segunda-feira, 24 de maio de 2010

Maconha é legal

Neste texto pretendo abordar sobre um tema bastante polêmico que é a maconha. Não é minha intenção discorrer sobre os outros alucinógenos. Escolho a maconha, pois além de atualmente existir manifestações a favor de sua legalização, conheço pessoas que fazem uso dela, e que nem por isso deixam de exercer dignamente suas funções na sociedade, o que me leva a não compreender o porquê de sua ilegalidade.

No entanto, apesar dos usuários lutarem pela legalização da maconha, muitas vezes o que eu percebo é que esse grupo exige o fim de um tabu que não se pode acabar da noite para o dia, achando-se no direito de desrespeitar o espaço e os valores dos não-usuários. Já os não-usuários, por muitas vezes possuírem uma carga enorme de preconceito em relação à maconha, agem de forma intolerante com os usuários.

Para mim, os não-usuários têm que saber que apesar dos usuários manterem práticas que vão de encontro aos seus valores, cada grupo se utiliza daquilo que lhe convém. Já os usuários devem compreender que apesar deles acharem normal o uso do alucinógeno, existem outros valores que não compactuam com os seus, e que isso deve ser respeitado.

Por falar em respeito e limites,eu gostaria nesse momento de tentar provocar algumas discussões referentes à democracia e a lei. Na sociedade atual, a individualidade, ou seja, a parte, prepondera à coletividade, isto é, o todo. Portanto, será que o respeito intentado pela democracia como a vontade da maioria ainda pode ser aceitável? Uma lei capaz de convergir aceitações para uns e não para outros ainda é sustentável?

Os que não pertencem a “maioria”, também não se encontram submetidos aos mesmos deveres cívicos como qualquer outro? Por que essa parte que não pertence à “maioria” teria que ser excluída em prol de uma decisão “democrática”? Que “maioria” é essa? Será que buscando atender a “maioria”, o ato “democrático” está de fato exercendo seu papel de respeitar as diferenças?

Outra coisa: em um contexto no qual as opiniões são incessantemente reformuladas, como legitimar o que é certo e o que é errado? O que é ilegal? Aquilo que de fato é proibitivo para todos, ou aquilo que desagrada aos valores de um grupo? Em um contexto de profundas mudanças, o que é definitivamente certo ou errado? O que se encontra fora e dentro da legalidade?

Obviamente que as leis são fundamentais para a sociedade, visto que é através delas que os indivíduos se mantêm diante de uma ordem social. Porém, essas leis devem ser pensadas como responsáveis pela tentativa de equilíbrio, de integração da diversidade, e não unicamente como imposição e exclusão. É salutar pensarmos questões referentes ao direito à diferença em um contexto heterogêneo como o nosso.

Para os usuários e aos não-usuários da maconha, novamente volto a observar a importância de entortarmos nosso olhar. O usuário tem que compreender que existem valores diferentes do seu que devem ser respeitados. Já o não-usuário deve estar ciente de que não é por que o ato de fumar não faça parte do seu dia a dia, que necessariamente ele possa se achar no direito de excluir os usuários.

Para mim, a maconha está dentro de uma legitimidade, visto que, querendo ou não, ela é aceita pelo grupo que a consome, sem contar que ela possibilita o surgimento de novos valores sociais, e isso não pode deixar de ser levado em conta. Enfim, os usuários tambem são partes das identidades que compõem a sociedade. Mesmo não estando dentro da aceitação da lei, para mim, a maconha é legal.

6 comentários:

  1. Você fez uma colocação prescritiva ótima. Ou seja, em termos subjetivos está completo.
    Mas, comos ei que você tem condições para tal, seria ainda mais interessante se você discorresse sobre as consequências sociais. O que ao seu ver é mito ou não.

    Abraço!

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  2. Quando vc fala em mito, se vc quer se referir ao fato de saber até q ponto a maconha pode ser prejudicial ou não, eu posso dizer o seguinte: todo hábito quando se torna compulsivo é nocivo. Isso vale para a maconha, o alcool, rezar demais, curtir ou estudar demais. Como diz o dito popular: tudo que é demais, é sobra.

    No entanto, eu nego a aceitar determinados discursos. Por exemplo: posições deterministas que acreditam que o uso da maconha necessariamente leva a outro alucinógeno. Isso é frágil. Claro que existem individuos que, por não conhecerem limites, perdem-se na intensidade das coisas e terminam por transitar por outros caminhos. Porem, acredito que isso é fruto de uma falha no que diz respeito a uma educação familiar, e não pelo fato da maconha necessariamente levar a outros alucinógenos.

    Quem cai nessa é por que buscou a maconha sem consciência. Dai vc pode me perguntar: então? e se não houver consciência? Ai eu te respondo: o não ter consciência implica o uso de qualquer coisa, não se restringindo apenas a maconha.

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  3. Concordo com Josué sobre discorrer sobre os aspectos socio-culturais.

    A discussão moral e juridica é interessante,porém o imaginário social traz outras informações interessantes que podem ser abordados, como exemplo, a relação da maconha com a marginalidade, ou da relação de intencionalidade de práticas criminosas que é atribuída ao consumo da erva.

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  4. Alysson,

    Realmente são muitos debates que em uma dimensão pequena como a deste texto não poderia trazer. A maconha é um tema complexo e polêmico.

    Porém, só posso dizer que a minha intenção neste texto foi a de ressaltar a intolerância entre os grupos dos usuários e os do não-usuários, além de tentar problematizar o papel da democracia como a vontade da maioria, observando a carencia de eficácias no que diz respeito a uma cultura caracterizada pela pluralidade e pela preponderância da individualidade.

    Com essas observações interessantes, eu proporia que você ou Josué escrevessem algum texto para o torto complementando sobre esse assunto.

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  5. Vou pensar na possibilidade, tendo em vista que tenho outras prioridades de temas para as próximas sextas.

    O que Josué chama de mitos são aspectos da convivência social em torno de grupos e do simbolismo que a erva causa.

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  6. Quando o tema é maconha uma porção de sacana, cheirador de pó e às vezes queimador de anel de cheiro se escondem atrás de uma capa de mais ou menos, ou sei lá, parece que é. A sociedade deseja discutir a maconha. Este tema fascina e é objeto de consumo de milhões de brasileiros que trabalham, pagam impostos e contribuem com a sociedade desse país. O tema de vina torto é instigador e pretende abertamente pôr no lugar o que já deveria ter sido posto a muito tempo. Parabéns. Confesso que o tema deveria ter provocado mais, parece que o pessoal desentortou..hahahaha

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