Texto dedicado aos palhaços
Não sei se é por que eu tenho uma péssima mania de carregar uma irritação em minhas costas, mas eu sinto falta de algum palhaço que me faça rir. Os únicos palhaços que me fazem rir são aqueles que não precisam se colorir, nem pôr aquele nariz idiota.
Eu acredito que uma das grandes falhas encontradas nos palhaços se deva às velhas repetições mecanizadas. A maioria dos palhaços que tive a infelicidade de me bater pelas ruas tende a se submeter a certos modelos de brincadeiras e não percebe que nem sempre esses modelos são cabiveis em determinadas situações.
Por exemplo: estava certa vez no ônibus um senhor sentado em uma poltrona suja em pleno meio dia carregando em seus pensamentos uma série de problemas funcionais e existenciais e aí aparece um palhaço interferindo em seu silêncio, assoprando um apito irritante em seu ouvido e fazendo "palhaçadas" com suas rugas que tanto já o angustia. Nada contra aos palhaços, mas vamos ser sinceros: essas porras na maioria das vezes caem na incoveniência.
Os melhores palhaços são aqueles que fazem os outros rirem por não ter tido intuito algum em estimular qualquer forma de riso. Talvez seja aquele que solta um papoco na lateral do ônibus por que o motorista não o esperou, ou aquele que, já saturado de tamanho cansaço, libera uma piada frustrada sobre sua vida.
Os melhores palhaços provocam uma quebra em nossas expectativas por se sairem mal em uma situação considerada como séria demais. Esses palhaços geram gargalhadas por eles se fuderem sem querer. Chorar por que alguem de fato tomou no cu é o ingresso do melhor circo.
Um palhaço que escorrega no chão e suja suas mãos de tomates podres da feira liberando aquele riso convencionado e tímido para disfarçar, é muito mais engraçado do que os palhaços fantasiados de palhaços gritando em nosso ouvido e criticando nossa cara já aborrecida por recebermos tanta felicidade publicitária em nosso belíssimo e esperançoso dia a dia.
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