segunda-feira, 26 de abril de 2010

Muita religião, pouco respeito

Eu costumo pensar as religiões como um fenômeno social como qualquer outro, e que por isso mesmo, vão se modificando de acordo com as necessidades culturais dos indivíduos em cada contexto histórico. Não é por acaso que encontramos um sincretismo incessante de várias tendências se agregando e compondo novas concepções doutrinárias. Isso acontece porque o humano é um constante projeto em construção de si mesmo.

Porém, apesar da inevitável mudança, algumas religiões se mantêm estáticas, não conseguindo respeitar e se adequar às mudanças morais da cultura. Por exemplo: algumas religiões ocidentais insistem em negar o divórcio em um contexto no qual as relações são transitórias, negam o uso de preservativos onde o sexo é praticado geralmente antes do casamento, assim como negam a homossexualidade, dentre outras coisas.

Apesar disso, eu encaro as religiões como instituições importantes para a sociedade. Primeiro por que eu acredito que as práticas religiosas provocam uma formação moral nos indivíduos. Segundo por que eu entendo que todos os humanos necessitam de um objeto para investir suas angústias, seja nas produções artísticas, científicas, etc. Naturalmente que as religiões não fogem a regra.

Apesar das religiões serem fundamentais para a construção de uma ética entre as pessoas, assim como, uma instituição capaz de possibilitar um conforto em seus adeptos, elas, por muitas vezes estarem atreladas aos interesses de poder, negam-se a aceitar as contradições inevitáveis dessa realidade na qual vivemos. Aparentemente se renovam por se misturarem, mas insistem muitas vezes em tabus antiquados.

Acredito que isso acontece devido à necessidade das religiões em angariar uma porcentagem cada vez maior de público por ter interesses políticos e de mercado. Para mim, as religiões buscam unificar as crenças e preservar os tabus para manter o seu poder e evitar com que suas doutrinas sejam desestabilizadas. Não é por acaso que essas instituições negam as aspirações das dúvidas, uma vez que as duvidas propiciam o confronto com suas verdades que se querem fazer legitimadas.

Não condeno as posturas mantenedoras dos valores intentados pelas religiões, pois como toda instituição, elas objetivam regular as relações sociais. Mas eu também acredito que as religiões, por serem praticadas e pensadas por humanos que vivem em constante transformação, inevitavelmente devem possibilitar diálogos com eles para compreender suas carências e suas angústias.

Eu adoraria encontrar uma religião torta que não só se modificasse de acordo com as necessidades culturais, mas também que respeitasse as diferenças de seus adeptos. Uma religião que tivesse o papel de educar seus fiéis a conviver com a ordem social, mas que visse seus praticantes como humanos dotados de dúvidas e requestionamentos capazes de refutar, e, portanto, de criar novas formas de repensar sua própria fé.

28 comentários:

  1. Meu caro, Vina...

    Gostei da sua abordagem sobre a religião, mas me ficou a cutucar alguns diabinhos (graças a deus) acerca da sua sugestão de uma religião torta, a qual promulga ao que me parece um ecumenismo bastante aberto. Partindo da idéia de que as religiões se sustentam até hoje também pelos dogmas, ou seja, verdades absolutas, que essas instituições não permitem que sejam maculadas. Pergunto o seguinte: como a religião torta lidaria com a falta de dogmas? Teria espaço para o sobrenatural? Se a resposta for sim, como esse sobrenatural sobreviveria ao rolo compressor da inquietude torta?

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  2. Pra variar, muito pertinente a sua colocação. Bom, eu posso dizer a você o seguinte: uma religião torta não negaria dogmas, até por que, ela não deixaria de admitir a inevitabilidade das convenções que nos são impostas, ou seja, da existência de determinados modelos convencionados.

