Depois de diálogos entortados travados com o texto “Que movimento é esse...?” Resolvi escrever novamente sobre movimento quanto a influência desse no que diz respeito à autonomia individual e a influência da estrutura sobre essa autonomia.
Vamos papear sobre os atos de Mover-se e ser Movido e situá-los numa perspectiva global e local. Mover-se quer dizer sair de um lugar para o outro, sendo movido ou se movendo; ato de, por vontade própria, o individuo optar por não mais ficar na mesma condição social ou cultural, ou seja, optar pela não acomodação a situação em que se encontra. Essas opções se apresentam ao individuo pelo mundo social que está inserido. Ser Movido é estar deslocado nesse mundo social, onde forças externas ao individuo o conduzem para portos dos quais ele não objetivou chegar. Tá complicado? Então, vamos futucar as idéias.
Acredito que diante desse mundo de tantas culturas e de meios de comunicação que disseminam informações de forma desigual, nos vemos impulsionados a três opções: a primeira é a de acomodação, engolir tudo sem mastigar e nem digerir, nos tornando depósitos gratuitos de qualquer tipo de informação e reprodutores inertes que acreditam estar informados por todos os lados só por que assistiu a última edição do jornal nacional e que não buscam outras fontes de informações ou opiniões contrárias e muito menos se permitem a uma discussão além do fato informado. Um segundo tipo é aquele que se coloca como resistente a essa avalanche, aquele que nega essa influência em busca de um formato cultural mais “puro” extraído dos segmentos da cultura popular ou que possa se designar como tradicional. E o terceiro tipo, seria aquele que vê nos dois uma oportunidade de concentrar mais informações culturais e que tem instalado um filtro para absorver aquilo que realmente lhe interessa.
A avalanche de informações que temos disponíveis hoje, frutos desse processo globalizante, inspira a necessidade de desenvolver filtros para a escolha das informações que se apresentam. Para mover-se é preciso deixar que essas informações cheguem e que as mesmas possam ser jogadas de volta, também. Isso pode ser percebido por meio das cenas, dos movimentos organizados ou ações isoladas que de forma não organizada exponham a sua contra proposta. Nesse “pingue-pongue” de idéias e ações que provocam e são provocadas é que vamos definindo os nossos valores, identidades e posições políticas. O fato é que as culturas locais possam se reconhecer como locais, porém sem perder esse link com os acontecimentos globais.
As afirmações das identidades mundo afora reconhecem a necessidade pela diferenciação e reconhecimento, afinal é a maneira de dizer: “SEJA”, individualmente ou em grupo, dançando as músicas, ou indo aos ambientes que seu grupo freqüenta, o fato é que todos de alguma forma querem dizer ao mundo quem são e que existem.
Creio que a grande sacada da globalização, do ponto de vista da cultura, é poder oportunizar também que as pessoas possam autoconstituir, ou constituir suas identidades. Existem diversas formas de se dizer quem você é e um quantitativo ainda maior de causas a abraçar ou se roçar. Portanto, dizer quem é através da pintura, da música, fazendo parte de grupos como punks, clubbers, metaleiros, ou mesmo sergipanos, pernambucanos e baianos é estar nesse mundo, também. Mas, cuidado! Estar em algum desses grupos não garante ao individuo Mover-se, ele pode se deixar ser Movido.
É isso aí cara! Gostei do que escrevestes. Muita gente em busca da originalidade ou como alguns preferem mencionar da identidade acaba por se deixar levar por movimentos da "moda", a vybe do momento, de que alguma forma lhes parece mais sensato do que o meio no qual vivem. No entanto, o que alguns podem não perceber é muitas vezes a busca por esta identidade, ou de um meio alternativo de vida social pode se tornar uma armadilha, porque estarmos envolvidos demais ficamos cegos e acabamos por nos tornar aquilo que mais repugnamos.
ResponderExcluirComo a inércia nada gera e o nada nada gera. O ato de mover-se pressupõe uma potência anterior a este . O tomar posições ou buscar identidades jamais partirá do momento zero. Eis, o grande problema da psicologia de Vygotsky. Como construir uma subjetividade partindo de uma relação histórica materialista com o meio se ambos possuem impessoalidades, ou seja, a criança não é sujeito ainda. Como constriur uma identidade sem uma préleitura de si mesmo. Sabe o que eu acho: Tudo isso já foi dito, é pura fofoca acadêmica. Teu texto foi muito bom, pois levanta discursões válidas, parabéns.
ResponderExcluirSim, acredito que muita gente vai debater sobre ele. Abraços!
ResponderExcluirMuito obrigado pelas suas observações, nascente.
ResponderExcluirValeu, Roosevelt, também gostei do seu texto. Surpreendente.
ResponderExcluirQuanto a essa idéia do que vem antes do mover-se. Corresponde a uma influência e ao consentimento do individuo em optar em ser movido pelo meio. Ele pode abdicar de agir nessa relação de provocação. Pode ser um daqueles três, o primeiro, que fica acomodado. Creio que podemos enveredar esse texto para uma discussão sobre ética e moral, também. Quero mais dialogar e ser criticado para que mais idéias fluam.
É brincadeira como escreve esplendidamente esse garoto!!!
