quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

O PÚBLICO NA PRIVADA COLETIVA

O PÚBLICO NA PRIVADA COLETIVA
Gozar o privilégio da lei em Aracaju ficou mais caro. A passagem de ônibus subiu novamente completando uma série de correções de preços que duram quase dez anos ou mais. O aracajuano como sempre, reclama, reclama e depois se cala e enfia a mão no bolso, sabendo que para ir e vir terá que pagar mais caro sem usufruir de nenhuma melhora no serviço.

Os usuários do transporte público sabem muito bem que sem o dinheirinho do taxi no final de semana não dar para curtir em alguns lugares da capital tupiniquim. Os serviços prestados pelas empresas de transporte público de Aracajú não contemplam a necessidade do pobre de ir à orla, por exemplo, talvez, porque seus empresários acreditem que o pobre nada tem para fazer lá, uma vez que não tem como pagar as contas de tal lazer. Essa falta de fé desses empresários já causou muitas contrariedades e frustrou o sonho de muitos aracajuanos. Pobre vive minha gente, e merece a orlinha também! Contudo cuidado, pois eles dizem que servem a orla muito bem, então, mande-os tomar um ônibus as duas da matina.

Mas não é apenas o sonho do pobre em um final de semana que está em jogo aqui. Os ônibus de Aracaju transportam o futuro de muita gente. E esse futuro caminha mal, em passos lentos, uma marcha que mal chega a 15km por hora, e sob péssima condição física, pois, os veículos raramente transportam o número ideal de pessoas, ou aquele previsto em lei. Na verdade o ônibus é uma lata aquecida pelo sol e pela combustão do diesel, lata cheia de seres humanos empilhados como bichos para a matança. O que muito me chamou a atenção como usuário durante anos é a omissão da sociedade na busca pelos seus direitos. “Eles se comportam como se aquilo fosse uma caridade”- Dizia a minha pessoa conversando com um irmão da Igreja Universal. Os empresários devem dar muita risada quando chegam à noite em casa sabendo que o povo pagou caro por nada, e ainda disse muito obrigado doutor.

Mas meus amigos tortos pasmem, mas, não percam a fé na calunga! Salve a calunga! A mídia abestalhada procura os empresários para ouvir suas desculpas as quais todos nós sabemos quais são: Compramos ônibus novos, a engenharia de trânsito está ruim, os encargos aumentaram, e tivemos um contato imediato do 4o grau com naves marcianas. O que muito me admira são jornalistas formados com grau superior que parecem acreditar que raposas velhas não sabem falar. Essa tal de globo! Paciência!

O fato é que a matemática não perdoa: 2+2 = 4. O preço aumentado significa uma demanda maior na receita do pobre que vai arcar caro com o desgoverno presente em nossa terra. Uso esse termo para chamar sua atenção que todo governo deve lutar pelo povo. É função precípua do governante olhar a consecução do bem comum, e neste item, o governo petista instalado em Sergipe anda muito mal, parece com a cara de seu transporte público. Sergipe não é de todos. Pois o povo de Aracaju está impossibilitado de andar em sua própria terra. Não se cumpre por aqui o direito de ir e vir. Os empresários ironicamente representados por um órgão público em entrevista a TV Sergipe culpam o governo e sua engenharia de trânsito. O governo por sua vez fala por meio de seu representante que representa os interesses do capital privado. O lobo fez amizade com chapeuzinho e a vovó quebrou o nariz.

Eu gostaria que nossos sociólogos me ajudassem: O transporte público é privado? Se fosse público não teríamos que pagar. Se fosse público seria usado pelo povo e o lucro não seria a premissa maior. Se fosse público o povo poderia opinar no momento da criação de novas linhas porque existem lugares em Aracaju que o transporte público não chega. Parece que chego a uma lamentável conclusão: Pagamos pelo mesmo serviço mais de uma vez. O público deve ser bancado pelos impostos, poderia até ter uma parceria com o privado, mas cobrando dele melhor qualidade e fiscalizando-lhe o serviço. Nem uma coisa ou outra acontece. O público se dilui no privado e as pessoas se perdem no processo. São como pessoas seqüestradas que depois agradecem o bandido por terem poupado suas vidas. Salve o torto!

