As aulas de redação muitas vezes são atos mecânicos que seguem regras ou técnicas de produção textual deixando para trás uma quantidade enorme de outros sentidos que a produção textual pode apresentar. O aluno é iniciado no ato de escrever por meio de um termo sem sentido para seu mundo. Ou, embora, tendo algum sentido não oferece ligação psíquica e histórica cultural com ele. Uma palavra não pode ser vazia de sentido. Por esta causa é muito aconselhável que as pessoas aprendam a escrever textos usando termos comuns ao seu cotidiano para depois dar um salto lingüístico bem maior. Reconhecer o valor pedagógico dos textos bregas nas aulas de redação não é apenas um olhar crítico, mas, uma ação inteligente por parte do educador.
A teoria de Paulo Freire entende que os homens diferentes dos animais se relacionam com a realidade de forma consciente. O nível de consciência é variável, mas, ter consciência de seu mundo, na visão de Freire, é possível. A educação é uma forma de despertar consciências. A pedagogia de Freire é uma pedagogia libertadora de mentes, pois, ele entende que isso é possível por meio da educação.
Reconhecer as situações limites que envolvem os homens é um passo muito importante para o educador em todos os níveis do processo. Sem esse conhecimento é difícil trabalhar a educação em sala de aula. Para Freire, professor e aluno constroem seu universo de conteúdos. A situação limite diz para as pessoas de seu mundo, de sua realidade. Existem situações no mundo dos homens que é preciso uma repensada. Todos os homens têm situações limites. O fato de não vê-las, no pensar de Freire, é uma situação limite. Ver as situações limites dos alunos inseridos em um lócus geográfico determinado é poder dialogar com o aluno e a comunidade no mesmo idioma.
A situação limite uma vez posta pelos envolvidos no processo de aprender e apreender o real se torna objeto de questionamentos e diálogos. A situação limite então não deve ser sugerida pelo educador, sua descoberta é criação do grupo. O dialogo provocado pela situação limite em apreço pelas pessoas, provoca a discussão de outros temas relacionados a ela. Os temas geradores são geradores de temas que servirão de objetos de discussão e diálogos. O importante aqui é que, esses temas nos remetem a realidade dos educandos e dos seus parentes, ou seja, de sua comunidade.
A musica brega é importante ferramenta nas aulas de redação por causa de sua textualidade um tanto popular. Além do mais, o estilo brega reflete a realidade de muitos de nossos educando, portanto, tem tudo a ver com seus mundos e situações limites. A pedagogia que usa o brega na produção textual faz uso de material muito rico que expressa formas lingüísticas simples e complexas oferecendo ao educador um léxico muito rico para apresentar aos seus alunos. Se considerarmos que o aprender a escrever é um ato artificial e que a escrita é uma reprodução reduzida da fala, então, podemos ver no texto brega um bom começo para o que Freire chama de letramento. Este processo gradual e acumulativo parte de unidades mais simples para unidades mais complexas. O mesmo princípio se aplica a construção de sintagmas; partindo do simples para o mais complexo o aluno vai aprendendo a tecer o texto e plasmar seu pensamento. Ademais, a produção textual brega instiga o aluno ao diálogo, por que o educando já possui uma vivência psíquica com aqueles signos e códigos postos pela musicalidade brega.
Acho muito importante um estudo mais apurado sobre o papel do texto brega na produção textual de alunos do ensino médio. Apriore, posso dizer que estas são as razões que me fazem pensar da importância do texto brega na produção de texto. Em outros textos pretendo colocar mais lenha na fogueira da discussão.
Deixe-me ver se entendi. Ao mais espertinho, participativo e descolado eu mando Chico Buarque. Ao retardado que fica jogando papel nos outros e imitando bufas eu jogo Dois Ciganos?
ResponderExcluirLou,
ResponderExcluir?????
Em nenhum momento eu visualizei no texto de roosevelt essa sua interpretação. Talvez você possa ter confudido linguagem simples como linguagem inferior e ai associou o brega para o que você chamou de retardado e o não-brega ao que você chamou de espertinho. Porém, o simples que o autor abordou se referiu ao cotidiano, ao familiar, não ao menor.
O que Roosevelt quis mostrar é que a música brega, por ser mais familiarizada com os alunos do ensino médio, passa a ser muito mais frutifera para possibilitar ao aluno exercitar uma produção textual, visto que o discurso brega traz códigos próximos a sua realidade cotidiana.