    No final das contas, todos têm e necessitam de alguns dogmas. No entanto, eu poderia dizer que uma religião torta, apesar de reconhecer que todos têm seus dogmas, não encararia esses dogmas como uma Verdade Absoluta, impossivel de ser requestionada, flexibilizada. Enfim, o dogma nesse sentido, perderia sua natureza rigida e seria reconhecido como existente apenas na questão da inevitabilidade em se reconhcer que os individuos querendo ou não, orientam e dão sentidos as suas ações, no momento em que agem de acordo com determinadas convenções que independem de suas formas próprias de pensar o mundo. Não deixaria de ser um dogma, mas também não deixaria de ser um dogma que desse espaço a inquietude humana, a inquietude torta.

    Para concluir, para o torto, apesar da realidade ser construida a base das convenções, ela por ser criação humana, não passa de uma fantasia passada de geração a geração, e por isso mesmo, a própria condição "concreta" da realidade, é o próprio espaço alem do existentente em si, ou seja, a própria condição existente é sobrenatural em si, e por que não existir a sobrenaturalidade na religião torta?

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  3. Bom, esse é um comentário interessante e que é sim (diferente do que a maioria pensa) um assunto a se discutir, afinal a religião molda esse mundo há muito tempo. Eu como ateu, não me sinto confortável nas religiões, por sempre terem suas respostas prontas e invioláveis. Onde fica o homem sem seu senso crítico, sem o uso de seu cérebro? De que vale um cérebro se vc não o utiliza pra raciocinar e apenas dizer SIM?! Não sou marxista, mas há uma frase interessante do Marx em que afirma "A religião é o ópio do povo", e é nela que não quero viver alucinado, sendo dopado pra que me mantenha sendo explorado, e aceitando que tal sofrimento seja algo que deva necessariamente passar, porém que numa vida pós- morte eu seja regozijado. É isso.

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  4. Maru, não posso dizer que sou ateu, mas posso dier convictamente que não possui nenhuma doutrina religiosa. Apesar de concordar com a sua pessoa ao mostrar a imposição acritica de muitas religiões, eu acredito que se as religiões muitas vezes não estivessem atreladas ao interesse pelo poder, poderia buscar construir a espiritualidade. Quando digo espiritualidade, refiro-me a capacidade critica e madura do homem em aprender a exercitar sempre o seu comportamento diante do outro, de aprender a reconhecer com humildade (n entenda humildade como submissão), a enxergar os seus erros e as suas virtudes, enfim, se reconhecer como um humano.
    abraços

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  5. Eu aceito o dogma como aporte para a minha finitude de ser humano. Certo? Mas se eu sou reflexivo e questionador como conviver com esse dogma? Afinal, o torto mexe e remexe com os sentimentos, valores e mentes como ele conviveria com o dogma? Como o dogma pode sobreviver a isso, já que ele se trata de um ponto indiscutível. Com seu impeto irriquieto ele, o torto, começaria a descontruí-lo e romperia com a rigida noção de dogma. Não acha contraditório o torto aceitar aquilo que ele mais combate que são as convenções enraízadas, imutáveis. No caso do dogma, como sobreviver na realidade torto se ele, poderíamos dizer é o extremo da convenção.

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  6. "Não acha contraditório o torto aceitar aquilo que ele mais combate que são as convenções enraízadas, imutáveis."

    Ser contraditório não significa caminho condenável para o torto kkkkkkkkkkk

    Porém, vou me explicar melhor:

    Quando digo que o torto aceita os dogmas, refiro-me ao fato de dizer o seguinte: apesar de ver a realidade como algo questionável,e, portanto, refutável, o torto admite que ele pra viver em sociedade, tem que, querendo ou não, agir de acordo com determinadas convenções que independem de suas formas próprias de pensar o mundo. Ou seja, mesmo sabendo que pode recriar conceitos sobre as coisas, o torto admite que, inclusive para ser torto, ele precisa ter o seu próprio confronto que são as convenções.

    Portanto, quando me refiro a dogmas, eu saio um pouco da idéia dos dogmas enquanto algo indiscutível, mas eu penso o dogma em uma religião torta enquanto algo convencionado, mas que possa ser flexibilizado.

