quinta-feira, 1 de abril de 2010

Oração dos Lúcidos e Alucinados

Oração dos Lúcidos e Alucinados
Por Magno André

Quando a esperança de todos chegar ao fim e ninguém mais acreditar ser possível, perderem a fé, e não acreditar mais em milagres...
Mostraremos muito mais do que é preciso e que para muitos sempre será impossível, enquanto a covardia desesperada de alguns correrem em busca de segurança, privilégios, luxo, conforto e proteção prometidos por mercenários interesseiros que se infiltram nos títulos notáveis que a cada dia dá mostras de profunda corrupção, intolerância e ignorância encontradas em profissionais e até pessoas próximas como nossos em pais, professores, patrões, políticos, promotores, policiais, psicólogos, pastores, padres, papas, profetas e psicopatas cheios de tanta autoridade, apetite, poder, orgulho, donos de falsas verdades, mestres de religiões picaretas que vivem pregando a covardia, o mal, o medo, a escuridão, adorando mais a satã que ao próprio Deus, nós estaremos celebrando nossos últimos instantes com todos os desgraçados, os marginalizados, dividindo o mesmo copo sujo com mendigos e andarilhos, brincando com os doentes, os abandonados, os trombadinhas, as bichas, as putas e os travestis, sorrindo com viciados, traficantes, errantes, os que pecam com sinceridade, os hipócritas positivos, os sem juízos e os sem esperança.
Enquanto as igrejas e os templos estiverem lotados com os que se proclamam salvos e escolhidos, todos bem vestidos afortunados e perfumados com olhos cheios de impressões vazias, nós estaremos na lama dos guetos, nas invasões, nas favelas ou prisões compartilhando o desprezo, a humilhação, a carência dos excluídos, ceiando com todos os maltrapilhos que tem cheiro e sentem como gente, com seus olhos cheios de fé, humildade, lagrimas e alegria.
Olharão para nós e verão uma beleza que sabemos que existe, mas que nem sempre conseguiremos perceber, e não acreditarão num primeiro momento que quanto mais feios, estaremos mais belos, quanto mais ricos, estaremos mais pobres e vice e versa, sentirão por nós um sentimento impreciso tão forte quanto o ódio ou talvez mais puro que o amor, mas vão querer estar conosco e se encontrarão em nossa casa realizando coisas que nunca poderiam nas suas, jogarão seu lixo em nós e cuspirão em nosso chão, ao nosso lado sentirão paz mas terão medo, desejarão a liberdade mas esquecerão sua parte no sonho,
Nos chamarão de revoltados, párias, loucos, e perdidos e mesmo não sendo não seremos mais ou menos, mas quem sabe seremos simplesmente piores só para atender a sua pobre conceituosa expectativa egoísta e iremos além, muito além do que serão capazes de imaginar, exagerando em tudo e em todos os limites da compreensão do absurdo e do controle da falta de atenção com quem andamos, do que comemos e bebemos , dormimos, escrevemos, usamos e fazemos.
Naturalmente e de propósito nos mostraremos sem mascaras e sem reservas, drogados, dopados, fedidos, tremendo e suados, mas, conscientes de tudo, com os meus, os seus e os defeitos de todos refletidos em nossos olhos, espelho onde poucos têm a grandeza de se verem, e provaremos que apesar de carregar um fardo tão pesado, sentiremos que tudo ainda é muito pouco e leve, e a todas as verdades suportaremos, menos as mentiras, pois por menores que sejam nenhum mentiroso ou mentira são inocentes, e mesmo que mergulhemos numa fossa, estaremos mais limpos que muitos que fingem serem imaculados puros e perfeitos, e manteremos nossas cabeças erguidas, vendo que ninguém terá coragem nem moral de nos acusar cara a cara, olhando em nossos olhos, só conseguindo apenas rir à nossas costas, como os covardes que só sabem conspirar murmúrios insensatos e indiretos.
Aprenderemos a aceitar e entender os argumentos dos imbecis, suas palavras mudas, cheias de insensatez, intolerância, falsidade, inveja, maldade, egoísmo, hipocrisia, desprezo, preconceitos e exploração como provas de amor e admiração a nossa reles pessoa.
E que por maior que pareça a maldade alheia, nosso maior inimigo somos nós mesmos, porque da maioria das pessoas não precisamos, mas do nosso eu vaidoso e egoísta ainda não conseguimos nos livrar.
Mesmo estando à frente do nosso tempo, nosso destino é estar entre os últimos, e não com os primeiros.
Porque sabemos que a paz que sentimos causa em algumas pessoas menos da metade do stress que elas nos provocam.
E não estaremos nem aí para o que pensam a nosso respeito, pois não conhecemos e nem pertencemos a mundo tão vazio, assim como sabemos que nem a si próprios conheceis, mas nós nos conhecemos, porque grandes nomes identificam seres muito mesquinhos.
Nossa vida é intensa e feliz, nossa realidade uma incrível e fantástica ilusão, nosso sonho é para muitos um grande pesadelo, vencer a dor, a mais horrível e mortal que alguém pode suportar, porque para você dor é tortura, mas para nós o sofrimento é redenção.