Aceitar os termos linguísticos da música brega é aceitar, também, os termos econômicos imbuídos nessa forma de expressão. A educação, desde os relatos de Tucídides, se pretende libertária, porque é através dela que a cidade, regida sob paradigmas culturais, mantém-se estável. Isso não quer dizer que os valores que a padronizam não devam ser avaliados e reavaliados, mas sim que, frente à possibilidade de estagnação do que é necessário para a coletividade - as condições básicas -, é melhor que se opte pelo senso do que pelo circo. Nesse sentido, a arte não deve ser sobreposta ao que é realmente substancial. Embora saibamos que o homem não seja só pão, este, uma vez que possui atuação direta na manutenção da vida humana, lhe é, se comparado a um apelo estético, muito mais elementar e indispensável.
ResponderExcluirPartindo dessa premissa, não sei o que há de fundamental em boa parte dos cantores bregas para a sedimentação da harmonia entre os que vivem não só para si, porém numa relação de dependência onde todos carecem da mão alheia. A convergência temática entre as suas músicas e as dos dos artistas do cânone não é critério sólido para o entendimento da questão, posto que se colocamos como critério de análise o contexto da sociedade brasileira, analisando as relações de dependência entre cada um dos seus setores, os músicos bregas, diante de um Hermeto Pascoal, um Arrigo Barnabé, um Flávio José ou um Luiz Gonzaga, irão se afigur tematicamente pífios, já que as suas músicas não possui veio libertário algum, senão aquele que se enquadra no âmbito consumo e, em consequência, hegemoniza a dissensão entre as classes marginalizadas e as classes que detêm o poder.
Desse modo, portanto, não vejo nenhuma urgência em se tratar do brega, a não ser que estejamos mais interessados na forma do que no conteúdo. Ainda assim, entretanto, não gosto dessa postura, pois os dois estão atrelados e confluem, criando significação, linguagem no tecido social. E linguagem é poder.
João Paulo dos Santos
Meu caro João,
ResponderExcluirEntendo pereitamente o seu ponto de vista. Contudo a nossa posição não se limita a uma avaliação simplista de poder e os que estão sob ele. Ou a questão do conteúdo que ao meu ver uma classificação sobre isso nos remete a questão antiga do que seria arte. Ou quem diz o que é arte. Vejo na temática textual brega subsídios para uma pratica libertadora dentro dos postulados freirenaos como por exemplo a dialogicidade e a produção de temas geradores. Isso numa aula de redação aproximaria muito, ao meu ver, o aluno de uma possível iniciação no mundo da produção textual.
Antiga, meu caro? Essa ladainha aí que eu disse qualquer crítico cultural contemporâneo também fala. Cultura e economia não se dissociam; uma trabalha em função da outra, hoje. Na temática do brega, inicialmente encabeçada pelo companheiro Vina, a forma é colocada em detrimento do conteúdo, como se uma música de Roberto Carlos que abordasse tema semelhante a uma do Chico possuísse, somente por convergir tematicamente, mesmo vigor libertário. O papel do artista não se encerra numa de suas obras; ao contrário, é a obra toda e mais outras coisas. Enfim, achei essa coisa da produção textual brega esquisita e, ..., brega.
ResponderExcluirOutra:
ResponderExcluirNão se trata de quem diz o que é a arte, se trata do 'como' de quem a produz e dos interesses envoltos na boa vontade de quem a ajuda a ser fomentada
João,
ResponderExcluirSe você entende libertário apenas como discursos que se dizem preocupados em relatar a fome do país, sinceramente eu quero saber quando é que chico teve a preocupação de trazer uma arte libertária a ponto de fazer os pobres se reconhcerem e dialogarem com a realidade deles forma mais crítica. Onde? ópera do malandro? kkkkkkk.
E mais: o libertário que roosevelt chamou atenção foi para fazer com que os alunos em sala de aula, através do entendimento, do diálogo, possam abrir possibilidades de exercitar construções textuais se utilizando do brega por ele trazer códigos familiares e corriqueiros a uma boa parte desses alunos.
Se fosse pra seguir a sua perspectiva empurrando apenas drummnond,veríssimo,gullar da vida, ou seja, os críticos para libertarem esses alunos, os alunos talvez já teriam mais estimulo em querer estudar, até por que os livros de literatura são cheios de poemas desses críticos e libertários, mas cadê a emancipação politica dos alunos? O que eu vejo é apneas uma apatia provocada pela distancia desses libertários com seus poemas alienigenas que só fazem afundar os alunos pobres da rede estadual na prisão pois esses alunos, por não se reconhecerem nessas produções, possuem um olhar alienante e alheio à realidade. Por que não tentar algo que pertença a realidade cotidiana desses alunos?
abraços
E Roosevelt não propôs uma educação final utilizando o brega. Propôs, pelo contrário, começar por este estilo, uma vez que é ele quem se aproxima do cotidiano dos alunos. Ele quis naturalizar ao máximo o processo:
ResponderExcluir"Se considerarmos que o aprender a escrever é um ato artificial e que a escrita é uma reprodução reduzida da fala, então, podemos ver no texto brega um bom começo para o que Freire chama de letramento. "
Ver o contrário me parece uma estratégia do MOBRAL, em que os alunos eram "alfabetizados" através do conhecimento de um léxico que não correspondia ao contidiano deles. Exemplo, um sertanejo aprendendo a ler "parreira" etc.