    É como eu disse no final de meu texto:

    "Uma religião que tivesse o papel de educar seus fiéis a conviver com a ordem social OU SEJA, ACEITAR AS CONVENÇÕES,

    "mas que visse seus praticantes como humanos dotados de dúvidas e requestionamentos capazes de refutar, e, portanto, de criar novas formas de repensar sua própria fé.ISTO É, INDIVIDUOS QUESTIONADORES QUE PUDESSEM ENTORTAR ESSAS CONVENÇÕES

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  7. Qual seria, então, o instrumento de leitura de mundo do dogma torto? Tendo em vista que o da religião é a fé. E essa é vivida subjetivamente.

    Outra coisa,não concordo com a idéia de dogma, pois essa engessa muita coisa. ela tem um peso no imaginário coletivo, que na minha visão,que seria obstáculo para os vôos tortos.

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  8. Dogma torto não. Prefiro chamar de convenções tortas. Pra falar a verdade, eu nem associei no meu texto uma relação entre o que chamei de religião torta aos dogmas, na verdade, você quem associou quando disse em seu comentario: "Partindo da idéia de que as religiões se sustentam até hoje também pelos dogmas..."
    Eu que aproveitei essa sua relação com o dogma e passei a trazer questões referentes sobre a concepção que tenho em relação ao dogma no que diz respeito a minha perspectiva torta.
    Apesar de eu fazer uma leitura diferente da concepção de dogma no torto, eu concordo com vc. De fato, a idéia de dogma não se faz sustentável na perspectiva fluida e logicamente incoerente do torto. Prefiro trazer o termo convenções, pois ai eu articularia inclusive aquela sua concepção em mostrar o aspecto vulnerável do torto aos eixos que de certa forma norteiam essa vulnerabilidade.

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  9. "Qual seria, então, o instrumento de leitura de mundo do dogma torto?"

    Então,ACEITAR AS CONVENÇÕES E COMPREENDER OS INDIVIDUOS ENQUANTO AGENTES QUESTIONADORES CAPAZES ENTORTAR ESSAS CONVENÇÕES

    "o da religião é a fé" O DO TORTO É A ESPERANÇA DESILUDIDA VIVENDO UMA DESILUSÃO CHEIA DE ESPERANÇAS HEHEHE

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  10. Creio que convenções se adequa ao torto e fim de papo... Pelo menos até a próxima idéia.

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  11. A idéia de convenções é mais humana. E o torto é humano, demasiado, humano.

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  12. A tese do poder enquanto pano de fundo para a insistência em imperativos por parte das igrejas é bem racional e plausível. No entanto, essa tese incide mais visível e aceitavelmente no contexto da Igreja Católica, pois uma vez que quando se pensa em igreja é ela que primeiro nos vem à cabeça, acabamos por esquecer o perigo da afirmação em questão que pode ser interpretada, também, da seguinte forma: quanto mais inflexíveis os princípios é porque por mais poder se tem a zelar.
    Há igrejas, porém, em que o poder é diminuto e os dogmas mais pesados. Pensamos imediatamente que por força da alienação, mas eu quero lhes deixar uma pergunta que sempre faço questão de deixar: só existe senso crítico onde há subversão?
    O senso crítico pressupõe necessariamente a ausência de fé?

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  13. Meus caros tortos,
    Estou lendo vossa tortura e com isso me lembro posturas antigas e ultrapassadas da relação entre ciência e religião. Dizer que a existência de dogma feri o senso crítico é um absurdo. O dogma é construção racionalmente eleaborada com fins de dominação da massa. Toda a engenharia religiosa visa prender o indivíduo até o fim e torná-lo em um fiel até a morte. Nem o Estado com toda o seu aparato consegue manipular mentes com tanta força. e Vocês chamam isso de irracional, falta de senso crítico, etc. Tanto Kante como Webber colocam a teologia como uma razão, mesmo que seja a priori, ou seja sem provas empíricas. Se alguém do movimento torto ler um pouco sobre a cientificidade das ciências vocês verão que muitas teorias aceitas e aplaudidas não possuem provas nem o que é mais importante: a testabilidade, mas são ensinadas nas escoloas como verdades, e pronto. Lembram do BigBem? Pois é, nunca foi testado, mas estamos ensinando como razão, como verdade. Temos a tendência iluminista de aceitar tudo da ciência e negar tudo da religião. Isso é coisa de gente burra que acha que ser inteligente é falar do que não faz a menor idéia. O dogma está encrustado em nossa cultura e em nossas pesquisas científicas(popper). O sujeito da ciência leva a si mesmo para o seu laboratório, não existe imparcialidade em ciência. Logo, esta possui fragmentos de dogmas e tabus sociais e também nossos mitos que povoam nosso inconsciente. o Sujeito epistêmico é um sujeito dogmatizado pelo fluido social impregnado de dogmas morais e religiosos. E Alguém aí disse que religião não tem senso crítico? A religião domina o mundo e a vc a milhares de anos e vc nem percebe. Que idiotice. Meu caro vina, você tem toda razão, seu olhar para religião é lúcido, é sociológico, é torto. Reconhece-a mesmo não se identificando com ela. Você tem consciência que ele está em você, coisa inevitável. Já alguns por aí estão ainda dialogando antes de Guilherme de OCCam. Parabéns.

