Há muito tempo a escolástica fora criada, data do início do período medieval e nela o pensamento dos eruditos se restringia ao estudo da bíblia e dos clássicos, mais especificamente de Platão, Sócrates e Aristóteles. O “saber” fora alienado a Igreja Católica e controlado por ela. Tudo que era produzido em termos de filosofia deveria está na orbita destas referencias. Os eruditos que serviam ao trabalho prático (entendendo o termo aqui como algo relacionado ao cotidiano ou vida pratica, do dia a dia), se dedicavam aos saberes ligados a moral como a teologia e a filosofia, a medicina e o direito eram também superestimados. A ciência tinha um papel secundário nas primeiras universidades da Europa, ao ponto de surgir corporações de cientistas fora das universidades que não obstante tinham que ser assistidas, ou melhor, avaliadas pela Igreja, dentro de uma postura coercitiva. Conhecendo o contexto histórico da Europa no período medieval podemos sem sombra de duvidas afirmar que o continente europeu era substancialmente agrário, e o desenvolvimento das técnicas com um direcionamento mercadológico estava ainda embrionário. Portanto apontando estes aspectos sócio-culturais percebemos a dificuldade que a ciência enquanto profissão tinha de se legitimar.
Soa estranho aos nossos ouvidos imaginar que um dia a ciência fora marginalizada e que um saber como a filosofia (não negando de forma alguma sua importância) era superestimado socialmente. Afinal vivemos em tempos que o que fazem da ciência é quase uma escolástica às avessas, onde a fé nela (na ciência) prepondera muitas vezes sobre o ímpeto humano de re-questionamento. Mas voltando a historia, vemos que por volta do século XVI começa um movimento na Europa de ligação entre os cientistas e artistas, os cientistas procuravam a facilidade que os artistas tinham de representar as idéias, já os artistas podiam se expressar de forma mais objetiva através dos cientistas. Assim os cientistas por um lado sabiam teorizar enquanto os artistas sabiam colocar em “tela” as teorias. Artistas como Michelangelo e Da Vinci trabalharam e foram de crucial importância para que a ciência se legitimasse na Europa. Outros aspectos chaves corroboraram para isto, como a ascensão da burguesia e a religião protestante.
Visualizamos enfim que saberes considerados hoje como práticos, no passado não os era, mostrando a vulnerabilidade dos valores ligados a verdade e a utilidade no decorrer da historia. Hoje em nosso contexto percebemos que tanto a arte quanto a filosofia, por não darem um retorno material imediato são tratadas de forma secundaria, tendo em vista a falta da consciência histórica da importância de tais saberes, da falta da noção dos conectivos que existem entre esses saberes e a ciência e, sobretudo, do impacto social que eles produzem. Afinal, a arte cria e recria imaginários que interferem de forma considerável no material. Pernambuco, por exemplo, possui o Chico Science que reinventou identidades e de quebra projetou Recife e Pernambuco para o mundo.
Excelente texto, caro colega.
ResponderExcluirÉ como Marilena Chauí nos observa, o senso comum entende como útil o que única e exclusivamente tiver uma finalidade prática imediata e visível. Hoje, com a metafísica gigantemente rarefeita em relação ao panorama medieval, eis que se ergue o novo totem: a ciência.
Só discordo quando você se refere à arte como tratada de forma secundária. A arte é tão prioritária, mesmo para o senso comum, que é utilizada para cobrir as lacunas da falta de assunto nas cervejadas, para mobilizar um multidão a pular atrás do trio, para convencer o pobre de que a única ascenção correta é a de Zezé di Camargo, etc.
Abração!
A abordagem deste texto me lembrou o debate que eu tentei promover a respeito da relação entre a realidade e a ficção. No entanto, eu acredito que essas duas esferas se encontram em patamares paralelos, uma vez que a vida é feita de absurdos e os absurdos são frutos da vitalidade de nosso encontro com esse real imaginário imaginariamente real
ResponderExcluirMeu caro torto,
ResponderExcluirHoje estamos na ditadura da ciência. Pensar fora dela é blasfêmia. Posso até imaginar os homens adorando a bomba atômica. hehehe.
Josué, compreendo a tua afirmação, mas em termos de visão interpretativa da coisa ou como viés interpretativo da realidade, em suma quem vêm como primaria em se tratando de "verdade" é a ciência que dá o aval, por isso coloco aí como secundaria. E venhamos e convenhamos, a arte hj em dia é encarada muito mais como supérfluo.
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