segunda-feira, 10 de setembro de 2012
EDUCAÇÃO E MUDANÇA SOCIAL
EDUCAÇÃO E MUDANÇA SOCIAL
O discurso que ecoa nas escolas diz que o aluno uma vez iluminado terá seu mundo transformado. Não resta dúvida que uma mente crítica pode muito no mundo. Todavia, a vontade sendo a potência que move nossa locomotiva se intimida com um gigantesco animal; uma fera de verdade que se põe em seu caminho – a estratificação social. Parece que forças atávicas empurram cada um para sua gaveta, mesmo, tendo passado pela luz do saber.
Não precisamos fazer muito esforço para perceber que o alunado quando sai de nossas escolas poucos dão continuidade a seus estudos, e a grande maioria retorna para seus nichos sociais. A escola coopera com o processo de estratificação. Ela é cúmplice do capital econômico, e está a seu serviço – é a prima mais velha do meu tio rico. Assim, o dito que diz que a educação liberta é uma falta de verdade. A educação não liberta ninguém, pelo contrário, ela é processo de formação de reprodutores, de cidadãos que vão legitimar a exploração do outro pelo outro.
Onde aprendemos que o mundo é certo? Onde aprendemos que devem as coisas ser assim? Assim como a Igreja, uma velha meretriz do poder, a escola por meio de seus programas engajados com a sustentação do status quo vigente cumpre seu papel de alienação dos filhos da terra. Por isso eu digo: A educação não é meio de ascensão social para todos. Ela serve a alguns, e destrói a grande maioria, pois, sedimenta em seus corações as imagens necessárias para tornar a sociedade dócil e passiva ante o fenômeno de concentração de renda e terra imoral desse país.
Uma das artimanhas usadas pelos sustentadores do processo é o uso da memória. Somente a memória que contém o discurso favorável às classes dominantes é ensinada e arquivada. A memória popular não pode ser considerada tão popular. Os mestres de nosso sistema se apropriam das memórias populares para gerarem uma falsa memória, mas, que nos remeta a ordem vigente. Não podemos separar memória e ordem; a ordem dos homens. São os discursos que determinam a orden e por trás deles está o capital financeiro.
Jamais existirá um sistema educacional que produza discurso contra si. A tendência dos homens é produzirem discursos a seu favor. A condição de prestígio social é a garantia de direito à rede de discursos. É o único meio de ser ouvido sem a truculência das ações violentas. Parece que as pessoas precisam ser ouvidas. O meio mais adequado para ensiná-las a ouvir é a escola se ela entendesse que apesar de ser alienadora ela deve produzir meios para que seus alunos produzam essa leitura de suas realidades.
A educação dialogista percebe que o ato de educar enquanto ato político é um ato alienante. Isso se deve ao fato que educar exige um modelo, ora, ninguém produzirá um modelo que mexa com as estruturas que lhes garante o prestígio e o capital. Nenhum estado educará sua sociedade para a subversão, portanto, educar é alienar o homem de sua realidade de exploração, pois, ele crerá que aquela ordem é a legítima. O dialogismo entende que apesar da alienação, a educação é fundamental para a formação da mente social e que o estado deve garantir meios para que o aprendente tenha acesso a uma educação que lhe dê as ferramentas para desvelar seu mundo e por meio de suas escolhas possa encontrar seu ideal no mundo.
Portanto, a educação em si não é meio de ascensão social. Ela é, sobretudo, o dispositivo do Estado para manutenção da Ordem, da assimetria linguística. O discurso da escola, então, nos traz a falsa ideia que construiremos um mundo melhor mais justo, no entanto, as regras permanecem as mesmas. As regras ensinadas pelo processo se internalizam no sujeito sem sua percepção. O uso da memória é ferramenta fundamental no processo de alienação do sujeito.