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  14. Josua,

    "só existe senso crítico onde há subversão?" Não, até por que eu considero a perspectiva torta com propostas bastante críticas, mas não considero como uma proposta unicamente subversiva.

    "O senso crítico pressupõe necessariamente a ausência de fé?"
    Não. O que eu quis dizer é que muitas vezes ocorre de determinadas doutrinas imporem seus valores como forma de evitar qualquer possibilidade que venha a desestabilizar os seus dogmas.
    Outra coisa: é preciso ter fé. Fé para mim, não é algo limitado às práticas religiosas. Fé para mim é se acreditar em um sonho, fazer cumprir um projeto de vida, é ter esperança. E como em toda esperança e em toda busca, passamos por momentos tortuosos que, antes de serem encarados como algo nocivo, servem para arquitetarmos novas perspectivas e amadurecermos novas questões.

    "Há igrejas, porém, em que o poder é diminuto e os dogmas mais pesados"

    Não compartilho. Desculpe-me se estou sendo de certa forma um tanto determinista, mas eu acredito que se uma determinada religião investe um peso em seus dogmas, é muito dificil ela ter o seu poder de forma diminuta. Se pensarmos o dogma implicado nas instituições religiosas como uma verdade absoluta, como diminuiremos o poder, uma vez que a própria liberdade interpretativa se sumbete ao controle dos dogmas?

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  15. Querido Roseevelt,

    Concordo com suas belas palavras. Muito do que dizemos como verdades, mesmo que comprovadas, não passam de uma perspectiva particularizada de um olhar cheio de dogmas de um determinado pesquisador.
    Porém, eu gostaria de propor um debate em relação a sua postura sobre o dogma: bem, de fato compartilho com a sua pessoa ao dizer que o dogma é tão elaborado quanto o "não-dogma", no entanto, eu acredito que esse dogma é logicamente argumentado, mas infelizmente, você, enquanto uma pessoa que tem experiências com religiões, assim como um conhecimento filosófico vastissimo sobre elas, que infelizmente os dogmas, mesmo sendo bem elaborados, são recebidos de forma passiva por muitos fiéis e que servem como forma de manter uma ideologia discursiva opressora que tenta impedir qualquer postura mais consciente entre os seus seguidores. Estou errado em minha concepção? Gostaria de uma opinião sua

