segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

A música de vanguarda e a música brega nas escolas II

Devido ao belíssimo texto de Roosevelt acerca da vanguarda e do brega, somado ao intenso debate que tem se construído acerca desse tema, eu me vejo cada vez mais envolvido nessa construção de idéias, e por isso mesmo, esta semana quero falar sobre a forma como a escola lida com à familiaridade e o estranhamento que eu enxergo na música brega e na música de vanguarda.

Vejamos: a música brega é reconhecida como uma música demasiadamente simples. Ao prestarmos atenção no repertório desse universo musical, perceberemos que ele trará constantemente discursos que estão a nossa volta a todo instante em nosso dia a dia. A forma como são construídas as letras das músicas, revela-nos o que há de mais óbvio e de mais familiar em nosso cotidiano.

Já a música de vanguarda é reconhecida como uma música demasiadamente complexa. Podemos perceber que seus discursos musicais são diferentes do que estamos acostumados a ouvir cotidianamente. A música de vanguarda nos revela o não-óbvio, o que termina por nos provocar um estranhamento ao invés de uma familiaridade assim como acontece na música brega.

Os docentes deveriam propor o diálogo com a familiaridade e o estranhamento encontrados nessas músicas. Deveriam aproveitar a familiaridade da música brega, por exemplo, para aproximar o conhecimento com o cotidiano do aluno, assim como aproveitar o estranhamento da música de vanguarda fazendo o aluno observar que certas regras legitimadas também necessitam ser requestionadas.

Porém, infelizmente a escola termina não reconhecendo nem a música de vanguarda, uma vez que o discurso dessa estética se encontra distante do cotidiano do aluno por ser monológico como bem apontou Roosevelt; assim como não reconhece a música brega pelo fato da escola representar claramente os interesses ideológicos e estéticos dos setores privilegiados da sociedade.

Acredito que os docentes e a escola, ao invés de ficarem perdendo tempo com conteúdos descontextualizados da realidade dos alunos e insistindo nas classificações preconceituosas do que é "bom" e do que é "ruim", deveriam era propor uma análise crítica dessas duas tendências musicais, fazendo o aluno refletir acerca dos prós e dos contras de cada uma delas.

Ao trazer a música brega, por exemplo, enxergá-la como uma identificação espontânea de boa parte do alunado, aceitando-a enquanto gênero musical, mas também pensar que a dificuldade do público em muitas vezes aceitar músicas que fujam do modelo mais corriqueiro como o da música brega, pode ser reflexo de uma cultura escolar rotineira e indisposta a estimular um olhar curioso em seus alunos acerca da diversidade cultural.

Os docentes deveriam usar a música de vanguarda para estimular a criatividade dos alunos por ela propor a recriação dos modelos, mas também provocar reflexões acerca das exclusões que o saber constrói, usando como exemplo, a ausência da própria música de vanguarda nas escolas, provando assim, o quanto à educação, mesmo estando inserida em um contexto democrático, ainda é segregadora.

Acredito que seja importante articular a música brega com a música de vanguarda, afinal, a escola como extensão da sociedade, deveria reconhecer que a nossa vida social é marcada por regras que nos são familiares assim como os códigos corriqueiros da música brega, mas também nos estranhamos com essas regras assim como faz a música de vanguarda ao questionar os modelos legitimados.

VISITEM: www.pensandoaeducacao10.blogspot.com

10 comentários:

  1. Bravo!

    Utilizar-se do que é cantando diariamente no cotidiano dos alunos para estimulá-los a uma reflexão sobre este cotidiano e, por outro lado, trazer a subversão do corriqueiro para mostrar que, embora possam ser respeitadas, convenções são meras convenções.

    texto genuinamente torto. Parabéns!

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  2. Creio que além da contribuição em relação as diferentes formas de comportamento pautados pelas normas e regras sociais. A utilização desses dois estilos musicais poderiam, também, contribuir na perspectiva de uma estética-cultural, em que o alunado poderia reconhecer o seu cotidiano e valores questão inseridos em suas produções.