Porque nem toda rua é sarjeta
Nem toda casa um lar
Nem todo templo é sagrado
Ou todo brega é vulgar
Amém

4 comentários:

  1. Cara, que texto mais fantástico!!!

    Em minha concepção, eu poderia dizer que o torto é um lúcido alucinado. É aquele que sabe que erra, mas que nem por isso se considera como a peça maligna da realidade, pois ele bem sabe que qualquer humano, assim como ele, não passa de um ser dotado de incompletude.
    Como você bem expos em seu texto, triste daquele que quer se ausentar de admitir suas próprias fragilizadas concepções e que fazem questão de cuspir na casa do alheio por não querer se da o trabalho de limpar a sua própria cuspida em sua própria casa.
    E faço algumas questões influenciadas pelo debate trazido em seu texto: e quem diz que simplesmente a lama é suja e o brega é vulgar e que o bom necessariamente é o virtuoso? Somos uma faxina malfeita de nós mesmos, somos residentes de uma casa que não consta no mapa em no cadastro. Somos seres fincados em um chão que flutua. Somos mudanças, e como toda mudança, somos aptos a errar e acertar, assim como tornar essas duas circunstâncias mais unidas do que o discurso maniqueista e simplista nos quer fazer pensar.
    Mais uma vez, meus parabéns.

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  2. Acho que esse texto se enquadra perfeitamente no que é o Torto, uma vez que sempre encarei o movimento como um contributo pós-modernista que pretende repensar a arte para construir uma estética poética própria e que represente, de forma autônoma e inovadora, as deficiências do que marcara momentos que antecedem o nosso século dando a este, então, uma expressão singular, tal uma geração beat norte-americana ou uma geração maldita francesa.

    A todo custo, algo como o texto do amigo, acho que só vi em Baudelaire. Mesmo assim, esse não tem piedade: é cru e sujo.

    Parabéns,

    João Paulo dos Santos

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  3. Isso lembra muito baudelaire mesmo, na tematica.

    Parabéns Magno, salve tobias barreto!

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  4. Não gostei, mas gostei.

    O texto se inicia um tanto confuso, não se esclarecendo a que pessoa corresponde cada verbo. Exemplo: “Quando a esperança de todos chegar ao fim e ninguém mais acreditar ser possível, perderem a fé, e não acreditar mais em milagres... “
    Sinceramente, não entendi direito. Depois o texto prossegue estruturalmente desorganizado (não estou me referindo a gramática, apenas à clareza que não me possibilitou compreender direito) , porém as ideias começam a ficar mais nítidas, apesar de apresentar um misto de pessimismo e orgulho que me fizeram interpretar (e espero que EU esteja errado) que o autor quer afirmar no fim das contas “a única revolução possível é a subversão dos valores. Morreremos pobres, sujos, sem vontade de potência, mas estes serão os nossos parâmetros de bem-estar, e ‘vocês’ podem ficar com os valores e recursos que lhes pertencem”.
    MAS
    A partir daqui: “Mesmo estando à frente do nosso tempo, nosso destino é estar entre os últimos, e não com os primeiros.
    Porque sabemos que a paz que sentimos causa em algumas pessoas menos da metade do stress que elas nos provocam.
    E não estaremos nem aí para o que pensam a nosso respeito, pois não conhecemos e nem pertencemos a mundo tão vazio, assim como sabemos que nem a si próprios conheceis, mas nós nos conhecemos, porque grandes nomes identificam seres muito mesquinhos.
    Nossa vida é intensa e feliz, nossa realidade uma incrível e fantástica ilusão, nosso sonho é para muitos um grande pesadelo, vencer a dor, a mais horrível e mortal que alguém pode suportar, porque para você dor é tortura, mas para nós o sofrimento é redenção.

    Porque nem toda rua é sarjeta
    Nem toda casa um lar
    Nem todo templo é sagrado
    Ou todo brega é vulgar
    Amém”
    O texto fica claro, poético, apesar de ser mantida a mesma ideologia, desta vez somada ao relativismo parecido com o do torto, e o verso no final encerra de forma esplêndida esta volta por cima.

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