    abraços tortos

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  16. Vina,

    Então eu interpretei precipitadamente a sua abordagem à questão do poder. Porque o que me veio à cabeça de forma repentina foi a seguinte lógica: quanto maior o poder político de uma igreja, mais exposta socialmente ela está, portanto mais ratificados são os seus dogmas a fim da plena detenção da manutenção desse poder.
    Como o caso que você mesmo me deu de exemplo: há pessoas nos altos cargos da igreja (católica) com vários doutorados, portanto pressupõe-se que as deliberações acerca do aborto são uma tentativa de conservação de status e não uma fé cega nas escrituras.
    Ou seja, pensei que você estivesse tratando o poder numa relação entre igreja e mundo externo e não igreja e igreja. Logo, pensei na Nova Gnose que tem um poder político extremamente diminuto, uma hierarquia quase inexistente (de modo que todos os seus adeptos podem chegar à mesma sessão em que se encontram os palestrantes), no entanto, por menos que se admita, possui fortes dogmas que são justificados ao meu ver, como ex-integrante, numa necessidade de desmaterialização da preocupação psíquica. De modo a voltá-la única e exclusivamente à busca pelo contato direto com a "coisa em si", e para tanto é preciso aceitar os dogmas em detrimento das vaidades intelectuais. Que aqui não se confunda com a filosofia católica medieval, pois além de extremamente sincrética, a Nova Gnose vai admitir um deus interior e não pessoal, e não há paraíso, e sim o desbravamento de dimensões talvez um dia experimentáveis pela ciência; como o hiperespaço.

    Enfim, não acho sua visão determinista e sim sociológica, o que é mais que óbvio que aconteça. Aliás, ótimo texto!

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  17. Sim, de fato eu acredito que a utilização dos dogmas serve muitas vezes para evitar uma desestabilização insitucional de determinada religião. Fazer crer nos dogmas muitas vezes, implica em uma necessidade de perpetuar seu poder.
    A conservação do status leva muitas vezes a fé cega, uma vez que infelizmente, as pessoas por não terem um senso mais instruido, passam a encarar as coisas de forma ortodoxa. Não quero dizer que as pessoas carentes de informação sejam apenas manipuláveis, longe de mim essa postura, mas convenhamos que a hierarquização do saber, dos detentores das "Verdades", seria muito mais requestionada se muitos fiéis possuissem um olhar mais critico para a realidade.
    Quanto a questão de tendermos associar a religião a religião católica, você não está errado. De fato, foi uma falha grave a minha de não especificar, ou de pelo menos ter deixado o primeiro parágrafo como eu havia deixado antes, de observar ao leitor que minha utilização de religião no plural, deve-se ao meu não aprofundamento sobre o assunto. Vcoê que ja participou de algumas tendências religiosas, de fato deve ter mais argumentos que minha pessoa. Obrigado por ter possibilitado essas questões.
    abraços

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  18. "Uma das coisas prejudiciais na religião, é que nos ensina a estarmos satisfeitos com respostas que não respondem nada". (Richard Dawkins)

    "Todos nós somos ateus para com a maioria dos deuses que a humanidade já acreditou uma vez. Alguns de nós apenas não crêem em um deus a mais". (Richard Dawkins)

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  19. Gostei Maru,

    No entanto, acredito que nenhum tipo de resposta, seja ela religiosa ou não, não consegue trazer verdade alguma. Quando digo verdade alguma, quero dizer verdade verdadeira. As refutações científicas estão ai para nos provar que apesar de serem movidas por metodo, argumentações e analises de dados, não deixam de ser requestionadas, pois no fundo, elas não trazem nada de concreto absoluto a ponto de sabermos qual a verdadeira resposta para as coisas. Seja fé, seja razão, o humano vive transitando em uma órbita que aparentemente parece ser parte de seu dominio, mas que não passa de uma ilusão em achar que tem acesso a alguma coisa em definitivo. Somos terráqueos deixando marcas em solos terrenos, mas disseminando nosso rastro em uma esfera infinita de possibilidades que se encontram além de um pequenino grão de areia perdido na galáxia chamado planeta Terra.

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  20. Não meu caro vina torto,
    Você não está errado quanto a passividade do fiel. Essa passividade já é resultado de um dogma muito perigoso chamado de "fé irrestrita". O fiel teme desconfiar porque sabe que sofrerá retaliações do grupo. Psicologicamente falando, como diz Dona Cleones em sua monografia "Fanatismo religioso e a opus dei, o fiel passa a ter um infantilismo intelectual. Sem este os outros dogmas não serão internalizados. Abraços.

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  21. Maru, em que pese eu achar o livro de Dawkins (deus, um delírio) um bom jantar servido cru, gostaria de fazer observações a estas citações.