3 comentários:

  1. Meu caro, Roosevelt, o seu texto é muito instigador, onde é apontada a situação e seus atores e como esses buscam seus interesses. Falamos aqui de três setores, o Estado, o mercado e o social. Os três interagem a todo momento e possuem pesos diferentes. E esses pesos são bem desiguais. De um lado, está o pacto entre o mercado e o poder público, afinal há anos que vemos aumentos e mais aumentos de passagens e nenhuma melhoria no transporte público. Justificativas chinfrins proferidas pelos representantes das empresas, mídia televisiva apática, orçamentos rapidamente aceitos pelo poder público, que por sua vez não está preocupado em trazer para a discussão representantes dos setores que utilizam o transporte e nem ouvir os usuários. Tanto é que os aumentos são decididos rapidamente.

    O fato é que a concessão pública foi privatizada há muito tempo. Não temos editais de licitação e a qualidade o serviço está cada vez mais sucateada, seja pelas carcaças que nos transportam, barulhentas e caindo aos pedaços, pelo tratamento de cobradores e motoristas aos usuários, pelas longas esperas nos pontos e pela falta de acesso de coletivos a determinados conjuntos localizados na periferia, afinal de contas, o transporte não é público? Estou cogitando em fazer os meus percursos a pé ou de bicicleta para evitar pegar coletivo.

    Me permita, meu caro Roosevelt, pois o transporte público não é o único vilão, afinal, tudo aumenta progressivamente comida, roupas, calçados, transporte e serviços antes do salário, que por sua vez, fica defasado e pouco acrescenta ao poder de compra dos mais pobres. Enquanto ao lazer, os mais pobres continuaram com o Gugu, o Faustão e a Eliana aos domingos e com a sua cervejinha perto de casa.

    Parabéns pelo texto!!

    E

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  2. É isso meu caro Alyssonr, obrigado pelas considerações sociológicas.

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  3. Roosevelt

    Seu texto foi extraordinariamente fantástico!

    Bom, vou falar acerca de três pontos em meu comentário: 1) a apatia do brasileiro; 2) a unilateralidade da midia; 3) o público e o privado na politica brasileira.

    Com relação ao 1 ponto: como ja discutimos várias vezes, a formação histórica do povo brasileiro deve ser mais investigada para compreendermos essa apatia que nos move. Acredito que existe um ponto muito interessante a ser pensado que foi a forma de nossa colonização que foi marcada pela exploração ao invés do povoamento. Tudo no Brasil foi construido de cima pra baixo e o brasileiro não aprendeu a dialogar, nem enxergar a importancia do bem púbblico. Não conhecendo a politica, obvio que ele não vai ter argumentos acerca de seus mecanismos, e por isso mesmo, não vai saber reivindicar, pois ele tá muito mais preocupado com a aposentadoria de ronaldinho no futebol do que com a tirania da nossa presidente dilma com a base aliada para o andamento de projetos que interessam a uma coletividade por inteiro.

    Sobre o 2 ponto: foi muito pertinente você ter trazido a questão do espaço que a midia abre para a defesa dos empresários. Como Alysson complementou, aos usuários não há a oportunidade em se defender, em mostrar suas críticas. A sociedade em geral tem apenas que se cslar ao ouvir o depoimento vindo de apenas uma parte. É bem assim que também acontece com a pesquisa de mercado: neguinho aplica entrevistas ao telespectador perguntando qual o melhor programa da globo ao invés de perguntar qual o programa que ele gostaria de assistir. Isso é a nossa democracia, afinal, "o povo escolheu a globo, isso é globalização" kkkkkk.

    Por fim, o 3 ponto: Esse responde aos argumentos que eu expus no 1 ponto que se refere a formação história do povo. O brasileiro não critica pois não entende os códigos da esfera pública. Portanto, respondendo sua questão: o transporte termina se tornando público por ser usufruido por todos, mas tem convênios com empresas, e os onibus, por não serem usados pelos familiares e conhecidos dos empresários, fica jogado ao lixo, afinal, a sociedade só é extensão da familia brasileira no discurso construido para se angariar votos, mas depois... é cada um por si. Como o público se mistura com o privado, a lógica dos empresários é a seguinte: se meus familiares não sofrem com os transpotes, não há por que nos preocuparmos com os transportes, afinal, quem sofre são os "outros". Ou seja, a velha problematica que você trouxe muito bem que é a confusão entre público e privado no Brasil.

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