Algumas pessoas que acompanharam em sua época um tipo de relação conjugal diferente da atual, tendem a maldizer a forma pela qual os jovens se relacionam com seus parceiros. Geralmente essa geração utiliza um discurso que nega qualquer forma de sentimentos entre os jovens. Para muitos deles, o ato de “ficar” com uma pessoa, significa uma atitude maléfica ao outro, visto que esse “ficar” não assume uma espécie de comprometimento mais sólido entre as pessoas envolvidas em determinadas relações.
Pessoalmente eu posso dizer que encontro pontos suficientes fragilizados no ato do “ficar”, mas por outro lado, eu vejo uma postura muito madura nesse tipo de relação. Pois bem: para iniciar este texto, eu gostaria primeiramente de mostrar o que pelo menos eu entendo como amor, para depois fazer uma comparação entre o que poderíamos pensar como descartável e como efêmero.
Para mim, o amor não se resume necessariamente a uma relação intensa entre uma pessoa e outra. O amor quer dizer respeito e sinceridade para com o outro. Eu posso muito bem chupar a flor do escroto de uma bela garota em apenas uma noite de curtição e nem por isso deixar de respeitar a privacidade dela em público. Eu posso deixar alguém lambuzar de saliva minha piroca e nem por isso acreditar que essa pessoa esteja desmerecendo a minha pessoa.
É por essa relação mais momentânea pela qual as pessoas se envolvem com as outras, que muitos tendem a considerar as relações atuais como algo descartável. Para mim, descartável significa algo desprezado após o uso, e não é isso que muitas vezes acontece. O que acontece é que as sensações são vivenciadas de forma instantânea. É importante percebermos que a efemeridade das coisas não necessariamente significa dizer que usamos o outro.
Vamos pensar um pouco: se houve uma livre iniciativa de duas ou mais partes, onde eu posso encontrar alguma forma de uso descartável? Se houve a decisão mútua entre as partes, como eu posso pensar que não existiu uma forma de respeito, sinceridade, e, portanto, de amor entre cada uma? Desrespeito haveria se eu me utilizasse da situação, prometendo um tipo de relação com o outro que não se encontrasse cabível aos meus verdadeiros sentimentos.
Sob a ótica de uma perspectiva torta, eu poderia dizer o seguinte: o “ficar” traz em si um ponto negativo e positivo.
O ponto negativo se refere ao fato de muitas pessoas optarem por “ficar” simplesmente por terem medo de encarar uma responsabilidade mais sólida com outra pessoa, já que o “ficar” não cobra qualquer tipo de comprometimento mais “sério”. Esse receio em se adentrar mais intensamente com o outro diz respeito a um contexto que se torna cada dia mais imprevisível.
Essa inconstância permite criar um contexto sem referências precisas, fazendo com que as pessoas não mais acreditem uma nas outras. Enfim: é bem melhor jogarmos nossos sentimentos com o outro em um momento apenas, do que termos que optar em acreditar nesse outro em um tempo mais duradouro, uma vez que em tempos duradouros, os cônjuges, por viverem em meio a um alto grau de escolhas e experiências, podem trair a confiança do outro, ao escolher vivenciar outras circunstâncias amorosas com o alheio.
O ponto positivo diz respeito ao alto grau de maturidade e responsabilidade das pessoas em suas relações com as outras. Justamente por vivermos em meio a um contexto que se caracteriza pelo seu excesso de informação e de mudanças bruscas de identificações, o “ficar” serve como forma de possibilitar com que os cônjuges façam uma espécie de “estágio” para confirmar se de fato aquela pessoa é a pessoa mais adequada aos seus valores e estilos de vida naquele momento.
Esse tipo de postura implica uma responsabilidade e respeito ao outro, visto que, antes optar em escolher alguém tendo plena convicção da escolha, a ter que optar em se relacionar com alguém sem deixar o tempo amadurecer e confirmar se de fato a pessoa que estamos nos relacionando, serve ou não para os nossos valores.
O “ficar” é muitas vezes válido por refletir o amadurecimento das pessoas, mas também se torna prejudicial no momento em que elas se usufruem dele como forma de evitar lidar com as constantes descrenças do contexto presente. Faz-se importante preservar o estágio do "ficar" para que possamos ter uma responsabilidade entre nós e o outro, mas é imprescindível recuperarmos nossa capacidade de investirmos nossos sonhos em outras pessoas, afinal, somos seres sociais.
olá pessoas tortas. :)
ResponderExcluirna minha opinião o amor é um sentimento muito além do respeito e sinceridade com relação ao parceiro, claro que estes são essenciais para um bom relacionamento, é uma mistura de afeto, carinho, confiança e muitos outros sentimentos que pode ser demonstrado de várias maneiras e em vários tipos de relacionamentos. na verdade amor é uma palavra que é muito difícil de ser descrita e muito fácil de ser mostrada.
e o 'ficar' se faz bom ou ruim dependendo do pensamento de quem o pratica. para mim é um passo essencial na construção de um relacionamento com alguem, um espaço de tempo onde se está conhecendo a pessoa para depois decidir se ela é a pessoa certa para você no momento... como vc msm disse..
não sei... sou meu convencional demais em algumas coisas e acho que a pessoa que somente fica, não por querer conhecer e viver algo com a pessoa e sim por querer ficar com quantas pessoas puder sem necessariamente conhece-la melhor depois, algo muito ruim da nossa geração... e acho que existe isso não por ter esses tipos de pessoas, e sim por se fazer vigente no meio dos jovens. e por isso a imagem do 'ficar' é passada somente de maneira ruim pros pais e avós.
beijos a tds.
Renata, adorei seu comentario!
ResponderExcluirRealmente, eu também acho que o amor pode se expandir muito mais além do que simplesmente respeito e sinceridade, mas quando me referi ao amor por essas duas caracteristicas, eu quis me referir ao amor no momento do "ficar".
Sabemos que no momento do "ficar" não existem condições suficientes para que façamos do amor algo mais intenso no sentido da palavra, mas que pode se existir o amor no sentido da postura consciente entre um parceiro e outro, como por exemplo, respeitando sua intimidade e as suas limitações.
Em minha opinião a questão dos espaços descentralizados, onde os meios ao se projeta as relações mais homogenias se encontram descentralizados, e como vcs bem falaram acaba-se tendo a necessidade de um ficar para poder se conhecer melhor a pessoa, aí entra tb é claro a questão da pluralidade identitaria. Na vida adulta isso é mais palpável, afinal, o cotidiano do adulto é muito mais eletrizante suponho. Mas ainda falta serem trabalhados alguns pontos do texto mais afundo.
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