    ""Uma das coisas prejudiciais na religião, é que nos ensina a estarmos satisfeitos com respostas que não respondem nada"

    Você vai me desculpar, mas, de um ponto de vista psicanalítico (e não dogmático) a religião responde tão bem à nossa condição de seres faltantes quanto a ciência.
    O mesmo planeta Vênus já foi, na antiguidade, tido como estrela da noite e estrela da manhã. A ciência antiga pecou pelo generalismo e a ciência moderna peca pelo especifismo. Michel Villey, um grande jusfilósofo, observa que a ciência moderna condicionou os cientistas a “operar abstrações”. Isto significa dizer que o conhecimento hoje é tão strictu sensu, que foge ao cientista a compreensão do todo, de modo que a realidade perpassa sua própria restrição de objeto. E, para mim, este é o problema de Dawkins, um grande biólogo, mas que quando parte para as observações filosóficas é mera cópia do materialismo do século XVIII (quem leu Diderot sabe) e ainda comete equívocos constrangedores, como um texto sobre a utilidade da teologia (para ele, inútil) e outras “respostas” bem fraquinhas ao que ele chama de “clichês teístas”.

    Vamos pegar, por exemplo, um dos capítulos de “deus, um delírio” chamado “os argumentos dos cientistas admirados e religiosos”.
    Dawkins finaliza este capítulo com pesquisas que apontam para uma relação entre nível de q.i. e grau de religiosidade. Pois bem, eis um exemplo de um mal do generalismo, pois além de ser uma pesquisa realizada em determinados contextos, em super restritas culturas, o fenômeno humano perpassa muitas vezes a fria estatística (aliás, conversando com minha namorada, que está estudando a área, fiquei horrorizado pela maneira que as estatísticas são manipuláveis).
    Peguemos o caso que nos é mais próximo – Sergipe. Peguemos duas áreas que trabalham vitalmente o senso crítico: a filosofia e a psicanálise. Temos, como maior expoente no campo da psicanálise em Sergipe, o professor, doutor em Letras, Antônio Cardoso Filho. Este não só tem um q.i. comprovadamente alto, como figura como expressão nacional na área psicanalítica. No entanto, é um católico fervoroso. Será que por burrice? Por falta de senso crítico?
    Na área da filosofia, o professor Rodrigo Jungmann, que defendeu seu doutorado na Universidade da Califórnia (Riverside) CORRIGINDO uma visão do filósofo da linguagem Frege. Ele é membro da sociedade internacional de QI’s altos, professor de filosofia da linguagem e lógica (!) e ainda assim é teísta.
    Vamos mais a fundo, com o professor Raimundo Galvão., que possui só cinco graduações (três delas na europa) e pós doutorado. Uma de suas formações é em teologia, e ele faz trabalhos comparativos entre as relações mitológicas da bíblia e da mitologia grega. Você poderia achar que constatando que a bíblia não é “a verdade”, uma vez que é cópia cultural ele fosse ser descrente, mas não, é cristão convicto.
    Então eu creio que o mal da militância ateísta é o mal de toda militância – achar que dá conta de toda a complexidade do mundo.
    Há senso crítico dentro das igrejas e mesmo a ciência nada mais é que uma eterna tentativa de complemento a nossa falta.

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  22. *retificando = vênus já foi tido como estrela da TARDE e estrela da manhã...

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  23. "Eu costumo pensar as religiões como um fenômeno social como qualquer outro, e que por isso mesmo, vão se modificando de acordo com as necessidades culturais dos indivíduos em cada contexto histórico. "

    Eu acho essa proposição interessante, não porque haja algo de revelador nela, mas pelo fato de eu perceber que essa agregação de veios religiosos a um só veio, o catolicismo, além de ser algo em voga, talvez, somente nas bandas da Bahia, é uma forma de sincretismo fortemente combatido pela 'instituição católica'. Isso fica claro quando se assiste a canais como a canção nova - alvo de críticas pelo próprio, como o Josué nos diz, Doutor Cardoso - e se analisa as posturas tomadas por nosso novo Pastor Alemão, como diz o professor Romero para se refir ao papa.

