Autodecretou-se, então, um caminhante solitário.
Não sem antes, contudo, pisotear em linhas bêbadas as desapaixonadas ruas de Pedantia, àquela altura, donde efluiam, a cada passo, todos os embaraços por que julgava ter passado.
A arte que, ao menos para si, tanto o caracterizava era irrisória aos olhos dos que eram julgados e que, como tal, também se julgavam producentes. O riso vinha de um gozo errado - e a concepção do errado era absoluta por ali. Os recursos necessários para que não caísse em indigência só poderiam provir, a olhos públicos, de uma dispensável misericórdia ou de atitudes contraproducentes, justificadas por convicções politicamente corretas.
- Era necessário produzir! Urravam nem tão veladamente os discursos das autoridades bem como de todo o senso comum.
- Os lugares mais desenvolvidos só haviam coroado a prolixidade até alguns séculos. Desde que tal época de ouro começou a se transformar em algo diferente foi preciso enxugar o verso e transformar toda matéria-prima em produto. Pedantia tinha uma organização ocidental recente em relação a tais lugares, seria necessário correr incessavelmente para pegar o bonde – que agora, na verdade, já era trem-bala e muitos diziam estar bem próximo do fim da linha.
De fato, tudo isto soava agonizante aos ouvidos de quem, tal como Michelangelo em sua invulgar Escola de Atenas, extraiu a cabeça de Platão para que, em seu lugar, aparecesse a de Leonardo.
Não viveu uma época de combate a regimes escancarados, não cabia em panelas, e muito menos em rimas, embora com notável engenho as criasse. Os padrões para tudo já há muito haviam começado a transformar, aos seus olhos, tudo por ali em um não-lugar. Os desejos eram copiados – e por que não dizer que até mesmo por obrigação?
Faltava-lhe, bom lembrar ainda, algo um tanto comum aos candidatos à errância – a exaltação da ansiedade acerca do que irá se encontrar, perder, prantear e cantar ao longo da romagem. Sua situação padecia até mesmo desta atipicidade. Não o alvoroçava expectativa alguma, negativa ou positiva. Sabia que isto pressupunha o fato de que o mesmo Outro que o levara a desalentos múltiplos, seria eternamente requisito necessário para a efetivação de todas as suas concepções, e que, aliás, até mesmo estas, por mais alienígenas que soassem, assim o eram em relação a algo que se pôs milhares de anos antes de sua existência, bem como possivelmente entraria milhares de anos após e após.
Poderia comer e beber sem ajuda alheia em terras comunais. No entanto, precisava do Outro até mesmo para se autodecretar, em qualquer sentido, solitário.
Eu fiz um comentário extenso. Mas ocorreu um erro no instante da publicação. Esse Internet Explorer é uma droga mesmo.
ResponderExcluirJosua,
ResponderExcluirAceitar a dinâmica da diversidade é um caminho perigoso para aqueles que buscam a ordem por medo das experiências, e não a ordem como forma de se possibilitar apenas os entendimentos mutuos entre essas diferenças.
Pedantia tinha medo de se abrir a uma arena pública dotada de espaços propícios para o borbulhar das constantes subjetividades com suas constantes contradições, afinal, a subjetividade implica coerências deslizantes e conturbadas para a própria lógica de cada um! Antes viver esperando o óbvio do que viver exalando as possibilidades das contingências. Era muito mais fácil para as leis de Pedantia criar limites-precisos, tentar consolidar homogeneidades, consensos, acomodações.
O que você falou foi interessante pois esta semana lá na praça Olimpio Campos aqui no centro, eu encontrei Zefa Galáxia. Ela passou uns dias por Pedantia e justamente conversava comigo acerca dessa sisudez padronizada de lé e me falou o que você bem expôs em seu texto que
a concepção do errado é absoluta por lá e a única forma que eles encontram para manter a todo custo essa forçada verdade é se apoiando por convicções politicamente corretas.
Haaehueahuaehu! Obrigado pela contribuição-texto, caro amigo. Mais uma vez, bem própria de quem sacou a essência e soube discorrer acerca disto de forma leve e lúdica.
ResponderExcluir