quinta-feira, 20 de maio de 2010

Uma torta merda de um merda torto...

Não posso negar minha vocação pelo torto nesta vida que insisto em chamar de minha e viver com os outros e às vezes para os outros. Sei que após cinqüenta anos de tremenda ignorância aprendi muito pouco, e o que digo é uma cópia grosseira da razão alheia. Não devo afirmar alguma coisa nova porque o medo de fazê-lo tem um sentido histórico que me remete a Portugal ou as senzalas que eles acharam uma boa idéia construir por aqui. No entanto, este cidadão de plástico, esta entidade fluida insiste em pensar o pensamento dos outros e tentar encontrar algo dentro de si: Eu sou a soma de todas as épocas e de todos os ditos em todos os tempos. Sou uma alma universal. Isso é quase meu! Confesso que Gustav deve estar orgulhoso de seu velho discípulo. Estou me individuando, estou saindo da adolescência. Já era tempo! Este constante afirmar e negar torto, confesso, me deixou com dobras na bunda e o zipper quebrou de tanto subir e descer. É fato que somos um negando, também, é fato que somos um afirmando, e ainda somos nem uma coisa nem outra, pois somos como macacos imitando o outro a comer bananas e fazerem caretas. Cada um critica a careta do outro porque acha que a sua foi mais convincente. A isso chamamos de filosofia. Símia, primata razão! Não há nada lá fora no mundo. E o que temos aqui dentro são as impressões deste nada que preferimos chamar de mundo. O torto sabe disso. O verdadeiro torto não se perturba com os lampejos de sanidade que temos. Pelo contrário, ele goza um orgasmo profundo quando sabe que tudo é constituído de moléculas vazias e átomos desgovernados, e que o cosmo viaja para lugar algum. O todo, ou o tudo, é um eterno e imutável nada. Acho que um filósofo alemão cagou-se na sepultura neste momento. Nietzsche é pura metafísica diante do torto. Ele foi um torto embrionário, um noviço, alguém que viu o abc, mas não teve vida bastante para entender que o que ele pensava ser filosofar era apenas uma pedra apoiada no vácuo. Ele ainda acreditava na humanidade. O termo humanidade não é a soma de todos os homens e de suas produções. Aqui, humanidade nos remete ao homem enquanto animal. O filósofo irreverente não viu a necessidade de inversão. Ou matamos o homem e instituímos a república do bicho ou não haverá possibilidade de nossa espécie continuar falando besteira por mais algum tempo. Jung preferiu chamar naturalidade, eu, digo, e o faço de mim mesmo, é animalidade. Precisamos sentir o cheiro de nossa bosta, de nossos odores e fluidos, precisamos redescobrir alguém que foi escondido no armário porque a igreja queria o retrato de Deus na parede. Precisamos encontrar o nosso animal e filosofar com ele, e a partir dele, Boa noite galera torta. E salve a merda.

4 comentários:

  1. Dois pontos que achei formidáveis em seu texto. O primeiro diz respeito à verdade que cada um de nós acredita ter. O segundo se referiu a um debate que você já andou chamando atenção, mas que nunca é demais reexercitá-lo, que é o debate referente à inevitável condição de bicho do homem.

    Foi extremamente interessante você observar a nossa idiota necessidade de argumentarmos nossas verdades tentando prová-las a todo instante para o mundo, sem perceber que vivemos todos perdido dentro de uma mata cheia de armadilhas, curvas e enigmas provocadas pela linguagem. O mais engraçado de tudo é que no final das contas somos um bando de macacos rindo da careta do outro jurando que nossa careta é a mais convincente.

    Por falar em bicho, quero fazer um comentário sobre a sua observação referente a condição animal do homem. Seria muito bom que nós humanos admitíssemos que antes de termos essas verdades que legitimamos muitas vezes de forma prepotente, admitíssemos que alem delas nós somos instintos, cegos diante da mecanicidade natural da mata. É devido a isso que terminamos por não saber valorizar nossa merda, como também de não sabermos cheirar nossos dedos amarelados depois de terem passeado pelas bordas do cu, de cheirarmos nossas virilhas, e de uivarmos por comida, por sexo e por uma boa tolocada, esquecendo por alguns instantes nossos lápis e papeis sabidos, frustrados e frios de tanta razão.

    Parabéns!!

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  2. Cantar animalidade torna-se hoje um mecanismo para fugir de nossa mania de classificar, de identificar caraterísticas semelhantes entre os seres e a partir disso conceituar.

    O instinto é escorregadio, é nossa pulsão para se desenvolver, nossa insatisfação costante, nos traz a vontade de tortidão, o sofrimento que eleva, mais ou menos o que diz Nietszhe.

    Embora tragamos conosco essa vontade de potência do pathos, o homem biofisicamente é também uma máquina feita para produzir perspectivas, elas lutam no cenário dos afetos, dos conflitos, e forças, fazem parte de uma seleção natural das verdades.