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  3. Eu tenho problemas em identificar quais músicas seriam classificadas como "brega" ou "vanguarda". Por exemplo: Facção Central, Racionais, Lady Gaga, Snoop Dog, Restart, Fiuk, Ivete Sangalo, Luan Santana?

    Disseste: "os docentes e a escola, ao invés de ficarem perdendo tempo com conteúdos descontextualizados da realidade dos alunos e insistindo nas classificações preconceituosas do que é 'bom' e do que é 'ruim'".

    E 'vanguarda' e 'brega', o que são, senão classificações?

    A educação deve utilizar determinadas músicas para mostrar exemplos do que é próprio ou impróprio, não? Senão, as analises críticas terminariam em si mesmas, sem posicionamentos? E assim, posicionar-se não é de certa forma classificar, já que, como costuma afirmar, a partir do momento em que tomamos partido por dada coisa acabamos por negligenciar uma série de dadas outras?

    Tenho uma opinião acerca disso, porém, é uma opinião que considerará parcial, elitista, e prevejo os moldes da crítica porvir, concordando em parte com ela. Porém, é esta a questão essencial do movimento e nossa grande contradição. Se deveríamos anular o ideal dicotomizador, que diferença faria em como se está e como deve ser, se as classificações seriam castradoras, e não desenvolvimentistas?

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  4. Lou,

    Não confunda ter classificação com ser classificatório. Apesar de uma coisa de relacionar a outra, não necessariamente se encontram unidas. Classificação todos têm e são fundamentais. Ser classificatório muitas vezes implica em você fazer de uma opinião sua, algo imposta ao outro como se a sua classificação fosse um critério de verdade absoluta.

    Outra confusão: análise crítica não é necessariamente posicionamentos, apesar de, assim como na distinção que fiz mais acima, poderem andar juntas. Veja: uma coisa sou eu ter um posicionamento fruto de todo um exercicio crítico; outra sou eu dizer que sou crítico e jogar meus posicionamentos tendando posicionar a posição do olhar do outro.

    Ninguém falou em classificações castradoras. O que eu disse é que determinadas classificações são castradoras a partir do momento em que a percepção de quem classifica se esquizofreniza e mistura sua classificação como se ela fosse um dado objetivo e imune a qualquer outra opinião que pudesse vim de encontro a ele. A minha crítica a classificação se refere à postura intolerante e preconceituosa que o docente faz com essa classificação, não o fato desse docente ter suas classificações. Isso todos os humanos têm, é inevitável!!

    Quanto à questão de você não saber definir com clareza o que é música brega de música de vanguarda, ocorre pelo fato das classificações nunca serem consensuais. Além disso, existe um outro ponto: como eu disse, brega e vanguarda são denominações que implicam relações de poder, e tudo que implica poder, implica interesses ideológicos, e portanto, carente de argumentos menos impositivos. Porém, como admito a inevitabilidade das classificações, deixei algumas caracteristicas do que eu penso o que seja música brega e música de vanguarda que não cabe a mim repeti-las, uma vez que venho fazendo a construção dessas definições já desde umas quatro semanas atrás. É só ir lá nos arquivos.

    abração e obrigado pelas contribuições

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  5. Não creio que a distorção do léxico original ajude na definição de uma verdade mais abrangente. Classificação é classificação. Ainda que não se encontre um consenso, temos algumas normas padrão na linguagem que direcionam, igualmente, num consenso de dada definição.

    De outra forma, vou ser mais direto: não vejo diferença em estranhar ou familiarizar, se ambos não levarem a objetivo algum. O que pretende com este diálogo? Qual o objetivo? Será realmente interessante para o aluno subjetivar acerca de lugares comuns pura e simplesmente para que tome parte de uma realidade que, em si, não produz nada de benéfico à sociedade?

