quinta-feira, 11 de agosto de 2011

A OUTRA PARA SEMPRE

A outra para sempre

Amanhecia timidamente na Vila de Campos. O sol dava seus primeiros sorrisos por cima da Serra do Cavalo. O povo simples do sertão caminhava feito um gigantesco formigueiro rumo à feira. Era segunda feira, um dia de sol, suor e muita conversa nas esquinas, nas calçadas, bares e botecos espalhados por toda a área urbana da capital do bordado. Tobias Barreto sob a gerência do finado Luís Alves, o Luisinho, um homem querido por todos, deu um salto para o futuro. Ruas foram abertas, outras calçadas, e conjuntos habitacionais foram construídos nas áreas periféricas do município. A cidade cresceu e o crescimento, como em todo lugar, trouxe suas mazelas.
O povo do povoado Ilha, bem cedo, estava com suas barracas vendendo requeijão. Esta é uma herança holandesa. Nunca comi requeijão tão gostoso como o de Sergipe Del Rei. Os filhos de Itabaiana vendiam de ferragens a calçados, em barracas, ou em lonas estendidas no chão. O Mercado da Farinha com uma penumbra interna devida a fraca iluminação cheirava a farinha cosida no ponto, tinha de todo tipo, de caroço grosso, ou da fina. E pelas ruas estreitas e becos escuros moças e rapazes faziam o ritual de acasalamento, o jogo da conquista e da sedução. A vida continuava viva nas feiras de Tobias Barreto.
Lindalva havia se casado com um jovem muito trabalhador. Ela dava aulas no Grupo Escolar e Rosano, seu marido, vendia remédios para pulga, carrapatos e outros males que afetavam a criação de bicho. “Um entendido em bicho por aqui é coisa muito rara e cara, sou mais Rosano”. Diziam os criadores. De fato, o rapaz se dedicou, e com isso foi fazendo a vida e ganhando dinheiro. Colocou seu próprio negócio na maior avenida da cidade, e depois foi investindo o lucro em terras e imóveis. Em dez anos Rosano freqüentava a sociedade local e era muito respeitado. Lindalva era uma professora humana, amiga de todos. Mulher dedicada aos filhos. Seus alunos a adoravam. Todos os anos na páscoa ela comprava presentes para eles, e isso era um motivo de muita alegria. Desta forma a moça conquistou o afeto de alunos e pais ao longo de mais de vinte anos.
Rosano gostava de tomar cerveja nos finais de semana em um barzinho na Avenida Sete de Junho. O bar ficava ao lado de uma pequena Igreja Protestante – “O Reino está Vindo”. Nesta casa de oração havia uma jovem muito bonita. Seus cabelos eram de sereia apaixonada. E seu corpo um violino de 1,72m. A moça cheirava a leite de cabra saída naquele instante do peito da mãe. Rosano via quando a moça passava na calçada do bar. Ele se lembrava de seus dias no povoado Jabeberí, de Lúcia e de seu primeiro grande amor. Seu casamento agora estava estável, contudo, Rosano e Lindalva passavam por crises alternadas todos os anos. Dizem as amigas da moça que foi com macumba que Lindalva laçou o seu touro.
-Lindalva mulher, fala a verdade! Você foi à casa de Romildo, o macumbeiro, num foi?
-Deixem de envenenar minha vida suas peruas, vá de reto Satanás.

Era meio dia quando Clarice se despede dos irmãos de fé e segue em direção ao conjunto Raimundo Geraldo. Ela passou defronte ao bar onde estava Rosano. Aquela foi a primeira vez que os dois se olharam nos olhos. Tanto a moça como o rapaz foram flechados pelo cúpido da paixão. Entretanto, o bom senso de Rosano dizia-lhe que aquele seria apenas mais um casinho. Para Clarice, era Satanás tentando-lhe a fé, pois ela pretendia ganhar o mundo em breve falando do amor de Deus.
-Clarice!
-Sim, pastor.
-Não deixe o diabo te roubar a benção!
-Não pastor eu vou dar lugar ao Espírito Santo na minha vida.
-Que bom minha filha. Concluiu o jovem pastor Fredsmundo em pé à porta de sua pequena paróquia.

