quinta-feira, 3 de março de 2011

MEU SONHO

Meu sonho

O violão fala a cada acorde.
A noite se fadiga de um dia já vencido.
As instituições mergulham nas sombras negras da noite de muitos,
Pois o sol só nasce para poucos.
Poucos que se somam milhares de sem rostos, meros esquecidos,
Deixados para trás em uma luta desigual.
O violão não se cala, não fala, agora geme o meu cântico vestido de roxo e azul.
Não espere a aurora nascer.
Antes disso estou de pé.
Somam-se, aos milhares, as caveiras vivas de nossa mortandade urbana.
Um dado da semana, e dela lágrimas emana dos que se perderam por um momento.
Eu lamento!
Não nego, sempre disse, a calçada é de cimento,
Totalmente imparcial.
Os pés são o bem e o mal.
O violão estala tons que não entendo,
Só sinto que há uma música.
Uma canção distante,
Ela me diz de dias vindouros,
Um desejo,
É bom desejar,
Olhar para o mar,
Aguardar a maré retornar.
Pisar a espuma das águas na beira da praia.
Acreditar que nada é como se apresenta.
Ou é totalmente como dizem.
Lembrar de Lindalice.
Linda Alice!
De seu beijo,
De seu cheiro,
De seu calor,
De seu amor,
De seu encanto.
Que me tira, por vezes, o espanto.
Que me acalma a ira.
Põe fogo à minha pira.
Tragam-me meu sonho!
É bom sonhar enquanto o violão suspira.

Um comentário:

  1. Muito bom esse poema, meu caro Roosevelt. O carater de lucidez perante a realidade e a liberdade que a imaginação nos dá, para mim, foram as grandes tônicas do seu poema. Adorei esse trecho:

    "Não nego, sempre disse, a calçada é de cimento,
    Totalmente imparcial.
    Os pés são o bem e o mal."

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