    "Porém, apesar da inevitável mudança, algumas religiões se mantêm estáticas, não conseguindo respeitar e se adequar às mudanças morais da cultura. Por exemplo: algumas religiões ocidentais insistem em negar o divórcio em um contexto no qual as relações são transitórias, negam o uso de preservativos onde o sexo é praticado geralmente antes do casamento, assim como negam a homossexualidade, dentre outras coisas."

    Religião é também manifestação cultural e, no seu papel de instituição, deve estabelecer os seus parâmetros. O que está em jogo na teia das religiões não é a salvação dos seus fiéis, tampouco o amor ao próximo. O que há, e isso é claro, é a disputa por espaço a fim de que se valide, frente a outras doutrinas, uma hegemonia econômica por parte de cada uma. Isso é a fé. Mesmo a reforma, um contraste em relação ao catolicismo 'natural', também é um exemplo do que falo, não à toa se diz que esse movimento teve, sobretudo, um fim burguês, onde os próprios contra-reformistas sempre se valiam da reforma para imiscuir os seus milites.

    O mesmo acontece, a meu ver, com o império norte-americano e ninguém diz 'Muita imposição, pouco respeito'. Pelo contrário, o que vemos, vide a invasão do Iraque, é um eterno sobrepujar das deliberações tomadas pela ONU, que é uma organização deliberativa de cunho internacional, e a falta de importância para com a vida, fazendo da política um fim para si mesma, empurrando ao lamaçal multi-nacionais países pobres e emergentes. Muito fast food e pouca crítica a ele.

    "Apesar disso, eu encaro as religiões como instituições importantes para a sociedade. Primeiro por que eu acredito que as práticas religiosas provocam uma formação moral nos indivíduos. Segundo por que eu entendo que todos os humanos necessitam de um objeto para investir suas angústias, seja nas produções artísticas, científicas, etc. Naturalmente que as religiões não fogem a regra."

    Melhores que as minhas palavras sobre isso, faz Nietzsche uma crítica contundente. À parte as inquisições - que jogaram à fogueira um quinhão interessante do pensamento humano - e essa disciplina no medo que pretende humanizar e preparar as pessoas para o paraíso mediante sustos, a formação moral dos indivíduos é arbitrária e deficiente. Embora concorde até certo ponto com você, acho que é de se pensar a respeito disso, pois, intercalando as evidencias, parece-me até que essa moralização é um pouco torta: se moraliza, mas se deixa manter viva a mácula.

    "Mas eu também acredito que as religiões, por serem praticadas e pensadas por humanos que vivem em constante transformação, inevitavelmente devem possibilitar diálogos com eles para compreender suas carências e suas angústias."

    O problema é que o diálogo, o que subtende-se dialética, já toma como primeiro referencial uma problemática. Se se permite um diálogo desse tipo, evidentemente que a religião não se sustenta. É por isso que digo: ou religião ou teísmo.

    Adendos:

    A aceitação do absurdo deve partir de um apelo individual, mesmo com religião, sempre soçobrará, no indivíduo, o lacônico. Como diz o Camus, n'O mito de Sísifo, chega uma hora que iremos desejar algo e o mundo não terá nada a nos oferecer.

    Cardoso é católico, é? rs, nem parece...

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  24. Maldito,

    "a formação moral dos indivíduos é arbitrária e deficiente".

    Concordo plenamente. Inclusive a minha crítica em relação as doutrinas religiosas, refere-se a esse amansamento humano, a esse cordeirismo pacato e covarde. Como eu disse, eu acho que o caminho mais interessante em se pensar a existência da religião na sociedade, é pensá-la como uma instituição que, assim como quaquer instituição, tem o papel de ordenar e regular as relações entre os indivíduos, porém, uma religião que admita que inevitavelmente seus adeptos são humanos cheios de lacunas, de virtudes, de erros, e de constantes mudanças. Porém, como você disse: "O que há, e isso é claro, é a disputa por espaço a fim de que se valide, frente a outras doutrinas, uma hegemonia econômica por parte de cada uma".

    Mesmo assim eu admito que precisaria vivenciar mais o cotidiano dos adeptos religiosos para afirmar muitas de minhas convicções expostas em meu texto.