Ela saiu da igreja pensando nas palavras do pastor. Envolvida em suas reflexões nem percebeu que Rosano estava na primeira mesa próximo a calçada. Os dois se olharam e suas almas foram feridas mortalmente por um sentimento além das forças, mesmo da fé. Ela virou o rosto para não dar ocasião a nada e segue seu destino a pé. Rosano pede a conta e sai de carro em marcha lenta tentando encontrar seu anjo caído. Com certa dificuldade ele a encontra no antigo depósito de cerveja já próximo do conjunto residencial Raimundo Geraldo. Para o carro, baixa o vidro e diz:
-Está indo para casa? Deseja uma carona?
-Não, obrigada seu Rosano, já está perto. Obrigada.
-Vamos, não custa nada. Insistiu o moço.
-Não, deixa para outra vez. Cortou a moça cheia de desejo de dar uma volta naquele carrão. Dizem que as mulheres adoram homens de carro. Não sei se é verdade, mas, as mais bonitas estão sempre perto de alguém de posse. Será isso uma regra geral? Acho que não. Mas deixa pra lá!

Naquela tarde a moça não descansou. Entrou em seu quarto e ficou ouvindo músicas cristãs e chorando. Sua mãe ficou muito preocupada e bateu na porta:
-Clarice! Abra a porta minha filha!
A moça abriu a porta do quarto, sua mãe entrou, e sentou-se em sua cama.
-O que há contigo minha filha?
-Não sei mãe. Sinto um aperto na alma.
-Já disse ao pastor que não temos dinheiro para viajem?
-Não.
-Clarice, você garante que vai se segurar esse tempo todo sem casar. São anos de estudo.
-Eu sei mãe, mas acho que Deus pode tudo.
-Então, minha filha, tem tanta moça na igreja e elas se casam, e fazem família.
-Mas comigo mãe, Deus tem algo especial.
-Bem, tudo bem. Você pensa assim. Deus te abençoe. Concluiu sua mãe.
Sua mãe, dona Maria, nem sonhava que a razão do choro de Clarice era outra. Ela estava em um carro cinza prata, um opala de luxo especial.

Agora Rosano sabia que Clarice cederia as suas investidas. O rapaz sabia onde a moça morava e qual era seu itinerário até a Igreja do Reino. Rosano passava por ela duas vezes por semana e sempre a convidava para conversar. Clarice não cedia, mas, em casa chorava angustiada como que se algo dentro dela dissesse sim a tudo que ela não queria, mas, que ganhava força dentro dela.

A cidade estava em festa, o mês de agosto havia chegado. A paróquia católica estava anunciando em carro de som que a festa da padroeira, Nossa Senhora Imperatriz dos Campos, seria na semana seguinte. Pessoas de todos os cantos do município que tinham parentes na sede transitavam pela cidade e faziam suas obrigações religiosas.

-Ontem eu me confessei. Mulher! Eu sei que não devia dizer, mas, você viu que padre bonito? Disse dona Estelita, uma camponesa.
-Mulher, num é. Já viu que coisa linda! Nossa senhora que me perdoe, mas esse padre novo é um gato? Concluiu dona Diva, a mulher do eletricista Vasconcelos, amigo de Tadeu.

As pessoas em Tobias gostam de ter certezas das coisas antes de tomarem como verdade. Bem, dizia dona Tereza. Esta mulher morreu dizendo que o finado havia pulado a cerca, mas, o velho era impotente. O coitado perdeu a força depois que levou um coice de uma mula. São coisas da vida. No entanto o que comentavam de Rosano e Clarice fazia muito sentido. Todo domingo após o culto diurno Rosano seguia a moça. E isso estava dando comentários.
- Clarice minha filha, Deus tem uma grande obra em sua vida. Mas devemos nos afastar da aparência do mal. Peça esse homem para parar de seguir você.
- Ele não me deixa quieta. É praticamente todo dia no meu pé. O sangue de Jesus tem poder! Concluiu a jovem crente Clarice.