ResponderExcluirGostei de sua relação entre o mover-se e ser movido. Realmente eu acredito que inevitavelmente, encontramo-nos diante dessas duas esferas e vivemos o tempo todo em um toma lá, da cá.
É por isso que não consigo conceber a possibilidade de um indivíduo se aconchegar e viver estaticamente em um lado OU em outro. Transitamos o tempo inteiro, e nesse transito, deparamo-nos com negociações e conflitos. Enfim, dai a necessidade emergencial de nos entortarmos.
É isso, o ato de entortar se deve a essa necessidade de articular um lado (a estrutura social), ou como você chamou Ser movido, e articular ao mesmo tempo o outro lado, ou seja, (nossas ações individuais), o que você chamou de Mover-se.
Foi muito interessante a sua observação sobre o cuidado quen devemos ter em nos deixar ser Movidos. Eu percebo que muitas vezes os discursos alternativos, não se alternam, mas se posicionam em uma nojenta necessidade de rótulos, que antes de serem criticamente subjetivos, não passam de animais falantes que necessitam se adequar aos padrões alternativos impostos pelo grupo.
Acredito que é isso que torna o Movimento torto fantástico. Transitamos livremente, percorremos os caminhos de acordo com nossas motivações e nossos interesses, mas admitimos que inevitavelmente somos Movidos, pois que eu saiba, nenhum de nós se encontra fora de todo um conjunto de hábitos e regras instituidos pelo contexto no qual estamos falando. Enfim, somos o Mover-se e o Movidos. Somos produtores e produtos.
Lendo as três perspectivas trazidas no inicio de seu texto, fico a acreditar que o torto se identifica mais com "aquele que vê nos dois uma oportunidade de concentrar mais informações culturais e que tem instalado um filtro para absorver aquilo que realmente lhe interessa".
Em outras palavras: reconhecemos a existência de tudo, uma vez que o que existe inevitavelmente pertence a um todo no qual o torto também compartilha, mas reconhecemos que somos subjetividades, e apesar de não acreditarmos em verdades eternas, não significa dizer que não possamos achar que temos opiniões mais coerentes que outros, afinal, somos humanos, pois assim como os outros, vivemos nos entortando e temos tambem o nosso filtro.
Parabéns!!!
Na verdade esse texto já estava engatilhando desde a semana passada, mas precisava de ajustes e no debate que tivemos com o texto anterior me fez processar umas coisas e acabei rsrsrsr entortando o texto rsrsrs. A idéia é essa, meu caro. No momento acredito nessa perspectiva de movimento. Conhecer e transitar pelas opções. Mesmo sabendo que o alcance de todos e de boa parte é uma tarefa que vai de dificilima a muito dificil, vou me permitindo a conhecer e a levar o que me interessa jogando o jogo do provocador e do provocado, onde eu posso mudar de papel em algum momento, rsrsrsr.
ResponderExcluirÉ verdade, mestre vina, este cara promete. Ele despertou a sepultura de Aristóteles. O texto dele tem muito a ver com a filosofia do ato de Mikail Bakthin.
ResponderExcluir"vou me permitindo a conhecer e a levar o que me interessa jogando o jogo do provocador e do provocado, onde eu posso mudar de papel em algum momento"
ResponderExcluirConcordo plenamente. Diante dos discursos oriundos de uma cultura que ainda insiste em se manter bipolarizada em seus valores, obrigando a todos a ter que levantar uma dada bandeira, isso é considerado hipocrisia, porém, eu acredito que não é hipocrisia, isso é senso crítico. Enfim, evitamos o simplismo de separar de forma abrupta e categórica, o certo do errado, como se o certo fosse sempre certo e vice e versa.
Eu mesmo prefiro admitir a postura ambigua, ou seja, aquele a quem critico, também possui pontos relevantes, e por isso mesmo, mesmo criticando-o, eu me aproprio dele; assim como aquele a quem aprovo, também possui pontos frágeis, afinal, ninguém é o todo poderoso absoluto, e, portanto, eu descarto muitas coisas daquele a quem eu aprovo. Ao invés de ficar me lamentando ou jorrando glamour, entre o culpado OU a vítima, prefiro me entortar e colher algo dos dois lados, jogando fora posicionamentos dos dois lados também.
Eu penso em fazer um texto sobre esse lance de underground e de alternativo, saca. Mas é por aí.
ResponderExcluirTambém concordo com você quando fala sobre esse transito, que pra mim é necessário fazermos, claro que para todos os espaços é algo impossível, mas experimentar de alguma forma esses espaços é de suma importância para o desenvolvimento da percepção e de nossos valores enquanto seres humanos.
Nunca me adaptei com a idéia de bom e mal; certo e errado ou de que algo é absoluto. Acabo sempre me indagando sobre a bipolarização das coisas.
ResponderExcluirQuanto ao lance de reconhecer no seu opositor pontos relevantes. Vejo isso como ponto de crescimento humano, principalmente, no respeito pelo outro.
acredito no respeito ao outro . quem me conhece realmente sabe disso . n acredito no amor . mas acredito no respeito e consideraçao
ResponderExcluirops alan esqueci de colocar
ResponderExcluir