sábado, 22 de maio de 2010

“ÔH LINDA NÃO DEMORE LÁ NO CABARÉ. VOLTE MAIS CEDO QUE EU TÔ TE ESPERANDO. GOSTOSO É VIVER TE AMANDO”

A transgressão bregueira discutida na semana passada será o nosso mote nessa semana, com tratamento para a perspectiva dos sentidos e significados desse o imaginário social. Foi comentado que o Brega é associado ao rotulo de coisa ruim e de mau gosto e que essa posição foi concedida a partir do julgamento de valor que as camadas médias atribuíram a um segmento da música popular e eu levantou algumas questões: Quem define a musica Brega como Brega? Quem atribui o caráter pejorativo que norteia o termo e sua pratica? As características desse estilo musical foram atribuídas de que forma, em qual situação?
Mesmo legitimado pelo grande público, a discriminação ainda existe por parte das camadas média e alta, mesmo essas as negando e as consumindo. O Arrocha, por exemplo, é herdeiro dessa nomenclatura, assim como o vaneirão, a pisadinha, tecnoBrega, o funk carioca, e por aí vai, no entanto as boites. No meu ponto de vista, a musica é construida através do contato daquele que faz música e seu universo socio-cultural, que utiliza como canal de expressão os diversos estilos, que por sua vez se veiculam predominantemente a determinadas camadas sociais. Por exemplo, a música clássica possui uma aceitação maior pelas camadas mais altas e médias do que com as camadas populares. Além disso, a música também funciona como construção de identidades e representações, ou seja, o individuo se auto-reconhece e é recoconhecido. Portanto, numa relação de negociação e conflito.
O Brega é geralmente associado ao ultrapassado, cafona, kitsch, algo que foge aos padrões Por exemplo, utilizar uma roupa que não esteja nos padrões da moda, ou mesmo acessórios, utensilios ou móveis para casa, a utilização de cores extravagantes para as convenções pode vir a receber o rotulo de Brega, representando cultura de mau gosto. Além de termos ou palavras.
Embora possam parecer opostos, o ser Brega e o ser moderno são representações. O Brega surge no bojo da modernidade e que como tantos outros bodes expiatórios da história, ele é elito como a nomenclatura designar uma determinada representação. Será, que podemos assim dizer que ele, O Brega, foi escolhido como bode expiatório para representar um moderno mal feito? Enquanto as informações vão processando vamos falar da característica moral do Brega.
A música Brega incomoda a moral e aos valores das classes mais abastardas pelo fato de, acredito eu, exporem tabus de maneira tão direta. Escutei um amigo falar que o Brega não tem letra, pois trata seus temas de forma direta, na “lata”, sem poesia. Discutir sobre emoções, sentimentos de forma dramática, dizer que vai morrer se a mulher não voltar, se apaixonar por uma mulher de cabaré e sofrer por ela, estar apaixonado por duas mulheres e confirmar isso, dizer que vai ao bordel e que gosta da putaria.
O Nordeste chama também de Brega os bordeis, locais de afronte a moral e aos valores do casamento e da sexualidade. A representação de que o corpo é sagrado e não pode ser violado e que deve ser guardado para uma relação “sadia” entre um casal de heterosexuais. As concepções puritanas, mesmo tendo perdido a força, ainda ronda como um fantasma insistente e presente. O fato é que os Bregas representam o exemplo a não ser seguido, pois lá a forma de praticar sexo não é o esperado e nem o comportamento das mulheres e homens condiz com a idéia de monogamia e moral.

Assim como escolhemos bodes expiatórios como os portugueses, índios, mulheres, gays e negros para fazermos piadas, como forma de expressar fragmentos da nossa moral cristalizada, expondo assim, uma caricatura para representar caracteristicas como baixa intelectualidade, pouca habilidade para realizar tarefas, preguiça, doenças, violencia, perverção e promiscuidade.
O Brega como expressão utilizada socialmente possui conotação pejorativa sendo atribuída a praticas, objetos, expressões e representações. Essa expressão é situada para aqueles que possuem uma outra construção cultural.

2 comentários:

  1. Querido,

    O que acontece é que a música brega afronta os canones legitimados pelo setor prestigiado socialmente, sem perceber que está subvertendo alguma coisa. Vamos pensar assim: enquanto os caralhudos "mais inteligentes", tentam subverter a ordem como forma de se autoafirmarem ou de mostrarem a necessidade de um projeto para a tentativa dessa subversão, os setores populares- geralmente os maiores consumidores e produtores da música brega- subvertem simplesmente por que agridem os valores do setor intelectualizado, mas eles muitas vezes sequer pensam premeditadamente:- vou fazer essa música para destruir a hipocrisia e moralismo da sociedade, etc.

    Eles são subversivos sem pensar em ser subversivos. Óbvio que isso agride a classe média, visto que ela quer apenas professorar aos setores populares que eles podem mudar a realidade deles, mas essa mesma classe que quer professorar, jamais aceita a condição de seus filhotes de baixo da piramide social poderem refutar condutas cristalizadas sem ter a necessidade de fazer isso esperando o toque dado por ela.
    Enfim: sejam criticos meus filhotes, mas não critiquem sem antes me consultar, afinal, sabemos até em que limite vocês podem ser vocês sem que o nosso prepotente território seja desestabilizado.

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  2. Valeu Vina. A representação que os termos associados as classes populares vai além da música. Essa é apenas a expressão dessa relação de conflito.

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