    Você concorda com o que dizem as músicas bregas? Como utilizaria este discurso em suas aulas? Vou sugerir um desafio: ponha uma letra aqui do que considera por vanguarda e outra do que considera por brega e simule sua utilização numa sala de aula, ou mesmo explique a utilidade prática e objetiva do uso destes recursos.

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  6. Lou

    Para mim, você estava até indo bem em seu argumento, até expor sua postura classificatória.

    Porém, antes de eu falar sobre a importância da música brega, gostaria de mostrar a você que é desse tipo de classificação, como a que você acabou de expor em seu comentário, que eu sou contra. Não condeno o fato de você não enxergar importancia na música brega, mas condeno o fato de você colocá-la em uma posição a ponto de questionar se seria válido o uso dela em sala de aula, quando na verdade você pode nem ter percebeido que a maioria dos alunos ouvem essa estética musical cotidianamente.

    É por isso que eu digo que é devido a opiniões como essas que terminamos colocando como prática um olhar impositivo, fazendo a escola um lugar que apenas tende a perpetuar os modelos estéticos legitimados por uma elite intelectual ao invés de fazê-la um espaço aberto ao diálogo com a diversidade.

    Sim, agora vamos à música brega: pra começar, ela já é interessante a partir do momento em que ela é uma música que faz parte de um cotidiano da maioria dos discentes, e como um educador que acredita que o conhecimento surte belissimos efeitos a partir do momento em que ele dialoga com o cotidiano do aluno, não vejo nada de condenável em utilizar da música brega. Ah, e diferente do que você pensa, ela traz temáticas interessantes em seu repertório sobre prostituição, menores abandonados, e por que não, sobre poligamias, adultérios, e será que isso não deve ser tratado em sala? Será que não existe?

    Outro ponto se refere à possibilidade de eu também propor ao educador em fazer o aluno enxergar os contras dessa estética em meio a uma prática social, assim como enxergar os pontos negativos da vanguarda também. Desculpe-me, mas falar que eu não proponho nenhum objetivo, faz-me acreditar que você leu esse texto de forma um tanto desatenta.

    Quanto à questão da carência em explicar como se poderia utilizar os recursos da música brega em sala de aula, eu concordo plenamente com você. Cometi o mesmo deslize que eu havia cometido ao tratar a música de vanguarda na educação. No entanto, vou refletir e tentar colocar nos próximos textos essa proposta da mesma forma que fiz quando Alysson me atentou sobre isso no texto "Música de Vanguarda e Educação I"

    abraços e novamente, muito obrigado pelas contribuições. Elas são importantíssimas para eu ir acrescentando algumas ideias mais acerca do tema.

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  7. Tô sem net. Na oportunidade, faço as correções em suas interpretações.

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  8. Olá Vina, creio que a preocupação de Lou em classificar o que seja brega e o que seja música de Vanguarda é um toque interessante para o desenvolvimento da metodologia em sala de aula. Afinal, se a proposta é partir da realidade deles, então, esse caráter classificatório será aparente. E que seja. Assim, a possibilidade de compreensão dos objetivos da atividade podem chegar, pois partirá da provocação da realidade e concepções reproduzida, nesse sentido, o professor estimulará o processo de análise.

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  9. Alysson,

    Compreendo a importância de se classificar esses universos musicais. Porém, o que eu tenho a dizer é que nos textos anteriores a esse, eu deixei claro o que eu estou classificando como música brega e como música de vanguarda.

    Se eu não deixei nenhum referencial para provar se minha classificação era valida ou não, é por que, como eu ja disse, minha intenção no torto é dar aos meus textos, um ar de ensaio aberto, e não com ares de artigo científico. Se você for ler meus textos anteriores, verá que eu deixei o que era para mim cada uma dessas estéticas. Inclusive, na música de vanguarda, precisei de uns três textos para ir formulando minha classificação para esclarecer ao leitor o que eu estava chamando de música de vanguarda.

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