As pessoas não podem apostar todas as cartas do jogo em si. Nem temos certezas que viveremos alguns minutos depois a nossa pergunta. Às vezes tudo é uma questão te oportunidade. Quando as forças da natureza conspiram, percebemos que somos apenas uma pequena parte da mesma. Naquela noite de domingo a vida de Clarice sofreria pela força de seu desejo. Após o culto, por volta das nove e trinta, Clarice sai da Igreja apressada, sua mãe havia pegado um resfriado e estava com febre. A moça toma o mesmo caminho de sempre. Andava de cabeça baixa pensando em sua vida e em como fugir de toda tentação. Repentinamente, a menina Clarice levanta a cabeça e vê dois faróis em luz baixa que vinha lentamente em sua direção. “Vai me atropelar?” pensou ela. Seu coração já sabia quem estava conduzindo o carro. Seu coração pulou em seu peito. A moça nem sentiu os pingos de água que caiam do céu. O carro para, e uma voz diz ao abrir a porta: “Entre!” Clarice entrou e o carro desapareceu rapidamente na chuva que caía numa rua mal iluminada. Sentada ao lado do motorista, a jovem Clarice vê sua vida nas mãos daquele condutor. O silêncio foi quebrado pela voz de Rosano:
- Você quer beber uma cerveja? Ah, desculpe, você é crente.
- Tudo bem, vamos a algum lugar! Disse a menina.

Os dois em silêncio viam o carro tomar a direção de um bar no Conjunto Irmã Dulce. Desceram do carro. Rosano pediu uma cerveja e um prato de tira gosto. Clarice o acompanhou em tudo, embora sem o hábito de beber, a menina ficou apenas um pouco animada. Rosano pediu a conta e os dois estavam novamente na estrada. A chuva deu uma trégua, a lua alta no céu iluminava o pasto ao lado da rodagem. Rosano viu uma entrada de barro e para lá levou o carro. O carro parou, o silêncio era quebrado somente quando o quero-quero rasca o céu com seu grito. O rapaz olha a menina. Os dois olhares se encontram na penumbra daquela noite. Clarice se torna amante de Rosano.

- Desde a primeira vez que te vi, senti que você seria minha.
- Como você tinha essa certeza? O que aconteceu hoje não vai mais acontecer. Foi só uma tentação. Disse Clarice.
- Será Clarice, acho que você gostou. Não deu para esconder a alegria e o prazer.
- Não seja assim. Eu fui tentada por você, só isso. Me leve para casa.
- Em dez minutos Clarice estava defronte sua casa. Abriu a porta dizendo dentro de si: “Em nome de Jesus, nunca mais vou fazer isso”. A semana passou rápido. O sábado levou Clarice a Igreja. A juventude havia se reunido para ensaiar um jogral para o dia das mães. Clarice fazia o papel de uma moça drogada que encontra Cristo. Ela fazia esse papel muito bem. Mas apesar de buscar tanta ajuda divina a natureza foi mais forte. Agora, aos sábados e domingos Clarice e Rosano se encontram e descobrem algo novo todas as vezes que se vêem. Não demorou muito para que a data da viajem de Clarice ao seminário para estudar teologia chegasse. O pastor levou a igreja a orar e ajudar a jovem missionária. Clarice, com muita dificuldade, deixa Tobias seguindo o destino de sua fé. A estória parecia encerrada.

Dois meses passaram rápido. O correio traz do Rio de Janeiro uma notícia surpresa para a paróquia inteira. A seminarista estava de volta.

- Pastor eu tentei de tudo. Fiz jejum, orei, pedi ajuda as pessoas e nada. Uma moça chamada Esperança, me orientou dizendo que se eu não suportava a vida em clausura ou quase clausura, era porque meu chamado ainda não havia amadurecido, seria melhor voltar.
- Mas, minha filha, todo muito ajudou, pensava que você estava muito bem.
O retorno de Clarice levantou suspeitas sobre o homem do opala. A cidade abraçara a idéia que a moça voltou por causa de Rosano. Em cada beco, ou rua, sempre havia alguém atento aos passos dos dois. A cidade inteira comentava o caso. A mulher de Rosano soube de tudo.
- Rosano, eu não esperava isso de você. Você está de caso com uma moça crente! Você é um safado!
- Mulher, o povo fala demais. Foi só um namorico. As pessoas estão aumentando a coisa. E eu dispensei a menina. Na verdade Rosano só queria brincar com Clarice. A moça não o tirava da cabeça. Rosano era para ela o razão de sua vida, seu primeiro amor, seu primeiro homem, aquele que lhe fez mulher. “Ele anda frio”. Pensou a jovem Clarice retornando do mercadinho. “Vou ficar um pouco mais pela rua para ver se o vejo”. De fato ela tinha certeza que ele passaria ali. Não era intuição, era conhecimento de causa. Ela só não imaginava que ele passaria ao lado de sua esposa. A visão de Rosano ao lado de sua mulher foi um soco no rosto da menina. Aquela noite ela permaneceu em casa chorando pelos cantos.
- Menina, o que tens? Perguntou sua genitora.
- Nada mãe, foi um cisco que caiu no meu olho.
- Não, não é isso não. Você tem chegado tarde. Você está de chamego com alguém, vamos logo, desembucha!
- Desembuchar o que, mãe?
- Desse tal homem que você sai todo sábado e domingo. Ele é casado?

