Devido ao belíssimo texto de Roosevelt acerca da vanguarda e do brega, somado ao intenso debate que tem se construído acerca desse tema, eu me vejo cada vez mais envolvido nessa construção de idéias, e por isso mesmo, esta semana quero falar sobre a forma como a escola lida com à familiaridade e o estranhamento que eu enxergo na música brega e na música de vanguarda.
Vejamos: a música brega é reconhecida como uma música demasiadamente simples. Ao prestarmos atenção no repertório desse universo musical, perceberemos que ele trará constantemente discursos que estão a nossa volta a todo instante em nosso dia a dia. A forma como são construídas as letras das músicas, revela-nos o que há de mais óbvio e de mais familiar em nosso cotidiano.
Já a música de vanguarda é reconhecida como uma música demasiadamente complexa. Podemos perceber que seus discursos musicais são diferentes do que estamos acostumados a ouvir cotidianamente. A música de vanguarda nos revela o não-óbvio, o que termina por nos provocar um estranhamento ao invés de uma familiaridade assim como acontece na música brega.
Os docentes deveriam propor o diálogo com a familiaridade e o estranhamento encontrados nessas músicas. Deveriam aproveitar a familiaridade da música brega, por exemplo, para aproximar o conhecimento com o cotidiano do aluno, assim como aproveitar o estranhamento da música de vanguarda fazendo o aluno observar que certas regras legitimadas também necessitam ser requestionadas.
Porém, infelizmente a escola termina não reconhecendo nem a música de vanguarda, uma vez que o discurso dessa estética se encontra distante do cotidiano do aluno por ser monológico como bem apontou Roosevelt; assim como não reconhece a música brega pelo fato da escola representar claramente os interesses ideológicos e estéticos dos setores privilegiados da sociedade.
Acredito que os docentes e a escola, ao invés de ficarem perdendo tempo com conteúdos descontextualizados da realidade dos alunos e insistindo nas classificações preconceituosas do que é "bom" e do que é "ruim", deveriam era propor uma análise crítica dessas duas tendências musicais, fazendo o aluno refletir acerca dos prós e dos contras de cada uma delas.
Ao trazer a música brega, por exemplo, enxergá-la como uma identificação espontânea de boa parte do alunado, aceitando-a enquanto gênero musical, mas também pensar que a dificuldade do público em muitas vezes aceitar músicas que fujam do modelo mais corriqueiro como o da música brega, pode ser reflexo de uma cultura escolar rotineira e indisposta a estimular um olhar curioso em seus alunos acerca da diversidade cultural.
Os docentes deveriam usar a música de vanguarda para estimular a criatividade dos alunos por ela propor a recriação dos modelos, mas também provocar reflexões acerca das exclusões que o saber constrói, usando como exemplo, a ausência da própria música de vanguarda nas escolas, provando assim, o quanto à educação, mesmo estando inserida em um contexto democrático, ainda é segregadora.
Acredito que seja importante articular a música brega com a música de vanguarda, afinal, a escola como extensão da sociedade, deveria reconhecer que a nossa vida social é marcada por regras que nos são familiares assim como os códigos corriqueiros da música brega, mas também nos estranhamos com essas regras assim como faz a música de vanguarda ao questionar os modelos legitimados.
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Bravo!
ResponderExcluirUtilizar-se do que é cantando diariamente no cotidiano dos alunos para estimulá-los a uma reflexão sobre este cotidiano e, por outro lado, trazer a subversão do corriqueiro para mostrar que, embora possam ser respeitadas, convenções são meras convenções.
texto genuinamente torto. Parabéns!
Creio que além da contribuição em relação as diferentes formas de comportamento pautados pelas normas e regras sociais. A utilização desses dois estilos musicais poderiam, também, contribuir na perspectiva de uma estética-cultural, em que o alunado poderia reconhecer o seu cotidiano e valores questão inseridos em suas produções.
