Gostaria de falar neste texto sobre a forma como a música brega é encarada pelos docentes nas escolas da rede estadual. Vou tentar provocar algumas questões sobre até que ponto essa estética popular é utilizada e valorizada pelos professores nos ambientes escolares e compreender se o corpo docente e a escola estão mais dispostos a perpetuar os modelos estéticos legitimados por uma elite intelectual ou se também estão dispostos a dialogar com as expectativas estéticas e musicais dos discentes.
A melhor forma de produzir estímulos ao aluno acerca do conteúdo dado em sala de aula é dialogando esse conteúdo com a realidade desse aluno. Quando a escola e o docente não procuram ter curiosidade acerca do cotidiano do discente e não buscam compreender suas escolhas e seus valores, o conteúdo exposto tende a não surtir o efeito desejado pelo fato desse conteúdo não provocar qualquer espécie de curiosidade no aluno por estar alheio ao seu cotidiano, e, portanto, aos seus verdadeiros interesses.
A música brega, apesar de atualmente ser ouvida por diversos setores sociais, ainda se encontra com maior freqüência entre os setores populares. Pelo fato de a maior parte dos alunos das redes estaduais serem oriundos dos setores populares, a música brega passa a ser uma manifestação musical cotidianamente ouvida por muitos deles. A partir disso eu pergunto: qual a importância que os docentes enxergam nessa música? Há um interesse deles em utilizar a música brega em sala de aula?
Tendemos a associar a pluralidade cultural estimulada pelo contexto global com o fim das distinções estéticas e sociais, porém, será que de fato as distinções estabelecidas pelas posições sociais foram destruídas? Outra associação que fazemos é a de pensar as instituições educacionais como espaços democráticos por vermos constantemente discursos acerca da inclusão social na educação, mas será que esse respeito à diversidade ocorre no ambiente escolar? Acredito que tanto uma opinião quanto a outra merecem ser requestionadas.
Os grupos sociais ainda necessitam construir fronteiras entre eles como forma de se distinguirem uns dos outros. Por exemplo: ao docente é dada à representação do intelectual, isto é, daquele capaz de compreender questões “complexas”. A posição de prestígio dada ao docente pelo lugar assumido pelo seu grupo no ambiente escolar termina classificando-o como alguém culturalmente “requintado”. Reiterando: as posições sociais ocupadas por cada grupo em determinado ambiente ainda demarcam fronteiras distintivas entre eles.
Como a música brega é considerada simplória, muitas vezes ela tende a ser encarada pelos docentes como uma música de péssima qualidade. Eles se negam a compreendê-la como uma manifestação que pode surtir grandes efeitos no aprendizado por ela fazer parte da realidade cultural dos alunos. Ao invés disso, os docentes encaram essa estética musical de forma segregadora classificando-a de baixo nível cultural, anti-educativa, discursivamente inválida, como algo que não pode ser classificado como música, como arte, etc.
As escolas e os docentes reforçam os modelos que são aceitos apenas pela intelectualidade. Se abrirmos um livro de literatura veremos que as poesias, os contos, as composições musicais utilizadas como exemplos são produções que geralmente se encontram alheias ao cotidiano do aluno. Claro que é do papel da educação abrir possibilidades para o aluno conhecer outras produções, porém, não é direito da educação querer excluir as escolhas estéticas de grande parte dos seus discentes.
A imposição de conteúdo gera falta de motivação do aluno em aprender justamente por esse conteúdo não se encontrar em seu cotidiano. Outro resultado é a baixa auto-estima e a desistência do discente de freqüentar a escola, afinal, se a escola impõe a esse aluno que o discurso “verdadeiro” é o discurso que ele não vive e, portanto, muitas vezes não entende, esse aluno passa a acreditar que ele não é capaz de compreender o que a escola quer que ele aprenda. Resultado: o aluno além de não mais frequentar a escola, sente-se incapaz de absorver conhecimentos.
Para concluir eu pergunto: a música brega é vista pelo docente como importante para a aprendizagem do aluno? Não. A falta de importância dada a essa música ocorre porque o docente, como forma de autoafirmar seu poder e manter intactos os valores legitimados pelo seu grupo, externa um discurso que compreende a música brega como algo de mau gosto, inútil e sem qualquer finalidade educativa. Infelizmente, a educação, apesar de se dizer preocupada com a inclusão e com a diversidade, ainda insiste em reproduzir valores excludentes.
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"Outro resultado é a baixa auto-estima e a desistência do discente de freqüentar a escola, afinal, se a escola impõe a esse aluno que o discurso “verdadeiro” é o discurso que ele não vive e, portanto, muitas vezes não entende, esse aluno passa a acreditar que ele não é capaz de compreender o que a escola quer que ele aprenda. Resultado: o aluno além de não mais frequentar a escola, sente-se incapaz de absorver conhecimentos."
ResponderExcluirMe chamou a atenção essa passagem do texto, pois mostra, além do conteúdo ideológico que está contido na educação, a questão da disputa pela legitimidade dos conhecimentos, nesse caso, os próximos ao conhecimento científico, que por sua vez, embasa os livros didáticos e a ação pedagógica das escolas. Por outro lado, a negação dessa perspectiva se apresenta na desistência dos discentes, que não situando uma ligação com a sua realidade vislumbram a escola e os conteúdos como apartados da sua vivência. Ao que parece a escola é um mundo fora de outro mundo, o mundo social que eles vivem.
Vejo como um problema institucional. Em que a falta de um projeto pedagógico que se aplique e que esteja voltado para o desenvolvimento das faculdades do alunado em suas diversas perspectivas sociais, culturais e de qualificação. Por outro lado, vejo que o professor que busca apenas reproduzir o discurso dos livros didático ou que re-afirma a sua posição como membro e defensor de seus posicionamentos ideológicos, incorre na problemática de não estimular a discussão para o caminho da criticidade e criatividade dos alunos, mas para uma prática educativa encarcerada que limita até mesmo a apropriação dos conhecimentos, já que a transmissão do conhecimento se limitou a mera reprodução de prática e discursos.