos, serve-se de esteira ao deslize sobre a superfície íngreme da grande ladeira que é a vida, atribuída de todos os seus mistérios, desventuras, clímax e afins. O metacômico não é um modelo rebuscado de se olhar a realidade, buscando nele uma tentativa de encerramento das responsabilidades para se partir para uma vida de regozijo na anarquia, levando-se em consideração o sentido pejorativo da palavra; é, sim, uma máxima que tenta esvaziar a bonomia de qualquer que seja o discurso que se profira, pois, nele, nada mais há que uma carga vazia de desentendimento que, em virtude dos modelos de aperfeiçoamento das maneiras de relações entre os homens, se cria algoritmos de conduta que nada têm a ver com as reais necessidades humanas. É preciso evidenciar, mais uma vez, que a sociedade é formada não por classes homogêneas, onde dentro de cada uma serão objetivadas a supressão de necessidades semelhantes de homens destituídos de sensações e sentimentos, mas por indivíduos que se relacionam entre si e, de acordo com os meios com os quais lidam, moldurarão as suas atitudes a eles, aos meios, de forma que nunca se apercebam como estrangeiros, ou melhor, proscritos sob hipótese alguma.

De acordo com o pensamento Torto, o metacômico é a negação de si mesmo por se constituir, também ele, como via de conspurcação do mundo como essência, desprovido de quaisquer descrições que tornem a realidade hiper-real; o metacômico é o único meio daqueles que chegaram, admitamos, ao niilismo rirem da tragédia que é dita por cada boca e que é lida em cada livro. A contemplação, por assim dizer, seria o único meio de se extinguir o metacômico; mesmo assim, desde que fosse a contemplação eterna. Uma ligação íntima faz da morte os olhos de tal máxima, pois, se se vive e fala, é digno de risos. E o meta cômico é maneira de se dar risadas no mundo despido de qualquer roupa, desenvolto de qualquer máscara e despossuído de qualquer rotulação; pois o mundo, em essência, é vazio e, quando chega-se a esta certeza, pergunta-se “O que estou fazendo aqui?”. E, então, entra o metacômico: essa possibilidade de risos existenciais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário