terça-feira, 6 de setembro de 2011

Aos animais da cultura

A humanidade tem se mostrado a cada dia que passa mais e mais prepotente. É engraçado, mas os ditos humanos de fato acreditam de tal forma que se diferenciam dos animais classificados de irracionais, que eles ficam de pau duro, necessitam se alimentar cotidianamente, cagam, peidam, defendem-se o tempo inteiro para sobreviverem e não se dão conta de que apesar de todas as regras sociais, essas reações não passam de comportamentos concedidos a qualquer animal pertencente à natureza.

O que vejo atualmente é que as criancinhas com suas caras sorridentes, andam com as caixinhas na escola catando lixo espalhado pelo chão enquanto ficam cantando musiquinhas com as tias sobre a preservação ambiental, sobre a importância de não jogar tampinha de danoninho no riacho, mas as próprias tias muitas vezes não se enxergam como animais que recebem a cada final de mês um novo contra-cheque pelo seu trabalho.

Queridos leitores, gostaria de dizer que eu não acho errado esse tipo de educação e de discurso, mas acredito que devemos romantizar menos as coisas para que o nosso discurso atinja uma atitude crítica e consciente e não em posturas esteriotipadas, o que infelizmente já anda ocorrendo de forma bastante evidente. Eu sou da opinião de que não adianta empurrar discursos para conscientizar a preservação da natureza enquanto os indivíduos não reconhecerem que pertencem à natureza.

Acredito que a partir do momento em que o homem se deu conta de que ele era capaz de alterar uma realidade, não deixando apenas as coisas nas responsabilidades de Deus, ele deu muita credibilidade à razão humana. Entretanto, essa idéia do homem como o centro da razão nos tornou extremamente vaidosos a ponto de não nos reconhecermos como partes da natureza, já que construímos a ideia de que humano é razão e ter razão é não ter instintos e, portanto, não ser natureza.

Temos o seguinte discurso: existe a natureza que segue seu curso de forma natural e existem os humanos que por serem inteligentes demais, devem cuidar dessa natureza. Que devemos cuidar dessa natureza eu não tenho duvidas, principalmente por que devido a essa enorme capacidade de alterarmos o fluxo natural das coisas, nós já provocamos muitas mazelas na natureza, mas o principal nós esquecemos, ou seja, de que devemos cuidar da natureza porque somos ela.

Esquecemos que antes de haver isso que chamamos de cultura, já havia a natureza, e por isso mesmo, essa natureza se encontra em nós. Não estou querendo dizer que as relações sociais devem ser naturalizadas. Só acho que não devemos separar natureza de cultura. A diferença é que a cultura se utiliza de linguagens especificas para os animais-humanos que ajudam eles a se comunicarem entre espécies em uma natureza nomeada de cultura.

De nada vale esse discurso, esses projetos, esse terror todo que andamos fazendo acerca da destruição da natureza se o humano não se reconhecer enquanto produto e extensão dela. Para haver uma postura mais consciente acerca da importância de se criar estratégias para garantir uma preservação mais saudável para o nosso ambiente, devemos saber que somos animais classificados de humanos, assim como existem animais classificados de cachorros, de ratos, de cavalos e por aí vai.

Se não houver reconhecimento, a luta será em vão. Digo isso, pois eu acho que nós só tendemos a zelar aquilo que amamos porque aquilo que amamos nos provoca uma sensação de pertencimento. Enquanto insistirmos na ideia de colocar o humano de um lado e a natureza do outro, não nos sentiremos pertencidos à natureza pelo fato de não nos reconhecermos nela e por consequência, não teremos a verdadeira preocupação em zelarmos por essa natureza.

Um comentário:

  1. Se não houver reconhecimento, a luta será em vão. Digo isso, pois eu acho que nós só tendemos a zelar aquilo que amamos porque aquilo que amamos nos provoca uma sensação de pertencimento..

    realmente isso foi fudido.
    apoio completamente.
    perfeito texto

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