    O homem também tem vontade de verdade. Algumas vedades estão póximas da assunção do sofrimento, são mais benéficas ao desenvolvimento da espécie animal, outras fogem do sofrimento, não superam as barreiras e definham o vigor do homem. Isso também foi dito pelo Nietsche.

    Penso que não exitirá uma total animalidade. É muito perigoso o ecomio desse estado. Basta uma leitura rápida dos textos de Sade, principalmente o círculo da bosta e o cículo de Sangue (assistam o filme Saló 120 dias de Sodoma baseado nesses textos).

    Quando pregamos certas coisas precisamos admitir as responsabilidades sociais e práticas de nossos textos. Pode ser bizarroe e retórico o exemplo, mas vale a pena trazê-lo: quem aqui está em condições suficientes de animalidade para matar o pai, a mãe e os irmãos, quem tem coragem de fazer sexo com irmã. Freud baseado em Nietszche e Shopenhauer fala de tabus da civilização. Podemos discutir muito sobre isso depois.

    Acho que afirmação da animalidade por Roseevelt ainda é simples e pueril, caí na modinha pós-morderna de derrubada dos ídolos, mas não traz o porquê dos ídolos na história em geral e nem discuti a responsabilidade (irresponsabilidade) moral de viver sem eles.

    Creio que o movimento ganharia muito mais se saísse da linha de argumentação de Nietszche, Hume, Shopenhauer (bem implícita na maioria dos textos dos tortos, mesmo que alguns não tenham lido esses autores) e entrasse na linha da linguística pragmática, da teoria de Habermas e mesmo da nova retórica.

    É o que penso. Depois discutimos mais sobre a animalidade. Se quiser Roseevelt marcamos um dia para conversarmos. Minha pincipal sentença é: a total animalidade anula completamente a responsabilidade ética, está preparado para esse estado!

    Anderson Eduardo do Couto

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  3. Não me recordo de ninguem ter falado de total animalidade neste texto. O que eu me lembro bem é que Roosevelt mostrou que é necessário o homem deixar as suas razões suspensas por um tempo e aprender a cheirar a própria merda.

    Meu caro, faz-se de fundamental importância aprendermos a admitir o nosso lado bicho tambem. Enxergando nosso lado bicho, conseguiremos inclusive revisar melhor as decisões tomadas pela razão, uma vez que não ficaremos limitados apenas a acreditar de forma idiotizada na preponderância solitária desta.

    Olhando também nosso lado bicho, aprenderemos a enxergar e compreender com mais clareza o que denominamos como erro do outro, pois percebendo que somos tambem bichos, teremos consciência de que o humano não é um Super-Humano infalível como quer insistir em acreditar você e tantos outros terráqueos aliens.

    Não vi nada de pueril nessa abordagem. Pueril é a sua concepção em viver brincando de pensar a vida como sempre a velha, objetiva, sisuda e "coerente" ciência, e achar que o viver apenas tem sentido dentro de um laboratório cheio de instrumentos e metodologias.

    Sentidos, consciencia, razão ou o que se queira chamar, é fato que a vida tem, mas de nada vale insistir que temos isso, sem admitirmos nosso lado instintivo. De nada vale pertinentes descobertas cientificas e racionais, se ficarmos limitados ao dogma da razão. Dogma esse que tem se provado, apesar de metodologicamente comprovado, arrogante, prepotente, petulante, por colocar o humano babaca como a única espécie merecedora do ápice da pirâmide.

    Meu querido Anderson, você também é um animal, assim como eu e todos os demais. Cultura, Verdade, Razão é o que convencionamos, e por vivermos submetidos a essa convenção, óbvio que não podemos negá-las, mas lembre-se: tambem somos bicho com fome, correndo atrás da presa no meio dos mato densos do nicho social e humano.

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  4. Meu caro Anderson,
    O torto não assume posições, por isso ele não deseja um estado de total animalidade. Mesmo porque ele sabe que este estado não está totalmente ausente.O amigo que é das ciências jurídicas deve ter estudado criminologia. Então deve saber das psicopatias criminais. Parricídio, matricídio, incesto, etc, enfim tudo que havia no antigo estado de barbarie. É ilusão acharmos que somos civilizados ao ponto de termos escondido bem fundo nossa prórpia bosta. Observe que quando chove o bueiro transborda e caminhamos sobre nossos objetos fecais. Vejo que o colega não estudou a biografia de Freud. Freud afirma nunca ter lido Nietszche quanto a shop(...) tudo bem. Se você acompanhar meus textos verá que não são tão inocentes como o amigo pensa. Precisamos entender que toda leitura é uma releitura. O amigo talvéz não tenha se apercebido de algumas coisas que ficam entre as linhas. Abraços direitos.

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