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  25. Um dia eu disse que quando alguém sucitasse um tema sobre religião como o fez o jovem vina, a coisa ia pegar fogo. Tenho lido todos os comentários, e os considero válidos. Contudo, entendo que cada um lê a religião de uma forma diferente. O mais importante é não confundir religião e Deus. A primeira é uma tentativa, a segunda é uma icógnita. O debate ficaria mais frutífero se os colegas abrissem o leque para outras expressões religiosas como o culto afro que dialoga muito mais com o real de que as religiões estatais. Falar sobre o culto afro é sair do maniqueísmo católico e protestante e entrar numa dialética entre o que chamamos bem e mal. Abraços.

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  26. Mikaella,

    muito interessante essa sua observação sobre a diferença entre Deus e religião. Nosso querido torto Rossevelt, inclusive ja havia feito essa observação em alguns textos anteriores do nosso ex-integrante, João Maldito, que discutiram sobre religião.
    Inclusive, foi bom você ter proposto uma abordagem sobre as religiões afro, pois realmente a visão que busquei trabalhar partiu por um viés sociológico. Reconheço que não tenho muito dominio sobre religião, até por que eu fui criado em meio a uma familia que não tem nenhum habito em praticar qualquer tipo de rito religioso.
    Acredito que Roosevelt seria a pessoa mais indicada em trabalhar essa relação com as religiões afro, afinal, ele estuda de forma muito minuciosa as religiões.
    Aproveito e faço um pedido que ja fiz tem um bom tempo a Roosevelt: faça um texto sobre a umbanda através de uma ótica torta. Seria muito enriquecedor para o site.

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  27. Porém temos de ver sobre qual deus devemos separar a religião, já que até o momento tratamos de um deus cristão. Podemos debater aqui de um deus qualquer, afinal são tantas as religiões. Vamos em frente...

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  28. Pelo que me parece, o Deus cristão, é um Pai aterrorizador. Culpabiliza seus filhos por tudo que desvie de suas espectativas egoisticamente divinas. No entanto, vamos convir que esse Deus, é a entidade de alguns tipos de religião. Em minha concepção, Deus não é um Ser que vive andando entre as nuvens com olhos de imposição. Primeiramente eu tenho que dizer que as religiões, independente de elas serem ou não cristãs, devem repensar esse Deus. Porém, admito q sou pessimista com relação a essa mudança de perspectiva. Na verdade, eu acredito que os chefões da hierarquia dessas religiões cristãs devem no minimo questionar se Deus realmente fez o mundo em sete dias e blá blá blá, mas para eles, é muito melhor sustentar esse mito e fazer com que seus adeptos vivam no mundo da fantasia acreditando que se não desviarem suas condutas, conquistarão o paraíso, se desviarem, queimarão no fogo do inferno.
    Acredito que as vezes, até os grandões admitem para eles que Deus na verdade é toda a busca enigmática dos caminhos inacessiveis que todos nós carregamos dentro de nós. As vezes acho que eles bem sabem que Deus é o nosso constante eercicio de reconhecermos nossas falhas, melhorarmos nossas intolerancias diante dos outros, pois atuar com o divino,~significa nada mais nada menos que reconhecermos que a divindade não é existente em seu sentido concreto, mas sim em seu sentido questionador, critico. Para mim, acreditar em Deus é duvidar ao mesmo tempo de sua existência. Porém, volto a dizer: infelizmente, acredito que as religiões cristãs não estão nem um pouco afim de compreender esse tipo de Deus entortado, esse Deus que brinca, que fica com raiva, que encontra suas trilhas, mas que nunca tem o mapa. Enfim, as religiões resistem em querer aproximar seus adeptos desse caminho espiritual atormentador, preferindo se limitar a um Deus que pune, que gera medo em seus fiéis. Claro, esse Deus serve como forma de controlar as imprevisibilidades humanas, e as religiões têm muitas vezes um evidente interesse em buscar estabelecer uma harmonia além do próprio humano dotado de carne, de unhas e de dentes pra morder quem tiver pela frente.

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