Quando a menina ouviu o nome casado começou a chorar. Sua mãe entendera, e esperou outro momento para conversar com sua filha. A igreja ficou sabendo que a mulher de Rosano falava mal de uma crente. Não demorou muito para juntarem as coisas.

- Clarice, haverá uma reunião de membro para ver seu caso.
- Tá certo pastor.

Na semana seguinte, quinze dias sem ver seu amor. Clarice enfrenta o clero.

- Estamos sabendo com provas muitas que sua pessoa anda de caso com homem casado.
- Não é bem assim, mas...
- Não tem mas, mas! Uma senhora de meia idade separada do marido há anos pede a palavra e diz.
- Essa cidade está entregue a Satanás. As meninas evangélicas ou não, gostam de sair com homens casados. Nós como igreja precisamos dar o exemplo.
- Muito bem dona Margarida. Disse José Plínio, o tocador de órgão.

Com poucas explicações, sem muitas chances. A pequena Clarice foi expulsa do rol de membros da igreja podendo freqüentá-la como visitante. O problema estava resolvido do lado de Deus. Contudo, o coração da moça estava despedaçado. O amor que sentia punha sua fé em conflito.

Rosano e Clarice voltaram a se encontrar regularmente. Não temiam a opinião do povo. O amor os cegara de toda razão. Dona Lindalva se armou com um revolver 38 e foi ao encontro da Jovem amante de seu marido. Clarice passava todas as tardes pela Praça do Cruzeiro, Lindalva tinha essa informação e a esperou ali.

- Pare moça! Quero falar com você!
- Diga senhora.
- Não me chame assim. Você não me respeita. Está de caso com meu marido há meses.
- Não posso negar. Sinto muito. Mas, eu amo Rosano.
- Que direito você tem de destruir minha família?
- Não tenho esse direito e nem quero isso, mas, o que sinto é mais forte.

Lindalva não suportou as palavras da menina e meteu a mão na bolsa e puxou o revolver. “Vou te matar agora sua vagabunda!” “Vou te mandar para o inferno!” A cena de terror estava montada, no entanto, do outro lado da Praça do Cruzeiro, um carro atropela uma moto e chama a atenção de todos. O rapaz precisou ser levado para Aracaju passando mal. Lindalva põe a arma na bolsa e corre para a sua casa. Clarice entende aquilo como uma intervenção de Deus, e o agradece pelo livramento. Daquele dia em diante, a menina pôs na cabeça que Deus havia unido aquele homem casado a ela. Todas as igrejas da cidade condenaram o caso. Até o Padre deu seu parecer: “Isso é adultério!”

- Rosano, você precisa tomar uma decisão. Se você me ama, deve se casar comigo.
- Mas, Clarice eu não pretendia isso!
- Quer dizer que eu seria apenas sua outra?
- Mas agora é diferente!
- Você gosta de mim?
- Sei lá!

Rosano deixou a loja sob os cuidados de seu melhor amigo, Anselmo Duarte, e foi morar na Bahia, perto do Catú. Clarice foi com ele. Se não fosse a depressão aqueles teriam sidos os dias mais felizes de sua vida. Rosano trabalhava para os fazendeiros e fazia mais dinheiro, e a loja em Tobias estava “de vento em popa”. Porém, em casa, Clarice padecia de profunda culpa e depressão, mesmo cercada de amigos por todos os lados.

- Deus, me mostra tua vontade! Dizia Clarice todos os dias quando acordava. A moça orava todas as manhãs. Seu coração voltou-se para Deus. Rosano em sua vida era um pecado necessário.

“Deus me disse que o salvaria. Ele me pôs com ele para salvá-lo”.