É fato que o sujeito é construído pela história. O próprio filosofar é influenciado pelo momento histórico. Todos disseram a partir de seu tempo, falaram de seus conflitos. O fluxo histórico justifica a dialética filosófica, e sinaliza um homem histórico temporal, sujeito a influencia dos discursos de seu tempo. Por outro lado, o homem constrói a história; ele tem a faculdade de ser histórico, de romper com as amarras de seu tempo e inaugurar outro pensar. O homem dialoga no tempo e faz história, cria outros homens e os educa segundo seu olhar temporal.
Assim, toda vez que educamos alguém estamos dizendo de nosso precário olhar para a realidade; não devemos ser arrogantes em acharmos que exista um modelo perfeito. Antes fiquemos atentos para os modelos escolhidos e quais discursos eles hospedam. A desconstrução dos discursos é premissa máxima para o educador dialogista.
A história e a memória são imposições nos processos educativos. A manipulação da memória e da história pela escola aliena o sujeito de sua história e de sua memória. A memória e a história ensinada nas escolas são a do dominador que desesperadamente fecha os olhos e os ouvidos para o que o outro tem a dizer. O dominador pensa que seu dizer é puro e que sua hegemonia não pode ser destruída. Tolas criaturas da terra! Não existe nada nesse mundo que seja puro! Tudo que existe, existe em diálogo com o outro. Portanto nada é totalmente sólido que mereça a máxima confiança e tudo se dilui na força do tempo. Antes as coisas se diluem na multidão de ditos que formam a rede linguística chamada de realidade.
Isso nos remete a visão estética da escola. Esta está muito mais afinada com o gosto de seus mentores de que com o de seus educandos. O que prova uma relação de hegemonia cultural e estética onde jamais poderia haver. Assim, alienado de seu gosto, o aluno se culpa por não gostar do gosto de seu mestre; o mesmo ocorre com o dizer, o pensar, o fazer, o ser. Sua cultura, sua História, sua fala, sua memória ficaram do lado de fora da escola.
Não pode haver mudança social de fato e de verdade se ao povo não for devolvido o que é dele. Sem uma relação simétrica de diálogo entre escola e comunidade, professor aluno, conteúdo e região, etc., não haverá educação que promova conforto social na sociedade brasileira.
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Querido Roosevelt,
ResponderExcluirSeu texto trouxe muitas problemáticas bastante pertinentes. Contudo, acredito que o educador pode fazer com que o aluno se liberte. Porém, esse libertar não significa total liberdade, e sim, uma possível emancipação do aluno com relação ao mundo. Buscando compreender as expectativas, as motivações dos alunos, isto é, buscando compreender quais as reais necessidades desses alunos, acredito que podemos ao menos estimulá-los a uma visão menos reducionista do mundo. Contudo, é importante enquanto educadores, estarmos cientes de que, apesar da educação buscar possibilitar a autonomia do ser diante de sua realidade, que ela, por ser reflexo de interesses econômicos e políticos, também se esbarra nos obstáculos dos discursos hegemônicos das classes dominantes. Cabe a nós encontrarmos uma outra via que possibilite a circulação entre os nossos ideias e os limites do sistema. Uma revolução de dentro para fora é possivel. Agora, se continuarmos a insistir no discurso apenas reprodutor, na mera imposição de conteúdos, obviamente que nós apenas seremos uma especie de máquina de xérox reproduzindo fatos e dados que representam apenas aos interesses dominantes. Devemos trazer a memória oficial legitimada pelos detentores do poder já que apenas elas infelizmente representam o patrimônio cultural e intelectual de uma sociedade, mas a partir disso, e compreendendo a fala, os sonhos e os desejos discentes, fazermos com que esses discentes passem a questionar a validade dessa memória.
O focus maior do texto foi mostrar como newton o fez com a gravidade que nenhum estado produzirá discursos contra si mesmo, contudo, as ações individuais ficam claras em todos os textos que texto escrito, afinal defendo o diálogo. Continuemos a torcar fichinhas. abraços.
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