ResponderExcluirEu tenho problemas em identificar quais músicas seriam classificadas como "brega" ou "vanguarda". Por exemplo: Facção Central, Racionais, Lady Gaga, Snoop Dog, Restart, Fiuk, Ivete Sangalo, Luan Santana?
ResponderExcluirDisseste: "os docentes e a escola, ao invés de ficarem perdendo tempo com conteúdos descontextualizados da realidade dos alunos e insistindo nas classificações preconceituosas do que é 'bom' e do que é 'ruim'".
E 'vanguarda' e 'brega', o que são, senão classificações?
A educação deve utilizar determinadas músicas para mostrar exemplos do que é próprio ou impróprio, não? Senão, as analises críticas terminariam em si mesmas, sem posicionamentos? E assim, posicionar-se não é de certa forma classificar, já que, como costuma afirmar, a partir do momento em que tomamos partido por dada coisa acabamos por negligenciar uma série de dadas outras?
Tenho uma opinião acerca disso, porém, é uma opinião que considerará parcial, elitista, e prevejo os moldes da crítica porvir, concordando em parte com ela. Porém, é esta a questão essencial do movimento e nossa grande contradição. Se deveríamos anular o ideal dicotomizador, que diferença faria em como se está e como deve ser, se as classificações seriam castradoras, e não desenvolvimentistas?
Lou,
ResponderExcluirNão confunda ter classificação com ser classificatório. Apesar de uma coisa de relacionar a outra, não necessariamente se encontram unidas. Classificação todos têm e são fundamentais. Ser classificatório muitas vezes implica em você fazer de uma opinião sua, algo imposta ao outro como se a sua classificação fosse um critério de verdade absoluta.
Outra confusão: análise crítica não é necessariamente posicionamentos, apesar de, assim como na distinção que fiz mais acima, poderem andar juntas. Veja: uma coisa sou eu ter um posicionamento fruto de todo um exercicio crítico; outra sou eu dizer que sou crítico e jogar meus posicionamentos tendando posicionar a posição do olhar do outro.
Ninguém falou em classificações castradoras. O que eu disse é que determinadas classificações são castradoras a partir do momento em que a percepção de quem classifica se esquizofreniza e mistura sua classificação como se ela fosse um dado objetivo e imune a qualquer outra opinião que pudesse vim de encontro a ele. A minha crítica a classificação se refere à postura intolerante e preconceituosa que o docente faz com essa classificação, não o fato desse docente ter suas classificações. Isso todos os humanos têm, é inevitável!!
Quanto à questão de você não saber definir com clareza o que é música brega de música de vanguarda, ocorre pelo fato das classificações nunca serem consensuais. Além disso, existe um outro ponto: como eu disse, brega e vanguarda são denominações que implicam relações de poder, e tudo que implica poder, implica interesses ideológicos, e portanto, carente de argumentos menos impositivos. Porém, como admito a inevitabilidade das classificações, deixei algumas caracteristicas do que eu penso o que seja música brega e música de vanguarda que não cabe a mim repeti-las, uma vez que venho fazendo a construção dessas definições já desde umas quatro semanas atrás. É só ir lá nos arquivos.
abração e obrigado pelas contribuições
Não creio que a distorção do léxico original ajude na definição de uma verdade mais abrangente. Classificação é classificação. Ainda que não se encontre um consenso, temos algumas normas padrão na linguagem que direcionam, igualmente, num consenso de dada definição.
ResponderExcluirDe outra forma, vou ser mais direto: não vejo diferença em estranhar ou familiarizar, se ambos não levarem a objetivo algum. O que pretende com este diálogo? Qual o objetivo? Será realmente interessante para o aluno subjetivar acerca de lugares comuns pura e simplesmente para que tome parte de uma realidade que, em si, não produz nada de benéfico à sociedade?