Alguns irmãos, ex-membros de sua igreja creram na idéia. Eles passaram a achar que aquele amor, embora ilícito, era a loucura de Deus para salvar um pecador. Clarice se correspondia com os irmãos regularmente e contava de seu estado. Os crentes em Tobias oravam pela moça que era a outra. Mas, mesmo, abraçada pela igreja novamente, Clarice não vence a depressão. Tinha crises diárias de histeria. Rosano não sabia o que fazer. Uma amiga de Rosano diz para ele que o caso de Clarice era coisa de macumba. “Quem sabe Lindalva não tenha feito um feitiço?” A mulher levou a menina crente para uma gira de Exu. Clarice não sabia de que se tratava. Levaram-na como se fosse para uma festa na casa de amigos. Rosano foi com ela. A casa era luxuosa. A pintura da frente era verde bem claro. As paredes internas tinham uma mistura de tintas claras e escuras. Clarice foi atendida na sala de consultas. Um quarto reservado para consultas de esquerda. Dentro havia imagens e ferros em caqueiros. Pequenas estátuas de mulheres vestidas com roupas pretas e vermelhas. Muita bebida e cheiro de cigarros, cigarrilhas e champanhe.

- Clarice entre aqui para a gente falar com dona Maria!
- Quem é dona Maria?
- Você vai ver.
- Não estou gostando de nada. Que lugar esquisito!
- Não tenha medo! As duas entraram no quarto e lá dentro estava Maria Padilha vestida a rigor.

- Há, há, há! Então essa é a salvadora! Iá, iá, iá...
-Diga: Salve dona Maria! Mandou a mulher que a acompanhava. Clarice sem entender disse: “Salve dona Maria!”

- Você sabe onde você está?
- Não!
- No inferno sua tola! Iá, iá, ia!
- Como assim?
- Você sabia que você é das nossas?
- A verdade parece dura. É um inferno enxergar as coisas, não?
- Ainda não entendi.
- Então, entenda! O que você sente nada tem haver com nada. Apenas você desejou o homem da outra. Assuma a bronca! A natureza humana é assim. Afinal, o que é você? Não é humana, não sangra? O desejo da mulher ou do homem, quem pode controlar? A paixão é chama e quando queima, queima até a alma. Tua depressão passará quando você entender que errou e se lembrar que foi apenas humana. Iá, iá, iá... Agora, o grande não tem nada a ver com isso. Mas tem muito a ver com o que você dirá para as pessoas...

Clarice retornou para sua casa dizendo que Rosano a levou para falar com o diabo. Ela passou um bom tempo para perdoar seu amor. Rosano viu que a moça distante da família estava piorando. Resolveu voltar para sua terra. Compraram uma casa em Tobias e viveram suas vidas. Clarice formou um grupo de oração em sua nova residência, com o tempo, mais irmãos foram orar com ela. Logo, o povo mudou de opinião. Agora para a sociedade local, Clarice e Rosano eram marido e mulher. Clarice se tornou em um pilar de oração para muitas mulheres da sociedade. E em algumas ocasiões ela sentia que era usada para dar oráculos para as pessoas. “Deus tem me usado muito, louvado seja seu nome!”

O grupo de Clarice se tornou uma Igreja Evangélica. Rosano, um ano depois, se casou com ela. “Agora Deus me visitara de vez”. Pensou a moça.

Os anos se passaram. Nunca mais ouvi falar de Lindalva. Dizem que ela se aposentou e que todas as tarde fazia exercícios para emagrecer. Rosano pôs outra loja e ficou mais rico. Clarice disse que Jesus estava muito perto de voltar.

- Rosano, meu amor me faça um favor!
- Sim, Clarice, diga!
- Traga-me o remédio que deixei no armário!
- Qual?
- Aquele, rapaz, que é para dormir. Apagaram a luz e pegaram no sono até o outro dia.

- Num é Calunga? Só Deus conhece as pessoas!
- É, dona Maria, só o grande sabe...


Por Roosevelt Vieira Leite






Um comentário:

  1. Acho muito interessante a leitura que você faz das religiões. Para vc elas provocam sentidos e as pessoas reagem segundo suas formações. No caso da nossa personagem, ela conseguiu se redimir criando um outro enredo a sua estória de vida. Parabéns. Sou sua fã número um. meu nome é Christina Francolline.Rj

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