Excelente ideia a dos amigos Vina e Roosevelt.
As questões colocadas pelos companheiros podem ser respondidas nos posts anteriores. João
ResponderExcluiroutro racha entre vina e josue vs joao paulo
ResponderExcluirmelhor espera msm eu msm
alan
Alan,
ResponderExcluirNinguém está disputando nada, apenas estamos debatendo. Ninguém ofendeu ninguém.
O que eu quis por em xeque, Vina, foi que há diferentes níveis culturais (intelectuais) em uma sala. Um aluno que possui capacidade de abarcar uma subjetividade mais complexa, mais rica, mais provida de significado, isto é, menos simples, terá de reduzir a marcha pelos companheiros?
ResponderExcluirDe outro modo, será que é tão simples quanto parece medir tais coisas? Há como mensurar os níveis intelectuais apenas pelos sistemas positivos de avaliação que temos? É seguro que a eficácia pretendida pela simplificação da linguagem de fato traga algum avanço, neste sentido? Ou precisaríamos separar os alunos mais adiantados e menos adiantados em turmas, como ocorria no meu tempo de escola particular, na qual os alunos mais inteligentes ficavam na turma A, os médios na B, e os mais "preguiçosos" na C?
O susto de nosso amigo torto João Paulo e a reação de lou para mim é perfeitamente aceitável e a mesma está presente nos postulados freireanos. " A pedagogia dialogista entende que tanto o educador como o educando estão presos, alienados no processo".
ResponderExcluirO que Freire quis dizer é que a escola como agência de reprodução dos moldes sociais (educação bancária) concebe a educação pelo olhar vertical das classificações sociais. O mundo não é de todos, digamos, deveria ser, e esta elaborada exclusão perpassa a dimensão linguistica como bem disse Bagno, " Ao pobre é dado é dever de falar como o rico (norma culta)" Bagno não falou assim, é minha a paráfrase.
A exclusão está na escola desde que a grade foi escolhida lá no mec, a última instância de recorrência. A norma culta como modelo é prefeitamente irracional para aqueles que querem aproximar crianças da produção de texto.
O ensino da língua deve primeiro seguir a lógica da fala depois aos poucos apresentamos as pessoas a regra, a norma. Esta é a proposta do brega na educação e no processo de letramento de jovens e adultos. É a partir do que parece simples para algo mais elaborado. Eu disse parece simples, pq estou respeitando o desconhecimento do maldito sobre o postulados linguisticos mais atuais e menos sausserianos.
Nada me garante que o texto brega em seu universo textual é banal, simplório, e burro. isso é uma classifcação muito precipitada. abraços e continuem debatendo o tema.
Eu não sou torto, Roosevelt. Acharia mais adequado que você tivesse me chamado de marxista ou simplesmente de coisa alguma, ou mesmo apenas João Paulo.
ResponderExcluirÉ, vamos ver no que a experiência dará. Valeu Roosevelt!
ResponderExcluirEu me referi a sua pessoa como torto por causa do costume e por saber q vc tem um q por esse site. Algo te chama para cá, deve se a tortura.
ResponderExcluirAbraços tortos maldito. Continue conosco debatendo os temas e dando sua opinião torto. Salve o torto! Vc num é torto não?
Havia um bom tempo que eu não entrava no site. Como tenho me interessado pela questão da cultura e, lendo um texto acabei lembrando da posição de Vina sobre o brega, quis encabeçar uma discussão, a fim até de pôr em prática o conhecimento absorvido. Calhou que pensei que o texto era dele e, posteriormente, vi que era seu. E é só isso, nada mais que isso.
ResponderExcluirMeu caro João maldito,
ResponderExcluirÉ notório seu potencial para questionar e debater aqui no site o qual vc ajudou a fundar. Um beijão e espero sempre seus comentários sinceros por mais ácidos que sejam. Aqui é o torto, salve o torto! Você é um torto?
De modo algum.
ResponderExcluirMe chame de cuscuz...
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