Você concorda com o que dizem as músicas bregas? Como utilizaria este discurso em suas aulas? Vou sugerir um desafio: ponha uma letra aqui do que considera por vanguarda e outra do que considera por brega e simule sua utilização numa sala de aula, ou mesmo explique a utilidade prática e objetiva do uso destes recursos.
Lou
ResponderExcluirPara mim, você estava até indo bem em seu argumento, até expor sua postura classificatória.
Porém, antes de eu falar sobre a importância da música brega, gostaria de mostrar a você que é desse tipo de classificação, como a que você acabou de expor em seu comentário, que eu sou contra. Não condeno o fato de você não enxergar importancia na música brega, mas condeno o fato de você colocá-la em uma posição a ponto de questionar se seria válido o uso dela em sala de aula, quando na verdade você pode nem ter percebeido que a maioria dos alunos ouvem essa estética musical cotidianamente.
É por isso que eu digo que é devido a opiniões como essas que terminamos colocando como prática um olhar impositivo, fazendo a escola um lugar que apenas tende a perpetuar os modelos estéticos legitimados por uma elite intelectual ao invés de fazê-la um espaço aberto ao diálogo com a diversidade.
Sim, agora vamos à música brega: pra começar, ela já é interessante a partir do momento em que ela é uma música que faz parte de um cotidiano da maioria dos discentes, e como um educador que acredita que o conhecimento surte belissimos efeitos a partir do momento em que ele dialoga com o cotidiano do aluno, não vejo nada de condenável em utilizar da música brega. Ah, e diferente do que você pensa, ela traz temáticas interessantes em seu repertório sobre prostituição, menores abandonados, e por que não, sobre poligamias, adultérios, e será que isso não deve ser tratado em sala? Será que não existe?
Outro ponto se refere à possibilidade de eu também propor ao educador em fazer o aluno enxergar os contras dessa estética em meio a uma prática social, assim como enxergar os pontos negativos da vanguarda também. Desculpe-me, mas falar que eu não proponho nenhum objetivo, faz-me acreditar que você leu esse texto de forma um tanto desatenta.
Quanto à questão da carência em explicar como se poderia utilizar os recursos da música brega em sala de aula, eu concordo plenamente com você. Cometi o mesmo deslize que eu havia cometido ao tratar a música de vanguarda na educação. No entanto, vou refletir e tentar colocar nos próximos textos essa proposta da mesma forma que fiz quando Alysson me atentou sobre isso no texto "Música de Vanguarda e Educação I"
abraços e novamente, muito obrigado pelas contribuições. Elas são importantíssimas para eu ir acrescentando algumas ideias mais acerca do tema.
Tô sem net. Na oportunidade, faço as correções em suas interpretações.
ResponderExcluirOlá Vina, creio que a preocupação de Lou em classificar o que seja brega e o que seja música de Vanguarda é um toque interessante para o desenvolvimento da metodologia em sala de aula. Afinal, se a proposta é partir da realidade deles, então, esse caráter classificatório será aparente. E que seja. Assim, a possibilidade de compreensão dos objetivos da atividade podem chegar, pois partirá da provocação da realidade e concepções reproduzida, nesse sentido, o professor estimulará o processo de análise.
ResponderExcluirAlysson,
ResponderExcluirCompreendo a importância de se classificar esses universos musicais. Porém, o que eu tenho a dizer é que nos textos anteriores a esse, eu deixei claro o que eu estou classificando como música brega e como música de vanguarda.
Se eu não deixei nenhum referencial para provar se minha classificação era valida ou não, é por que, como eu ja disse, minha intenção no torto é dar aos meus textos, um ar de ensaio aberto, e não com ares de artigo científico. Se você for ler meus textos anteriores, verá que eu deixei o que era para mim cada uma dessas estéticas. Inclusive, na música de vanguarda, precisei de uns três textos para ir formulando minha classificação para esclarecer ao leitor o que eu estava chamando de música de vanguarda.
Compreendido.
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